Álcool, Shirley e rock n' roll escrita por AnaMM


Capítulo 12
Por Um Segundo Mais Feliz


Notas iniciais do capítulo

Trilha indicada: https://www.youtube.com/watch?v=nO9ydI72lqQ
Espero que gostem



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Felipe recém começava a se vestir quando Shirley o interrompeu com a mão sobre seu peito ainda desnudo.

– Fica mais um pouco? – Perguntou fragilizada.

– Que? – Felipe cobrou desconcertado. – Eu pensei que você quisesse esquecer que...

– Não, eu quero, digo, eu vou... Ah, sei lá. Eu só queria... Eu queria que você ficasse pra gente falar mais sobre... Sabe... O Laerte e...

O garoto sorriu. Conhecia Shirley o suficiente para perceber seu apelo. Aproximou-se aos poucos, aproveitando cada segundo em que a loira ficava sem atacá-lo. A guarda estava baixa, algo tinha feito certo. Ou alguém havia feito errado... Abraçou-a devagar, dando-lhe espaço para escapar. Para sua surpresa, Shirley não se moveu até segurá-lo contra si e enterrar o rosto contra o ombro de Felipe. Ficaram assim por um tempo, imóveis, calados, sentindo os raios de sol os atingirem e o contato de seus corpos. Sentia-se protegida nos braços dele e não sabia explicar. Talvez por Felipe ser o primeiro cara que realmente parecia se importar com ela, enquanto Fred comumente se distraía fácil após transarem, assim como Beto, e sim, fora para a cama com ambos. Via-os como marionetes, assim como Laerte era seu objeto de desejo. Felipe não era nada. Devia ser uma marionete, mas parecia mais sagaz que os outros dois. Era o último cara pelo qual se interessaria, e o único que mexia com ela, e não sabia explicar. Era também o único que a conhecia, que a enfrentava e uma incógnita. Felipe a surpreendia e a escutava, dava-lhe apoio, mais que status, fora um grande amigo, acima de tudo, e ali estava a cama ainda desarrumada para mostrar que era tudo, menos um amigo. E não podia, sabia que não podia, mas se pelo menos por aquela manhã, por aquele momento, pudesse esquecer sua racionalidade... Precisava daquele abraço, daquela paz. Conduziu-o até a janela, enlaçando seus braços por volta de sua cintura e repousando suas costas sobre seu peito.

– O que você sente por mim? – Não sabia de onde havia vindo a pergunta.

– Eu... É sério isso? É... Sério, mesmo? Não é pegadinha? Bom, eu... A verdade é que... Acho que eu ainda não decifrei. – Confessou.

– Pensei que você sempre tivesse uma resposta pra tudo...

– Eu tenho uma resposta.

– Tem?

– Tenho, mas não é bem a verdade. E eu não sei se seria melhor dizer a verdade ou a resposta certa.

– E qual seria a resposta certa? – Perguntou-lhe tensa.

– Você sabe qual é. – Respondeu simplesmente.

– Você consegue ser mais sincero não respondendo que essa cidade inteira. – A loira zombou.

– Não é tão difícil, olha o tamanho desse buraco! – Felipe riu, arrancando um sorriso de Shirley contra sua vontade.

Shirley então se lembrou dos novos planos do garoto. Virou-se para ele, apoiando-se contra a janela e segurando suas mãos no ar.

– Você tá bem? – Perguntou sinceramente.

– Sóbrio demais, dolorido demais, e totalmente despido de dignidade...

– Ei, você tá parcialmente vestido! – A loira ironizou.

– Eu ainda dei sorte de não estar usando a cueca do Mickey... – Debochou de volta. – Mas falando sério, apesar de tudo... Eu sei que eu não devia, que o certo seria sentir nojo de você, querer me afastar a todo custo, ou, talvez, eu estar com você significasse que eu estaria de vez no fundo do poço, mas... Bom, eu... Eu acho que talvez eu esteja finalmente bem. Por pelo menos esse tempo aqui. É possível que eu esteja fazendo a maior merda da minha vida e eu não me importo, e eu não sei se isso é bom ou ruim. Só o que eu sei é que, nesse momento, aqui, é como se o resto não importasse.

