O Império dos Titãs. escrita por Martinato, Monsieur Noir


Capítulo 4
IV - Hora da verdade!




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Primeiramente nas minhas anotações mentais: Lição número um de vida – Jamais atacar uma Manticória enfurecida e faminta. Número dois? Bom, se eu sobreviver a esta parte, conto pra vocês mais detalhadamente como sobreviver.

Logo nos primeiros três passos a fera me dominou com sua calda, aplicando uma rasteira tão ligeira que a meu ver foi imperceptível. Aquela desgraçada era rápida, e não tinha notado o quanto até agora. Caído de costas, suas patas fixaram-se sob meus braços, apertando e abrindo vários cortes profundos, no total de oito, dividido em quatro em cada lado. O sangue jorrou imediatamente, e a dor foi angustiante. Não queiram sentir isso.

A espada caída ao meu lado, ficou impossível de ser sacada para um golpe surpresa, e mesmo que conseguisse, obviamente o perderia se levantasse mais o antebraço. Completamente dominado, tive vislumbres das cenas mais importantes da minha vida, como um flashback acelerado em trinta e duas vezes no DVD. Cara, aquilo foi estranho.

De volta à realidade, respirava ofegante e continha a dor o máximo que podia, evitando expressões aterrorizantes. Não queria dar o gostinho para aquele demônio, mas independente de tudo, seria de ótimo paladar para ele em poucos momentos. Sua face medonha aproximou-se do meu rosto, suado e pálido. O bafo era horrível, como já explicando outrora. Maldito, se houvesse um meio... —— Um filho do mar tão fraquinho... Houve um tempo que os heróis eram poderosos... Mas vocês abandonados? São todos escória! Se bem que o gosto é o mesmo! —— Seus risos convictos quase me ensurdeceram, ainda mais quando se mesclavam com rugidos gloriosos.

Certamente todos estavam ocupados ou apavorados demais para depararem com minha situação. Mas como culpa-los? Não é todo dia que você é atacado por essas aberrações da natureza. A novela dos mutantes fazia bastante sentido hoje. Merda... Pensar besteiras não vai me ajudar... Preciso achar um meio de me livrar dele e rápido... Mas como? Como fazer isso? Ele deve pesar uma tonelada, talvez duas... Irritá-lo só vai acelerar o meu processo de morte... Maldito. Não quero morrer agora! Porra! Preciso de ajuda! Preciso de ajuda! O dialogo mental pairou sobre inconsciente até o vulto duma oscilada brilhante cegar-me temporariamente e fazer com que o gato superdesenvolvido se distraísse por um tempo e amolecesse sua pata, deixando as presas fora do atrito com minha pele.

Pude, pela primeira vez, respirar aliviado, mas não por muito tempo.

Ao lado, um enorme escudo emergiu juntamente com um machado de porte mediano. Tinha uns noventa centímetros de comprimento, sendo que a lâmina cobria-o quase por completo. Ele foi lançado, o que fez o brilho chamar nossa atenção. Seu lançamento era perfeito, e estava convicto de que se fosse pego de surpresa, a fera teria a cabeça decepada num piscar de olhos, porém, a sorte ainda não tinha batido na minha porta. Sim, eu disse ainda!

Sendo sorte ou não, para rebater o machado, a besta teve de erguer-se, rugindo pra variar, e golpeando com a calda peçonhenta o projétil. Ele caiu no gramado, abrindo um belo corte no solo. Já eu, com dores nos braços, usufruí de todo meu estoque reserva de energia, e rolei ao lado, pegando a espada e levantando-a para um golpe fatal.

Diria que foi a pior, como também a melhor sensação do mundo. Vejamos os porquês... O lado bom? Estava livre e com uma criatura a menos naquela árdua batalha. O lado ruim? Pense em você, numa praia, fazendo um castelo duas vezes maior do que o seu tamanho. Obviamente você iria ficar feliz pelo feito, mas agora imagine que um cretino qualquer venha e chute várias vezes seu castelo e tudo isso na sua direção. Bom... Agora intensifique isso como se fosse areia de purpurina. Teve uma breve perspectiva? Ótimo, afinal, estava cheio de pó dourado pelo corpo inteiro. —— AH! Além de filho da puta, esse porra era viado?! Olha isso! Me deixou adiantado pro carnaval! —— Berrei, até que o cérebro me lembrou dos ferimentos, e graças ao sistema nervoso do meu corpo, cedi ao chão. Mas eu podia parar? Evidente que não.

