A Filha de Ártemis escrita por Karol Mezzomo


Capítulo 7
Uma pequena mudança nos acontecimentos




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Uma pequena mudança nos acontecimentos

As caçadoras se puseram em filas, uma de cada lado formando um caminho para que pudéssemos passar. No final estava Ártemis com seu arco em mãos pronta para nos receber.

Quando paramos na frente da deusa nos ajoelhamos em um sinal de respeito, logo depois me levantei e entreguei a corça às mãos de Ártemis.

A deusa acariciou a cabeça do animal como se essa fosse uma amiga a muito perdida.

– Parabéns meio-sangues e ninfa, é claro. – agradeceu a deusa. – Fizeram um bom trabalho, vou subir ao Olimpo para relatar a Zeus que o quarto trabalho foi cumprido.

Com um último carinho na corça Ártemis olhou para o céu e nós todos desviamos o olhar enquanto ela assumia sua forma divina e desaparecia em um raio de luz levando a corça consigo.

– Venham. – gritou uma das caçadoras atrás de mim. – Fizemos um almoço especial, vocês devem estar famintos.

No momento em que ela disse isso senti minha barriga roncar, não conseguia me lembrar de quando tinha sido a última vez em que havia me sentado e desfrutado de uma boa refeição desde que começamos essa missão. Senti que os outros estavam pensando a mesma coisa, então sem hesitar seguimos as caçadoras até a fogueira.

Após o almoço descansamos um pouco á sombra do acampamento, mas eu sabia que não podíamos ficar, estávamos apenas na quinta tarefa. Agradecemos as caçadoras pela hospitalidade, carregamos nossas mochilas com o que pudemos levar e seguimos viagem. A quinta tarefa não parava de passar por minha mente, não conseguia evitar olhar para o pergaminho que Zeus nos dera e repassar a curta frase:

“5º tarefa: expulsar as aves do lago Estínfalo.”

Segundo o que Annabeth dissera as aves eram tão grandes que ao voarem interceptavam os raios do sol, sem contar que suas asas, cabeça e bico eram de ferro.

Não parávamos de olhar ao redor, mas não vimos sinal das aves nem tão pouco de um lago. Eu não gostava disso era estranho ainda não terem nos atacado era como se estivessem brincando com a gente.

A noite chegou e nos instalamos aos pés de um morro antes que eu pudesse me dar conta já tinha pegado no sono. Sonhei com algo estranho, relances de um livro prateado e de uma pequena caixa passavam por minha mente e eu não sabia o que significavam.

Logo que o sol nasceu já estávamos caminhando, não demorou muito e encontramos uma lanchonete em uma pequena cidade.

– Quatro X-burguers, por favor. – pediu Percy a balconista.

Olhei ao redor procurando uma mesa quando me deparei com uma mulher que me chamou a atenção. Era muito bonita, sem dúvida, mas parecia ter uma aura muito forte e uma impecável postura, com certeza ela devia dar ordens e no fundo eu sabia que fosse o que ela mandasse fazer, ruim ou bom ninguém a questionaria.

Annabeth seguiu meu olhar e ao também reparar na mulher cutucou meu braço.

– O que foi? – percebi que estava sussurrando.

– Hera. – respondeu Annabeth. – A mulher de Zeus.

Jéssica e Percy analisavam minha reação, Percy ainda segurando as sacolas com o lanche. Eu não sabia o que a mulher do deus que mais desejava minha morte queria, mas não podíamos ignorá-la.

– Vamos lá. – disse eu aos outros. E juntos nos sentamos á mesa de Hera, ninguém mais parecia notá-la.

– Corajosos semideuses. – disse a deusa fixando o olhar em cada um.

Eu não confiava muito em Hera, conhecia a história do que ela havia feito a Hércules quando ele ainda era um bebê, ela tinha jogado cobras no berço do semideus com a intenção de matá-lo, mas é claro que Hércules mesmo ainda uma pequena criança matou os animais facilmente.

– O que você quer? – fui direto ao assunto, eu sabia que ninguém me faria mal até não termos terminado os doze trabalhos.

Hera não mudou sua expressão.

– Vim ajudá-los. – respondeu ela.

