Pesadelo | Amor Imortal 01 escrita por Lolli Blanchard


Capítulo 8
Capítulo 8




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Mais tarde, depois que Maximus trouxe a prisioneira de volta para seu quarto, apenas se passaram algumas horas até que aquele céu escuro se tornasse vermelho acompanhado com suas nuvens cinzas. Ela não conseguiu dormir naquela noite e nem ao menos sabia o motivo de ter perdido seu sono, mas de alguma maneira, a prisioneira teve que aprender a brigar com sua própria mente quando ela insistia em ficar rodeada de pensamentos que envolviam um certo anjo loiro sem camisa.

Nesse momento, ela desejava bater sua cabeça fortemente contra alguma parede por pensar em Maximus dessa maneira. Já que nos três dias que havia convivido com o arcanjo do inferno, ela jamais havia sentindo qualquer atração fisica por ele, mas assim que seu orgulho foi ferido e a prisioneira viu o peito nu do anjo, tudo mudou rapidamente.

Ela nem ao menos pensou nele como um “monstro de asas”, não sentiu medo por estar perto dele. Em sua verdadeira vida, a prisioneira só podia ter sido alguma pervertida que babava por qualquer homem bonito sem camisa, pois essa era a única explicação de ter se tornado tão idiota rapidamente em questão de segundos depois de ver Maximus na noite passada. Além do mais, mesmo não querendo admitir, a prisioneira se sentia sensível e o anjo estava sempre disponivel para dar atenção a ela. Maximus fazia um bom trabalho em distraí-la quando conversava com ela.

A prisioneira estava completamente pronta e vestida com seu vestido cortado nos joelhos para sua sessão com o arcanjo do inferno quando uma empregada segurando uma bandeja com seu café da manhã entrou em seu quarto sem ao menos bater, ela não era Marie e de longe tão simpática como tal. A mulher nem ao menos olhou para a cara da prisioneira, apenas deixou a bandeja em sua da mesa de vidro que existia em seu quarto e se retirou do comodo como se ninguém estivesse a observando.

Ela, definitivamente, sentia falta de Marie.

Ignorando seu café da manhã, pois estava ciente de que nada que estava ali iria agradá-la, a prisioneira saiu de seu quarto sem ao menos pensar que logo alguém iria aparecer para levá-la até Maximus. A prisioneira sabia que isso iria demorar e não aguentava mais nenhum minuto ficar se torturando com seus pensamentos que estavam muito voltados no corpo do anjo. Ela tinha que ver Maximus logo para ter a certeza de que aquilo que passou pensando a noite inteira era apenas a beleza dele a afetando. E que todas as sensações que teve naquele corredor ao ver uma mulher saindo de seu quarto era apenas nervosismo.

E mesmo que a prisioneira estivesse errada, ela não possuía mais respostas do que poderia ser. Não havia mais nenhuma explicação para essas sensações que teve na noite passada. Fazia uma semana desde que ela não via a pessoa que mais a intimidava naquele lugar, estava obvio que as consequencias seria bem grandes.

A prisioneira estava caminhando por algum corredor, sem ter nenhuma noção de onde estava, pois todos os corredores eram iguais e o único diferente que já havia visto era aquele que levava para o quarto de Maximus, e mesmo que ela estivesse com certa agonia para encontrá-lo, não conseguia de maneira alguma encontrar aquele corredor. Na verdade, todos os corredores eram exatamente iguais e a impressão que a prisioneira tinha era de que estava andando em circulos, mas depois de caminhar tanto tempo, o silencio que era quebrado apenas pelo som de seus passos, foi quebrado por outra coisa também.

Musica.

A próxima porta daquele corredor em que ela estava caminhando não estava tão silenciosa quanto as outras que passou. Na verdade, era primeira vez que escutava outra coisa além dos seus próprios barulhos naquele castelo tão grande. E a musica que escapava pelos vãos da porta e destruía todo o silencio que existia ao seu redor, era hipotizando, do tipo que deixava as cobras mais perigosas calmas.

Ela não conhecia aquela musica, talvez um dia podia ter conhecido, mas agora era um som tão desconhecido quanto sua vida. No entanto, a prisioneira sabia que o instrumento tocado era um violino por causa de suas notas serem suaves como a correnteza que fazia o oceano do lado de fora de sua janela se debater contra as pedras durante a noite. A musica tocada era tão calma, tão clássica que os pés da prisioneira se agitavam dentro de suas sapatilhas para que ela saisse dançando por aquele corredor, mesmo não fazendo ideia de como dançar.

Aquele som que ecoava não era triste, mesmo que suas notas fossem calmas e do tipo que poderiam até mesmo derrubar algumas lágrimas, a música parecia que passava energias positivas para alguém que se sentia infeliz. A prisioneira, que já se sentia como um ratinho que foi hipnotizado pela flauta de seu mágico, colocou seus dedos em volta das maçanetas das portas duplas que estavam em sua frente e não demorou mais nenhum segundo para que ela as abrisse para ver a pessoa que tocava seu violino em uma melodia tão linda.

O som, assim que ela empurrou as portas, cessou rapidamente para demonstrar que o homem, que os olhos dela encontraram sentado em um banco de pernas altas e com o violino em um de seus ombros, foi pego totalmente de surpreso.

O banco que ele estava sentado estava posto de frente com uma janela que permitia uma visão da mata ao invés do oceano que ela estava acostumada a ver, e assim que a prisioneira entrou na sala sem ao menos bater, o homem que se vestia como um soldado tirou o violino de seu ombro para olhá-la com curiosidade.

Aquele soldado, aparentemente, parecia ser mais novo que Gate e até mesmo ela. Esse homem que tocava tão bem era apenas um adolescente e mesmo que a prisioneira não lembrasse sua idade e nem soubesse a idade do outro soldado que a irritou com seu assobio, estava mais do que obvio que ele era jovem demais para se vestir como um soldado.

