Pesadelo | Amor Imortal 01 escrita por Lolli Blanchard


Capítulo 2
Capítulo 2




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/458181/chapter/2

Seus olhos se abriram assim que barulhos de grades sendo abertas acabaram com o silencio do lugar e de seu sono. Ela acordou com seu coração palpitando, a lembrança daqueles monstros em sua mente era algo recém já que eles atormentaram seu sono que poderia ser perfeito se não estivesse deitada no chão em cima de palhas secas. E vestindo um vestido que era feito, provavelmente, com um saco de batatas.

Todo aquele pano cutucava seu corpo dolorido com alguns cortes e ela já não estava tão suja com a lama daquele lugar no meio do nada onde despertou. Tudo o que ela havia visto na noite passada, não existia mais, menos o seu medo que era uma faca afiada contra seu coração. No entanto, agora que abriu seus olhos, ela estava dentro de uma cela. Paredes e chão feitos de pedras com palhas secas para que ela pudesse dormir. Pelo menos, ela estava presa em uma cela longe dos monstros. E isso a fazia se sentir segura, mesmo quando uma mulher jovem, com cabelos loiros escuros e olhos negros a encarava com uma bandeja cheia de comidas que não eram dignas de um prisioneiro.

Ela observou aquela mulher que não sorria, mas que também transbordava gentileza ou afeto que desejava transmitir para que se sentisse segura diante dela. Nos olhos dela não havia o desejo de matá-la, ela não carregava armas ou nem ao menos possuía asas. Essa mulher não era um monstro como aquele que tentou matá-la, depois a salvou daquele animal que deveria ser um cachorro com alguma doença. Sim, tudo havia uma explicação que se encaixa perfeitamente, ela apenas não sabia dizer nada sobre o céu que não possuía estrelas ou uma lua e por que aquele homem tinha asas.

Mas quem ela queria enganar? Nem ao menos conseguia responder a pergunta de quem era ela já que quando se perguntava sobre si mesma apenas existia um buraco negro. Apenas parecia que sua vida começou a partir do momento que abriu os olhos e estava no meio daquela água suja. Porém, esse lugar que estava, não era o certo. As coisas que estava vendo não deveriam existir, ela tinha certeza disso mesmo que não conseguisse se lembrar do que era certo e o errado em sua mente.

Quem era ela?

Prisioneira, ela pensou, era uma prisioneira.

Infelizmente, essa era a única resposta que possuía para essa pergunta em quanto esperava que sua mente deixasse de ser uma geleia e voltasse a pensar coerentemente. Ela esperava fielmente por isso, pelo menos para lembrar seu nome e não se sentir uma indigente.

— Kaixo, maitea.— Aquela mulher com traços suaves disse em um tom gentil, mas ela não compreendeu nenhuma de suas palavras. A prisioneira o encarou com seus olhos grandes, em silencio e tão imóvel quando podia já que até mesmo respirar podia ser perigoso nesse lugar que era desconhecido. Na verdade, ela estava mentindo para si mesma, pois esse lugar era o único que sua mente conhecia depois do pântano.— Ez duzu ulertu nahi?—

— O que?— A prisioneira perguntou dessa vez com certa agonia, sua voz estava grave e rouca por causa do medo que não permitia que seu timbre soasse normal.

— Oh! Uma veneziana.— A mulher disse em sua língua.— Perdoe-me, eu não sabia exatamente de onde você veio, não podia usar outra linguagem a não ser a minha.—

Sim, a prisioneira entendia, pois nem mesmo ela sabia da onde vinha também. Porém, agora, ela sabia que era uma veneziana.

— Eu deveria ter notado por causa dessa sua pele pálida.— Ela continuou a falar.— Todos na Veneza são mais brancos do que a própria neve por estarem sempre escondidos pelas sombras daquelas casas grandes.—

A prisioneira a encarou com certa cautela, pois sabia exatamente o que significava ser alguém presa em uma cela e isso não não incluía pessoas sendo gentis por descobrirem seu idioma de origem. Ela devia estar agradecida por essa mulher não estar tentando matá-la como os outros monstros, mas também não se sentia contente em essa estranha saber mais sobre ela do que ela mesma. Para falar a verdade, haviam duas estranhas nessa cela.

Ela decidiu ignorar aquela mulher feliz e olhou para a bandeja que ainda carregava. Fazendo uma lista mental das coisas que haviam ali para se certificar de que sua memoria não estava tão ruim. Havia pães, uma taça cheia de água, frutas como maçãs e peras cortadas em fatias médias... A prisioneira se lembrava de tudo, sabia o nome e o significado de qualquer coisa que seus olhos encontrava, ela apenas não conseguia responder coisas sobre si. Ela poderia considerar isso como uma coisa boa, pelo menos.

— Você está com fome?— Aquela mulher voltou a falar ao notar que seus olhos estavam na bandeja de comida em suas mãos.

— Todos os prisioneiros comem isso?— Seu cenho estava franzido, curiosa por uma pessoa que deveria comer apenas um mingau gosmento e nojento estar recebendo um café da manhã digno de um rei.

— Nós não temos prisioneiros, apenas aqueles que devem ser julgados.— Ela explicou.— Até que provem serem culpados, todos são inocentes e recebem uma boa comida.—

— O que acontece com aqueles que são culpados?— A prisioneira perguntou com certo medo, um pouco ciente de que ela era a única presa naquele lugar cheio de celas vazias.

— Eles são mandados para o nível que corresponde ao seu crime.—

Crime... Ela não se lembrava de matar alguém depois de acordar naquela escuridão, mas também não se lembrava o que fez antes de chegar até lá. Esse pensamento fez com que seus pelos se arrepiassem mesmo com lama seca sobre eles.