– Seu marido sabe disso? – perguntei.

– É claro que não. – respondeu a deusa. – Mas não estou fazendo isso por vocês, mas sim pelo Olimpo.

– O que você está querendo dizer... Hum, senhora Hera? – perguntou Annabeth.

– O quanto antes terminarem as tarefas melhor. Aconteceu algo noite passada, algo que mudou o rumo das coisas e que Zeus não quer aceitar. – explicou a deusa.

– Mas o que... – tentei dizer, mas Hera ergueu a mão e senti que havia perdido minha voz.

– Sigam para o oeste até a próxima cidade, lá encontrarão um homem sentado nas escadas na frente de uma igreja, ele irá orientá-los para onde devem ir. – disse ela.

– O que aconteceu? – perguntei recuperando a voz.

De repente notei que as pessoas ao meu redor pareciam estar congeladas até mesmo Annabeth, Percy e Jéssica, era como se o tempo tivesse parado, literalmente, como se eu estivesse dentro de uma fotografia sendo a única que pudesse me mexer.

– O que você fez? – perguntei a Hera.

– Não perca tempo Gabrielle. – disse a deusa sem responder e pergunta. – Encontre o meu mensageiro, o quanto antes cumprir as tarefas melhor.

– Como assim seu mensageiro? O que ele tem a dizer que você não pode me contar agora?

– As coisas não funcionam assim, eu tenho que ir ou Zeus irá notar meu desaparecimento. Faça o que eu disse.

– Mas...

Hera me fez calar com um olhar severo.

– E mais uma coisa. Não ignore seus sonhos, tente interpretá-los.

Antes que eu pudesse pedir como ela sabia daquilo a lanchonete voltou ao normal e Hera havia sumido. Ninguém parecia ter notado que uma mulher tinha acabado de desaparecer nem tão pouco que haviam estado paralisados por alguns segundos.

– Para onde ela foi? – perguntou Jéssica procurando por Hera. – Ela estava falando de um homem que temos que encontrar e agora desaparece assim.

Percebi que Hera e eu havíamos tido uma rápida conversa somente entre nós duas. Percy e Annabeth me olhavam desconfiados. Fitei meu X-burguer já não estava mais com apetite.

– Temos que ir. – disse eu me levantando. – Vamos comendo no caminho não podemos perder tempo.

Intrigados os três me seguiram para fora da lanchonete.

Pegamos um ônibus até a próxima cidade que ficava a aproximadamente dezesseis quilômetros e descemos na primeira parada.

Fiquei pensando no que Hera havia me dito, algo tinha acontecido e se eu tinha entendido bem o que quer que fosse ameaçava a segurança do Olimpo, isso não era nada bom. Senti um frio percorrer minha espinha só de pensar o que faria com que doze deuses se preocupassem.

– OK, precisamos encontrar uma igreja. – disse Jéssica respirando fundo enquanto descíamos do ônibus.

– Vamos pedir informação. – falou Annabeth indo em direção a um homem que ia passando.

Percy a deteve pelo braço.

– Tem certeza? Sabe que não podemos confiar em ninguém.

– Sem problemas. – respondeu Annabeth. – Nenhum monstro vira atrás de nós enquanto estivermos nessa missão.

Ela então se afastou e voltou segundos depois dizendo que havia uma igreja a cinco casas dali dobrando à direita.

Quando chegamos ao local ele parecia deserto, devia ser meio-dia e todos obviamente estavam almoçando. De repente enxerguei um homem sentado no último degrau que levava a igreja.

– Será que é ele? – perguntei.

– Tem que ser. – respondeu Percy. – Ele é a única pessoa sentada nas escadas quem mais estaria aqui há essa hora?

Vi-me pensando se não seria uma armadilha de Hera, mas não conseguia encontrar uma razão para que ela fizesse isso.

– Vamos lá. – incentivou Annabeth.

Aproximamos-nos devagar. O estranho homem fitava o horizonte como se estivesse absorto em pensamentos, estava tão concentrado que dava pena de interrompê-lo.

Seus olhos eram profundos e sábios, tinha o cabelo cacheado e escuro, sua barba não era longa, mas parecia não ver uma gilete há alguns meses. Usava uma camiseta de manga curta azul, jeans e tênis esportivos da marca Adidas.