Ele tinha uma pele branca que era exatamente como porcelana, a cor seus olhos era um pouco curioso, pois pareciam ser uma mistura de verde e azul, eram da cor verde-água. Algo totalmente diferente do que um dia ela já havia visto desde que acordará no inferno. Mas o que realmente chamou sua atenção, não foi seus olhos puxados e pequenos com cores diferente, e sim, a maneira como aquele soldado jovem usava seu cabelo castanho claro e com alguns fios dourados.

Seus cabelos eram uma constante bagunça, do tipo que passar uma escova neles depois de acordar era totalmente proibido. E ainda existia uma mistura de alguns fios que se enrolavam um pouco com cabelos lisos que eram arrepiados para todos os lados. Isso a deixou intrigada pelo motivo do penteado não o deixar feio, mas sim dentro de seu próprio estilo. A prisioneira não podia mentir dizendo que ele era feio, pois o garoto sentado em sua frente possuía um toque muito grande de principe em sua aparencia. E mesmo que seus lábios fossem finos e quase sem cores, existiam alguns traços nele que a fazia lembrar de Morgan.

— Desculpe.— A prisioneira falou quando o jovem soldado continuou a encarando como se fosse algo totalmente anormal.— Não queria ter atrapalhado sua musica.—

— Não se desculpe por isso.— Ele disse com um certo sorriso zombateiro.— Você já atrapalhou mesmo.—

A prisioneira sentiu que o correto era mandá-lo para inferno e morrer queimado por causa daquela resposta, mas como eles já estavam no inferno, ela decidiu ignorar suas palavras mal educadas e seguir o conselho de Maximus sobre parar de se desculpar por tudo. Parecia que ninguém nesse inferno era humilde o suficiente para receber um simples pedido de desculpa... Mas mesmo que sua vontade fosse de ir embora, ele era o único que ela encontrou depois de tantas voltas pelo castelo.

E esse soldado jovem teria que ajudá-la, pois agora que o feitiço da musica que o tornou um principe havia acabado, a prisioneira lembrava de tê-lo visto naquela meia lua. Ele era o último dos seis homens que ficaram em volta dela em quanto seu julgamento acontecia.

— Espere.— O soldado disse, estreitando seus olhos para vê-la melhor.— Você é a humana do Max.—

Max. Essa era a primeira vez que ela via um homem vestido com essas roupas que o tornava um soldado chamando o arcanjo de Max, sendo que os outros sempre o chamavam de Maximus ou imperatore.

— Não sou a humana do Max.— Ela ressaltou aquelas palavras.— Mas sim, sou a humana.—

O soldado jovem sorriu com certo sarcasmo diante das palavras dela.— Meu pai disse que a levou até o quarto de Max na noite passada, então imagino que o pronome deve ser trocado.—

— Não, não deve.— A prisioneira cortou o assunto antes que se aprofundasse, pois ela estava sentindo seu coração se acelerar por pensar nas mesmas coisas que o soldado estava pensando.— Morgan é seu pai? Realmente seu pai?— Perguntou para mudar logo o rumo da conversa.

— Sim.— Ele disse sem a deixar surpresa, pois a semelhança entre eles estavam bem explicitas. Mas...

— Isso é estranho. Eu pensei que famílias não existiam no inferno, além da dos arcanjos.— A prisioneira murmurio mais para si mesma do que para ele.

— Bem, crimes em grupos sempre existiram em seu mundo.— O garoto falou.— Esse é o motivo por meu pai e eu estarmos juntos mesmo depois da morte.—

— Mas você parece tão jovem...—

— Não deixe que minha cara de adolecente a engane, eu tenho mais de 100 anos.— Disse ele.— Mas me tornei um demonio com 18 anos, então não faz muita diferença para você.—

Aquilo, realmente, não importava, não quando a mente dela ainda estava focada na parte em que o garoto que pensou que era mais jovem que ela tinha mais de 100 anos.

— Você estava no meu julgamento, ao lado de Diane naquela meia lua em que eu fui colocada no meio.— A prisioneira o lembrou, fitando seus olhos verdes água.— O que aquilo significava? Aquela meia lua?— Por um breve momento, a prisioneira havia pensando que aqueles homens que estavam ao seu redor naquele dia eram os mais experientes e mais velhos soldados, porém Gate e o filho de Morgan não se encaixavam na sua teoria.

— Nós somos os tenentes de Maximus.— Explicou.— Quero dizer, o inferno é um lugar muito grande e complexo para que Max cuide sozinho. Então seis homens que faziam parte de seu exercito foram escolhidos para se tornarem um tipo de substituto quando o arcanjo está ocupado com outra coisa e precisa resolver algum problema imediatamente.—

— Eu pensei que Maximus tinha poder suficiente para fazer tudo sozinho.—

— Max tem o poder para acabar com o inferno em uma única palavra se ele desejar, mas a possibilidade de se dividir em dois não existe. Os arcanjos não podem resolver os problemas que acabam com a paz tudo de uma vez.— Falou o jovem.— Derek é aquele responsável por nós e quem decide o que cada um irá fazer. Ele é o segundo em comando e tem um papel muito importante quando Maximus não está disponivel. Antes Derek sempre recebia ordens de Max para repassar a nós, mas nos ultimos anos tem sido apenas os tenentes.—

— Como assim?—

O soldado jovem parou de falar por um momento para observá-la, seus olhos de cores diferentes diziam que ele estava falando demais para alguém que era tão deconhecida que nem ao menos sabia seu nome. Mas isso não o fez ficar em silencio.

— Maximus parece não se importar mais com o que acontece em seu reino.— Ele deu de ombros.— Dimitrius muitas vezes faz o trabalho por ele, pois Maximus estava usando a morte definitiva para resolver os problemas que estão em seu caminho. Para um imperador essa atitude é considerada incorreta e os anciões podem puni-lo por isso.——

— Por que Maximus não abandona esse poder?— A prisioneira perguntou surpresa, pois não parecia que Maximus não se importava com seu reino. E se isso estava acontecendo, ele podia simplesmente desistir desse trabalho.

