Capítulo 22 – A nova vida

– Isso não é bom... Como posso ficar mal justamente quando Ganon está se aproximando?

– Lembre-se que ele pode ser o responsável. E não se preocupe demais. Você luta excelentemente, mas não deve se forçar, Zelda – Midna lhe dizia quando a princesa sentou-se na cama.

Estavam no quarto dela e de Link, que se encontrava no andar de baixo junto com a fada e o garoto. Zelda* entrou algum tempo depois e foi até elas.

– Não quer que eu chame Impa?

– Não é necessário. Os Sheikahs são praticamente ninjas, eu tenho certeza que ela está vindo pra cá agora.

Previsão perfeita. Zelda mal terminou de falar e a guardiã abriu a porta do quarto, entrando com uma expressão apreensiva.

– O que há dessa vez? – Ela questionou, ajoelhando-se na frente de Zelda e pousando as mãos em seus joelhos.

– Minha cabeça dói... Meu corpo está dolorido.

A guardiã arregalou os olhos em preocupação e levantou-se, sentando-se ao lado da princesa, que se virou para ela.

– Deixe-me verificar isso.

Impa tocou seus ombros e os pressionou levemente, fazendo a princesa murmurar de dor de vez em quando. A guardiã fez o mesmo em sua cintura e abdômen. A musculatura estava tensa e alguns lugares pareciam inchados.

– Zelda...

– O que foi, Impa? – Ela lhe perguntou ao ver a expressão da Sheikah.

– Isso pode realmente não ser algo grave como pensamos até agora...

– Você sabe qual é o problema? – Midna lhe perguntou.

– Estou desconfiada... Não saia daqui, eu já chamei o médico pra nós termos certeza daquela sua suspeita – ela falou, levantando-se.

Zelda não questionou. Aquela situação a estava tirando do sério havia mais de um mês, queria saber o que estava acontecendo, embora tivesse nos últimos dias uma grande suspeita sobre o que a estava enfraquecendo, mas preferira não contar nada a ninguém sem antes ter certeza.

– Espere... Suspeita? – Midna questionou erguendo a sobrancelha – O que é que você não nos contou?

– Não disse nem a Link?

– Eu direi em breve. Se eu estiver certa, é algo muito importante. Ele ficaria muito triste se descobrisse depois que não é verdade.

As duas se olharam desconfiadas, até que houvesse um diagnóstico Zelda poderia estar em risco, talvez grave, e isso as preocupava.

– Está pensando em lutar mesmo assim? – Zelda* lhe perguntou.

– Sim. Esse é meu reino e meu povo. Ganon já nos subjugou duas vezes e todos sofreram muito. Mesmo enquanto Ganon estava preso, Link precisou fugir, se perdeu, perdeu Navi, perdeu suas memórias... Desapareceu a ponto de todos pensarmos que estava morto... Mesmo sendo uma sábia e conhecendo magia, reconheço que não tenho força suficiente para derrotar Ganon sozinha. Já estou muitas gerações distantes de Hylia, por isso tenho menos do poder dela do que você, Zelda*. Eu não tive escolha da última vez, mas depois que Midna trouxe Link de volta as coisas mudaram. Dessa vez nós lutaremos juntos. Não queremos mais ninguém sofrendo. Eu suportarei.

Zelda* já tinha grande respeito pela princesa, nesse momento sua afeição por ela cresceu. Estava diante de uma verdadeira princesa, que certamente seria uma grande rainha, disposta a tudo para proteger aqueles que a seguiam e precisavam dela e de Link. Em poucos momentos Impa estava de volta acompanhada pelo mesmo médico de um mês atrás.

– Por favor, vocês duas poderiam nos deixar por um momento – ela pediu em voz baixa à Zelda* e Midna.

A duas assentiram e se retiraram, descendo as escadas e procurando por Navi e os dois Links no andar de baixo. A busca não foi longa, poucos minutos depois ouviram os gritos de alerta da fada em sua direção.

– HETY, WATCH OUT! LISTEN! LOOK! HELLO!!

– O que foi, Navi?! – Zelda* lhe perguntou.

– Estamos sendo atacados!!! Os Links estão lá fora!

– O QUÊ?!! – Zelda* e Midna exclamaram em espanto, correndo para fora do castelo com a fada, e já sacando seus armamentos.

Do lado de fora incontáveis bokoblins atacavam o castelo com marretas, flechas em chamas, machados, objetos pesados... Os dois Links faziam o que podiam para contê-los junto com os soldados. Flechas voavam para todo lado, soldados corriam para proteger a entrada do castelo, bombas explodiam em alguns lugares, podiam ver o besouro de Link* carregando-as e as soltando na cabeça dos monstros.

