Quebrando as correntes do destino escrita por Jose twilightnmecbd


Capítulo 37
Marcando território


Notas iniciais do capítulo

POV Narrador



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03/07/1883. Terça-feira.

─ Muitas lembranças? – Isabella perguntou vendo que Edward estava parado observando a entrada da casa, quase hipnoticamente.

Ele deu um sorriso.

─ Faz cinco anos que não venho aqui. Mas nasci e cresci neste engenho. Tenho sim, muitas lembranças, aliás, a mais forte delas tem a ver com a senhorita. – falou quase sussurrando.

Isabella corou e prendeu um sorriso. Fora no engenho que ela quase morrera afogada no lago quando criança. Disso ela também guardava uma bela recordação.

Todos se apressaram a entrar quando uma chuva fina e gélida começou a cair. Renée já sabia o caminho da cozinha e passou apressada, já estavam no final da tarde e logo seria a hora da ceia.

O casarão do engenho era bem diferente da casa grande da chácara. Era mais rústico e não tinha dois andares. Todos os cômodos eram no térreo numa divisão simples. Ao contrário da escadaria da entrada da chácara, no engenho havia apenas cinco degraus, com corrimãos de ferro, onde duas pessoas poderiam subir lado a lado, mas se fosse uma dama com um vestido muito armado, teria de passar sozinha.

Uma varanda contornava toda a extensão da casa, sendo mais larga e ampla na entrada. Apesar de conservado, talvez estivesse precisando de uma reforma. Partes dos tijolos apareciam descascados e a hera que estava na maior parte da parede, precisava de uma poda e alguns cuidados. Todas as janelas e portas eram de cor marrom escura, tendo algumas partes envernizadas.

Dentro do hall de entrada, Isabella se assustou com o rangido da madeira ao pisar. Não havia uma divisão para a sala de jantar, uma enorme mesa de madeira, ficava no canto mais iluminado do salão. Isabella contou: 12 cadeiras. Ela sorriu ao lembrar que quando menina, adorava o vasado de coração que tinha nos espaldares das cadeiras.

Todos agora estavam em seus respectivos quartos se acomodando. Dois escravos, Eric e Angela, já sabendo adiantadamente da chegada de seus senhores, prepararam e arrumaram a casa previamente. Eram seis quartos separados por dois corredores. Os dois cômodos do meio eram a biblioteca que tinha a entrada para o salão e uma outra porta menor para o corredor direito bem de frente para um dos quartos.

Os dois corredores davam para uma saleta com um sofá e jarros enormes de plantas e a porta dos fundos. De um lado, mais um quartinho, que seria de Renée e do outro a cozinha, maior que a da chácara. Isabella quis ficar no primeiro quarto do corredor direito, o que tinha a porta de frente para a biblioteca. O primeiro do corredor esquerdo era o de sua mãe. O quarto ao lado do seu estavam a prima Jéssica e seu esposo. A escrava Angela, fora escalada por Jéssica para dormir com as crianças no quarto que ficava ao lado do de dona Esme. Mike ficou no quarto que dividia parede com a biblioteca e sua porta ficava bem em frente a porta de sua irmã.

Dona Esme insistiu que Edward não fosse dormir na senzala, mesmo que ele dissesse não se importar. Então ele passou a dividir o quarto que ficava do lado de fora da casa, com Eric. Emmett e Jasper foram com Rosalie para a senzala. Jasper estava apreensivo se iria ou não voltar ao seu trabalho de reprodutor. Precisaria esperar o comendador chegar para que pudesse resolver. Pelo menos enquanto a fuga com Edward não acontecesse.

─ Como vamos fazer para nos encontrarmos? – Isabella perguntou assim que conseguiu um momento a sós com Edward na cozinha.

─ Daremos um jeito. Mas não quero que se arrisques. O Feitor Marcus é bem mais presente na vida do engenho do que o feitor da Chácara. Ele é o sucessor do Demetri e traduzindo em um único adjetivo, é considerado por todos como muito malévolo. – Edward esticou a mão para retirar a caneca vazia das mãos de Isabella. Ela segurou a dele ali. – Amanhã farei uma cavalgada pelo engenho para ver se ainda está tudo como me lembro e te aviso assim que encontrar um lugar seguro. – ele terminou a frase quase sussurrando.

O olhar de Edward era tão intenso que Isabella podia se sentir desnuda. Ela arfou e instintivamente aproximou os lábios dos dele.

─ Bella.... – ele mirava os lábios avermelhados dela.

Ela chegou bem próximo e apertou os olhos como se aquilo lhe causasse uma dor terrível.

─ Meu corpo dói sem o seu toque. – ela sussurrou.

─ O meu também.

─ Isabella?

Os dois tentaram não parecer assustados e Edward se virou com a caneca de Isabella na mão. Era Jéssica.

─ Oi... prima?

─ Sua mãe estava a lhe chamar.

─ Senhora Jéssica. – Edward fez uma reverência. – Com suas licenças. – Isabella assentiu e ele saiu. Edward pensou em milhares de desculpas que poderia dar naquele momento, mas resolveu se calar. Não seria preciso.

─ Vou ver o que minha mãe deseja...

Jéssica segurou o braço de Isabella.

