Álcool, Shirley e rock n' roll escrita por AnaMM


Capítulo 11
Aquilo A Que Chamam De Amor


Notas iniciais do capítulo

VORTEI! Se você lê outras fics, já deve estar sabendo que, sim, a faculdade me engoliu (e também meus dentes extraídos e alguns problemas pessoais). Sem mais delongas, um capítulo crucial na relação desses dois.

Trilha indicada (se tivesse postado em dia, não a teria encontrado a tempo):
https://www.youtube.com/watch?v=WQ_2XgF-us0
http://www.vagalume.com.br/raleigh-ritchie/bloodsport-traducao.html



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Afastaram-se aos poucos. Shirley enfim percebeu a situação de Felipe, cada vez mais hematomas se deixando descobrir conforme o garoto se explicava em uma quase discussão interna.

– ...eu cansei! Não aguento mais essa situação, o descaso deles, e se você quer a minha ajuda, eu faço o que for preciso. Pelo menos alguém precisa de mim. – Concluiu.

– Felipe... – Tentou chamá-lo.

Não entendia o porquê da súbita preocupação, apenas o fez. Levou a mão à face ainda agitada do garoto e o acariciou onde uma ferida era perceptível. Esperou até que Felipe se acalmasse, paciente. Quando enfim a encarou, Shirley voltou a falar.

– Foi minha culpa, não foi?

– Foi. – Respondeu desviando o rosto.

– Espera, deixa eu pelo menos cuidar de você?

Não sabia o que estava fazendo, deixando que os sentimentos a levassem, tão exausta que estava. Talvez fosse consequência da noite não dormida, talvez ainda o choque do que fizera com Felipe horas antes. Apesar de tudo, havia sido seu amigo de infância e ainda nutria algo de compaixão pelo garoto. Puxou sua mão, conduzindo-o para dentro da casa. Confuso, Felipe acatou. Não via aquela Shirley há anos.

– Filhinha! Onde você estava? Meu deus do céu, a mamãe estava tão preocupada! – Mafalda exclamou escandalosa tão logo avistou a loira. – Hmm, entendi. – Acrescentou ao notar as mãos entrelaçadas de Shirley e de Felipe.

A miss rapidamente conduziu o antigo amigo para seu quarto antes que a mãe se manifestasse. Sabia o que viria. Suas famílias não se davam e, ainda na noite anterior, armara um circo em torno de Felipe. Talvez não fosse indicado levar para casa justamente o garoto que acusara de alcoólatra...

Shirley lhe indicou a cama e deixou o quarto atrás de algum kit de primeiros-socorros. O nerd observou a sua volta. Antigas fotos da amiga da qual ainda se lembrava, embora com dificuldade. Sorrisos doces que fariam qualquer um que não a conhecesse duvidar que pertencessem à miss. Livros, fitas, ursinhos de pelúcia que escaparam ao tempo... Retalhos da Shirley que a própria loira escondia. Talvez não a houvesse perdido. Talvez fosse justamente aquele que era ignorado pela própria família o único capaz de recuperar a Shirley que Esperança havia esquecido.

–$-

– Filha, existe alguma coisa entre vocês dois?

– Claro que não, mãe, eu nem gosto do Felipe. – Respondeu enfática, embora sua voz estivesse trêmula.

– Tem certeza? Porque eu bem lembro de como vocês eram próximos.

– Tenho, mãe. Eu só tô ajudando o Felipe, só isso.

– Shirley, você não ajuda nem o seu próprio pai. – Lembrou confusa.

– É diferente, o Felipe apanhou por minha culpa.

– Se você diz. – Respondeu cética. – Eu só não quero que você se envolva com aquele garoto.

– Mãe, olha pra mim. Você acha mesmo que eu teria alguma coisa com aquele nerd?

– Pois acho bom que não tenha, mesmo. – A voz severa da mãe concluiu.

–$-

A loira voltou para o quarto, ainda mexida pelas palavras da mãe. Por que a incomodavam tanto? Não tinha nada com Felipe, nada, e tampouco pretendia ter. Eram negócios o que tinham, um acordo mútuo que resultaria em conseguir Laerte e deixar a cidade interiorana que a sufocava. Talvez sentisse efeitos do antigo carinho que uma vez nutrira pelo garoto, o que não queria dizer nada. Seu objetivo era Laerte, Felipe era apenas um parceiro. E tão logo quanto concluía, contradizia-se ao mirá-lo. Distraído, o garoto lia um dos livros favoritos da loira.

– Pensei que você só gostasse de livros de estudos.