– Por que eles são vermelhos?! Link disse que não existem vermelhos aqui.

– Você já viu antes?

– Sim! Nós vimos na superfície quando o Demon King apareceu.

– Me parece... Que Ganon quer unir Skyloft e Hyrule como fez com Twilight há dez anos. Isso está um caos! Tenha cuidado – Midna disse a Zelda* quando começou a desferir golpes violentos de espada contra a multidão monstruosa.

Zelda os atingia com suas flechas, por vezes unindo-as ao poder da luz que tinha herdado de Hylia para derrubar as criaturas maiores. Não ousou se afastar muito do castelo, sabia que tinha o menor poder ofensivo, se fosse ferida, daria mais trabalho aos outros. Surpreendeu-se ao se ver usando tal poder. Era incrivelmente mais forte e era algo lindo de se olhar. Uma explosão dourada e lenta de luz, que parecia purificar o que tocava. De certa distância, Link* parou por um ou dois segundos para vê-la atirando, e também ficou maravilhado, mas não podia distrair-se e logo voltou a lutar. Após algumas investidas do grupo junto com os soldados a quantidade de bokoblins diminuiu consideravelmente, restando apenas um pequeno grupo, que continuava a atirar flechas incendiárias e bombas.

– Está tudo bem por aqui? – Link* perguntou quando finalmente pode se aproximar, mirando um dos monstros com o estilingue, atirando e fazendo-o despencar de uma pilha alta de caixotes na qual subira, o que provocou sua morte instantânea.

– Sim!

– Onde está a outra Zelda?

– Lá em cima com Impa e um médico – Midna lhe disse.

– O que?! – Link, que finalmente chegara mais perto, espantou-se.

– EI!! ZELDA!!! – Ouviram Navi gritar.

Link ficou de olhos arregalados ao notar a esposa passando por entre os guardas, sem que nenhum conseguisse contê-la.

– Eu sabia que ela não ficaria quieta quando ouvisse toda essa bagunça!!

A princesa parou a certa distância do grupo, e antes que Link chegasse até ela, atingiu os monstros com uma de suas flechas de luz, deixando apenas um vivo, um bokoblin enorme e furioso que correu a toda velocidade na direção da princesa.

– Ah, não!!! – Link disparou até ela – Sua louca!!

– Depois discutimos isso!! Me ajude Link!!

Ele preparou seu arco e flecha e atirou uma flecha incendiária junto à iluminada de Zelda. A criatura já estava bem mais perto. Após o disparo, ninguém viu nada além do que parecia ser a parede atrás do casal desabando e a poeira e fumaça vedando a visão de todos.

– Link*! – Zelda* disse, correndo até ele com um olhar preocupado - Onde eles estão?! Não consigo vê-los!

– Eu não sei, também não vejo nada... – respondeu olhando para a poeira que subira quando a parede desabou na explosão.

– Aquela menina!!! Vamos ter uma conversa seríssima quando isso acabar!!! Onde ela está?! – A guardiã desesperada procurava ver algo em meio à enorme nuvem de poeira.

Deixara o médico dentro do castelo. Ele chegara segundos antes do ataque, mas só arriscaria sair quando tudo acabasse. Zelda saíra correndo ao ouvir o barulho da confusão do lado de fora, no momento em que ele estava prestes a dar seu diagnóstico. Não conseguindo impedi-la, a guardiã se adiantou para a saída do quarto. O médico pode lhe dizer em pouquíssimas palavras qual era o problema da princesa antes que Impa saísse. Depois a Sheikah correu como nunca em sua vida para alcançar Zelda.

– Impa!! – Puderam ouvir uma voz abafada.

– Link! É ele! – Midna avistou.

Os olhos da guardiã, que até então estavam atentos tentando rastrear o local, se dirigiram ao ponto onde ouvira o som, e segundos depois viram o herói aparecer caminhando por entre os destroços da parede, carregando sua esposa inconsciente nos braços. O monstro jazia morto com a cara no chão. Podiam ver as pontas das flechas saindo do grande estrago em suas costas.

– O que aconteceu?! Ela foi atingida pela explosão?! – Impa perguntou a Link quando correu até ele, o ajudando a deitar Zelda no chão.

Os outros três também se abaixaram ao lado do grupo e Navi sobrevoava a cabeça de Link, percebendo as roupas da princesa e do herói manchadas de sangue.