— Porque nem ele e seus irmãos possuem um herdeiro para substituí-lo.— O garoto falou.— Meridius se casou no momento em que viu que seu irmão não poderia ser mais o responsável pelo inferno, mas até hoje sua esposa não engravidou para conceber um herdeiro já que Maximus e Dimitrius não possuem a intenção de ter filhos. Ele só pode deixar de ser o imperador do inferno depois que alguém de seu próprio sangue assumir o poder.—

— E Diane?—

— Diane não é um arcanjo.— Ele falou obvio.

— Você está dizendo que ela precisaria ter asas para substituir Maximus?——

— De certa forma, sim.— O soldado se levantou daquele banco para olhá-la melhor.— Nenhum dos tenentes culpam Maximus por estar tão recluso, pois de todas as dimensões o inferno é a pior delas. Nenhum arcanjo sobrevive a essa dimensão, todos aqueles que estiveram aqui no passado estão loucos e Max segue o mesmo caminho deles.—

— E o que aconteceria se Maximus atingisse essa “loucura” antes de um herdeiro nascer?—

O jovem deu de ombros, seus olhos ainda estavam presos nos dela.— Ai está o problema.— Falou.— Nós somos seres que ainda vivem em base de regras do passado, o que está acontecendo com Maximus nunca ocorreu antes tão rapidamente. Exatamente como é o seu caso, nós nunca tivemos uma humana no inferno.—

— Eu imagino que apenas piorei essa situação.— A prisioneira suspirou.

— Não posso mentir, mas sim.— O soldado sorriu brevemente.— Antes nosso dia a dia eram os mesmo, Dimitrius separava as almas que iam para o nivel 1 e 2 e nós, os tenentes, cuidavamos dos demonios que causavam problemas. Mas após sua chegada, todas as dimensões foram afetadas de certa forma, pois os arcanjos precisam encontrar uma forma de levá-la para casa e encontrar quem quebrou as regras. Afinal, se as pessoas começarem a descobrir como se transportar para outra dimensão que não pertencem, isso seria o fim de tudo que foi construído. Maximus não pode ficar recluso diante dessa situação e parece que ele está ainda mais perturbado depois da sua chegada.—

A prisioneira se sentiu mal por causa do que estava acontecendo, pois estava obvio que por causa dela, tudo aquilo que Dimitrius e os tenentes de Maximus construíram para ajudá-lo havia desmoronado com sua chegada. E se sentiu ainda pior por saber que aquilo que o filho de Morgan estava falando era verdade, afinal, ela viu nos olhos do anjo loiro que ele queria matá-la apenas por ser um problema no dia em que se encontraram pela primeira vez. E o arcanjo nem ao menos fez questão de esconder que aquilo era uma mentira depois de decidir que matá-la era errado.

— Como você se chama?— A prisioneira perguntou para o soldado que estava colocando seu violino em cima de um piano negro, mas não soltando seu arco prateado.

— Patrick.—

— Patrick, você se importaria de me levar até Maximus?— Perguntou ela de maneira inocente, pois sabia que esse pedido parecia ridículo depois de tudo o que ele havia falado, mas antes a prisioneira desejou ver Maximus para ter a certeza de que não se sentia atraída por ele fisicamente, porém , seus planos haviam mudado. A prisioneira desejava encontrá-lo para poder fazer algo que o ajudasse a ele não ficar perturbado com sua presença ou simplesmente ver que tudo o que Patrick havia falado era uma mentira.

E ela queria se iludir que tudo isso era uma mentira, mas estava ciente de que era a mais pura verdade. A prisioneira apenas pensou que a maneira como Maximus agia era como ele sempre foi, mas segundo Patrick, essa maneira tão fria e impenatravel não era Maximus. O arcanjo estava com problemas e para ajudar ela o chamou de monstro... Por que tudo parecia que a culpa era apenas dela? Como Maximus podia pedir para ela não se desculpar quando a presença dela fez com que ele piorasse?

— Sim.— Patrick disse, colocando seu arco prateado sobre um de seus ombros e comçando a caminhar para sair daquela sala que aparentemente era um salão musical.— Vamos, Milady.—

— Milady?— A prisioneira andou rapidamente para acompanhar os passos dele.— Você andou conversando com Gate?—

Patrick, em sua frente, apenas riu e aquela foi a resposta que precisava para saber que uma segunda pessoa estaria a chamando de milady também. Essas malditas fofocas estavam acabando com sua vida, mas também estavam a ajudando. Afinal, se Patrick não tivesse uma língua solta, a prisioneira jamais iria saber que o anjo loiro estava com problemas que não podiam ser resolvidos por ninguém além dele mesmo.

***

O filho de Morgan deixou a prisioneira em frente de uma porta antes de dizer que Maximus estava ali dentro e ir embora. Por um lado, ela estava feliz por esse lugar não ser o quarto dele, pois a probabilidade do anjo estar com uma camisa eram maiores do que se estivesse naquele comodo em que podia se sentir livre para usar o que bem entendia. E sem ao menos pensar que era corredo bater em quanto se sentia aliviada pelo arcanjo não estar sem seu quarto, ela abriu a porta que a separava do anjo loiro para se deparar com uma sala escura que era iluminada somente com a claridade do lado de fora.

Seus olhos imadiatamente encontraram a silhueta de um anjo sentado atrás de uma mesa grande que estava próxima e em frente de portas de vidros que se fossem abertas para pessoas que não possuíam asas, iriam receber uma queda mortal de encontro ao chão. Mas isso não era importante, não agora que a prisioneira viu que o anjo vestia uma camisa e ele não afetou sua mente de maneira alguma como na noite passada. No entando, agora que a prisioneira sabia que o arcanjo passava por problemas que poderia lavá-lo para a loucura, ela encarou esse pequeno fato de Maximus estar sozinho no meio de um comodo escuro como um problema, não como algo normal.