– Hã, com licença. – disse eu para chamar sua atenção.

Ele se demorou mais um pouco a fitar o horizonte e então se virou para mim me analisando com olhos que pareciam ter séculos de experiência.

– Sim? – perguntou ele.

Olhei para os outros procurando ajuda, não sabia o que dizer, e se ele não fosse o cara? Não podia sair falando que Hera, a deusa do casamento havia nos mandado até ali, ele provavelmente chamaria a polícia e nós acabaríamos em um hospício.

– E então? – tornou a perguntar o homem.

– Quem é você? – pediu Percy.

O homem abriu um largo sorriso, era quase como um sorriso aconchegante.

– Ora, foram vocês que vieram até mim. Vocês deveriam saber quem sou. Mas vou responder sua pergunta Perseu. Fui enviado por Hera para que os ajudassem a encontrar o caminho para o quinto trabalho. Afina, “uma vida sem desafios não vale a pena ser vivida.”

– Sócrates? – ofegou Annabeth dando um passo para trás.

– Sim Annabeth. – respondeu o filósofo.

– Mas... Você deveria estar...

– Morto? – completou Sócrates. - Na verdade eu estou, mas porque isso significa que não posso conversar com vocês? A morte não é o fim, mas sim um novo começo.

Nós nos entreolhamos.

– É um prazer conhecê-lo senhor. Não acredito que estou na frente do mais sábio homem que já existiu. – admirou-se Annabeth.

– Não existe mais sábio ou menos sábio Annabeth. “Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância.”– disse Sócrates.

– Senhor, e então? Para onde devemos ir? – perguntei.

Sócrates voltou a fitar o horizonte.

– Devem pegar o ônibus das treze horas, seguir até encontrarem uma fazenda e lá descer.

– Mas o que uma fazenda tem a ver com o quinto desafio? – perguntou Jéssica.

– Já viste a fazenda ninfa?

– Não.

– Então como pode saber que ela não tem nada a ver com o quinto desafio? – perguntou Sócrates.

– Bem eu...

“Existe apenas um bem, o saber, e apenas um mal, a ignorância.” Eu sei do que estou falando.

Jéssica fitou o chão envergonhada.

– Bem, é hora de ir, já fiz o que me pediram espero que tenham uma boa viagem e que sobrevivam. – disse Sócrates enquanto se levantava.

– Eu agradeço senhor. Foi um prazer conhecê-lo. – falei apertando sua mão.

Com um último sorriso Sócrates nos deu as costas e começou a caminhar. Então me lembrei do meu sonho, eu sabia que interpretação não tinha nada a ver com Sócrates, mas eu tinha certeza de que o que quer que ele falasse sobre o sonho seria de grande ajuda.

– Senhor Sócrates. – chamei.

Ele se virou para me olhar.

– Eu andei tendo um sonho estranho e eu...

– Tudo ao seu tempo criança, tudo ao seu tempo. – falou Sócrates.

Eu suspirei e Sócrates continuou sua caminhada.

– Que sonho? O que você andou sonhando? Isso é importante por que não nos contou? – perguntou Percy.

Eu me virei para ele.

– Conto a vocês no caminho.

Quando voltei a me virar para observar Sócrates ele já havia sumido, era como se tivesse evaporado.

– Acha que o veremos de novo? – perguntou Annabeth.

– Acho que não. – respondi. – Já tivemos nossa chance, há muito mais pessoas por aí que precisam da ajuda do espírito sábio de Sócrates. Vamos, ou iremos nos atrasar.

Pagamos o ônibus com as últimas moedas que tínhamos e em menos de meia hora seguíamos viagem de olho no lado de fora da janela esperando ver alguma placa que indicasse a entrada de uma fazenda.

– Por que não nos contou antes? – perguntou Jéssica sentada ao meu lado. Os três estavam furiosos por eu não ter lhes contado o sonho antes.

– Eu não achei que fosse importante até Hera mencioná-lo. – respondi.

– Um livro prateado. – refletia Annabeth. – Como exatamente ele era?

– Bem, parecia um diário.

