O Império dos Titãs. escrita por Martinato, Monsieur Noir


Capítulo 5
O lado ruim de ter poderes.




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Com a espada em punhos, ao lado dela, fomos logo de cara obrigados a nos esquivarmos de duas lanças arremessadas pelas mulheres-cobras. Aquelas miseráveis cada vez mais se amontoavam, era como se um exército estivesse nas penumbras e no momento do caos se espalhasse para nos surpreender. À medida que o tempo passava, me perguntava como ninguém conseguiu perceber tamanho alvoroço na área do bosque. Era muito sangue. Muitos gritos. Muito... Pânico!

Não permiti que o pensamento repugnante desfizesse minha concentração em pleno campo de batalha, no entanto, os meus pensamentos estavam cada vez mais ligeiros, formulava ideias tão rápido que mal conseguia perceber, e quando pensava nisso, já tinha outras questões sendo tratada, quase que automaticamente. Quais? Simplesmente o fato de desviar de um golpe. Como abater uma inimiga. Coisas do gênero. Assustador! Devo dizer.

A mente rodeava e embora o foco estivesse no fincar na espada na garganta de uma das górgonas, imaginava como seria depois daquilo. Como reagiria depois da guerra? Quem sobreviveria? Ainda pior... Quantos amigos eu teria perdido naquele dia?

Fracassar não estava nos meus objetivos, nem de longe. Tinha de ter esperança. Esperança... Fazendo essa palavra rodear e rodear em minha mente até que ela perdesse o sentido e pudesse questionar. —— O que é esperança? —— Disse sem perceber, chamando à atenção de Lorenna. —— O que?! —— Ela bradou. —— O que o que? —— indaguei em contra partida. —— Você acabou de sussurrar algo. Presta atenção! São muitas delas! —— Eu tinha noção do campo de batalha, quase fui ignorante, chamando-a de tola por cogitar que não estava preparado ou habilitado para matar mais daquelas mulheres, embora a vontade fosse grande, me contive, aplicando uma cambalhota no chão – e ao mesmo tempo abrindo uns rasgos no jeans, próximo as proximidades do joelho –, e logo me erguendo com a lâmina de noventa centímetros bem no, se é que posso chamar de nariz aquilo, da velha cujo não parava de sibilar.

Menos duas.

Para ser sincero, desde que mergulhei naquele lago, minha capacidade mental nunca estivera tão bem desenvolvida e acelerada. Se posso ser mais profundo, vez ou outra que desviava de uma flecha ou coisa parecida, me concentrava em cálculos matemáticos, de alguns exercícios que tinha feito no cursinho. Cara, eu odeio matemática, mas me parecia tão pertinente pensar naquilo justo na hora em que minha vida estava em risco. Por que não, né? Pelo menos se morresse, quem quer que estivesse lá em cima teria uma perspectiva de que era estudioso. Garantiria um lugar no paraíso, quem sabe...

Lorenna nesse meio tempo arrancava pele e carne viva esverdeada do pescoço de uma das algozes. Era impressionante a força que do nada ela invocava. Parecia uma verdadeira matadora. Não dava a mínima pros ferimentos ou a dor que provocaria nos seus adversários, e ela simplesmente ria com cada membro ou pedaço arrancado. Uma imagem bem psicótica de uma garota que nunca tinha visto machucar uma mosca.

A essa altura já me encontrava no meio do campo. O que dizer sobre isso? Pavoroso. Palavra verdadeira para tamanha atrocidade. O gramado de verde gasto, agora era um mar escarlate, e o que mais me chocou foi ver a face de um conhecido – que sequer lembrei o nome –, com o rosto expondo uma ferida bastante aberta e o semblante completamente agonizado. —— Por que isso tudo? —— Me ajoelhei, baixando a cabeça enquanto algumas lágrimas saiam contra minha vontade. Podia não chorar na frente de ninguém, algo que muito protegi e me dediquei a não fazer, mas daquela vez, como algumas outras, não teve como suportar.

São pessoas... Como eu... Por que mereceram esse destino? Por que essas coisas aconteceram do nada? Por que, quem quer que tenha nos feitos, nos criados, por que não nos protege disso? Eu nunca fui de orar, eu sei, mas estou aqui agora, pedindo para seja lá qual for o seu nome, Deus, Cristo, Zeus, Odin, Anúbis, Hórus, sei lá! Qualquer um! Mas pela minha vida, me ajude a parar com isso...

A clemência em minhas palavras, nunca tinha sido tão verdadeira. Por fim, quando a ultima gota das lágrimas caiu contra o solo vermelho, percebi, com a visão totalmente turva, uma das criaturas erguer sua lança e preparar para finca-la em meu pescoço. —— Se é assim... Pago com a minha vida em troca da proteção de todos... —— Nunca tinha entrado num nível tão espiritual assim. Porém, se tivesse que me sacrificar, faria sem fraquejar ou pensar duas vezes.

—— MOOOOOORRA, SUA PESTE DOS DEUSES! —— Gritou ela, e eu simplesmente fechei os olhos.

[...]

Quando os abri, tive dificuldade de voltar a enxergar por conta do incomodo nos olhos. Muitos grãos parecido de areia tinham caído neles, e depois de esfrega-los algumas dezenas de vezes, saquei minha espada e percebi que as mulheres aos poucos iam se reagrupando, como se tivessem recuando. Abaixo de mim, uma flecha, parecida com as que eu havia atirado anteriormente, jazia imóvel e com um pouco de gosma em sua lâmina. Me levantei pesadamente, absorvendo as informações, até que poucos metros de distância, vi Lyu carregando o meu arco que outrora jogara para Mama, e ele sorria convicto. Talvez estivesse se exibindo pelo tiro bem sucedido. Mas quem eu queria enganar? Estava feliz, ele tinha acabado de salvar a minha vida. —— Você me deve uma bem grande! —— Gritou ele, com os outros, o mesmo grupo, agora cada um carregando um tipo de arma diferente, com exceção de Thalles, ele carregava um pedaço de madeira? Tá, quem sou eu pra questionar isso? Cada um com seu gosto.