— Maximus.— Ela disse seu nome, entrando no comodo que aparentemente era um escritório e fechando a porta em suas costas, se infiltrando naquela escuridão junto com o anjo que deveria manter a distancia, mas agora que a prisioneira viu que ele apenas causava problemas a ela quando estava sem camisa, manter a distancia não era mais uma prioridade.

O anjo reagiu ao som de seu nome, tirando sua mão que estava sobre seu queixo para deixar de olhar o nada que se encontrava em sua frente e encontrar os olhos da prisioneira, que se aproximava lentamente de sua mesa.

— Você não precisava vir até mim, humana.— Maximus disse friamente.— Eu iria mandar alguém para buscá-la quando fosse a hora.—

— O que está fazendo?— Ela prefirou ignorar a frase educada dele que em outra palavras dizia “vá embora.”. Palavras que ela usaria sem nenhum problema pela falta de sua paciencia para ser educada.

— Pensando.—

— Pensar não faz bem para ninguém.—

Maximus arqueou uma de suas sobrancelhas perfeitamente, a olhando como se fosse algo muito anormal.— Você está dizendo que pensar em uma maneira para mandá-la embora dessa dimensão não faz bem para mim?—

— Bem, não exatamente...— Maximus conseguiu pegá-la com sua pergunta estupida.— Acho que me mandar para casa iria resolver muitas coisas, mas também acho que você dorme pensando nesse assunto e isso não faz bem.—

— Por que não?—

Ótimo! Se já era dificil se comunicar com Maximus em um dia normal, era ainda pior tentar conversar com o anjo em quanto ele não se sentia nem um pouco comunicativo.

— Porque...— Como ela podia responder aquilo quando concordava plenamente com suas atitudes de achar logo uma maneira de madá-la embora?— Você deve ter mais coisas para fazer.—

— Eu tenho meus tenentes e soldados.—

— Mas eles não são o imperador do inferno.— Ela apontou aquilo com orgulho, mas após ver o olhar sugestivo que o anjo lançou em sua direção, sentiu que havia entregado todas as cartas de seu jogo sem ao menos saber o que estava fazendo.

— Por que eu tenho a certeza de que você andou conversando com alguém?— Maximus se levantou de sua cadeira e suas asas se fecharam em suas costas bruscamente.— Talvez Dimitrius novamente.—

— Eu não falei com Dimitrius.— Ela disse a verdade, mesmo não revelando muito.

O anjo caminhou em sua direção até que estivesse em frente dela, a encarando fixamente para enfrentá-la como um grande animal fazia com outro pequeno e indefeso. Ela se sentiu tão intimidada que se calou antes mesmo de arrumar qualquer desculpa que não revelasse o nome de Patrick.

Maximus estava tão próximo dela que podia sentir sua respiração leve em seu rosto, uma respiração tão diferente da dela que estava totalmente alterada de todos os modos possíveis. Seu peito estava quase encostando ao dela e a prisioneira teve que erguer seu queixo para que continuasse prendendo o olhar do anjo furioso.

— Se você está aqui é pelo simples motivo de não desejar humanos em meu mundo.— Maximus disse severamente.— Não se envolva em meus problemas se ainda não quer morrer.—

Antes que a prisioneira tivesse a chance de escolher o que iria dizer sobre aquilo, pois ela tinha muito o que dizer, o anjo se moveu para passar por ela sem ao menos esperar uma resposta. Porém, a prisioneira não permitiu que Maximus fosse embora daquele escritório escuro.

Ela segurou um dos braços do anjo com força e até mesmo cambaleou quando uma de suas asas pesada se debateu contra o seu ante-braço. Sem ter equilibrio nenhum, a prisioneira teve que dar alguns pequenos passos para recuperá-lo sem que soltasse o braço quente do arcanjo.

— Não dê as costas para mim, Maximus.— Disse ela, sem olhá-lo nos olhos, pois seu corpo não tinha coragem para fazer todas essas coisas com uma pessoa tão poderosa. Mas sua raiva era tanta, que logo a prisioneira encontrou o olhar do anjo sem hesitar.— Estou falando com você.—

— Tudo o que posso dar a você é a volta para a dimensão que pertence e isso é exatamente o que quer também,— Ele disse friamente.— O que deseja quando diz para que eu não pense nisso?—

Maximus se livrou do braço dela e se afastou com alguns passos para trás, ainda olhando em seus olhos que provavelmente demonstrava o quanto confusa ela estava. Afinal, a prisioneira desejava exatamente o que o anjo havia falado e queria ser uma prioridade em seus problemas para que fosse embora, descobrir tudo sobre sua vida... Ela não podia discordar dele, pois estaria mentindo.

— Vá embora.— O anjo voltou a falar, vendo que a prisioneira não possuía mais respostas.— Ainda é muito cedo para nossa sessão.—

— Não.— Ela falou determinada.— Eu sei o que quero agora e isso não inclui sair dessa sala.—

O anjo a encarou com uma expressão tão crua que se não fosse o movimento de suas palpebras, ela poderia facilmente dizer que ele estava congelado. Uma parte dela se perguntou se algum dia Maximus já fez uso de expressões que mostrava seus sentimentos em situações como essas, pois isso apenas a fazia pensar que ele não se importava com ela.

Bem, Maximus realmente não se importava, pois se nem com o seu reino ele dava a atenção necessaria, obviamente a prisioneira ser parte de suas preocupações era algo que não existiria nunca.

