Avatar: A Lenda de Zara - Livro 2: Terra escrita por Evangeline


Capítulo 10
Cap 9: Tempo e Histórias para Contar


Notas iniciais do capítulo

Sei que esse capítulo é cansativo, mas ele também é muito importante. :)



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Com um suspiro cansado, Gumo levantou-se pela manhã levando a mão à cabeça. Já fazia dois dias que estava com aquela enxaqueca, e nem Lyn conseguia fazer passar.

Tomou um banho demorado e em seguida se vestiu para ir ao orfanato. Estava trabalhando lá desde que soube da existência de sua pequena irmãzinha. Ajudava a cuidar das crianças, cuidava de documentos, lavava banheiros, todos os tipos de serviço eram impostos para o menino, e a única coisa que ganhava em troca era estar perto de sua menininha.

Ele amava Lyn mais que tudo no mundo. Desde que fora expulso de casa, nunca acreditou que sua mãe pudesse colocar mais uma criança para fora de casa.

A história de Gumo era bastante complicada, e conhecer a Avatar não chegou a ser o ápice de sua vida.

Sua mãe, Tarkaã, era uma mulher muito bela e desejada pelos homens, mas por ter nascido em uma família pobre, os valores que deveria ter recebido nunca chegaram a ela. Dormiu com a grande maioria dos homens que conheceu, e por isso teve filhos muito cedo.

Gumo era o segundo filho da mulher, o primeiro se chamava Golin, mas foi assassinado antes mesmo do mais novo nascer. Assassinado por um dos amantes ciumentos de Tarkaã.

Quando Gumo fez seis anos começou a questionar sua mãe. A mulher não aguentava. Estava sempre bêbada e chegava a bater em seu próprio filho pequeno. Até que um dia Gumo revidou com dobra d’água. A mulher revoltada o espancou e o colocou para fora de casa.

Nunca mais vira Tarkaã depois daquele dia, mas as outras mulheres do bairro que conheciam o temperamento de Tarkaã cuidavam de Gumo sempre que podiam.

Foi uma dessas mulheres que, anonimamente, pegou Lyn assim que nasceu, antes que a pequenina pudesse sofrer por causa dos atos de sua mãe.

Quando Gumo fez oito anos, foi mandando para a academia de dobra d’água, mas antes que pudesse assistir uma aula sequer, a academia o enviou para o polo sul. Não sabia o motivo, mas não havia nada que o prendesse àquele lugar, então foi com mais vinte crianças e adolescentes para o polo sul, mas os ataques da nação do fogo eram constantes, o que o forçou a ficar no Templo do Ar do Norte por quatro anos, onde estudou com os refugiados do Reino da Terra.

Boa parte da história sequer Gumo sabe.

Para ele, apenas tinha uma mãe louca.

Caminhava pelas ruas recém iluminadas com certo mal pressentimento. Já fazia quase seis meses desde que estava trabalhando no orfanato, e nunca mais vira a Avatar ou seu velho colega Airon. Sequer tinha notícias deles.

Zara devia estar aprendendo a dobra de fogo, e ele ainda não havia mudado nada em sua vida. Para Gumo, não ter um objetivo grande de vida era algo triste, e ao mesmo tempo uma sorte. Por um lado tinha certa inveja e Zara, por outro, certa pena. Mas no fundo ele nutria um afeto pela menina.

Quando chegou ao orfanato, deu a volta na construção para que pudesse entrar pelos fundos. Assim que entrou, encontrou duas das senhoras que cuidavam do orfanato acompanhando duas curandeiras até os quartos das crianças.

Franzindo o cenho com certa preocupação, Gumo as seguiu. Elas haviam separado em um quarto apenas três crianças, mas o garoto não pôde entrar no quarto para ver quais eram. Com um suspiro cansado, foi ao quarto de Lyn para dar-lhe um berço de bom dia, mas seus olhos arregalaram-se ao ver que Lyn não estava no quarto.

Correu de volta para o cômodo especial onde as curandeiras entraram e bateu na porta. Logo uma das senhoras atendeu com um olhar sonolento e cansado.

– A Lyn está aí? – Perguntou o menino. A mulher assentiu com a cabeça lentamente. – Por quê? – Perguntou em seguida.