Totalmente recuperado, corri até eles e tomamos uma formação básica. Aqueles com armas compridas atrás de dos que portavam espadas e arqueiros nas retaguardas com dois cobrindo as costas. —— Você não vai acreditar no que consigo fazer! —— Dizia num êxtase vibrante o menino com a tora na mão. —— Me mostre, Capitão caverna. —— Alguns sorriram, outros até deixaram uma risada escapar pelos lábios. —— Preste atenção. Vê aquelas duas? —— Quando ele apontou, fixei o olhar e assenti imediatamente. —— AGORA! —— E depois que suas palavras foram proferidas, várias raízes ergueram-se do solo, agarrando as pernas e aos poucos as cinturas e braços das cobras humanoides. —— Woow! —— Jhon deixou escapar seu espanto, o que deixou Thalles mais orgulhoso ainda. —— Cara, isso é demais! Amo a natureza! —— Arqueei as sobrancelhas, e fixei a haste da arma na mão. —— E eu amo matar essas mulheres... —— Disse, correndo e com um único golpe, dilacerando seus pescoços, fazendo o sangue verde cair por cima do rubro, dando uma coloração estranha, e logo o pó dourado invadia o recinto, deixando o cenário cada vez mais colorido e chamativo.

[...]

O grupo cada vez mais se unia, e nós os contornávamos. —— Como podem nossss derrotar? —— A voz áspera da maior delas, supostamente a líder, ecoou nos ouvidos dos presentes. Ela estava insatisfeita, até demais. Matou por desgosto uma de suas companheiras feridas sem dó ou compaixão. Sua lança mais parecia uma espada grotesca. E sequer queria mencionar seus músculos. Eram tão expostos quanto o do Arnold Schwarzenegger em seu auge. Ela não tinha um único toque feminino, a não ser a voz de traveco que não engana nem bêbado. Era sua melhor qualidade sendo uma “mulher”.

—— Vocês! —— Uma voz veio no meio dos que se amontoavam envolta delas. —— Quem ousa se dirigir a mim como um igual? —— Ela berrou, furiosa com os dentes afiados amostra, e fez quem quer que fosse, se calar imediatamente. Seus lábios escorreram sangue fresco. —— Todos nós, sua velha. —— Eu disse, dando um passo a frente. —— Hahahaha! Acha mesmo que são capazes de nos matar, bastardo de um deus? —— Elas continuavam insinuando isso. O que aos poucos me continha um ódio tão grande, podendo ser liberado de modo abrupto e perigosamente, para mim, claro. Não pensaria agindo por impulso e pura raiva. Ninguém age. —— Escuta aqui, sua Maria homem! —— Entonei autoridade na voz, e ela, por mais improvável que fosse, aderiu e recuou como se tivesse sido intimidada. —— Vocês ficam dizendo essas coisas, mas foda-se, só quero que ouça bem, sua palhaça mutante, vocês mataram muitos de nossos amigos, alguns muito próximos, verdadeiros amigos, e agora, com suas lacaias sendo pressionadas e recuando feito galinhas acovardadas, acha mesmo que tem o direito de falar que ninguém pode te derrotar? Você acha mesmo, que depois de tudo que nós fizemos, com suas tropas inúteis, vocês ousam achar que tem alguma chance? —— Ela rastejou um pouco para frente, e suas subordinadas abriram caminho sem questionar. —— Eu não acho. Tenho certeza. —— Ela sorriu. —— Certeza? Crê nisso? —— Retruquei. —— Se você acha que não posso, por que não me desafia para um duelo um contra um? Se eu perder, minhas tropas se renderão e vocês poderão finalizá-las sem piedade. Agora se eu ganhar, vamos continuar o ataque, e acabar com todos aqui, pois nossos reforços estão há poucos metros. —— A proposta me parecia suicida. —— Como posso aceitar isso? Não confiarei na palavra de um monstro. —— Ela estralou o pescoço, provocando um estalo alto. —— Na minha palavra não, pois não vale nada. Hehehe... —— Seu riso me causou calafrios. —— Mas no meu juramento, sim. Juro pelo Estige que esses serão os termos e que não haverá nenhuma intervenção do meu exército. —— O suor escorreu. Mesmo não podendo confiar nela, quando a frase “Juro pelo Estige” penetrou meus ouvidos, senti como se a mais profunda sinceridade daquele monstro viesse à tona. —— Se é assim... —— Os olhares se voltaram para mim... Naquele momento congelei.

O vento surrou minhas madeixas, e elas levantaram-se voando com pouca delicadeza, deixando o penteado totalmente sem corte, ainda mais por causa da água e o suor. Sequer sabia a forma como ele estava, mas não me deixei perder mais tempo pensando nisso. Ainda tinham muitos me olhando, e alguns amigos me disseram aos sussurros que era uma péssima ideia. Mas se eles tinham um exército e reforços, quantas vidas mais seriam perdidas? Eu tinha uma chance de derrota-la, pequena, cerca de uns vinte por cento, talvez menos. Mas era uma possibilidade de derrotar todos e salvar o restante das pessoas que ali estavam totalmente espalhados. Fechei os olhos momentaneamente. Pensava, pensava e pensava mais um pouco... O que fazer? —— E então? —— Sua voz me tirou do transe. Segurei a espada e respirei fundo. Tão fundo que parei de ofegar. O fôlego se restaurou completamente. —— Eu aceito. ——


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