Aquele homem com asas... Talvez ele pudesse ajudá-la. Ela havia matado aquele cachorro com doença que iria atacá-lo. Não era nada correto salvar a vida de uma pessoa que desejava matá-la com uma espada, mas também não tinha nada para se orgulhar deixando que um cachorro o mordesse até morte depois de ter salvado a vida dela ao espantá-lo.

A mulher em sua frente se movimentou lentamente para colocar a bandeja cheia de comida no chão perto dela, com certo medo. Afinal, ela não conhecia essa pessoa que estava sentada no canto da cela esperando por um julgamento. Nem mesmo a prisioneira conhecia essa pessoa que deveria conhecer melhor do qualquer pessoa. Ela também estava com medo, medo de tudo que estava acontecendo e do que havia feito para se encontrar nessa cela.

E por mais que lágrimas desejassem escorrer de seus olhos, a prisioneira não iria chorar. Ela iria fazer o possível e impossível para que seu medo deixasse de existir. Afinal, o medo não a levaria para nenhum lugar, não a faria descobrir quem ela era e por que estava aqui.

Ela agiria como na noite passada, e por mais que estivesse ciente de que todas as suas ações foram causadas pela adrenalina que correu em suas veias, a prisioneira não tinha outra opção a não ser encontrar a coragem para depois se preocupar com suas memorias e o medo. E acima de tudo, ela jamais se entregaria para a morte novamente como fez diante daquele anjo antes de se jogar na frente do cachorro. Naquele momento ela sabia que não tinha salvação, mas acabou que ela conseguiu uma segunda chance e ainda estava respirando. Dentro de uma cela, claro, mas ainda estava viva.

A prisioneira iria lutar, pois no fundo de sua alma uma voz gritava e proclamava sua inocência. Ela não se conhecia, não confiava em ninguém, a única pessoa que poderia ser forte o suficiente para protegê-la desejou a matar, então tudo que podia fazer era confiar nessa voz que gritava dentro dela.

Sim, ela iria a julgamento como essa mulher dizia, mas não seria uma vitima ou culpada. Ela desejava ver as provas que a faziam estar atrás dessas grades e usaria a atitude daquele anjo que tentou matá-la como uma carta de salvação. Afinal, todos eram inocentes até que se provasse ao contrario e aquele homem tentou matá-la sem que mostrasse as provas que lhe fazia ser uma criminosa... Ela tinha de acreditar que essa carta seria a sua salvação, pois era a única que tinha e era triste que ela fosse formada por base de palavras de outra pessoa que mal conhecia.

— Seu julgamento acontecerá ao final da tarde.— A mulher disse se afastando até estar fora da cela.— Coma um pouco, você está muito pálida.—

Pálida, com dores em cada músculos de seu corpo e com cortes que estavam se infectando por causa da sujeira do pântano, ela não podia se sentir melhor. Seu corpo todo tremia por causa do medo ignorado, ela falava pra si mesma que não era medo e sim o frio. Era apenas uma ilusão, mas funcionava muito bem. E sim, ela deveria comer para ver se seu estado físico melhorava, mas não tinha fome nenhuma.

Como poderia pensar em comer algo quando não lembrava nem ao menos seu nome ou a cor de seus olhos? Seus cabelos eram pretos e ela havia visto isso por serem longos, também sabia que eles eram lisos, mesmo que a lama seca os deixassem em uma situação deplorável. Mas e seus olhos? Ela não tinha nada que poderia refletir seu rosto, então não tinha nenhuma ideia de como era.

O único rosto que ela se lembrava era daquele monstro com asas e agora o dessa mulher jovem. Isso era errado, pois ela não deveria desconhecer o seu próprio rosto.

A prisioneira olhou para cima, para a parede que estava logo atrás dela e encontrou uma pequena janela retangular com grades no alto da parede. Por um momento, ela se arrependeu amargamente por ter feito isso depois que encontrou um céu vermelho com nuvens acinzentadas e um sol que nem ao menos poderia ser visto direito por causa dessas nuvens cinzas e suas luzes fracas. Ela ficou horrorizada com essa visão, sabendo que o céu deveria ser azul com nuvens brancas. A única coisa ali que parecia certo era o sol fraco.

Abraçando seus joelhos ao seu peito e os apertando com força para ter certeza de que aquilo era a realidade depois que empurrou aquela bandeja cheia de comidas que não lhe davam a minima vontade de colocar na boca, ela suspirou, muito ciente de que esse lugar não era sua casa. Mas também, esse lugar era o único que poderia chamar assim já que tudo nela era um grande vácuo sem respostas.

Ela não podia mentir que estava com medo, mas também não podia admitir isso. O medo era seu pior inimigo nesse momento, não as pessoas que estavam a mantendo presa como um animal dentro de um saco de batatas com um café da manhã bom. A prisioneira estava com medo de que fosse jogada novamente no meio daquele pântano e encontrasse mais cachorros com doenças querendo atacá-la, mas ela também temia pelo anjo com asas grandes e com duas espadas bem afiadas. Na teoria, anjos deveriam ser pessoas boas, mas sua opinião mudou totalmente ao ver que aquelas laminas estavam sendo apontadas em sua direção.

Aquele homem era tão grande, tão forte com aquelas asas que eram maiores do que ela mesma que não podia acreditar que conseguiu derrubá-lo e roubar uma de suas espadas. A adrenalina, realmente, podia fazer milagre. A prisioneira nunca havia se sentido tão corajosa, não que se lembrasse de outros momentos, quando agarrou o tornozelo daquele anjo e o puxou em sua direção. Uma parte dela desejava fazer algo como aquilo novamente.

Era uma pena que ao entardecer, ela provavelmente ganharia uma sentença de morte. A prisioneira quase foi morta por apenas gritar ao acordar em um lugar assustador, ela não via como sair com seu pescoço inteiro indo a julgamento sem ao menos se lembrar de seu nome.