– Hum. E a caixa você se lembra como era? – perguntou Percy.

– Não muito bem, mas tinha algo escrito nela que não consigo me lembrar.

– Estranho. – disse Annabeth.

– Ei, gente. – chamou Jéssica. – Olha lá, não é uma fazenda?

– É sim. – respondeu Percy.

– Parece que esta na hora de chutar alguns pássaros. Vamos descer. – falei enquanto levantava.

Descemos e paramos na frente da entrada de uma fazenda, na placa lia-se algo como: ESBÁTULOS OD GUASIA.

– Estábulos do Augias. – leu Jéssica.

Eu odiava ser disléxica.

– Pelo menos tem um lago lá no fundo talvez seja o local da tarefa. – disse eu.

Começamos a caminha até chegar a uma enorme casa parecida com aquelas casas que os senhores de engenho tinham na época da escravidão.

– Batemos? – sugeriu Percy.

– Há, aí estão vocês. Zeus me avisou de que viriam, lá esta o estábulo podem começar. – disse um homem com vestes de fazendeiro que havia saído de trás de um dos tratores estacionados em frente à casa grande, apontando para um enorme cercado adiante perto do lago.

E quando eu disse enorme era enorme mesmo devia ter pelo menos uns três mil bois lá dentro.

– Você deve ter se enganado senhor. Estamos aqui para outra coisa. – disse eu.

– Como assim? Zeus me disse que vocês limpariam os estábulos. É essa a tarefa: limpar os estábulos do rei Augias, posso até me lembrar de quando Hércules realizou isso. Eu sou Augias.

– Deve haver algo errado. – falou Annabeth. – Essa deve ser a próxima tarefa.

– Mas Zeus...

– OK. – interrompi. – Vamos ter que fazer esse trabalho cedo ou tarde e já que estamos aqui vamos por mãos à obra.

– É assim que se fala. – disse Augias.

Dirigimos-nos em direção aos estábulos, e Augias nos esperaria na casa grande. Quando chegamos lá se é que era possível o estábulo parecia pior do que visto de longe.

Eram três mil bois em um mesmo lugar, havia tanto estrume sobre suas patas que elas chegavam a afundar, o cheiro era insuportável e o cercado parecia ter mais de um quilômetro quadrado.

– Hum... Annabeth tem alguma dica? – perguntei.

– Tudo que eu sei, segundo o que li dos doze trabalhos de Hércules é que o estábulo do rei Augias fazia trinta anos que não era limpo, e que estava tão fedorento que exalava um gás mortal. A tarefa de Hércules era limpá-lo em um só dia, para isso ele desviou dois rios.

– Ótimo. – disse eu. – Percy poderia desviar a água desse lago facilmente e assim limpar os estábulos, mas o problema é que como Zeus disse que eu tenho que concluir a tarefa, vocês não podem fazê-la para mim, apenas me ajudar a desenvolvê-la. Então? Tem outra ideia?

– Na verdade não. – respondeu Annabeth.

Nesse momento ouvimos um som agudo vindo do céu e dez aves do tamanho de aviões mergulharam no ar para nos atingir, por sorte conseguimos sair do caminho a tempo.

– Legal. – gritou Percy. – Parece que teremos que realizar duas tarefas ao mesmo tempo.

Separamos-nos e corremos para se esconder embaixo de algumas árvores. Puxei a tampa da minha caneta e meu arco surgiu, depois tirei a mochila das costas e puxei a espada. Percy já tinha a dele em mãos.

– Atacar! – gritei.

Saímos debaixo das árvores e nos preparamos para o confronto.

Uma das aves passou raspando em alta velocidade do meu lado e suas asas de ferro abriram um enorme corte no braço em que eu segurava a espada. Senti o sangue escorrendo e a dor insuportável, mas eu não podia desistir.

Percy tentava golpear com a espada duas aves que vinham em sua direção, ergui meu arco e ignorando a dor mirei na ave que estava mais perto dele, a flecha perfurou facilmente a cabeça de ferro do animal, mas não pareceu lhe causar dano nenhum, a ave apenas urrou indignada e mudou a rota desse modo ficou fácil para Percy golpear a que vinha logo atrás, mas sua espada também não teve efeito nenhum contra o animal.

