[Insira seu título aqui] escrita por Helo, William Groth, Matt the Robot, gomdrop, Ana Dapper


Capítulo 21
Durma bem, meu bebezinho


Notas iniciais do capítulo

Aqui é a Helo e espero que gostem



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Helo

Depois de ser sequestrada por feiticeiras, de dar uma voltinha em um carrossel e ser atacada por um cachorro maluco, nem preciso dizer como estava o meu humor.

Confesso que fiquei tentada pela proposta de Samilee, aprender magia, deixar minha condição de marionete particular dos deuses... seria o paraíso. Quem sabe eu não poderia fazer uma poção ou algo do tipo para que parasse de doer, para que eu pudesse esquecer. Mas eu não podia, tinha uma missão pela frente, meus amigos precisavam de mim. Quer dizer, eu acho que precisam, eles precisam... certo?

Então Peter encontrou aquele brinquedo com os unicórnios, e bem, admito que minha atitude de gritar histericamente enquanto caía não foi nada heroico da minha parte.

E o fato de minhas flechas não surtirem dano algum no vira-lata só serviu pra despejar um balde de água fria no meu ego e acabar com o pingo de dignidade que ainda me restava. Parabéns, Helo!

Não sabia o que estava acontecendo comigo, eu sempre fora super confiante e agora me sentia um lixo. Devia ser o túnel que fazia isso, ele sabia de todos os meus medos, incluindo meu pavor em decepcionar as pessoas. Por isso eu me sentia um nada, minha vontade era gritar. Gritar para todos os lados, até para as paredes se fosse preciso, gritar que aquilo não ia me vencer.

Eu havia dormido pouco, mas sem nenhum sonho que me atormentasse, UAU, isso já estava virando rotina, quase poderia acreditar que minha cota de pesadelos de semideuses havia se esgotado. Quase. Depois Peter e Marcy nos acordaram para que eu, Matt e Ana ficássemos de vigia.

Estávamos conversando bobagens baixinho para não acordar os outros quando o assunto tomou o rumo de nossas infâncias, de como soubemos que éramos semideuses.

– Bem, eu cresci com minha avó e meu pai. Eles sempre foram carinhosos comigo, mas depois que eu descobri meus poderes, eles... bem, não me aceitaram. Eu era apenas uma criança e eles me tratavam com repulsa. – disse Matt. Seria raiva em sua voz? Dor? Carência? – Então eu conheci Joe e Gwen, e enfim fui levado ao acampamento.

– Bem, meu pai morreu quando eu tinha apenas dois anos, eu fui criada por minha tia – começou Ana. - Só há pouco tempo soube que meu amigo era um sátiro e vim parar no Acampamento, nem tive tempo de me adaptar e olha só a minha situação: cega em um túnel que tem como única função me matar!

É, a vida tinha sido dura com eles. Existem dois tipos de dor: a que enfraquece e a que fortalece.

Ficou tudo silencioso até que Matt disse:

– Sua vez, Helo.

A verdade é que eu não tinha o que dizer, eu estava no Acampamento desde... desde sempre. Quando tomei coragem e abri a boca para responder, ouvimos um barulho.

– O que foi isso? – perguntou Ana.

De novo, era como um tambor.

De novo, mais perto agora.

De novo, pareciam passos.

– Rápido, acorde os outros! – gritou Matt pra mim, já que Ana não podia enxergar.

Corri até Marcy:

– Acorda, rápido! - eu disse.

– Só mais cinco minutos – resmungou ela.

– Agora! - disse e chacoalhei ela.

– Aaaah, não precisava disso! Ok, eu levanto!

– Vem vindo algo aí, e eu não quero ficar para descobrir o que é. – Felizmente ela entendeu o recado e se pôs de pé rapidamente; Matt já havia acordado Peter.

– Permissão para correr? - perguntei a todos.

– É só um som, nem sabemos o que é! – respondeu Peter.

O som continuava cada vez mais perto até que apareceram dois pés gigantes. Não só gigantes, eram GIGANTES mesmo, nós não chegávamos nem ao tamanho do seu dedo mindinho. A coisa era tão grande, mas tão grande, que mesmo que ficássemos com um torcicolo horroroso de tanto olhar pro alto, não conseguíamos ver mais que seus joelhos. Ele se aproximava.

– E agora? – perguntei – Corremos?

– Corremos - respondeu novamente Peter.

***

Não sabia há quanto tempo estávamos correndo, mas eu já suava feito uma porca prestes a ser assada no Natal. O monstro berrava palavras desconexas, e o pior, isso nos assustava.

– Ali – Peter apontou para uma portinhola no alto, parecia um sótão. Era nossa única chance.

Subi nas costas de Peter, abri a portinha e entrei. Estendi os braços para baixo e segurei as mãos de Marcy, puxando-a para cima. Foi a vez de Ana, tínhamos que ter cuidado. Afinal, ela não podia enxergar o que estava fazendo. Ela não pesava nada, então foi moleza.

Os passos e ameaças do monstro se aproximavam a cada segundo. Matt escorregou na bainha de Peter e teve que subir de novo. Puxamos ele o mais rápido que conseguimos.