– Está ferida – Zelda* preocupou-se, olhando um corte um tanto profundo no braço esquerdo dela.

– Ela estava bem. Só fomos atingidos por alguns pedaços pequenos da parede! Nós conseguimos correr quando a parede caiu! Eu não sei porque ela desmaiou de repente! – Link explicava preocupadíssimo, ignorando a dor de um corte que sangrava do lado direito de seu rosto.

– Ela sabe lutar bem e tem uma boa resistência. Só esse ferimento não pode tê-la feito desmaiar – Impa tentava raciocinar, enquanto trabalhava para limpar e estancar o ferimento de Zelda.

– Ela ter se sentido mal ultimamente e dormido muito... Pode ter algo a ver com isso? – Link* lhe questionou.

Ela não respondeu, apenas continuou cuidando de Zelda e pensando por algum tempo.

– Em que circunstâncias ela desmaiou? – Perguntou a Link – Inalou a fumaça ou a poeira?

– Nós dois, mas não dava pra chegar a esse ponto. Ela caiu quando o cheiro ficou mais forte.

– A princesa está bem! – Impa gritou para os guardas – Chequem o castelo e os arredores!! – ordenou, voltando-se para Link e os demais - Cheiro de fumaça e poeira enjoa muito. Não fique tão preocupado. A nossa suspeita foi confirmada – ela disse, finalmente terminando de enfaixar o braço da princesa.

– O que quer dizer com isso? – Midna questionou.

– Ela está bem? – Navi lhe perguntou.

– Era pra ela mesma contar isso a você, mas sei que perderá sua concentração em tudo que está acontecendo se mantiver sua mente nisso – ela disse, encarando os olhos apreensivos do herói do tempo – A princesa não está doente, está esperando um bebê. Zelda e você terão um herdeiro. Ou herdeira. Meus parabéns, príncipe de Hyrule.

Primeiro ele arregalou os olhos em espanto, depois um sorriso enorme surgiu em seu rosto e também no dos outros.

– Finalmente! Esperamos tanto... Então ela passou mal por isso? Por que tantas vezes? Acha isso normal?

– Sim. A mãe dela tinha saúde frágil, não só sofreu enquanto a esperava como também não sobreviveu ao parto. Por isso, me parece normal que ela fique mal muitas vezes na primeira vez. Zelda é muito mais forte, não fique preocupado.

– Tem certeza de que ela está...?!

– Eu conheço minha princesa desde que ela era um bebê e estive cuidando dela desde então. Qualquer mínima mudança no corpo ou comportamento dela é notável pra mim, ainda que ela mesma não perceba, e os sintomas estavam cada vez mais claros. Além disso, um profissional acaba de nos confirmar. Ela anda com fome, sono, dores e mal-estar. Você não notou que o corpo dela estava um pouco diferente ultimamente?

– Não, eu... Ei! Não vamos falar disso aqui! – Ele exclamou ficando vermelho.

– E ela aceitou lutar mesmo sabendo disso? – Link* lhe questionou.

– Ela não sabe que estava certa. Eu tentei falar com ela, mas sua mente estava tão fixada na segurança do castelo e do povo que saiu correndo quando o médico ia nos contar. Ela me pediu pra que protegesse o interior do castelo, mas não podia deixá-la vir sem mim.

– Por que ela não me disse? AI!! – Ele exclamou quando Impa limpou o corte de seu rosto com um pano.

– Como eu já falei, levando em conta todo o apresso que você tem por ela, se desconcentraria da luta e ela mesma não tinha certeza. Agora aconselho que sigam em frente se quiserem alcançar os súditos de Ganon antes que eles façam mais alguma coisa. Se atacaram o castelo deve ter coisa pior lá fora. Ganon pode estar vindo. Eu ficarei aqui com ela.

– Estou tão feliz! – Ele falou, sorrindo novamente.

– Parabéns, Link!! – Zelda*, Midna e Navi lhe disseram ao mesmo tempo, sorrindo, enquanto Midna puxou o chapéu verde e fez uma festinha em seu cabelo, colocando-o de volta depois.

– Meus parabéns!! É uma pena não estarmos aqui pra vê-lo quando nascer.*

– Estão me ouvindo?! Também estou feliz, mas se quer que ainda exista um mundo pra o seu filho nascer, vão agora ao lago Hylia! Quando isso acabar, Ganon vai aparecer, e poderão dar um jeito nisso finalmente.

– Nós já vamos! – Ele riu e se abaixou até a esposa, tomando o rosto dela entre as mãos – Obrigado, meu amor. Eu voltarei o mais rápido que eu puder – sussurrou para ela e lhe beijou os lábios durante algum tempo – Vamos! – Disse, levantando-se.