Mas a prisioneira iria lutar, ela definitivamente iria lutar por sua vida. Depois de ter enfrentado um anjo que era muito mais forte do que sua mente poderia imaginar, ela conseguiu sair viva e com todos os membros de seu corpo inteiros. Então, isso era mais do que um aviso de que não era fácil de matar e se aquele homem não tinha entendido o recado, ela deixaria claro novamente no momento adequado. Agora, a prisioneira tinha que tomar cuidado com tudo que fazia, pois qualquer coisa tinha o risco de incriminá-la.

Ela não se sentia bem, mas também não precisava se sentir assim para cuidar de sua vida. Uma vida que nem ao menos conhecia, mas que pertencia a ela. Isso era motivo suficiente para se manter forte e enfrentar esses monstros.

Em um momento daquele dia, outra mulher apareceu na cela, ela se vestia exatamente como a outra. Um vestido negro e comprido, com um avental branco amarrado na cintura e no pescoço. Essa não era tão amigável quanto a outra, ela apenas deixou uma bacia de água com uma toalha branca dentro dela e logo em seguida se retirou sem ao menos olhá-la. A prisioneira ficou imóvel em seu canto naquelas palhas, deixando que aquela mulher fizesse seu trabalho em quanto deixava aquela água limpa ali do chão para que ela provavelmente se limpasse.

A ideia de passar aquele pano molhado em suas feridas foi algo que quase a levou ao paraíso, mas eles provavelmente haviam mandado essa água para que aparecesse apresentável em seu julgamento. Bom, ela não iria fazer os gostos deles. Poderia ser chamada de louca por essa atitude, mas ela continuaria suja e com seus cortes que estavam prestes a pegar alguma infecção.

Tudo que ela fez em relação daquela água, foi se aproximar da bacia e tirar a toalha de dentro e depois que a água tremula voltou a ser tão imóvel quanto podia, ela olhou para seu reflexo. Não era algo perfeito, ela mal podia ver seu rosto refletido naquela água, mas era o suficiente por agora.

A prisioneira ficou feliz em conhecer seu próprio rosto, seus lábios finos e com um pouco de carne rosa que se ressaltavam, suas bochechas que de longe estavam de serem grandes, mas ela havia o suficiente para que aquele osso abaixo de seus olhos e próximo do nariz não estivessem a mostra. Um nariz pequeno e... Era apenas isso que podia dizer sobre si mesma. Ela não podia identificar a cor de seus olhos, pois na água ela não via detalhadamente cada traço de seu rosto.

Ela suspirou decepcionada, não acreditando que estava magoada por não saber a cor de seus olhos. Mas também, não deixou por ai. Parecia ridículo se contra auto dizer nesse momento quando disse a si mesma que se manteria quieta, mas o pensamento de que estavam a tratando feito um animal a revoltou.

Estava na hora de fazer algum barulho.

Tirando a toalha branca de dentro daquela água, a prisioneira pegou a bacia cheia e a atirou contra a grade em sua frente. A bacia que era de uma porcelana branca se transformou em mil pedaços, fazendo um barulho médio que ecoou por todas as celas. Não satisfeita, ela fez a mesma coisa com a taça e a bandeja, retirando a comida de cima dela antes de jogá-la, pois não era correto desperdiçar toda aquela comida por causa de uma birra com intenção de chamar a atenção. E aparentemente, essa birra funcionou muito bem.

No segundo depois que o último eco do som da bandeja sendo jogada soou naquele corredor, todas as portas das celas que estavam em sua frente se fecharam em um único estrondo como se um vendaval forte o suficiente tivesse causado aquilo. Ela sabia que não era isso, não quando todo o chão daquele lugar tremeu com a força que elas bateram.

A prisioneira deu um passo para trás e se manteve em silencio quando outra pessoa apareceu atrás das grades de sua cela. Mas não era qualquer pessoa, era ele.

O monstro com asas que tentou matá-la, o anjo.

Agora que ambos estavam sob a luz do dia, sem que matos estivessem por todos os lados ou que a lama o sujasse, ela podia observá-lo melhor. Seu rosto era sério, sem nenhum sentimento estampando em seus traços que gritavam pura arrogância, ele tinha cabelos loiros de um tom dourado que eram como o sol, o sol correto que ela conhecia, e também era liso em um corte com fios imperfeitos que caiam em frente de seus olhos em uma leve bagunça. Eles provavelmente deviam atrapalhar sua visão algumas vezes e isso explicava o fato de estarem jogados levemente para o lado. Seus olhos azuis escuros a lembrava de felinos perigosos. Em geral, ele era muito bonito com aquela pele branca e lábios um pouco avermelhados. Esse homem que tentou matá-la seria algo angelical mesmo sem asas.

Suas asas... Ela olhou para elas e quase riu quando viu que elas possuíam manchas de um tom claro de marrom. E como haviam partes bem brancas, a prisioneira deduziu que suas asas estavam manchadas por causa da queda que ela causou a ele. Ela teria rido e provavelmente jogado isso na cara dele se ele não estivesse a fuzilando com aqueles olhos azuis. E claro, se esse homem não tivesse tentado matá-la.

Mas ainda assim, ele tinha olhos azuis de um felino. Um felino perigoso e totalmente furioso. Esse anjo ficaria muito mais bonito se sorrisse.

— Zer nahi duzu?— Ele disse com uma voz severa e totalmente mortal. A prisioneira quase se encolheu com o tom que usou. Quase.— Hildako duzun orain?—

Bla bla bla bla.

Sim, ela havia entendido cada palavra dele.