– Estamos tentando descobrir. – Foi o que a mulher disse antes de fechar a porta na cara de Gumo. O menino franziu o cenho e passou as mãos na cabeça, sem saber como reagir.

Teria Lyn algum problema? Ou alguma doença? Não, talvez ela apenas fosse uma dobradora de água... Mas dobradores são identificados com seis a oito anos... Justificou sendo mais negativo ainda.

Longe dali, Zara e Roen treinavam no Palácio de Ba Sing Se. O rapaz havia ordenado que os cinco melhores guardas dobradores de terra comparecessem à grande plataforma de treino da família real.

Tratava-se de uma plataforma de terra cercada por um buraco de quinze metros de profundidade. O perdedor seria aquele que caísse no buraco.

Com seis meses de treino em plenas planícies do reino da terra, Zara já surpreendia seu mestre. Os dois já conseguiam treinar juntos e aprimorar juntos as técnicas, muitas vezes até praticavam um contra o outro. A menina havia ganhado mais massa muscular, mais força e mobilidade.

A facilidade com a qual Zara aprendia cada nova técnica surpreendia cada vez mais Roen, que sentia-se ficando para trás, o que já era de se esperar.

Treinavam na grande plataforma, Zara contra um dos dobradores que Roen havia mandado chamar. O professor estava aprendendo muito com a movimentação da menina. Durante a luta, Zara não saía do lugar nunca.

Outro ponto que a menina já havia se corrigido completamente era a dobra d’água. No início do treinamento de dobra de terra, Zara tinha a mania de defender os ataques de Roen com água. Agora a menina parecia ter esquecido completamente que podia dobrar a água, mas o professo sabia do potencial dela para tal elemento.

No centro da plataforma, Zara parecia dançar com marcações compassadas diante do oponente. O guarda, treinado por Dai Li, apenas dava-lhe ataque diretos com rochas grandes. A jovem Avatar parecia apenas defender-se com muros erguidos diante de seu corpo, ou rochas que ela trazia de direções contrárias.

Quando seu oponente tomou confiança de que a menina sabia apenas se defender, ele começou a se aproximar e a atacar por baixo e pelos lados. Zara, com um sorriso um tanto macabro, ergueu três grandes e grossas colunas ao redor do dobrador. As colunas que se encontravam no topo bloqueavam todo o resto de luz solar que o por do sol emitia.

Horrorizado com a escala do primeiro golpe da menina, o guarda escondeu-se num casulo de terra.

Com um movimento próximo ao solo e circular, Zara usou sua especialidade em dobra de terra. A areia. Todo o solo ao redor do oponente tornou-se um campo de areia movediça. O homem tentando sair da armadilha mortal, saiu de seu casulo e tentou dobrar a areia ao seu redor, mas era tarde demais. Zara solidificou completamente a areia, deixando o guarda preso com apenas sua cabeça para fora do solo.

Com um sorriso estonteante, Roen batia palmas para a menina, assistindo tudo pelo lado de fora da plataforma.

Os treinos pareciam cada vez mais produtivos, Zara já conseguia facilmente dobrar terra em grande escala. Em alguns aspectos, ultrapassava seu mestre.

De acordo com O Conselho de Anciãos – a equipe de dobradores experientes que avaliavam as especificas dobras do Avatar – o teste de dobra de terra seria depois de um ano de treino. Equivalente a mais seis meses para Zara.

Duas mulheres idosas vestiam o Tenente com todo o cuidado que conseguiam ter. A pele alva do rapaz tinha marcas de cortes, verdadeiras cicatrizes de lutas. Tão ovem e já tão ferido pelos golpes da guerra, sem sequer ter participado de uma.

Palavras ofensivas saiam da boca fina do rapazote quando uma das senhoras amarrou um tanto forte a faixa em sua cintura, por cima do longo kimono vermelho. Com mãos trêmulas porém habilidosas, a outra das senhoras subiu num baco baixo atrás do rapaz, para amarrar seus cabelos num coque alto e enfim colocar o símbolo de sua nova patente.

Era o mais jovem Tenente que já se conheceu. Tinha apenas quatorze anos.

Quando as duas senhoras finalizaram seu trabalho, deixaram o rapaz sozinho em seu quarto.


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