– Eu sou um cara normal, como qualquer outro, e não um robô que passou a vida inteira estudando pra medicina. – Brincou.

– Normal? Você? – Debochou em resposta.

– Sim, normal. – Felipe sorriu. – Só um pouquinho estranho, admito.

– E cdf.

– E cdf. – Concordou.

– Felipe, nenhuma pessoa normal gosta de estudar. – Apontou.

– Se você tivesse estudado, saberia por onde começar.

– Que? – Perguntou confusa, percebendo que hesitava em mexer na bolsa em seu colo.

Felipe sorriu e se aproximou da loira, selecionando o que seria preciso. Segurou as mãos delicadas de Shirley com cuidado e nelas segurou alguns itens do kit. Orientando os movimentos da loira, guiou suas mãos até seu olho, afastando alguns cachos que teimavam em cair sobre o roxo. Apontou-lhe o que fazer, enfim deixando livres as mãos da garota, que seguiu suas instruções com cuidado. Estavam mais próximos do que o necessário, suas respirações se encontrando em um ritmo lento. O encontro involuntário de seu rosto com o toque de Shirley lhes provocava arrepios. Estava sem óculos, e a loira enfim conseguia analisar o rosto de seu antigo amigo. Era mais bonito do que normalmente o considerava, seus olhos castanho-esverdeados enfim se fazendo notar. Seu olhar, no entanto, era triste, perdido, cansado. Era como ela, concluiu. Eram iguais, e por isso a ajudava, mesmo que para isso tivesse que se voltar contra sua família. Família que, lembrou-se, havia-o abandonado, um descaso visível no sofrimento do garoto. Havia se tornado um homem, e estava tão desamparado quanto o mais solitário dos adolescentes. Era seu espelho, embora teimasse em não reconhecer. Não podia ser como Felipe, era um perdedor.

Tirou a camisa do irmão de Helena, que grunhiu. Suas feridas eram mais profundas na região do tronco, principalmente em suas costas. Repetiu o procedimento em cada hematoma, hesitante. Felipe tinha ombros largos, diferente de Laerte. Era magro para quem bebia tanto, e tão branco quanto as tardes de estudo trancado em um quarto lhe permitiam, embora a palidez fosse interrompida por manchas em tons de roxo, verde e amarelo, às vezes cortadas por rastros vermelhos de sangue. Virou-o para si ainda em choque, olhando fixamente em seus olhos. Estavam mais próximos do que deveriam, do que suas consciências lhes permitiam. Seus rostos estavam a poucos centímetros de se encostarem. A luz amarelada da manhã que ainda nascia banhava seus corpos, confundindo-os em seu brilho oblíquo. Seus lábios roçavam antes mesmo que pudessem cogitar se afastar, a pele como um ímã. Fecharam a distância inconscientemente, suas bocas enfim se encontrando em um beijo lento, porém apaixonado. Tinha com os lábios de Felipe o mesmo cuidado que com suas feridas, delicadamente acariciando-os com os seus. Encaixavam-se. Encaixavam-se como jamais admitiriam, como suas famílias não poderiam imaginar. Eram tão iguais quanto opostos, e apenas juntos se sentiam completos. Não sabiam por que se sentiam tão atraídos por aquele que desprezavam. Sabiam apenas que seus lábios os confortavam, que sofriam na ausência de quem mais queriam estar longe. Seus lábios selavam a cumplicidade que apenas encontravam um com o outro e o desejo que apenas pelo outro sentiam. Estavam condenados a seus sentimentos, e os negariam por quanto tempo pudessem. Ainda assim, não havia consciência que os separasse naquele momento. Desprotegidos, a sós, a luz incerta da madrugada os escondendo de qualquer julgamento, existiam apenas eles e aquilo que tanto tentavam negar.

Felipe delicadamente a libertou de seu vestido, roçando os lábios por sua pele. Shirley se abraçou ao peito que há pouco tentava curar e seu beijo reencontrou a boca de Felipe. Suas línguas se encontraram em uma explosão de sentimentos que enfim se permitiam viver. De onde haviam surgido, tampouco sabiam. Simplesmente sentiam, como se assim o fizessem desde pequenos. Talvez fosse aquilo a que chamavam de amor.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado e que a cena final de sexo não tenha ficado subentendida demais (só não achei condizente com o clima ficar narrando... não que eu tenha lá muita coragem de narrar essas penetraçons tudo). Espero que tenham gostado, comentários aqui embaixo, agradeço o retorno e até a próxima atualização, beijinhos!