— Eu não entendo!— A prisioneira cuspiu as palavras, ignorando o medo. Afinal, ela tinha um julgamento marcado, ele não poderia matá-la agora.

— Você. Quer. Morrer. Agora?— O anjo, em seu idioma, disse lentamente como se ela possuísse algum problema de audição, a raiva em sua voz era algo afiado. Isso apenas a irritou.

— Você não pode me matar.— Ela disse a única coisa que rodeava sua mente, mas que não garantia a sua segurança.

Aquele monstro com asas cruzou seus braços em frente de seu peito, suas asas fechadas se apertaram ainda mais em suas costas. E só então que ela percebeu que ele usava roupas diferentes também. Na noite passada, quando tentou matá-la, o anjo vestia uma roupa mais apropriada para uma caça. Para caçá-la. No entanto, hoje ele usava algo mais digno a sua aparência angelical. Era algo simples, mas que demonstrava que ele não era qualquer pessoa usando apenas uma camisa azul escura social com suas mangas dobradas em seus cotovelos e uma calça jeans preta.

— O que você quer?—

— Você não o direito de me manter trancada, eu não sou um animal.—

— O que você quer?— Ele repetiu sua pergunta com mais raiva dessa vez.

— Eu quero...— Voltar para casa? Claro, gênio, ela se apedrejou, você não tem nada além dessa cela e deveria ter se lembrado antes de fazer birra.— Eu...—

— Não posso ajudá-la se nem ao menos sabe o que deseja.— Disse arrogantemente.— Além do mais, você irá a julgamento e antes do resultado, não posso soltá-la como todo animal enjaulado deseja.—

A prisioneira bufou e desejou não ter jogado aquela bandeja nas grades, pois agora ela não tinha nada para jogar nele. E estava muito ciente de que jogar um pão na direção dele não causaria nada mais do que a sujeira de algumas faíscas em sua camisa.

— Como se chama, humana?— Ele voltou a falar, perguntando com certo desprezo. Principalmente quando disse a palavra “humana”, a fazendo se sentir totalmente renegada pelo o que era.

— Eu não sei.— Ela disse com sinceridade e viu que o anjo acreditou nela.— Não me lembro de nada antes de acordar naquele pântano.—

— Você deveria tentar se lembrar antes do julgamento começar.—

— Claro, porque sou eu que tenho asas e posso fazer mágica.— Ela disse com vontade de socá-lo.— Não se preocupe, no julgamento eu irei dizer até mesmo o tamanho de minhas roupas para que possam me dar um saco de batatas mais adequado.—

O anjo continuou imóvel, seus braços ainda cruzados em seu peito, lhe dando a impressão de que era uma pedra esculpida com asas. Porém, uma de suas sobrancelhas se arquearam com surpresa.

— Talvez sua língua seja a primeira coisa que eu arranque quando receber ordens de matá-la.— Soltando essas palavras como um chicote de fogo, o anjo se virou e foi embora. Infelizmente, ele não deu nenhum indicio de que estava brincando sobre o que iria fazer com sua língua.

Suas pernas bambearam e a prisioneira teve que se sentar novamente em cima daquelas palhas. Sentindo um nó se formar em sua garganta quando percebeu que novamente ela foi movida pela adrenalina, e novamente ela estava completamente perdida por causa de suas ações. A prisioneira se sentia uma idiota por discutir ao invés de se manter quieta. Ela, da próxima vez, iria ouvir a voz de sua mente quando a mandasse ficar calada em sua cela para salvar sua vida. Pelo menos isso manteria sua língua a salva.

______________

A prisioneira estava quase dormindo novamente quando dois homens apareceram diante de sua cela, eles estavam vestidos com blusas negras que marcavam todos os seus músculos, músculos muito grandes, e calças cargo da mesma cor com coturnos sobre elas, uma aparência de soldados. A única diferença de um verdadeiro soldado, era que nenhum deles carregavam armas ou laminas. Suas mãos estavam nuas e isso foi o que a preocupou.

Que tipo de soldados não carregavam armas?

Talvez o pior deles.

Ela ficou de pé assim que um deles abriu a cela, ficando imóvel como uma pedra. Não por medo, mas sim para que nenhum deles pensasse que ela era um perigo. Ambos observaram ela com cautela, provavelmente imaginando que a prisioneira em frente deles era como uma víbora. Calma e com veneno de sobra para usá-la quando o medo fizesse com que ela mostrasse suas presas. Eles não estavam enganados. Ela também os observou e viu o obvio. Os soldados eram gêmeos.

Eles possuíam cabelos bem arrumados e escuros, seus olhos eram do mesmo tom negro que serviam de espelho para qualquer pessoa que os encarassem e tinham o mesmo rosto, os mesmos traços. Não existia nada de diferente neles, tudo era como estar zonza e ver uma pessoa como duas.

A prisioneira não estava com tanto medo deles, na verdade, ela achava que a única pessoa que realmente sentia medo era do anjo. Claro que esses homens idênticos proclamavam o perigo, mas ela viu que eles eram capazes de sorrir, diferente do monstro com asas que desejava arrancar a língua dela.

— Está na hora do seu julgamento.— Um deles falou em uma voz sem emoção, dura e crua. Ela ficou feliz por ele ter falado em seu idioma e não naquele que todos estavam usando antes.

— Se você não tentar escapar, não iremos machucá-la.— O outro disse no mesmo tom.

Por um momento sua única vontade foi de perguntar qual era o nome deles, pois até onde sua mente permitia que alcançasse, ela se lembrava que todos os gêmeos tinham nomes que combinavam e pareciam como uma melodia quando dito em voz alta. A prisioneira queria saber se o nome deles rimavam ao invés de se preocupar com seu julgamento. Bem, se ela não tivesse saído de um hospício antes de acordar naquele pântano, o anjo fez um ótimo trabalho em transformar a mente dela em papa quando apontou uma espada em sua direção.