As aves continuavam nos rondando como os urubus fazem quando encontram comida.

Annabeth também estava em apuros, tentava desesperadamente se desviar das bicadas de um dos pássaros e quando achava um espaço desferia um golpe com a faca no bico do animal ou usava seu boné da invisibilidade para poder se aproximar do bicho e pegá-lo de surpresa.

Já Jéssica atraia as aves que podia e depois se transformava em árvore tentando confundi-las.

Continuamos lutando, mas sem sucesso, nossos golpes não faziam mal aos animais, dessa forma só iríamos cansar rapidamente e adiar a nossa morte. Desviamos e atacamos, mas elas sempre conseguiam nos causar algum ferimento.

De repente eu tive uma ideia. Fogo. Fogo derrete o ferro, se eu menos eu pudesse incendiar minhas flechas nós teríamos alguma chance. No momento em que pensei nisso a flecha que estava pronta para ser disparada do meu arco ascendeu uma pequena chama na ponta que cresceu até consumir a ponta inteira.

Admirada eu atirei e a flecha cravou-se em uma das asas da ave que vinha em minha direção, e como se alguém tivesse jogado álcool para atiçar o fogo ele se espalhou pela asa rapidamente e a ave caiu. Sem perder tempo atirei mais duas flechas juntas que atingiram o animal e tiveram o mesmo resultado, em segundos as chamas consumiram a ave e ela explodiu restando apenas cinzas.

Foi então que a coisa piorou, as outras aves perceberam o que havia acontecido e começaram a voar em minha direção.

Percy, Annabeth e Jéssica correram ao meu encontro e Percy me empurrou quando uma das aves passou onde segundos antes estava meu corpo. O ato dele foi corajoso, mas ele acabou recebendo o ataque e sendo jogado a metros de distância, quando seu corpo foi ao chão percebi que ele havia desmaiado.

– Não! – gritou Annabeth enquanto corria para o corpo de Percy.

Íamos acabar morrendo se eu não fizesse algo, tentava pensar em alguma coisa, mas é difícil pensar quando você esta preocupado com um amigo inconsciente no meio de uma batalha. Então me lembrei da noite em que desmaiei ao ser atacada por um ciclope e em quem havia salvado minha vida.

– Annabeth me de cobertura até aquelas árvores, Jéssica cuidará de Percy.

– Não posso deixá-lo. – disse Annabeth atacando um dos pássaros que passavam ao nosso redor.

– Eu tive uma ideia, precisamos fazer isso ou não vamos aguentar muito tempo, por favor.

Annabeth olhou para Percy.

– OK. Mas vamos atrair a atenção deles enquanto corremos para que não se voltem para Jéssica e Percy.

Eu concordei com a cabeça e juntas começamos a correr.

– Ei! Aqui! – gritava Annabeth para atrair a atenção dos animais, o que estava funcionando, tínhamos total atenção de nove pássaros enormes e assassinos. Continuamos correndo, eu estava quase chegando à entrada da floresta que demarcava a fazenda quando uma ave pousou na minha frente trancando a passagem e com um golpe me jogou para o interior da floresta.

Levantei-me devagar, cuspi a terra da boca e olhei pra trás, Annabeth devia estar com problemas eu precisava ajudá-la. Comecei a correr e senti uma dor insuportável no tornozelo, eu o havia virado quando cai de mau jeito, ele só podia estar quebrado. Olhei minhas mãos e braços completamente cheios de arranhões dos galhos os quais eu bati enquanto caia.

– Droga. – falei. Não, não podia terminar assim, nós não tínhamos chegado até ali por nada.

Fechei os olhos e rezei em voz baixa.

– Atena, por favor, sua filha precisa de você.

E então me virei para a mata, fechei novamente os olhos e fiz algo que havia prometido não fazer, pois não queria por mais ninguém em risco. Pensei:

Por favor, se estiverem aí, nós precisamos de ajuda, apareçam.

Por um momento nada aconteceu furiosa me virei e tentei correr como podia na esperança de ajudar Annabeth quando um vulto passou correndo do meu lado e parou na minha frente.

E aí, parece que alguém esta com problemas.

