Mantendo O Equilíbrio - Finale escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 21
Capítulo 20


Notas iniciais do capítulo

Não resisti de deixar vocês numa reticência 'eterna' de uma situação complicada rs
Pra vcs verem como passei semanas ouvindo Kelly Clarkson uashuashuash

Enjoy.



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– E esse foi só o primeiro round.

Com a maratona e revolução de sentimentos por todos os últimos dias, eu andava cansada pelos cantos. Bem exaurida emocionalmente que batia no físico. Minhas olheiras estavam exigindo quase um reboco para passar como maquiagem, ainda que nas últimas horas, ou pelo menos desde que saí do apê de Filipe, eu tenha dormido. Era só eu bater na cama que eu nem sentia, apagava no sono dos justos.

Isso porque eu tinha que estudar.

Quem disse que eu consegui mesmo?

Ainda atrapalhava minha melhor amiga. Como se ela tivesse ligando muito também sobre a prova...

– Eu não acredito que seu irmão se virou contra o Vini! Quer dizer... entende? Era contra ele mesmo, só que culpar o Vinícius só porque ele tava ali... meu Deus! E se ele tivesse batido mesmo?

– Ele só provaria que estava fraco.

Dou de ombros. Flávia para de vez na cozinha, terminava de guardar uma louça que deixaram na bancada escorrendo. Pela cara que me faz, me conserto.

– Ok, CLARO que considerei a opção. Não sei mesmo o que teria feito se tivesse partido pra cima do meu namorado ou o que Vini também faria, se se deixaria levar ou revidasse ou se desviaria... Ele também me perguntou se eu queria que Murilo tivesse o batido, ficou com essa dúvida. Claro que não queria, só precisava provar um ponto. Que era mexer com a cabeça do meu irmão, ali, na pressão mesmo. Aceitei o risco.

Por mim, Vinícius disse que não ligaria de ser socado mais uma vez, não importando se doeria ou não – o que devia doer muito, dada a raiva de Murilo naquela hora – ou se era para provar um ponto, também assumiu o risco. Ele só queria saber minha real intenção com aquilo. Brinquei que aquele rostinho lindo não devia sair aceitando qualquer desculpa ou armação se quisesse se manter. Amoroso, ele respondeu que sobraria pra eu cuidar dele de qualquer forma, então valeria a pena se tivesse acontecido o pior.

Deito a cabeça sobre a pilha de cadernos na mesa da cozinha, os cadernos que estavam mais pra enfeite do que para estudo, se não abrimos algum desde a hora que cheguei. Flávia volta para sua cadeira, em frente a minha, e suspira, me conhece bem demais para acreditar que fui a doida para jogar Vinícius a um leão bravo. Já tinha quebrado um vaso na cabeça dele, ela não iria se surpreender mais.

Ok, isso me faz parecer uma pessoa terrível demais. Só quero dizer que em situações limite, ou eu posso ser muito racional ou eu posso ser muito insana. Vai no risco.

– Quantos rounds foram?

– Round round mesmo foram só três, depois amainou bastante. Murilo até se desculpou com Eric. Pelas besteiras dos anos passados. Foi... reconfortante ver que ele estava aberto a uma coisa dessas, ainda que tudo muito novo.

– E Eric perdoou?

– Sim. Na verdade, da vez que eu o encontrei no salão, ele me disse que já tinha perdoado meu irmão, pois Murilo não sabia as reais razões ou que estava em jogo.

– E você... me perdoou?

– Flá, pensei ter deixado claro naquele dia.

Na segunda, quando fiquei cara a cara com Flávia após toda a confusão de minha fuga, eu pedi um momento a sós com ela. Relutante de ficar sozinha comigo no quarto, minha amiga ficou sem ter a quem puxar para acompanhá-la, pois ainda não estava de boa com Gui, e sei que isso cortou um pouco o coração dele, ela não ter lhe dado esse mínimo de confiança para um momento daqueles. Mas a entendia. Assim a puxei sem que dissesse algo mais.