E como os gêmeos haviam pedido ou ordenado, ela não iria lutar contra eles para fugir. O anjo era bem assustador, mas o fato de que homens que se vestiam como soldados não carregando nenhuma arma era algo que empatava com aquele monstro que tentou matá-la. Além do mais, se ela fugisse, para onde iria? Voltar para aquele pântano que nem ou menos conhecia o trajeto para chegar até lá? No máximo a prisioneira poderia voltar para sua cela, pois suas quatro paredes de pedras e grades era a única coisa que conhecia e se sentia confortável.

O gêmeo que havia falado primeiro movimentou sua mão para que ela se aproximasse, ela fez como pedido e logo que colocou seus pés para fora de cela, ambos se colocaram ao seu lado e pegaram em seu braço de maneira rude, mas nenhum deles estava usando força, então isso não a incomodou. Eles apenas estavam fazendo o trabalho que foi ordenado, então ela iria cooperar. A morte podia estar no olhos negros deles, mas eles não eram rudes como aquele anjo e isso era mais do que um motivo para ela se comportar.

A prisioneira não podia se conhecer, mas se ela tinha que começar do zero, então começaria formando regras sobre sua nova vida. E a primeira delas, talvez a principal, era não ser boazinha com as pessoas que a tratavam mal, mesmo que essa pessoa pudesse matá-la. E se matasse por não ter controlado sua língua, ela morreria com orgulho.

De maneira nenhuma que ela seria uma vitima ou criminosa nesse julgamento, pois o único sangue que a sujava era daquele cão que matou ao salvar o anjo, não dela ou de outra pessoa.

Os gêmeos começaram a andar e tudo que ela fez foi acompanhá-los, seus pés nus contra o chão de pedra era gelado e talvez sua temperatura não fosse diferente, já que as mãos daqueles homens em seus braços eram bem quentes. Ela pensou que assim que saísse daquele calabouço, após as escadas terminarem, o chão se tornaria um pouco mais quentinho, mas estava enganada. Apesar dos pisos serem tabacos escuros, eles continuavam frios. Na verdade, por todo o trajeto que estava fazendo com esses gêmeos, a única palavra que podia descrever o que via era “frio”. As paredes podiam ser esculpidas em pedras e a cada meio metro possuir uma janela que quase iam do teto ao chão, lhe dando uma vista para fora daquele lugar que aparentemente era enorme. A prisioneira preferiu não olhar pelas janelas daquele corredor cumprido, pois ver uma imensidão de água e um céu vermelho não era a visão perfeita antes de ir a um julgamento.

Aqueles homens idênticos pararam de caminhar quando chegaram diante de portas duplas com desenhos abstratos feitos em uma madeira escura, em um olhar rápido, ela pode ver que era um retrato de pessoas em desespero sendo queimadas. Ela não podia negar que ficou horrorizada com esse desenho, mas também deixou bem claro que esse lugar era onde seria julgada por não ter feito nada.

Dois homens que estavam parados ao lado daquelas portas, também vestidos como os gêmeos, abriram as portas para que eles pudessem passar, fazendo os joelhos da prisioneira vacilarem pela primeira vez diante de outras pessoas. Deixando seu medo claro para todos.

Em sua frente, existia um grande salão iluminado por um lustre maior ainda de cristais, haviam mais homens vestidos como soldados e sem estarem carregando armas. Eles formavam uma meia lua perfeita e no inicio de cada ponta estavam duas mulheres. Elas vestiam vestidos longos do tipo que era ideal para um casamento, não para um julgamento e talvez uma morte. Porém, o pior não era isso.

Em frente dessa meia lua, existia dois pequenos degraus também formando algo arredondado que levava para um altar, o problema que a fez quase cair de joelhos se não fossem os gêmeos a segurando estava nesse altar. Haviam três tronos grandes acima daqueles degraus, um deles estavam a frente dos outros dois, eles eram grandes e acomodavam três homens com suas enormes asas brancas. E aquele que estava na frente dos dois tronos, era o anjo loiro que tentou matá-la.

Os outros dois, provavelmente, deveriam ser irmãos. Ambos tinham cabelos marrons, olhos escuros e uma pele pálida, o que não os tornavam idênticos era que um deles demonstrava ser alguns anos mais velho que o outro. Esse, o mais velho, estava a observando com olhos de uma águia faminta por poder, seu silêncio proclamava o ódio. Seus cabelos eram um pouco a acima dos ombros e caíam ligeiramente ao redor de seu rosto nada amigável. O outro, que provavelmente era o mais novo, estava com uma expressão entediada, seus cabelos eram curtos e arrumado perfeitamente em um penteado que formava um topete jogado para o lado. Ele parecia ser o mais gentil, o que ela provavelmente apelaria quando decretassem sua morte.

No entanto, o anjo que tentou matá-la, ela não conseguia descrever sua expressão. Aqueles olhos de felinos a assustavam com a seriedade que existia dentro deles, mas também havia várias perguntas dentro deles. Perguntas sobre ela, perguntas que nunca poderia responder já que não se lembrava de nada além de tudo que ocorreu depois de acordar no pântano.

O gêmeos a deixaram no meio daquela meia lua e se colocaram nos lugares que estavam vazios para agora sim formar um desenho perfeito. No total haviam seis homens vestidos iguais com aquela camisa feita sob medida e calças cargo, todos eles estavam com seus braços para trás e olhando para os anjos em frente deles. As mulheres não possuíam nenhuma posição de respeito diante dos anjos, elas estavam mais suaves e a encaravam como se fosse um animal, assim como os homens com asas sentados em seus tronos. A prisioneira estava começando a se sentir muito pequena e se obrigando a manter uma postura reta ao invés de se encolher diante de tantos olhares.

