A Volta de Bianca di Angelo

capítulo VI

Nico ainda estava espantado com o que viu. Quer dizer, Leo obviamente viu que Rachel estava pálida, desmaiada e com “cara de morte”, mas Nico pode ver a aura de vida da amiga quase que desaparecendo. Por ser filho do deus dos mortos, ele conseguia ver a vida se apagando, literalmente. Já aconteceu uma vez, mas mesmo assim ainda era aterrorizante ver uma pessoa morrendo e não poder fazer nada. Talvez o Oráculo gastasse muita energia para se projetar nela. Nico pensou se o Oráculo media essa energia de alguma maneira ou poderia matá-la de verdade qualquer dia. Ele gostava de Rachel e esses pensamentos o deixavam nervoso.

Apesar da preocupação com Rachel, estava preocupado também com a tal profecia. Não parecia nada amigável. Aliás, nunca nenhuma profecia pareceu amigável. Annabeth a escutara e falou que era sinistra. E que dizia respeito aos filhos das Trevas. E ele era um filho de Hades. Bingo! Mais problemas na sua vida.

Caramba! Queria tanto ser uma pessoa normal, em um mundo normal, em que as pessoas não sabem da existência de Oráculos...

Veja pelo lado bom, Nico -pensou ele- ao menos, não é uma Grande Profecia. Verdade. As Grandes Profecias sempre anunciavam guerras de titãs, exércitos de monstros, destruição do mundo e outras coisinhas básicas. Desta vez, parecia mais uma coisa isolada. Grande, mas isolada. Na verdade, não existia lado bom, mas pensar isso já era algo...de alguma forma menos pior.

E ainda havia outra coisa: a Profecia mencionara “filhos” de Hades. Mais de um. E só havia ele...ao que todos sabiam. Profecias podem levar anos para se concretizar. A de Percy fora assim. Caiu a noite e o garoto ainda estava absorto em seus pensamentos.

Desejou pela milésima vez que Bianca estivesse ali. Ela o acalmaria. Mas a irmã não podia ouví-lo agora. Estava morta.

Nico sentiu a barriga doer. Não tinha comido nada o dia todo. Foi até o pavilhão de refeições. Como o de costume, jogou um pouco de comida nas chamas, uma oferenda para seu pai. Não que esperasse que Hades fosse ouví-lo, mas não custava tentar. Desta vez, implorou baixinho para que ele o guiasse, caso tivesse que partir na missão. Depois, se sentou na mesa do chalé 13, sozinho. Aquele chalé só começara a existir após a batalha de Cronos, mas curiosamente, parecia que tudo tinha sido planejado para que Nico ficasse com ele. O número 13 significa agouro, e era assim que Nico se sentia.

Depois da comida, Annabeth pediu silêncio. Todos já sabiam o que ela iria falar. O que tinha acontecido virou fofoca em todo o Acampamento em pouco tempo. Porém, claro, ninguém sabia a Profecia em si. Apenas Annabeth e a própria Rachel.

—Hoje, após muito tempo oculto, o Oráculo de Delfos se manifestou outra vez. Normalmente, cabe a Rachel a honra de anunciar a profecia a todos, porém, gostaria de eu mesma falar a vocês; se me permite, Rachel...

A amiga arqueou uma sobrancelha, mas assentiu. Annabeth recitou a profecia.

Fez-se silêncio. Os campistas se entreolharam. Nico viu Rachel gesticular para Annabeth como se pedisse explicações. Ela falou algo que Nico não conseguiu decodificar, mas pareceu uma pergunta.

A fogueira mágica refletia em suas cores e tamanho o estado emocional dos campistas. No momento, as chamas lutavam para não serem extintas por total e tão escuras que se confundiam com a noite. Ninguém ali esboçava um mínimo de ânimo ou esperança. Perfeitamente compreensível.

Quíron, calculista e contido, quebrou o silêncio.

—Voltem aos seus chalés, por favor. Preciso ter uma conversinha em particular com uma pessoa. Nico di Angelo, venha até aqui.

O garoto sentiu o coração gelar. Problemas. Má sorte. Agouros.