— Eu quero conhecer seu trabalho, Maximus.— Disse ela, sabendo que de uma forma ou outra, isso o faria pelo menos se interagir com aquilo que sempre fez um pouco e também acabaria com sua curiosidade de certa forma.— Quero saber o que um arcanjo faz no inferno.—

Maximus suspirou, desviando seus olhos para baixo por um momento.— Tudo bem.— O anjo falou em um tom calmo.— É o minimo que posso fazer a você quando exijo sua confiança, certo?—

— Sim.— A prisioneira sussurrou para ele, deixando seus lábios entre abertos quando viu a vida se manifestar nos olhos do arcanjo. Maximus se tornava ainda mais bonito quando permitia que suas emoções ficassem a mostra e era uma pena que aquele brilho em seu olhar durasse tão pouco.

O anjo se aproximou da prisioneira com cautela e a segurou por seus braços com certa delicadeza que jamais imaginou que poderia existir nele. Maximus segurou seus braços como se ela fosse feita de uma camada de vidro tão fina que qualquer erro na maneira que a segurava podia ressultar em uma tragédia. A prisioneira não desviou seus olhos do anjo com essa aproximação em nenhum segundo, mas ficou decepcionada quando não viu nada além do vacuo em seu olhar.

— Feche seus olhos.— Maximus falou em um tom baixo, como se existissem mais pessoas naquela sala e apenas ela fosse a permitida para escutar suas palavras. A prisioneira o encarou por um momento depois desse pedido, mas logo fechou seus olhos para confiar no arcanjo em sua frente para fazer o que estava em sua mente.

No segundo seguinte, um vento frio percorreu todo o corpo da prisioneira fazendo com que seu vestido e cabelos se agitassem conforme o ar a rodeava com uma força surreal. O que a deixou impressionada, era que o anjo não havia levantado vôo a segurando por seus braços, pois seus pés ainda estavam no chão e Maximus devia ter alguma noção que ela surtaria se ele decidisse voar.

A prisioneira segurou a cintura do anjo por instinto de protação quando cogitou essa ideia, pois jamais estaria preparada para tirar seus pés do chão. Seus dedos agarram a camisa escura que ele estava usando e esqueceu a possibilidade que apertá-lo podia causar alguma dor. Mas o corpo do arcanjo era tão duro sob o seu toque que quem acabaria sentindo alguma dor seria apenas ela.

Assim que aquele vento parou de bagunçar seu cabelo e movimentar seu vestido, ela sentiu que a temperatura caiu em questão de segundos, a deixando com a impressão de que estava caminhando pela neve sem usar nenhum casaco. Ela abriu seus olhos para ter a certeza de que isso não estava acontecendo e ao invés de ver o gelo invadindo todo o chão que pisava, a prisioneira se deparou com a realidade de que não estava mais no escritório do arcanjo e sim em outro lugar.

Maximus a levou para um lugar que parecia ter saído de um filme de ficção, pois era tão surreal e diferente que ela não fazia ideia de onde estava. Apenas tinha a noção que estava em cima de uma plataforma de metal que podia ser comparada com uma ponte. Mas essa ponte não existia começo ou fim, e quando ela olhava para cima e para baixo, era apenas a escuridão que via. No entanto, nessa escuridão existiam bolhas semelhantes à aquelas feitas de sabão que flutuavam pelo ar ao redor e abaixo daquela ponte de metal.

Essas bolhas de sabão possuiam luzes pequenas dentro delas, algumas eram vermelhas e outras azuis. Do seu lado direito encontravam aquelas das cores azuis e o esquerdo eram as vermelhas que dominavam, mas a baixo da ponte, as bolhas não possuiam cores nenhuma, apenas uma luz branca e fraca.

A prisioneira observava cada detalhe daquelas bolhas como se fosse uma criança em meio de uma loja de doces com a intenção de escolher o que bem entendia mas não saber o que queria, ela sabia que seus olhos estavam grandes como se fosse um cachorrinho abandonado e com fome, mas não se importou com isso, pois o lado que estavam aquelas bolhas da cor azul fazia a lembrar do céu que existia em seu mundo.

Não existia luz naquele lugar, o que iluminava a ponte que eles estavam era aquelas luzes dentro das bolhas e como ela estava olhando para o lado azul, tudo que pode imaginar era um céu escuro com as estrelas.

— O que é isso?— A prisioneira perguntou sem olhar para o anjo, a soltando quando ele se virou para observar o que ela via.

— Essas são as almas que residem no nível 1 do inferno.— Maximus disse calmamente.— São pessoas boas que se tornaram demonios por cometerem crimes pequenos que podem ser perdoados no futuro. As luzes vermelhas representam os demonios do nivel 2.—

— E as brancas?— Sussurrou a prisioneira, com medo que o som da sua voz estourasse as bolhas flutuantes.

— Digamos que é meu trabalho.— A prisioneira se aproximou da grade de segurança e a segurou com força para olhar na direção daquelas luzes brancas infinitas.— Essas almas não possuem um nivel e é meu dever denominá-las como vermelhas ou azuis.—

— E se você não fizer isso?—

— Essas bolhas irão estourar depois de um tempo e acontecerá o que chamamos de não existir vida após a morte.— Certo. Agora o que Patrick havia falado fazia sentido sobre morte definitiva.

— Maximus, isso é lindo.— A prisioneira falou com seus olhos voltados nas bolhas azuis.— É como o céu que eu conheço. Com estrelas.—

A prisioneira notou que ao falar uma famuça branca saiu de sua boca por causa do frio e isso fez com que ela sorrise para si mesma. Esse lugar parecia tão humano que não se importou de sorrir com o anjo logo atrás dela.

Maximus se aproximou do corpo da prisineira e suas mãos seguraram aquela grade de metal também, ele estava tão próximo que uma de suas mãos quase tocava a dela. Ela podia até mesmo sentir o calor que vinha dele por causa aproximidade.