— Zer gauza zikina da hau?— Uma das mulheres perguntou, seu tom era mal humorado e a olhava com total desprezo.

— Ela não fala nossa língua, Katherine.— O anjo loiro disse com toda calma do mundo.— É uma veneziana.—

— Oh, tudo bem. Posso falar na língua dela.— Katherine, segundo o anjo, disse com gentileza fingida.— O que é essa coisa suja?—

— Não seja arrogante, Katherine.— A outra mulher disse e agora que a atenção da prisioneira estava nela, ela também podia ver uma certa semelhança na aparência dela com as dos anjos morenos. Pelo menos o cabelo, os olhos e a pele tinha os mesmos tons.

A prisioneira decidiu ignorar a parte em que foi chamada de “coisa suja” para que não causasse confusão, porém, seu medo foi deixado de lado para que a raiva surgisse a todo vapor.

— A mente dessa humana é impenetrável.— Disse o anjo moreno mais velho, seu tom não era nada diferente de sua expressão mortal, mas no momento que falou a palavra humana, houve uma leve mudança para o desprezo. Seus olhos escuros estavam fixos nela, assim como os dos outros anjos.

— Ela é imune a qualquer poder.— Aquele que tentou matá-la disse.— Eu tentei explodi-la diversas vezes e não tive nenhum sucesso.—

O que?!

— Isso é o que podemos chamar de um belo brinquedo.— O entediado disse, ajeitando sua posição no trono para observá-la melhor.— Podemos ficar com ela?— Um sorriso narcisista cortou seu rosto.

Katherine bufou ao lado da prisioneira.

— Não até você responder como uma humana chegou até aqui, Dimitrius.— O loiro falou ao entediado.

— Não olhe para mim como se existisse meus poderes ao meio disso, Meridius, eu gosto de humanos bem longe de mim.— Dimitrius disse para o anjo que provavelmente era seu irmão mais velho quando ele lançou um olhar fulminante em sua direção.— Não tenho culpa por uma humana ter invadido essa dimensão.—

Katherine chamou sua atenção novamente depois de pigarrear. Na verdade, a atenção de todos foram para ela ao fazer esse som.— Vocês estão discutindo sobre isso desde que a manhã surgiu, não é educado agirem dessa forma na frente dessa coisa suja.—

Oh, agora a prisioneira estava indignada.

— O que não é educado é mencionar sobre mim como “coisa suja”.— A prisioneira disse com raiva, deixando que a adrenalina a movesse.— Eu tenho um nome.— Talvez ela tivesse, e diria com todo o prazer e orgulho quando descobrisse.

Katherine arqueou uma sobrancelha, sua cara de esnobe e desprezo estava fazendo com que os músculos da prisioneira se apertassem por causa daquele narizinho empinado... Talvez se ela socasse essa metida, sua morte seria rápida ao ter todos esses homens despedaçando seus membros por ter ferido alguém de extrema importância.

— Você deveria se manter calada para prezar sua vida.— Katherine falou. Ela não respondeu, mesmo que tivesse boas respostas para dar a essa estranha com uma aparência de nobreza. Mas a prisioneira viu que os anjos estavam a observando, observando esse comportamento que a tornava culpada.

A prisioneira fechou sua boca e olhou para eles. Afinal, eram esses anjos que davam ordens nesse lugar, não a narizinho empinado. Porém, o seu foco foi para o anjo loiro. Ele não a havia matado mesmo quando desejou por isso, tinha que haver alguma esperança nele já que o outro apenas a via como um brinquedo.

— Ela é um problema, mas não cometeu nenhum crime.— O loiro disse.— Mande-a de volta para sua dimensão, Dimitrius, com suas memorias apagadas sobre nós.—

Sim!

— Apenas em olhá-la vejo o quão fraco seu corpo é.— Ele disse a observando agora com olhos de quem estava no poder, deixando aquela pose de que não se importava com nada de lado.— Nunca vi nada como isso, essa humana esta a cima de todo o meu conhecimento. Ela provavelmente morrerá ao ser mandada de volta.—

— Então vamos matá-la.— O irmãos mais velho, Meridius, falou. Não havia nenhuma piedade ou duvida em sua voz. Era uma afirmação cruel.

Isso era errado, completamente errado. Apenas por que a prisioneira era algo desconhecido para eles, isso não queria dizer que estavam no direito de matá-la. E se ela não possuía nenhum advogado nesse ninho de cobras, ela mesma se defenderia.

— Quem pensa que é para decidir o que fazer com a minha vida?— A prisioneira disse em uma voz calma que demonstrava toda a sua raiva, quando seu desejo era apenas gritar. Os olhos de todos que estavam presentes foram para ela, provavelmente surpresos por questionar.

— Alguém com poderes que podem fazê-la implorar para que a mate.— Ele a respondeu no mesmo tom, totalmente frio.

— Você pode pegar esses poderes e enfiá-los...—

— Cale-se!— O anjo loiro elevou sua voz ao interrompê-la. Ela fechou a boca no momento em que ele disse aquilo, mesmo quando viu Dimitrius jogar sua cabeça para trás e rir.

— Com tantas humanas bem educadas, você teve a sorte de receber uma que não leva desaforo para casa, irmão.—

Irmão.

A prisioneira piscou, entendendo um ponto bem importante do que estava em sua frente. Os três anjos eram irmãos, mesmo que o loiro não tivesse nenhuma semelhança com os outros dois.

O anjo que tentou matá-la a encarou de volta e suspirou. Ele estava pensativo, provavelmente considerando de que ela seria muito boa dentro de um caixão bem longe dele. A prisioneira não podia negar o medo que estava dentro dela, mas também iria demonstrar que existia outros sentimentos nela para lutar por sua vida.