Logo que fechei a porta para nos dar uma privacidade, Flávia entrou em pânico. E engoliu esse pânico, se fazendo de forte e determinada:

– Eu sei que você me odeia, então pode gritar e acabar logo com isso. Eu fiz, eu te entreguei e não me arrependo. Foi para seu bem.

Isso se afastando de mim como se eu fosse puxá-la pelos cabelos ou coisa do tipo. Só que eu não ia atacá-la. Eu não faria isso com minha melhor amiga, se quem estava errada ali era eu. Precisava lhe dar esse reconhecimento antes de mais nada.

– Eu não te odeio, Flá.

– O que?

A surpreendi, tanto que ela parou de se afastar. Eu fiquei no ponto da porta, organizando o que iria falar, enquanto que ela se manteve próxima de minha estante, ansiosa e de braços cruzados.

– Não te odeio. Te odiei sim nas últimas horas, não nego, me senti terrivelmente traída e sozinha, mal, e já quase no fim descobri que te odiava pelo motivo errado. Havia outro motivo.

Flávia se desestabilizou, apoiou suas costas à estante e não pôde me encarar enquanto tudo era confuso para ela. Sua expressão era de tamanha dor, manchada já pelo sofrimento que impliquei a ela desde o momento que expus a verdade em seu quarto, na madrugada de sábado para domingo.

– Outro motivo? Mas...? Você disse... E não me odeia? Eu não... eu não entendo.

Me senti mal por estar falando daquela maneira, um pouco dura, porém, para o que eu queria lhe agradecer, tomar aquele rumo era necessário mesmo. Mostrar que era sério, afinal.

Com a máxima calma, ainda que tivesse os olhos marejados novamente, descrevi o que tinha sentido por ela e sua atitude.

– Te odiei por ter agido pelas minhas costas, te odiei por ter me entregado tão facilmente. Por ter armado para mim. Por ter envolvido a todos.

Nisso Flávia chorava baixinho, uma mão se soltou do cruzar de braços e tomou seu rosto, que a deixou mais vermelha por fazer pressão. Eu tinha uma tamanha sede ao pote de dizer logo, esbaforida, que estava tudo bem, que, meu Deus, meu orgulho fora quebrado, só que enquanto isso ela chorava, tremia, assim eu comecei a me desesperar junto por ter tomado esse caminho. Ao fôlego que ela se forçou a tomar, tentou se explicar e...

– Mas era para s...

E eu a cortei. Na melhor das intenções, juro!

– Me espera terminar, por favor?

Flávia nessa hora me encarou, boquiaberta, nos olhos o medo da rejeição. Isso me desestabilizou também, meti os pés pelas mãos, me baguncei e, inquieta, me vi já andando de um lado para o outro no espaço do quarto. Cheguei a topar no pé da cama sem ligar porque eu tava desesperando ela quando minha intenção era outra.

Trilha indicada: Kelly Clarkson – People Like Us

(1:19)

– Esse era o motivo errado, eu acreditei que você tinha me traído. Só que eu vi o que era a realidade, como eu tava machucando todo mundo por uma mentira imensa que eu guardava, e não era justo pra ninguém... Aí eu te odiei novamente.

Ok, essa última parte não saiu como planejado. Pois soou uma coisa totalmente diferente do que eu queria dizer, aposto. Novamente Flávia tenta se explicar, eu fui esclarecer também e só saía tiro pela culatra pelo jeito. Ela tava me deixando nervosa demais, poxa!

– Mi, e-eu...

– Sabe por que eu te odiei?

Ela se calou. Aí eu armei as coisas na cabeça e, após uma boa inspirada, uns segundos para ela também se recuperar, deixei que apenas saísse de mim, despejado, com pausas por estar escolhendo bem as palavras e que efeitos certos queria que tivesse. Não me importava se isso me fazia me encolher por certo embaraçado que foi me envolvendo devagar, ali era para lhe ceder a paz de espírito que havia roubado dela.