Suado e com vários fragmentos de terra nas roupas surradas e amassadas, percebi o dono do machado de antes se aproximar e estender a mão para mim. Não fui tolo, se levantasse meu braço, e fosse puxado por ele logo em seguida, sentiria uma dor descomunal. —— Acho um lindo gesto, mas não vai ser muito sensato... —— Resmunguei, com a arma na mão, não iria mais larga-la. Que achassem que era um defunto e que o paladar fosse semelhante aos dos ursos... Se estivesse morto, não prestaria.

Rapidamente a mão dirigiu-se até minha camisa, puxando com uma brutalidade desconhecida. Nem os valentões que passavam nos filmes americanos eram tão fortes a ponto de por um cara de quase sessenta quilos de pé em cerca de dois segundos. Outro pensamento filosófico e completamente entusiasmante que tive? Morreria pelas mãos de outra fera. Frase perfeita? “Daora a vida”.

A visão não estava lá das melhores, acho que tinha sido por conta da enorme poça de sangue que meus ferimentos tinham deixado, contudo, quando conseguir desvendar o vulto e fixar o olhar concreto, me surpreendi. Lorenna estava me segurando ainda, com uma típica expressão de ódio, o que não caía bem nela. Não estava acostumado a vê-la assim. —— Para de ser molenga, Martinato! Você precisa reagir, é um dos melhores! —— Arqueei a sobrancelha, confuso. —— Se eu fosse um dos melhores, acha mesmo que estaria todo fodido assim? —— Ela bufou e me fez se apoiar em seus ombros. —— Você precisa achar um jeito de dominar esses poderes que nos foram dados... —— A cada nova frase, uma enorme dúvida proliferava. —— Mas que poderes? Tudo que eu ganhei até agora foram armas. —— Ela apertou o cabo do machado como se fechasse o punho, e seu semblante, por incrível que pareça, piorou. —— Você acha que eu sempre tive essa força? Acho que todos aqui já perceberam! Não seja inútil! —— Ofegante, comecei a vasculhar as ideias no meu cérebro. Se tinha um, que o usasse agora. —— Me leve pra perto do rio. —— Ponderei convicto. —— Tem certeza? —— Ela questionou, olhando os arredores e todos pelejando da forma mais plausível possível aos seus patamares. —— Absoluta! Aquele gato medonho me chamou de filho do mar, se existe algo parecido com o mar aqui é aquele rio. Rápido! —— Com esforços sobrenaturais, a convenci, e nos tropeços, fomos até a margem.

Frente a frente com aqueles litros d’água, somente foquei meus pensamentos. Me soltei do apoio e com as sobrancelhas forçadas, como se tentasse explodir alguma coisa com a mente, mas o que na verdade era apenas um ato de concentração, bem simplório, impulsivamente, saltei e cai na imensidão das águas.

Senti uma leve brisa fria, como se estivesse na frente de um ventilador, mas que me atingisse por todos os lados. Abri os olhos, e via somente o esverdeado com musgos e vários peixes ao meu redor. Mas a visão estava perfeita, como se abrisse os olhos fora dali, ou debaixo de uma piscina, com óculos de proteção. Segurei a respiração o máximo que pude, vendo a água cicatrizar minhas feridas tão rápido, que me assustou. Os peixes se esfregavam em mim como um cachorro quando queria carinho, e já não aguentando mais prender o fôlego, distraído por tantas informações repentinas, abri a boca, engolindo a água doce, mas ao invés dela ir direto para meu estômago, foi diferente... Ela atingiu em cheio meus pulmões, como se desse uma enorme respirada com a boca. O alívio instantaneamente predominou. —— Como isso é possível? —— Falava normalmente, e ouvia algumas vozes próximas do ouvido, embora difícil de distinguir o que falavam no momento, decidi temporariamente ignorá-las. Sentindo a força me dominar, fechei os punhos, ainda segurando a espada na mão canhota, e como se saltasse, as águas agiram conforme minha vontade, elevando-me e no momento em que emergia no rio, totalmente seco ainda, um pilar formou-se, contendo exatamente um metro e meio, totalmente feito de água, de fato. —— Isso... Isso é incrível! —— Disse visando à garota, e pulando em terra firme. —— Pronto para fazer algumas cabeças rolarem? —— Ela indagou sorridente. —— Com certeza. Vamos entrar em clima de escola de samba. —— Eu ri brevemente, mas ela não entendeu muito bem a piadinha. —— Como assim? —— Logo perguntou. —— Ué... Quando eles morrem, viram pó dourado. Com certeza vamos parecer cheios de purpurinas quando acabar, como eu estava antes. —— Captando a mensagem, ela sorriu, e por fim, segurou firme o machado e finalmente partimos contra uma fileira daquelas mulheres nojentas, empunhando nossas armas.


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