— Ela não é uma ameaça,— Ele disse calmamente.— Eu tentei matá-la e mesmo assim ela se jogou em minha frente para que um cão do inferno não me atacasse.—

Seus irmãos o olharam com surpresa, mas não por ela ter se jogado ao meio daquele cachorro com doença para impedir um ataque, mas sim por ele estar poupando a vida dela.

— A humana ficará sob meus cuidados até que uma forma de mandá-la para casa surja.— Ele decretou aquilo como um verdadeiro rei.— Seu único crime é ter uma boca descontrolada e isso não é um motivo para matá-la.— O anjo olhou para Meridius, ambos trocaram olhares ferozes, mas logo o anjo moreno concordou com sua decisão.

— Essa humana morrerá apenas se cometer crimes e ninguém encostará um dedo nela até que as respostas de como chegou até aqui seja encontrada ou ela se lembre de algo.— Ele disse por fim e se levantou, fechando suas asas que antes estavam um poucos abertas para que se acomodasse naquele trono com encosto.— Sessão encerrada.—

Ela quis sorrir diante dessa decisão, mas ai a prisioneira ficou ciente de que acabará de sair de um problema para entrar em outro. Um problema que duvidava sair viva no final. Afinal, agora ela estava sob os cuidados de um monstro com asas que tentou matá-la, o que a faria ficar próxima do outro que apenas de olhar desejava sua morte. E bem, o entediado desejava fazer dela um brinquedo, então realmente não tinha um lado positivo em tudo isso.

A prisioneira olhou para Katherine, ela estava rosnando e com uma cara emburrada de quem não havia gostado nada daquela decisão. Seus braços estavam cruzados sobre o seu peito, luvas negras brilhantes que alcançavam até seus cotovelos e combinava com seu vestido longo. Ela era linda com seus cabelos pretos e olhos azuis claros, aquele nariz empinado, apesar de irritar a prisioneira, a fazia ter a aparência de uma boneca de porcelana. Depois de se segurar para não rir quando os olhos dela se encontraram com os seus, a prisioneira desviou seus olhos para a mulher na outra ponta. Ela estava sorrindo e sua felicidade parecia ser contagiante. Essa mulher era muito semelhante a Meridius e Dimitrius, a única diferença era que ela possuía maçãs altas em seu rosto e ela era uma dama. Seu cabelo era alguns centímetros a baixo de seus ombros, eles eram completamente lisos com alguns cachos grandes nas pontas. Ela também não deixava de ser uma boneca, porém, diferente de Katherine, era uma boneca do bem.

Segundos depois que os outros dois anjos levantaram, os homens e as duas mulheres se viraram em direção da porta que a prisioneira entrou e saíram em duas filas perfeitas. Os anjos não seguiram essa fila, eles saíram como duas pessoas normais que não desejaram que ela morresse poucos segundos antes do anjo loiro decidir o que aconteceria com ela. Eles também a mediram em quanto passavam por ela, Meridius com seu olhar de puro ódio a fez congelar no lugar, em quanto Dimitrius foi um pouco gentil ao abrir seus lábios em um sorriso cafajeste. Ela desejou falar que nunca seria um brinquedo, mas se manteve em silencio, pois duas pessoas ainda estavam presentes naquele salão e uma delas era o anjo loiro que acabará de salvar sua vida, novamente.

Imperatore.— O outro homem disse como se estivesse pedindo permissão para falar, quando o anjo olhou em sua direção, ele continuou.— Ambos sabemos que só existe uma outra pessoa além dos arcanjos que pode viajar pelas dimensões e trazer outras pessoas com ele.—

Arcanjos... Então os irmãos eram arcanjos.

— Traga-o para o castelo.— Ele disse.— Nós buscaremos por respostas em cada pessoa que for possível e considerada culpada. Isso terminará tão logo quanto começou, Derek.—

— Imperatore.— O homem disse em um tipo de continência e logo em seguida após curvar sua cabeça se retirou do salão.

Agora, era apenas ela e o anjo, ou melhor dizendo, arcanjo.

O arcanjo desceu aqueles dois degraus e caminhou para ficar próximo dela, quando ele chegou a uma certa distancia, a prisioneira deu um passo para trás com certo medo o que fez pará-lo à vários passos antes de chegar mais perto. Seus olhos azuis escuros também a mediram, mas diferente dos outros anjos, ela não podia deduzir o que pensava, pois não havia nenhum sentimento em sua expressão ou no fundo de seu olhar.

Meridius a fez tremer de uma forma inigualável, mas uma pessoas que não expressava seus sentimentos era ainda pior do que alguém que olhava com ódio.

— Vocês são irmãos?— Ela perguntou sobre os outros anjos para ter certeza do que já estava obvio.

— Sim.— Um resposta cautelosa sem indicio de que continuaria falando e lhe dando explicações de quem era o mais velho e o mais novo, qual era os nomes de seus pais e toda aquela conversava que acontecia quando membros de famílias eram citados em um dialogo.

— Você disse que arrancaria minha língua mais cedo... Por que me defendeu?— Ela tentou novamente, fazendo uma pergunta que não havia modo algum de responder com sim ou não.

Suas asas se moveram levemente em suas costas, suas penas brancas manchadas com marrom estavam quase se arrastando ao chão por causa do tamanho delas, mas o arcanjo tomou todo o cuidado que precisava para que não deixasse suas asas se arrastarem no chão, como se aquilo fizesse parte de uma boa educação.

