Enigmas escrita por Catarina Pereira


Capítulo 3
Capítulo 2 - A viagem


Notas iniciais do capítulo

Como estão? Ai não pude postar na terça-feira porque a internet não cooperou. Agora parece que está melhorzinha, vamos ver IUAHiAHI
Enfim, mais um capítulo, espero que gostem!
Boa leitura!



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Um longo suspiro saiu de sua boca. A aeromoça parou a seu lado e lhe ofereceu um copo com água. Uma mulher alta, com expressão cansada e aborrecida, porém uma polidez impecável ao tratar os passageiros. Eliana recusou e agradeceu. Não deveria estar tão ruim a ponto de alguém perceber que se sentia mal. Ou talvez estivesse, afinal nunca fora expert em dissimular seus sentimentos. Reclinou sua cadeira o máximo que conseguiu. Pelo menos por um momento desligaria seus pensamentos de tudo e tentaria descansar. Fechou os olhos. De repente, uma nuvem de imagens apareceu como mágica: seus tios, seus pais, seu e-mail, salas pré-moldadas, cartas, contas... Não, definitivamente não descansaria nada nessa viagem. Devolveu a cadeira na posição original e ouviu um grunhido. Provavelmente o senhor de meia idade, cabelos grisalhos em quase sua totalidade e estatura alta que se sentava na poltrona ao lado também se sentira incômodo com todas as coisas que atualmente não deixavam Eliana pregar os olhos. Levantou-se da poltrona e procurou no bagageiro a bolsa na qual guardava seu computador portátil. Por que não aproveitar para adiantar alguns trabalhos antes de se instalar? Voltou a sentar-se e sentiu-se desconfortável. Ligou seu computador e abriu a pasta chamada ‘La Vida’. Clicou no primeiro arquivo contido nela e respirou fundo para começar a trabalhar.

O arquivo continha um dos vários e-mails enviados pelos leitores. Começou a ler o primeiro:

“Senhorita Eliana,

Espero que esteja sentada e confortável ao ler este e-mail, pois tenho algumas dúvidas não apenas sobre a decoração da casa a qual ainda não posso chamar de lar, como também tenho um enigma para a senhorita. Primeiro, espero poder chamar-lhe senhorita. Se não, peço desculpas desde já. “

– Enigma? Que... – começou a sussurrar Eliana, até ouvir outro som indecifrável do senhor ao lado. Resolveu continuar lendo em silêncio.

“Vamos ao primeiro tema. Tenho uma casinha pequena, de apenas um cômodo, o qual utilizo como hall, sala, quarto e cozinha. Apenas tenho separado o banheiro, para evitar qualquer constrangimento. O primeiro cômodo relatado possui as dimensões de 10mx6m, ou seja, 60m². Não possuo móveis por enquanto. Minha intenção é poder criar um ambiente acolhedor, no qual eu possa receber pessoas sem que sintam que invadem minha privacidade. Não tenho restrições quanto a cores ou modelos. A única exigência é utilização de flores na decoração. Condição inegociável.”

Ficou pensando por um instante que não precisava dar a esse leitor uma simples dica de decoração, como costumava dar aos outros leitores. Dessa vez, o pedido era mais complexo, era a decoração de toda a casa.

– Ora, um cômodo não é tanta coisa. - disse a si mesma, fazendo com que o senhor na poltrona ao lado abrisse os olhos, cansado, e dedicasse a Eliana um olhar quase mortal - É certo que essa resposta me custará mais tempo e precisará de um espaço pelo menos o dobro do normal. - Percebeu um movimento brusco a seu lado e ouviu claramente o senhor conversando com a aeromoça. Apenas uma olhada da assistente de bordo já fez com que Eliana entendesse que deveria ficar calada e aprisionar seus pensamentos numa conexão direta da cabeça às teclas.

“Chegamos ao segundo e último, porém não menos importante, propósito pelo qual lhe escrevo. Gostaria que pudesse decifrar um enigma que me parece um tanto divertido. É dividido em partes e escolhi a primeira para a senhorita:

‘Três homens preparam a um urso uma caçada

O primeiro era jovem e formoso

Como fará para enganá-lo com uma cilada

E prendê-lo numa jaula, silencioso?’

Despeço-me com a dúvida lançada. Espero sinceramente que possa responder-me como sempre o faz aos demais leitores: com especial carinho e dedicação.

Atenciosamente,

Mr. Flowers.”

Ao chegar ao final do e-mail, percebeu que a introdução era verdadeira quando disse que tinha um enigma, bem elaborado inclusive, o qual Eliana não sabia se seria capaz de responder, mas não queria desapontar seu fiel leitor. Pelo visto, Mr. Flowers acompanhava seu trabalho e não pretendia deixar de escrever, uma vez que seu enigma teria outras partes.

Começou a pensar em algumas respostas possíveis ao que lhe foi pedido, mas não conseguia encontrar nenhuma viável. Resolveu ir direto ao que melhor sabia fazer, resolver problemas estéticos. Como sempre, Eliana releu o parágrafo relativo às especificações do pedido e percebeu que não havia nenhuma petição a mais com que preocupar-se. Sempre havia pensado que ajudar leitores muito específicos era um problema. Começou, então, a pensar numa decoração, mas percebeu que o contrário era mais correto. A generalização era pior, afinal, escolher entre duas cores era mais fácil que escolher entre todas elas. Talvez se tentasse iniciar a resposta alguma ideia alcançaria sua mente, no momento perturbada pelo barulho incessante a seu lado. Não queria perder a concentração, mas algo desviou sua atenção quando olhou ligeiramente para a direção de onde provavelmente vinha o som.