Shirley não sabia se o deixava saber que sentia o mesmo, ou se deveria se defender, fechar as barreiras. Mais tarde, com certeza, se arrependeria. Ali, naquele quarto, à luz da janela, também para ela estava tudo bem, e esse sentimento de paz a apavorava tanto quanto a acalmava. Sabia que precisava fugir daquilo, e, ao mesmo tempo, era justamente o abraço de Felipe o único que poderia acalmá-la. Se pudesse simplesmente focar em Laerte...

– Você quer fugir só por hoje? – Perguntou subitamente.

– Do que você tá falando? – Felipe cobrou-lhe confuso.

– Termina de se vestir e me encontra ali fora.

–x-

– É algum tipo de vingança? – Uma voz a questionou tão logo Shirley atravessou a sala.

– Mãe? Você ainda tá aí? – Indagou envergonhada.

– Você podia fazer melhor... Quer trair o lindinho do Fred, traia, mas com critérios, pelo amor que você tem pela sua mãezinha! – Mafalda lhe implorou.

– Critérios como você teve ao escolher aquele bêbado imundo?

– Em primeiro lugar, mocinha, olha os modos! Ele é o seu pai e eu exijo o seu respeito! Em segundo lugar, dona Shirley, a senhorita parece estar levando em conta os mesmos, não é? Ainda por cima um Fernandes? E pior! O patinho feio da família! Shirley, querida, você pelo menos podia ter escolhido aquele outro dos olhos azuis...

– Ah, com isso a senhora não precisa se preocupar. – Felipe se pronunciou, chegando por trás da loira. – O Laerte ainda é a prioridade dela, eu só tô de apoio moral.

– Apoio moral? – Mafalda gargalhou. – Meu querido, nesse estado deplorável que espécie de apoio você pode dar a uma garota do nível da Shirley?

– Isso a senhora vai ter que perguntar pra ela, mas saiba que eu só estou ajudando a sua filha a conseguir alguém melhor.

– É, mãe. Enquanto você reclama, o Felipe está me ajudando com informações, fazendo ciúme...

– Treinando posições do kama sutra... – Mafalda completou.

– Mãe!

– Ah, minha filha, sua mãe pode não ter tido a melhor educação de todas mas não é boba, não! E se você queria segredo, podia fazer mais silêncio.

Shirley respirou fundo. Embora normalmente se orgulhasse de suas conquistas, dessa vez estava tão vermelha quanto seu pai ficava quando embriagado.

– Vamos, Felipe. – Chamou.

– Espera! – Mafalda a interrompeu de repente, deixando-os confusos. – Eu justamente queria falar com você, Felipe, e nessa confusão acabei deixando passar.

O garoto observou a mãe de Shirley atento. A garota parou onde estava, em defensiva, ainda segurando a mão de Felipe para puxá-lo para fora.

– Obrigada. – Mafalda enfim se pronunciou.

– Hã? Pelo que? – Shirley murmurou sem entender nada.

– Eu acabei não agradecendo por você ter defendido o Viriato do ataque da minha filha. Muito obrigada. Eu não aprovo, nem um pouco, vocês dois juntos-

– A gente não...

– O que quer que seja o que vocês estão tendo, eu não aprovo, mas reconheço o que você fez. Foi um gesto muito nobre para um Fernandes.

Felipe riu das últimas palavras. A eterna rixa...

– Eu não fiz mais que a minha obrigação como mau partido quase alcoólatra. – Sorriu para a mulher.

– Vai, antes que eu me arrependa.

– Tal mãe, tal filha... – Ironizou, deixando uma Mafalda confusa na sala ao ser puxado por Shirley para fora da casa de vez.


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