— No passado os humanos acreditavam que as estrelas representavam aqueles que partiram e essa teoria não é muito diferente em minha dimensão e dos meus irmãos.— Ele disse olhando para as bolhas, sua pele branca levemente azulada por causa das luzes. Ela olhava para o anjo sem se importar que em algum momento Maximus iria virar o rosto em sua direção.— Mas ao invés de serem estrelas, são vidas que se tornaram eternas.—

— É incrivel.— Ela sussurrou quando o anjo encontrou seu olhar, mas antes que pudesse se sentir coagida por causa da pequena distancia que existiam entre eles, Maximus abriu uma de suas asas para colocar em volta do corpo da prisioneira. Ele fez aquilo como um cavalheiro faria ao colocar seu braço ao redor dos ombros de uma mulher com frio, sua intenção sendo a única de esquentá-la quando não possuía um casaco para oferecer. No entanto, o arcanjo não possuía um casaco também, mas colocou sua asa grande e quente com a mesma intenção de alguém que não podia ver uma dama sentindo frio.

A prisioneira ainda não aceitava ser considerada como uma dama frágil, mas era primeira vez que se sentia tão confortável estando ao lado de Maximus, então ela não o afastou mesmo quando o frio era suportável.

— Olhe para cima.— Maximus disse e quando olhou, ela encontrou uma bolha no centro daquela ponte que possuía ambas as cores e outras que eram azuis, vermelhas que se misturavam. Elas não estavam separadas. No total, eram sete bolhas.

— Seis bolhas pertencem aos seus tenentes.— Ela deduziu.— Mas e a colorida?—

— É a alma de Krueger.— O arcanjo estava olhando para cima também, para a bolha que pertencia ao seu amigo.— Ele pertence ao nível 2 por causa de seus crimes que cometeu quando era um humano, mas existe uma bondade dentro dele que não permitiu que sua alma se tornasse totalmente vermelha. Por mais estranho que pareça, Frederick é o único que se encontra nessa situação.—

— A maioria das bolhas dos seus tenentes são vermelhas.— A prisioneira falou.— Isso não é um problema para você?—

— Não quando eles possuem minha confiança.— O anjo falou sem hesitar.— Meus tenentes podem pertencer ao pior nível que existe em todas as dimensões, mas com o passar dos anos eles se tornaram boas pessoas, mesmo que os crimes que cometaram não possam ser perdoados.—

— Sabe, Maximus, você parece ser melhor do que aparenta quando não está usando sua mascará de ferro que o deixa sem emoções a vista.— A prisioneira soltou aquilo sem se dar conta do que estava falando.

O anjo franziu seu cenho com certa curiosidade com o que ela acabará de dizer, encontrando os olhos dela em questão de segundos.— Eu não possuo nenhuma mascará de ferro.—

— Não?— Ela perguntou com ironia, elevando suas sobrancelhas, mas antes que pudesse insistir naquele assunto para deixá-lo sem respostas, uma das bolhas captou sua atenção.— Ela está mudando de cor.—

Uma das bolhas azuis que estava próximo a eles passou a mudar de cor, aquela luz que lembrava o brilho das estrelas de seu mundo, passou a se tornar avermelhada. Ela também começou a se mover, abrindo espaço entre as outras que estava em sua frente até que estivesse pairando sobre a ponte que a prisioneira e Maximus estavam. Por algum motivo, ela sabia que foi o arcanjo que trouxe aquela bolha que ia se tornando vermelha para o meio da ponte.

— As possibilidades dos demonios do nivel 1 se tornarem pertencentes ao outro nivel são grandes.— O anjo loiro disse com um tom sombrio.— Eles são os piores que existem, pois tiveram a sorte de me enganar em seu julgamento.—

Maximus estava observando aquela bolha como se visse mais do que apenas uma luz azul que havia se tornado vermelha, e provavelmente devia ver, mas não compartilharia todos os seus segredos com uma humana que jamais pertenciaria ao inferno. Mas quando o anjo tirou sua mão da grade para levar até a bolha que flutuava em sua frente, a prisioneira o deteve.

Ela tocou levemente o topo da mão do arcanjo quando estava ao meio do caminho, pois nos olhos azuis dele, a prisioneira viu a morte se manifestar como uma praga. Ela sabia que Maximus iria matar aquele demonio que se tornou mau, e mesmo que não soubesse quão ruim aquilo podia significar, jamais poderia permitir que o anjo matasse alguém depois do que Patrick havia falado.

Maximus permitiu que a prisioneira o tocasse e impedisse que ele fizesse aquilo que estava em sua mente, ela sabia disso pelo simples fato de que tirar sua mão debaixo da dela era facilmente possível. Mas ele não tirou. O arcanjo permitiu que ela entrelaçasse seus dedos com os dele e abaixasse suas mãos até que estivessem ao lado do corpo deles.

— Não o mate.— Ela pediu olhando para bolha, não tendo coragem de encontrar o olhar do anjo em quanto segurava sua mão. O anjo loiro não disse nenhuma palavra sobre o seu pedido, mas também não usou seus poderes para destruir aquela bolha que brilhava em vermelho, que mesmo significando a maldade, era tão linda quanto as azuis. Maximus apertou levente a mão da prisioneira para que ela visse que a bolha que estava na frente deles estava sendo encaminhada para o outro lado da ponte, para o lado em que existiam os pontos vermelhos.

A asa do arcanjo que estava em suas costas se movimentou por um momento, se aconchegando ainda mais sobre o seu corpo para que a esquentasse melhor. Maximus também tomou cuidado para não liberar todo o peso dela na prisioneira, pois ela tinha uma noção enorme de como sua asa era pesada, mas agora tudo que sentia era um peso equivalente ao de um papel.

Isso só fez sua mente pensar em uma única coisa: Ele se importava.

Pelo menos um pouco.

Eles ficaram observando as bolhas azuis em silencio por um bom tempo, o silencio se debateu contra eles em questão de segundos e ninguém teve a coragem para quebrá-lo com algum som ou uma simples palavra. Assim como ninguém teve a coragem suficiente para desfazer o nó que existiam em seus dedos.