– Venha, Link*! – Zelda* o puxou, enquanto corriam atrás do outro Link, junto com Midna e Navi.

– Se você fosse eu, imagino como deixaria os malvados loucos com toda essa energia – ele* apenas ouviu uma risada em resposta.

– Às vezes parecem um bando de crianças!! – Impa bronqueava com as mãos na cintura e olhos zangados ao vê-los sumirem de vista.

– Impa... – a guardiã a olhou ao percebê-la acordar minutos depois – Onde está Link? E os outros?

– Seguiram para outro setor do campo de batalha. Estão indo ao lago Hylia.

– O que?! – Ela ergueu-se, sentando no chão de frente para Impa.

– Como se sente?

– Eu estou ótima! Fiquei tonta e enjoei com toda aquela fumaça, mas foi só isso, e vejo que meu ferimento já foi cuidado, estou bem. Eu vou atrás deles!

– Princesa, fique aqui e descanse!

– Impa, você sabe que eu sei lutar e eu já estou bem! Agradeço sua preocupação e sei o quanto se importa comigo, mas eu vou lutar ao lado deles! – Disse se levantando e começando a correr.

– Volte aqui! Seja uma mãe mais prudente!

– Eu o que?! – Ela parou e virou-se de repente, de olhos arregalados.

– Hyrule terá um herdeiro.

Ela caminhou de volta até Impa e ajoelhou-se à sua frente.

– Estou mesmo? – Ela perguntou, ainda pasma.

– Sim.

Após mais alguns segundos absorvendo a notícia a princesa gargalhou de felicidade e agarrou-se a sua babá em um forte abraço, que ela retribuiu.

– Então estávamos certas! Estou tão feliz! E Link?! – Perguntou, afastando-se e a encarando.

– Me desculpe, eu mesma tive que contar a ele ou não teria seguido em frente. Não queria sair de perto de você, trouxe você até aqui depois da explosão e estava preocupado. Você desmaiou estranhamente.

– É verdade... Ouvi Link me chamando e não vi mais nada.

– Ele ficou muito feliz quando soube. Os outros também – informou, vendo Zelda sorrir – Meus parabéns, Zelda.

– Obrigada, Impa!

– Deve ficar aqui, eles voltarão quando isso acabar.

– Não, Impa! Por favor! Não ficarei tranquila se imaginar que estão em risco. Lhe prometo que não vou lutar além dos meus limites, não posso nem quero ariscar o meu filho, mas quero estar ao lado deles. Da última vez Ganon me prendeu no castelo e não pude fazer nada. Agora estou livre. E Link! Preciso vê-lo! Você me entende?!

Os misteriosos olhos claros tornaram-se distantes por um tempo, enquanto a guardiã pensava em silêncio.

– Eu irei com você. Quero ter certeza de sua segurança e de que nada afetará esse bebê.

– Obrigada, Impa! – Agradeceu com um sincero sorriso, puxando a guardiã pela mão, fazendo as duas levantarem, e correndo na direção oposta.

– Ei, tenha calma!

– Acha que haverá problemas em irmos com os cavalos?

– Não, não ainda. Seu pai sempre contou que sua mãe também cavalgava no início quando estava esperando você e isso nunca fez mal a nenhuma das duas. Mas daqui algum tempo terá que se contentar em deixar o cavalo por alguns meses.

A guardiã discordava totalmente em deixa-la ir, até mesmo um estado de nervosismo poderia fazer mal à criança e à própria princesa, mas se ela ficasse não seria diferente, por isso cedera. Zelda deu dois fortes assobios na direção do estábulo e dois cavalos vieram correndo na direção delas.

– Senhorita, Impa. Princesa... – um guarda se aproximou – A não ser pela parede destruída, o castelo está em perfeita ordem.

– Reconstruam a parede o mais rápido possível. Quero que tranquem todos os portões e acessos principais e protejam esse castelo como nunca antes até o nosso retorno – Zelda lhe disse.

– Sim, princesa – ele curvou-se em respeito e se afastou.

As duas montaram e seguiram o rastro dos demais. Nos pensamentos da princesa apenas estava a vida criada pelo amor dela e de Link. Aquela criança precisava de um mundo seguro e feliz para nascer e não só como, agora, mãe, mas também a princesa do castelo de Hyrule, por todos os Links e Zeldas que haviam lutado ao longo da história, desde o início da lenda, e por todos que viviam ali, ela lutaria.