– Te odiei porque foi você a dar o passo... que quem deveria ter dado era eu. Odiei por eles terem descoberto daquela maneira, algo que... que e-eu nunca me-e imaginaria fazendo. E justo por isso, eu n-não tive a coragem... que você teve. Não era ódio propriamente dito, era inveja... inveja dessa tua determinação. De dar um basta quando não havia mais saída. O ódio mesmo... era de mim.

– Mi...

Emocionada, mal me deixou terminar para pular em cima de mim, louca, me abraçou pelo pescoço quase me impedindo de respirar e rimos, choramos, trememos juntas, rimos mais, ela me apertou, agradeceu tanto a Deus, por eu estar bem, por... tudo, tudo que passamos, seja juntas ou separadas. Bom, não mais separadas, esperava.

– Me perdoa? Céus, e-eu senti TANTO medo... Desde que tomei a decisão de tomar alguma providência, ainda que não soubesse o que fazer, tive muito, muito, muito m-medo. De sua reação e se me aceitaria pelo que eu faria.

– Eu te aceito, Flá. Não poderia deixar de te aceitar quando você foi tão corajosa. Você foi com medo mesmo, pensando no meu bem, quando eu não via como eu me destruía. A melhor amiga que Deus podia me dar nesse universo imenso.

As coisas foram amainando, a conversa entre a gente ia fluindo entre engasgos do choro que insistíamos em então conter, mas que era choro de felicidade, e aí bateram na porta. A voz de Gui soou abafada e preocupada, perguntando se estava tudo bem.

Respondi apertando as mãos de Flávia, alto o bastante para ele ouvir com clareza e sentir nossa vibe.

– Sim, Gui, agora está.

Já de volta ao quarto de Flávia, onde tudo começou, ela me guia para sentar na sua cama e joga o material de estudo do outro lado. Havia uma preocupação com ela que a distraía um pouco.

– Mas Mi, depois fiquei pensando... se não fez aquilo no auge do emocional, porque me viu sofrendo também e... sei lá. Se tem uma coisa que me deu muito medo foi por ter visto como Murilo batalhou para conseguir seu perdão, então eu... teria que batalhar também? Por todo o tempo que esperamos alguma notícia sua, fiquei muitas vezes pelos cantos imaginando como eu não queria te perder e... que provavelmente iria, e que...

Jogo uma almofada pequena ao colo dela, que para de falar finalmente. Por eu rir um pouco do desespero dela, me joga de volta, sem força também.

– E eu que me preocupo demais, né?

– Poxa, Mi, eu aqui quase com um texto decorado e surtando por você não ter me perdoado... Não brinca com isso não, pelamor!

– Viu, eu detonei vocês demais.

Ela, contudo, mantém a repreensão.

– Mi!

E aí faço que caio em mim, deixo um pouco a brincadeira de lado para ser mais verdadeira.

– Se você quer que eu diga com todas as letras, eu digo. Você tá perdoada. Sem precisar fazer nada mais que ser essa doida que tanto amo.

Flávia enternece e me faz repetir outra vez só pra certeza. O que eu não faço por amizade, viu.

– De verdade, de verdade?

– Claro, sua linda. Murilo tava errado àquela época, e eu também, mas você... você não, entende? Então acho melhor você estar gravando essa minha declaração porque não vou dizer mais isso, porque eu odeio estar errada. Mas admiti!

A doida fica tão feliz que se joga na cama toda sem jeito, pois estava de joelhos nela antes. Como o espaço não é muito, as pernas dela ficam pra fora. Em compensação, se é que isso compensa, ela rouba o urso médio que tenho no colo e o abraça, para depois levantar a cabeça e me ameaçar.

– Não sabe o peso que me tira agora. Ô criaturinha pra me deixar maluca da vida! Não faz mais isso que EU te trucido.

– Eu? Depois de todos os meus esforços de te fazer feliz, tu me acusa, coisa?

Ela para de repente, de joelhos novamente, perdida.

– Que esforços, Lena?

– Não vem com essa cara que eu sei, tá! Melhor, eu vi!

– Viu o quê?