— Você não aparenta ter culpa por acordar em um lugar que não deveria estar.— Ele disse.— Alguém a trouxe para essa dimensão e pagará por seus crimes. Tudo que posso fazer por em quanto é proteger você de quem fez isso e encontrar uma maneira de devolvê-la para onde pertence. Em quanto nada disso acontece, teremos de confiar em suas memórias para encontrar as respostas, pois eu não sei mais do que você.—

— Então esse é o plano perfeito?— Ela perguntou, com uma leve sensação de que estava conversando com uma pedra falante.

— Sim.—

— Mas eu não sei como fazer minhas memórias voltarem.— Apontou o obvio.

— Você precisa me deixar entrar em sua mente.— O anjo falou como se ela soubesse exatamente como permitir algo como aquilo.— Sua perda de memoria pode ser de um nível que nem ao menos lembra seu nome, mas dentro de sua mente, em algum lugar, está tudo que preciso.—

— Eu acho que não confio em você para estar em minha mente.— A prisioneira apontou aquilo que era ainda mais obvio.— Naquele pântano você tentou me matar, ameaçou minha língua e ainda admitiu que tentou explodir cada parte do meu corpo. Isso não torna as coisas fáceis, pardal.—

— Pardal?— Ele franziu o cenho, era primeira vez que demonstrava um tipo de emoção naquele momento.

— Sim.—

— Eu sou um arcanjo, não me chame de pardal.— Ele pareceu seriamente ofendido.

— Ninguém nunca disse seu nome.— A prisioneira se defendeu antes que toda essa coisa de que ele iria protegê-la fosse para rio abaixo.

— É Maximus.— Ele disse com seriedade.— E se serve de consolo, não confio em você também, mas não temos nada além da opção de passar a confiar, então faça valer a pena.—

— Maximus.— Ela repetiu seu nome, ignorando todo o resto do que ele havia falado sobre confiança. Meridius, Dimitrius e Maximus... Uau, a mãe deles havia sido bem criativa. O mais interessante, era que os três nomes proclamavam o poder, assim como a personalidade deles. A prisioneira encontrou os olhos de felino dele e viu que o anjo esperava por uma resposta.— Certo. Confiança.—

— Imagino que isso seja a única forma de quebrar os escudos que existem em volta de sua mente.— Maximus explicou.— Você pode fazer isso?—

— Sim.—

— Ótimo.— O anjo disse sem soar que achava aquilo realmente ótimo.— Amanhã começaremos com pequenas sessões para que eu tenha sucesso em entrar.—

— Você sabe,— A prisioneira ousou usar ironia diante dele.— Amanhã provavelmente também não estarei confiando minha mente para alguém que tentou me explodir.—

— Nós precisamos aceitar o fato de que temos que trabalhar juntos, eu não estou feliz por isso quando meu primeiro desejo ao vê-la foi de matá-la para não me causar problemas, mas também não posso ignorar o fato de que alguém esta tentando passar por cima das minhas regras e você foi o alvo disso.—

Bem, ela não sentia surpresa em ter outra pessoa tentando matá-la.

— Apenas tente não se colocar em problemas com a sua boca,— O anjo continuou.— Eu farei o meu melhor para não deixar que nenhum dos meus irmãos ou outra pessoa tente matá-la em quanto for considerada inocente. Afinal, a única coisa errada que aconteceu e que a envolve foi acordar em um lugar que não pertence.—

— Tudo bem.— A prisioneira concordou com calma. Esse arcanjo estava fazendo o máximo que podia para ajudá-la nessa situação insana e tudo que ele pedia era sua confiança para encontrar as respostas de perguntas que até mesmo ela se fazia em sua mente fechada.— Nós começaremos amanhã.—

Maximus movimentou sua cabeça em um aceno rapidamente para concordar e a próxima vez que abriu a boca, toda sua imagem de que poderia ser seu herói foi arruinada.— Para que a convivência de todos seja melhor nesse castelo, aconselho que aja como uma sombra e não estrague tudo ao esquecer que pode facilmente ser morta. E não apareça em meu caminho quando não for pedido, caso contrário, você voltará a viver em uma cela.—

Ok, ela podia viver longe desse homem arrogante que havia vindo direto das cavernas. Ia ser uma alegria para ambos se ela não ignorasse esse pedido, então a prisioneira iria fingir que ela era uma de seus lacaios e obedecer sua ordem.

O arcanjo se virou para ficar de costas, mostrando aquela asas grandes que ocupavam quase todo aquele espaço. Maximus começou a andar em direção de uma janela que estava próxima deles.

— Maximus.— Ela disse seu nome para ter a atenção dele novamente. O anjo se virou para encontrar seus olhos e esperou que a prisioneira continuasse a falar.— Onde eu estou?—

A prisioneira quase viu um pequeno sorriso se formar em seus lábios avermelhados, mas eles ficaram imóveis e não acompanharam certo brilho que apareceram em seus olhos claros.— No inferno.— Ele falou, então o anjo se foi ao se jogar, ou cair, o que não fazia diferença, pois o sr. Pardal tinha asas para sobreviver quando saltou na direção daquela paisagem de águas escuras lá em baixo após abrir as portas grandes daquela janela para que pudesse passar com todo seu tamanho e asas.

Tudo bem, agora ela só tinha que formar uma frase que encaixaria a palavra inferno e sobreviver que não acabasse com coisas negativas envolvendo um certo arcanjo.

Ótimo, essa fase seria fácil de se criar se usasse a ironia e ilusão. Afinal, o que poderia dar errado quando possuía essas duas armas?

Mas e se Maximus estivesse brincando sobre estar no inferno? Ela não podia estar literalmente no inferno. No entanto, o anjo não parecia do tipo que brincava e ela tinha provas suficientes para acreditar nele quando estava sob um céu vermelho e lidando com pessoas que possuíam asas... Sim, a prisioneira teria que usar muita ilusão para sobreviver.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Pesadelo | Amor Imortal 01" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.