Falou o enorme lobo branco que conversara comigo no acampamento das caçadoras.

Que bom que apareceu. Pode me levar nas costas de volta a fazenda?

Com certeza chefia, mas não estou sozinho eu trouxe reforços.

Ele acenou com a cabeça e eu me virei para olhar uma matilha de dez enormes lobos que se formava diante de mim. Esses lobos fariam até o mais corajoso dos homens fugir gritando pela mamãe.

Viemos ajudar Gabrielle. Falou um deles.

É isso aí, vamos caçar com a filha de Ártemis. Falou outro.

Sorrindo subi nas costas do lobo branco e meus pés ficaram a centímetros do solo.

– Vamos. – ordenei.

Começamos a correr a toda velocidade o que seria mais ou menos cem quilômetros por hora, pelo menos no lobo em que eu estava, pois os outros que não tinham nada para carregar corriam na frente.

Chegamos à fazenda em segundos e ao longe vi (com uma onde de alívio) Annabeth lutando ao lado de um Percy exausto, mas atento e de Jéssica.

É hora da ação. Falou um lobo marrom ao meu lado.

Eles saíram correndo em direção à Percy, Annabeth e Jéssica que se surpreenderam, mas logo entenderam o que estava acontecendo e se juntaram aos lobos combinando os ataques no ato.

Falei ao lobo branco do meu lado.

Eu tenho uma ideia, vamos correr ao lado de um dos pássaros, eu vou nas suas costas e uso você como impulso para pular em cima de uma das aves.

Isso é loucura, você não está em condições de fazer nada. Protestou ele.

Faça o que eu pedi, por favor. Eu sei o que estou fazendo.

Ele me fitou por um momento e por fim disse:

OK, OK, vamos lá.

Nós saímos em disparada e mesmo em cima do lobo que estava correndo consegui acertar uma flecha em uma das aves e ela veio diretamente em minha direção.

É agora. Falei ao lobo.

Ele começou a correr mais rápido.

Vamos usar aquela pedra lá. Disse eu apontando para uma enorme pedra no formato de uma rampa que se projetava do solo.

A ave emparelhou conosco no momento em que subíamos a pedra, quando chegamos ao topo eu dei um salto para o lado, das costas do lobo para a da ave.

Quase me desequilibrei e cai, mas consegui fincar uma flecha na pele do animal e usei-a para me segurar.

A ave gritou e começou a subir cada vez mais alto, consegui me endireitar nas costas do animal, estávamos muito alto eu conseguia ver a propriedade inteira. A ave começou a descer puxei então uma flecha e mirei nas aves que voavam ao redor conseguindo acertar depois de três tiros duplos seis delas que foram ao chão consumidas por chamas.

Mas a ave em que eu estava continuava descendo e se aproximando do estábulo onde estavam os animais, quando eu achei que íamos bater ela mudou a direção e passou raspando pelo chão de estrume centímetros abaixo de nós. Os gases que exalavam do estábulo atingiram minhas narinas e comecei a me sentir tonta.

A ave tornou a subir, puxei duas flechas e as coloquei no arco.

Água. Pensei.

E então atirei as duas flechas no estábulo onde estavam os bois, quando as flechas atingiram o solo com as fezes dos animais elas explodiram jorrando água para todo o lado, e se formaram geysers de até cinco metros de altura. Preparei mais três flechas e atirei, elas produziram o mesmo efeito. Em poucos minutos o estábulo parecia um vulcão que expelia água para todo o lado, as explosões eram tão grandes que limpavam uma área de quinze metros ao atingirem o solo.

Quando as explosões pararam o estábulo estava completamente encharcado, mas limpo. Até os bois pareciam ter entrado na faxina.

De repente a ave em que eu estava começou a ziguezaguear diretamente para o lago do lado do estábulo e minha visão começou a ficar turva, só podia ser efeito do gás mortal. Minha última visão antes de cair com tudo no lago foi de Percy, Annabeth e Jéssica perseguindo três aves que haviam sobrado e que agora fugiam em disparada.

Ótimo, as duas tarefas estavam cumpridas, os estábulos limpos e as aves tinham sido expulsas. Fechei então os olhos e me deixei tomar pela água.