– Senhorita, por favor, aperte seu cinto. Logo passaremos por uma zona de turbulência - A voz cansada da aeromoça a fez tirar os olhos do senhor que antes reclamava dos pensamentos de Eliana, mas agora levava consigo um protetor de ouvidos que parecia bem eficiente.

Checou seu cinto, o qual estava preso, e voltou a olhar a tela do aparelho, bastante confusa. Fechou os olhos com a intenção de visualizar o local descrito pela carta. Voltou a abri-los e procurou o programa que costumava utilizar para simular os cômodos. Cada detalhe tinha importância e assim conseguiu criar o espaço em suas dimensões e proporcionalidades corretas.

Voltou à carta e analisou novamente, buscando traços da personalidade do Mr. Flowers. Encontrou uma pessoa bastante conservadora e erudita, talvez vivesse sozinho. Mas por que queria flores? A leve instabilidade do avião deu lugar a um “terremoto”, levando muitos passageiros sentirem desconfortos e medo. Eliana apenas respirou fundo e repetiu para si mesma que não perdesse o controle. Salvou o arquivo e desligou o aparelho, na esperança de concentrar-se apenas em manter a calma.

– Não fique nervosa, esse trecho da viagem sempre é conturbado. - O senhor que antes resmungava, agora revelou uma voz rouca e compreensiva, apesar do volume, no momento, alto devido ao protetor de ouvidos que ainda estava usando.

– É um pouco difícil não sentir medo quando o único apoio é o avião...

– Eu te entendo, minha primeira viagem cruzando o oceano também foi assim, cheia de complicações. Logo chegaremos. Você deveria tentar descansar agora. O fuso não te deixará em paz por alguns dias.

Eliana sorriu e agradeceu. Durante essa pequena conversa, conseguiu acalmar-se um pouco e percebeu que a turbulência estava um pouco menos agressiva. Encostou a cabeça na poltrona e pensou novamente no enigma antes de pegar no sono.

***

– Bem-vindos a Madrid, obrigado por escolher a AeroEspanha.

Essas foram as palavras do comandante ao aterrissarem no aeroporto internacional de Madrid. Muitos passageiros, inclusive Eliana, fizeram menção de aplaudir o fato de já estarem em terra firme. O desembarque não foi tão tumultuado quanto o voo, mas Eliana sentiu-se perdida e, mais uma vez, lá estava o senhor da poltrona ao lado para ajudar. Recolheu sua bagagem enquanto mantinham uma conversa animada sobre os planos de cada um.

– O senhor veio a Madrid a trabalho também?

– Digamos que sim - respondeu pensativo, olhando-a com curiosidade - mas você é bastante nova para vir a trabalho, não?

– Acabo de receber essa oferta para trabalhar aqui e espero...

Eliana havia sido interrompida por outro homem que falava com o senhor com quem ela conversava. Percebeu que não queria ser ouvido e tentou não prestar atenção em outra coisa que não fosse a conversa. O homem recém chegado parecia ter pelo menos trinta anos, era alto e de porte médio. Não tirava os olhos de Eliana, enquanto terminava de dizer a palavra “vamos” ao senhor, com certa brutalidade. Acenaram apenas com a cabeça e saíram rápido do local. Eliana os acompanhou, observando o comportamento estranho dos dois homens.

A caminho da saída, já com suas malas, Eliana pode perceber a grandiosidade do aeroporto, não apenas no âmbito espacial, como também no estético. Não perdeu nenhum dos detalhes: a cor suave das paredes contrastada ricamente aos fortes tons que acompanhavam as formas ovaladas do lugar. A mobília rústica também despertou interesse, deu ao lugar um toque clássico e antigo. Enquanto Eliana andava distraída, apreciando cada pedacinho do aeroporto, não se deu conta por onde ia, muito menos que estava prestes a atropelar alguém com o carrinho de bagagem.

– Pelo amor de Deus, não olha por onde anda? - O grito do homem caído ao chão fez com que Eliana tirasse a atenção que tinha voltada às paredes, assustada.

– Desculpe, eu não pretendia... - Tentou sorrir e parecer simpática. Não era possível que conseguisse ser tão desastrada em seus primeiros minutos na Espanha. - Precisa de ajuda?

– Não, não importa. Preste mais atenção.

Eliana tentou olhar os olhos furiosos do misterioso homem, mas eram tão intimidantes que não pode. Olhou a sua volta e percebeu que já não havia placas indicando a saída, ou seja, estava perdida. Ótimo começo, na sua opinião, perdida e sozinha em Madrid.

– E você, precisa de ajuda? - Perguntou o homem, mais calmo, salvando Eliana de seus pensamentos pessimistas - Aonde vai?

– Bem, eu queria encontrar a saída, mas como você pode perceber eu me distraí e já não sei mais por onde ir.

– Eu te mostro a saída, venha comigo.

Eliana não sabia se duvidava de um homem que acabara de atropelar ou se aceitava sua ajuda. Permaneceu parada alguns segundos tentando se decidir, mas como não via outra saída, resolveu andar atrás do homem. Às vezes, percebia que ele olhava por cima dos ombros largos para não perdê-la de vista, até que chegaram a vários portais, onde viam claramente vários táxis.

– Aqui estamos, a saída. - O homem misterioso virou-se de frente para Eliana e a olhou, com aqueles olhos intensos.

– Ah, obrigada - disse Eliana desconcertada, tentando esboçar um sorriso. - Tentarei ser mais atenta da próxima vez.

Levantou os olhos, mas foi inútil, o homem já não estava lá. Olhou por todos os lados, mas não o encontrou. Aproximou-se do primeiro táxi que encontrou e entrou, pensativa, desejando poder chegar o mais rápido possível no hotel escolhido pelo jornal e descansar um pouco antes de começar a trabalhar novamente.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do e-mail recebido pela Eliana?
eixem reviews! :D

beijos, Cat.



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