─ Deixe lhe dizer algo antes, minha prima e futura cunhada. O divertimento com os escravos pode ser bem... – ela ponderou ao escolher uma palavra. – interessante. Gosto de Edward, ele sabe ser bem útil quando ele quer. – Isabella se segurava para não falar alguma besteira. Jéssica não imaginava o que já havia acontecido entre eles. – Mas seja lá o que for que esteja acontecendo entre vocês, não deixe que meu irmão saiba. Mike tem tendências egoístas e nunca se sabe o que um homem com a honra ferida pode ser capaz.

Isabella olhava bem dentro dos olhos irritantemente azuis de Jéssica. Ainda amargava um ciúme mas não poderia deixar de ver que ela estava sendo sincera e que não havia maldade em suas palavras.

─ Muito obrigada pela... informação, senhora Jéssica. – Jéssica abriu a mão soltando o braço de Isabella, esta puxou o vestido o levantando um pouco do chão. – Mas não há nada para saber. Com sua licença.

Jéssica estreitou os olhos enquanto olhava Isabella sair da cozinha. Sua experiência lhe dizia que sim, havia algo para se saber e a mesma experiência lhe dizia que não devia se meter nisso. Edward a havia rejeitado, ela estava bêbada e carente, muito carente naquele dia. Mas Emmett havia lhe saciado e ela sabia que ele ainda seria mais útil agora com a chegada de Tyler.

Após a refeição, todos se recolheram ainda exaustos da viagem. Isabella achou melhor aceitar os galanteios de Mike para que ele não viesse a desconfiar de mais nada e durante o jantar estava toda sorrisos. Edward deu uma desculpa para dona Esme e não participou do jantar, Isabella foi para o quarto inquieta não se aguentando mais de saudade e desejo.

─ Não vou conseguir dormir. Não consigo parar de pensar no que ele está fazendo e no que poderíamos estar fazendo juntos. Sinto-me numa prisão.

─ Jasper falou de uma roda de capoeira, algo como uma festa de boas-vindas... – Alice esticava o lençol arrumando sua cama no chão ao lado da cama de Isabella.

─ Alice! – a mucama se assustou. – Por que não disseste isso antes? – Isabella deu um pulo da cama e correu ao armário procurando seu manto.

─ Sinhazinha, não tá pensando...

─ Ande! – Isabella jogou um de seus xales grossos para ela – Não nos demoraremos, eu prometo. – falou sorrindo faceira.

A área da senzala no engenho, era mais distante do que na chácara, mas Alice que fora criada ali, sabia o caminho de olhos fechados. As duas pararam ao chegar na cerca e avistaram a fogueira e a roda de capoeira, com bem mais gente do que a da chácara, Isabella se espantou.

Não precisaram de muito esforço para ver Edward e Jasper no meio da roda. Estavam com calças de flanela e sem camisas, o suor brilhando pela iluminação da fogueira. A pele branca de Edward contrastava no meio dos outros escravos, mas era visível a maneira como ele se sentia em casa ali.

─ Vamos, Alice. Deixemos que eles se distraiam. – Isabella falou depois de longos minutos em silencio, apenas observando Edward gingando e dando piruetas. De onde elas estavam, ninguém conseguia vê-las.

─ Ora, ora, se num é a sinhazinha que gosta de se intretê com os escravo!

Isabella virou a cabeça devagar na direção da voz. Era Rosalie.

─ Sinhazinha, num liga pra essa aí não. Logo vê que num tá no juízo perfeito! – Alice passou a mão pelo ombro de Isabella.

─ É! Vão se imbora que hoje a noite é minha! – Rosalie estava com uma garrafa de aguardente na mão e a virou no gargalo. – pensa o que? Quando Edward enjoar do brinquedinho novo dele é pra mim que ele vorta!

Isabella parou.

─ Vamos sinhazinha... – Alice falou baixinho para ela.

─ O que disseste?

─ Isso mermo. Pensa que ele gosta de branquela feito tu? Ele queria ter a minha cor, queria que a pele dele fosse negra que nem a minha! Edward vai enjoar docê. Isso já aconteceu antes. E depois, ele vorta pra mim. É nos meus braço que ele se aquece e no meio das minhas pernas que ele se sacia!

Isabella poderia ter dito mil palavras ou nenhuma e ter se virado e ido embora com Alice, mas seu sangue esquentou. O coração acelerou e ela já estava saturada das investidas de Rosalie, que chegava a andar com os seios de fora para atazanar Edward. Juntando todas as outras coisas que estavam acontecendo no momento, o fato de estar a dois dias sem o toque de Edward por conta da viagem, de não conseguir imaginar como a fuga se daria...

Isabella não quis pensar, puxou o cadarço do manto deixando que caísse no chão, se desvencilhou das mãos de Alice que a tentavam impedir e foi com tudo para cima de Rosalie. Rosalie não esperava essa reação e estava com a garrafa na boca quando foi jogada no chão com um empurrão de Isabella.

Alice sabia que não teria forças para apaziguar a briga e correu em direção a roda de capoeira tentando não fazer nenhum alarde. Enquanto Isabella e Rosalie se engalfinhavam no meio do mato raso, com puxões de cabelo, arranhões e muitos tapas.


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