O impacto foi doloroso, é claro, e eu comecei a ser puxada para o fundo do lago, do pouco que eu ainda conseguia ver a superfície se afastava e eu já não conseguia enxergar os raios do sol que se infiltravam na água. Era o meu fim, não conseguirá salvar as caçadoras.

Foi então que ouvi uma voz em minha cabeça.

Vamos você consegue.

Parecia ser uma voz conhecida, mas minha cabeça estava doendo tanto que eu não conseguia identificar de quem era.

Bata as mãos e os pés devagar você não está tão longe da superfície.

Mãe? Perguntei.

Sim Gabrielle, eu acredito em você, esse não é o seu fim.

Ártemis estava me incentivando a não desistir.

Não vou permitir que você morra. Confessou ela.

A dor em minha cabeça aumentou e fechei os olhos. Eu estava no alto de uma montanha, tudo ao redor era vermelho como sangue e havia uma mulher sentada em uma espécie de trono, em algum lugar distante se ouviam pessoas gritando como se estivessem sendo torturadas.

Eu não conseguia ver o rosto da mulher, por algum motivo só conseguia enxergar seus pés em meu campo de visão, eu não podia me mexer somente olhar para aquele ponto. Ouvi uma voz às minhas costas dizer.

– Esta tudo certo Nêmesis, o diário de Ártemis está bem guardado para quando a senhora decidir usá-lo. Não que eu ache que a senhora vai precisar agora que tem a Caixa de Pandora em mãos.

Por mais que tentasse não conseguia me virar para ver quem estava falando com a mulher.

– O diário é de extrema importância se conseguirmos com que Ártemis o troque pela garota não há mais ninguém que vá poder nós impedir. – disse a mulher.

– Mas o que o diário tem de tão especial senhora? – perguntou o que me pareceu ser a voz de uma menina.

– É o diário de uma deusa sua inútil há infinitos segredos nele, ele é poderoso, contém informações valiosas sobre o Olimpo e é claro que Ártemis vai quer de volta sem contar que eu ameaçarei de falar sobre o valioso segredinho dela às caçadoras. Sem opção ela me entregará a garota pensando ser o único jeito de salvar o Olimpo e o seu segredo. Mas ela não sabe que temos a caixa.

– E para que serve a caixa?

– Para que eu chantageie o Olimpo e me vingue dos deuses, se não fosse por vingança Zeus nunca teria derrotado Cronos e tornado-se senhor do Olimpo. E olha o que sou agora, uma deusa secundária.

– Por que você não abre a caixa agora então? – pediu a menina.

A mulher achou engraçado, sua risada fez com que o lugar tremesse. Senti um arrepio na espinha.

– Quero ver o Olimpo sofrer um pouco.

– Como queira senhora, se bem que...

– Quieta. – falou a mulher. – Droga, a garota está aqui, deve ter ouvido toda a conversa!

– Mas é impossível. – disse a menina.

– Ela não é uma meio-sangue qualquer idiota. Ouça o que eu estou dizendo semideusa, eu vou matá-la!

Senti uma força me agarrar e por um momento pensei que fosse Nêmesis, mas então abri os olhos e ainda estava em baixo da água, era Percy quem havia me agarrado e agora me levava até a superfície.

Então foi isso que aconteceu. Falou a voz de Ártemis ainda em minha cabeça.

Você também viu? Perguntei.

Sim. Preciso falar com Zeus.

Nesse momento senti uma mão agarrar meu braço. Havíamos saído do lago e eu tentava me apoiar em Percy para caminhar, minha cabeça girava sem parar tentando processar tudo o que eu escutara. Mas meu corpo doía, havia água em minha boca e o efeito do gás se espalhava rápido por meu corpo.

– Temos que levá-la a casa grande. – ouvi Annabeth dizer ao meu lado.

– Espera. Gabrielle consegue me contar o que aconteceu? – perguntou Percy.

– Ela está péssima Percy, não sei como ainda consegue se manter. Temos que levá-la agora. – tornou a dizer Annabeth.

Minha vista começou a escurecer e eu percebi que não tinha muito tempo.

– Nêmesis. – consegui dizer antes de desmaiar.


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