Eu realmente não sabia como Peter ia subir até que Marcy teve a ideia de “voltar” para ajudá-lo. Matt e eu seguramos os pés dela e descemos ela de cabeça para baixo para que ela pudesse segurar e puxar Peter para cima. Minhas mãos estavam suadas, então quase deixei que Marcy caísse. Com o susto, nos distraímos e eu também caí, Matt com rapidez segurou meu tornozelo e ficamos como uma corda. Matt me segurava, eu segurava Marcy e Marcy segurava Peter. O monstro chegou e deu uma gargalhada que fez o lugar todo estremecer. Fechei os olhos. Morri, morri, morri. Até que senti um puxão e todos estavam dentro da portinha, e Peter fechava a porta nos separando do monstro e extinguindo também o som de seus berros. Uau, não sabia que Matt era tão forte, puxara nós três sozinho? Estava impressionada.

Estávamos tão aliviados que nem vi que abraçava Marcy como se minha vida dependesse disso. Me soltei dela rapidamente quando percebi.

– Estão todos bem? – perguntou Ana.

Todos assentimos.

– Pessoal, vocês têm que ver isso aqui - chamou Matt. Ele mostrava uma imagem holográfica, tinha uma aura avermelhada, sim, parecia magia. Estava fascinada por aquilo e creio que os outros também, pois tocamos sem hesitar (até Ana, mesmo sem enxergar, ela devia sentir a magia que estava presente ali).

No momento em que toquei, senti meus dedos queimarem e eu estava sozinha. Não era a mesma sala, parecia outra dimensão. Então comecei a vivenciar a cena.

Havia uma mulher extremamente bela, com um vestido grego escarlate e um homem vestido com uma armadura de batalha completa, aparentavam ter pouco mais de vinte e anos.

– Eles já estão aqui no túnel, devo mandar nossas... surpresinhas? - perguntou a mulher ao homem.

– Ainda não, eles estão nos espionando - disse o homem e olhou na minha direção dando um sorriso cruel. A mulher então começou a me dizer:

– Aaah, pobrezinha! Você não é ninguém, seu fim está próximo e você será esquecida, faço questão de te destruir eu mesma, querida, considere uma honra ser destruída por Éris em divindade e tudo! – disse dando uma risada maligna e cortante como vidro. – Você não é NADA! Uma pessoa que não tem passado? Eu tenho pena de você! É por isso que eu tenho te perseguido mesmo antes de você nascer. Mas você não sabe, não é? Você não tem história! Não tem nem uma família! - Cada palavra dela doía mais do que qualquer espada que pudesse me ferir. – Você não é NADA! – Eu queria gritar que era mentira, mas minha voz não saía. - Bem – disse ela com desdém –, acho que vou ser misericordiosa e lhe mostrar um pouco. - Ela estalou os dedos e a cena mudou.

Era o mesmo sonho, o meu sonho. Havia sangue, morte, um rapaz vestido de dourado, duas mulheres e um bebezinho. Mas dessa vez eu não via a cena de fora, eu era o bebezinho.

A cena mudou novamente e eu me vi naquela missão, tanto tempo atrás, o meu eu da imagem chorava abraçando aquele corpo sem vida. Vendo aquilo, soltei as lágrimas que há tanto tempo queriam sair. Lágrimas e mais lágrimas rolavam por meu rosto. As cenas mudavam mais rapidamente, me mostrando os anos no Acampamento, quando eu era bebê e uma ninfa cuidou de mim. Quíron me ensinando a ler e a escrever, eu brincando sem nem ao menos conhecer o mundo lá fora. Os anos passando e eu crescendo, no balanço com o Alv... doía demais.

As imagens passavam agora muito rápido, o bebê dentro de um cesto, as visitas de meu pai todo ano no meu aniversário... eu chorava cada vez mais.

Ouvia a voz da mulher de vermelho rindo de mim e também uma voz em minha cabeça: “Toque a imagem novamente, volte!”

Mas eu não conseguia me mexer, tapei os ouvidos e gritei até que as cenas pararam de mudar e apareceu só mais uma.

Uma mulher aninhava o bebê no colo e cantava uma canção.

“Durma bem, meu bebezinho

Que o dia já, já virá

Durma bem, meu bebezinho

Sei que um dia vencerá”

Eu conhecia aquela música! Eu a cantava todas as noites quando era pequena e nem sabia onde aprendera...

– Você tem grandes responsabilidades, meu anjo. E não importa onde eu esteja, vou estar sempre aqui – disse a mulher apontando para o coração do bebê. - Um dia virá a entender o porquê disso, meu bem. – Ela deixou o bebê em um cesto no meio da floresta e saiu correndo. Então se virou para trás e disse: - Eu te amo, Helo.

Eu chorava desesperadamente agora e a voz ainda repetia “Toque a imagem novamente, volte!”

Onde meus amigos estariam? Eles estavam vendo o mesmo que eu?

Então a cena da canção voltou.

“Durma bem, meu bebezinho

Que o dia já, já virá

Durma bem, meu bebezinho

Sei que um dia vencerá”

Me abracei e então não me importava com mais nada, não queria mais voltar. Nunca mais.


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Notas finais do capítulo

Queria agradecer à Yara, deixem reviews!



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