A prisioneira algumas vezes olhava para o anjo loiro pelo canto de seus olhos, ela percebeu que estava mais interessada em observá-lo do que olhar as bolhas azuis que lembravam as estrelas, mas não podia simplesmente se virar na direção dele. Porém, não pode deixar de notar que o que era bonito para ela era apenas normal para o anjo. Ainda mais quando as bolhas vermelhas eram a maioria naquele local.

Por um breve momento, a prisioneira entendeu um pouco do porque o anjo se manter afastado de seu trabalho. Afinal, Maximus não era frio e sem emoções como tentava ser e viver em um lugar que a maioria de pessoas eram más, podia acabar com sua essencia. Isso estava acabando com a essencia do anjo. Ela não sabia a que lado a sua alma pertenceria se estivesse morta, nem ao menos podia imaginar se estaria no inferno, mas lidar com o fato de que a maioria das almas que Maximus julgava acabavam sendo vermelhas, não deveria ser fácil.

— Hey, Maximus.— A prisioneira murmurio para quebrar o silencio e chamar a atenção dele.— Se eu morresse, você acha que minha alma pertenceria ao nivel 2?—

— Por que está perguntando isso?— O anjo encontrou o olhar dela, aqueles olhos azuis de um felino que não eram nem um pouco confiável a deixou sem respostas por um momento. Eles estavam tão calmos, tão cheios de emoções...

— Porque foi lá que você me encontrou.— Ela disse.— Com tantas dimensões existentes, eu fui parar no inferno e no pior nível, acho que deve ter alguma explicação para que eu não tenha ido ao paraíso ou coisa do tipo.—

— Eu acho,— Maximus inclinou sua cabeça ligeiramente para o lado, demonstrando que estava pensando sobre a questão que a prisioneira trouxe à tona.— Que você é apenas azarada o suficiente para se encontrar nas piores das dimensões. —

— Ou talvez eu esteja com a sorte do meu lado.— Ela deu de ombros.— Imagino que é o sonho de todos os humanos irem para o paraíso, mas agora que conheço Meridius, prefiro ficar com você.—

— É mesmo?— Maximus perguntou em um tom de divertimento.

— Você sabe... Ele queria me matar!—

— Eu também quis matá-la e estive mais perto disso do que meu irmão.— O arcanjo a lembrou, fazendo com que um calafrio se iniciasse em sua espinha. Ela ignorou aquela lembraça.

— Mas você é... Diferente.—

— Diferente?— Maximus franziu o cenho, coisa que acontecia apenas quando possuía uma duvida. E aparentemente, isso sempre ocorria com ela. Mas dessa vez, a prisioneira não possuía nenhuma explicação.

— Sim, diferente.—

Os cantos dos lábios do arcanjo se moveram para cima brevemente em um pequeno sorriso que nem ao menos podia ser chamado assim.— Diferente, então.— Ele apenas concordou.

A prisioneira umedeceu seus lábios quando percebeu que o arcanjo também estava a observando, seus olhos azuis estavam presos em seu rosto como se estivesse decorando seus traços. Maximus levantou as mãos deles em que seus dedos estavam entrelaçados para que sua palma livre fosse depositada sobre elas. O anjo soltou seus dedos antes de fazer isso e a prisioneira não teve nenhuma chance de tirar sua mão de perto dele, pois quando se deu conta, ela estava ao meio de um sanduiche feita com as mãos quentes e grandes de Maximus. Ambos estavam virados de frente um para o outro agora, mas os olhos deles estavam presos nas mãos que estavam seladas juntas.

— Feche seus olhos.— O arcanjo falou.— Vamos tirá-la daqui antes que sua temperatura caia ainda mais.—

A prisioneira fechou seus olhos novamente como ele havia pedido, mas dessa vez, uma parte dela estava decepcionada.

Maximus havia pego em sua mão para que eles fizessem aquela travessia de volta para o escritório, não por outros motivos. Ela ficou ainda mais com raiva por pensar que poderia existir outros motivos para que o arcanjo do inferno estivesse segurando sua mão. Mas nunca existiria e nem mesmo a prisioneira sabia dizer o porque de ter pensado que Maximus estava demonstrando mais sentimentos do que costumava mostrar.

Aquele vento forte não demorou para aparecer depois que ela fechou seus olhos, o vento que lhe dava a impressão de estar voando sem tirar seus pés do chão e que a levou para um lugar tão bonito e humano naquela noite, que também permitiu conhecer um lado quase inexistente de Maximus, pelo menos ela pensava que havia visto algo a mais, a levou também de volta para aquele escritório escuro com um anjo sem sentimentos.

A prisioneira não ficou muito tempo no escritório do arcanjo depois que eles voltaram daquela ponte onde ela viu as diversas e infinitas almas que existiam no inferno. Maximus soltou a mão dela assim que aquele vento frio parou de percorrer todo o seu corpo e como se o anjo nunca tivesse tocada nela em nenhum momento, sua máscara de ferro retornou ao seu rosto e voltou a ser tão comunicativo quanto uma flor seca.

Ela não pode deixar de se sentir um pouco decepcionada, pois dessa vez realmente parecia que o arcanjo do inferno estava a considerando como uma amiga. Afinal, ela tinha uma pequena noção de que eram poucas as pessoas que iam até aquela sala de um filme de ficção, mesmo quando pediam. Maximus também não aparentava ser do tipo que oferecia sua asa para alguém com frio e que permitia qualquer uma segurar sua mão para impedir que o anjo matasse alguém. Porém, ele fez questão de assassinar esses pensamentos quando eles voltaram para aquela sala escura, dando um simples comunicado que um de seus tenentes estaria vindo buscá-la.

O anjo também disse que a sessão de hoje estava cancelada pelo simples motivo de terem passado muito tempo naquele local cheio de bolhas, mas pediu que a prisioneira se juntasse a ele no jantar que aconteceria mais tarde. Tudo que ela fez foi apenas concordar, pois não tinha outra opção.

Agora, a prisioneira estava caminhando atrás de um dos gêmeos que a retirou da cela para ir até seu julgamento alguns dias atrás, como aquele soldado não disse nenhuma palavra ou olhou para ela, não teve audacia nenhuma em perguntar seu nome e do irmão que era identico a ele. A prisioneira tinha muita curiosidade em saber se os nomes deles combinavam, mas aparentemente, de todos os tenentes de Maximus, esse era o menos comunicativo. Então ela não insistiu em nada.

Mas quando eles estavam caminhando pelo corredor, a prisioneira viu Marie atravessando um dos inumeros corredores, nem ao menos olhando para eles já que estava distraída com seu cesto que carregava em um dos braços. A prisioneira segurou no braço daquele soldado que possuía um gemeo, com a intenção de pará-lo.

— Posso acompanhar Marie?— Ela perguntou quando o homem olhou em sua direção.

— Você não é mais uma prisioneira para pedir permissão.— Foi a resposta dele, não tão crua quanto ao tom que Maximus usava, pois ninguém se igualava a ele.

Sem esperar por uma resposta mais educada, a prisioneira passou pelo soldado e correu até o corredor que viu a empregada daquele castelo passar, esperando que não se perdesse naquele lugar tão grande. Na verdade, o que tornou facil para ela acompanhar os passos rápidos da empregada e não perdê-la de vista foi pelo simples fato de Marie ter virado em um corredor grande e sem outras entradas.

A prisioneira passou a andar mais rapido para chegar perto da empregada antes que aquele corredor grande terminasse, mas parecia que Marie andava muito mais rapido do que uma pessoa normal.

— Marie!— Ela chamou a empregada, a fazendo finalmente perceber que alguém a seguia ou pelo menos tentava. Afinal, a respiração da prisioneira já estava alterada por apenas aumentar um pouco o ritmo de seus passos e isso a fez ter certeza de que não era nem um pouco atletica na sua verdadeira vida junto com outros humanos.

A empregada se virou na direçao da prisioneira, um sorriso simples e muito bonito se destacou no rosto dela, mostrando o quanto feliz ficou por vê-la depois de tanto tempo. Essa reação não era aquela que a prisioneira esperava, não depois de ter chamado aquela mulher tão simpática de monstro. Ainda mais quando Marie não foi vê-la em seu quarto todos esses dias que ficou reclusa de tudo.

— Maitea Jauna,— Ela disse naquela língua estranha deles.— É bom vê-la fora de seu quarto.—

— Você não está com raiva de mim?— A prisioneira não resistiu a pergunta, estranhando a simpatia da empregada.

— Por que estaria?— Marie franziu o cenho rapidamente.— Você sabe... Naquele dia você quase morreu naquele lago, eu não podia esperar outra reação diante da situação.—

— Então por que você sumiu?—

— Imperatore me proibiu de ir até seu quarto.— Ela deu de ombros.— Suas ordens foram que eu só poderia me comunicar com você caso saísse de seu quarto. Assim como ele ordenou para todos os outros empregados, tirando aqueles que levavam suas refeições.—

As sobrancelhas da prisioneira se elevaram por um momento por causa da surpresa em saber disso, curiosa em descobrir do por que Maximus não ter cortado suas refeições também já que ninguém podia falar com ela.

De qualquer forma, mesmo sentindo uma raiva passageira pelo anjo, a prisioneira decidiu ignorar esse detalhe de privá-la da única amiga que havia feito nesse lugar. Ela até mesmo considerou o arcanjo esperto por causa disso, pois essa atitude apenas fez com que saísse mais rapido de seu quarto, já que ficar sem ter alguém para conversar estava lhe dando nos nervos.

— Onde você está indo?— Perguntou à Marie, olhando para seu cesto totalmente vázio além de uma manta dobrada.

— Irei buscar algumas laranjas para a cozinheira.— Ela respondeu segurando seu cesto com ambas as mãos, como se fosse muito precioso.— Gostaria de se juntar a mim?—

A prisioneira encarou Marie por um momento, pois na última vez que saiu de dentro do castelo, tudo acabou em uma desgraçasa que não pretendia passar novamente. A duvida de que algo muito ruim poderia acontecer apareceu na mente dela, a fazendo pensar se realmente acompanharia a empregada nesse pequeno trabalho. Mas como a prisioneira decidiu que ignorar seus medos eram o melhor modo de se viver no inferno, ela movimentou sua cabeça em concordancia como respostas da pergunta de sua amiga, fazendo uma nota mental de ficar longe de rios, lagos e oceano.

Marie sorriu para ela e então se virou para continuar seu caminho seja lá onde fosse, a prisioneira a seguiu e antes que pudesse pensar em algo para começar algum assunto, a empregada começou a falar e não parou até que elas estivessem fora do castelo, fazendo outro caminho tão desconhecido quanto os corredores daquele lugar que pertencia à Maximus.

Ela ficou feliz por novamente poder conversar com Marie a ponto de até mesmo esquecer a raiva que havia sentindo do arcanjo por ter proibido a empregada de ir até seu quarto. E depois que seus pés encontraram a grama do lado de fora do castelo, a prisioneira ficou ainda mais impressionada de como sentiu falta de ter os raios solares em sua pele, mesmo que aquele sol fosse tão diferente do mundo que ela pertencia. E também, a prisioneira não tinha muito o que dizer sobre isso, pois ela não se lembrava qual era a sensação de ter aquele sol que era de seu mundo contra sua pele, apenas sabia que existia uma diferença e isso era o suficiente para fazê-la sentir falta.

Para fazê-la sentir falta de tudo.


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