A verdade? Espionei, da janela da sala e, quando entraram no carro, eu ainda dei meus pulos para o terraço pra ver os dois. Murilo que ficou me puxando.

Na noite de segunda-feira foram ela e Gui os últimos a irem embora. Vini foi um tempo depois de sua mãe, pois ficou de deixar Aline em casa, Murilo não queria me largar um minuto só. Terminou que teve pizza como Filipe levou para Iara, só que como tava todo mundo muito assustado, quase ninguém comeu. Foi bem tarde da noite que me deu fome, bem depois de eu ter ficado de butuca observando os dois pombinhos irem embora. Eram tão fofos!

Se eu não soubesse, diria que tinham voltado.

– Você e o Gui juntinhos... saindo da minha casa... bobos e atrapalhados.

Um ar chato a faz sentar direito sem muita graça. Era um ponto delicado então. Quis testá-la de qualquer jeito, dar uma sondada.

– Não foi bem assim, tá?

– Hmmm, então quer dizer que foi melhor?

– Eu não disse isso!

Só por ela rir, já considero que não seja tão mal assim, porém, Flá se fecha, o que não é bom. Mudo assunto pra não persistir nisso, dar um tempo, por isso enfatizo que ela tinha me dado ouro. Se nessa vida a gente não pode dispensar nada, imagina o que vem assim, sem pedir. Mesmo se se trata de explorar sua melhor amiga logo depois de ter feito as pazes com ela.

– Tá. Então acho que você pode fazer uma coisa por mim, JÁ QUE se ofereceu.

– O que, por exemplo?

– Se não quer falar sobre isso do Gui, pelo menos faz a minha e a tua prova de hoje de Silvana, porque eu não pude estudar e tu ainda tá me enchendo a tarde toda.

Flá revira os olhos, ajeita uma mecha atrás da orelha e bufa para sua franja crescida. Entra no jogo também. Dizem que a dramática sou eu, mas ultimamente tenho minhas dúvidas.

– Não sei como Murilo te aguenta, viu.

– É porque o amor, ah, o amor, ele é incondicional...

– Ok, uma última revisão rápida, que não temos muito tempo e eu também não consegui estudar muita coisa porque um ser ficava me furando o cérebro.

– O Gui já chegou nesse nível?

– Tô falando de ti.

– Ah... Sorry.

Ops.

– E só pra constar, não rolou nada quando ele veio me deixar.

Ela apontou pra mim sem me encarar, enquanto pegava um caderno do lado. Ok, senhorita certinha, era o que iria dizer se não tivesse percebido certa fagulha no ar, de algo que, não sei dizer, ela deixou escapar.

Como quem não quer nada e nem prolongar muito aquilo, pergunto de uma vez, brincando discreta com a orelha do urso que catei de volta. Me surpreendo com o que vem. Me surpreendo muito, na verdade.

– Mas você... quis?

– Quis. E quis ontem também.

– Ontem?

Dessa eu não tô sabendo não!

– Ele me ligou, ficamos conversando sobre... você sabe, essa história de talvez não ter me perdoado, ao que Gui me tranquilizou mais, disse para te dar tempo. Por isso não te liguei pelo dia inteiro.

Estranhei mesmo ela não ter me mandado uma mensagem sequer. Foi aí que vi que havia trocentas na minha caixa de mensagem datadas ainda do dia de meu sumiço. Algumas eu li, outras não aguentei e apaguei muitas sem ler.

– Então ele não tentou nada mesmo?

– Houve um momento no carro que sim, ele deu a entender acho... só que ontem disse também que ia me respeitar e me dar espaço. Que esse rolo teu era bem sério, ele não iria se aproveitar da situação, apesar de ter pedido uma chance no dia em que falei com Vinícius, logo que entregamos... o caderninho.

É um ponto delicado pra mim, falar livremente do caderninho da Hello Kitty. Por isso desvio, e encerro logo com um toque animado antes que não nos sobrasse quase nada para estudar. Ó vida de estudante que não dá trégua nem quando a gente tá precisando descansar da vida.

– E você ainda me olhou feio por eu ter dito que espiei vocês dois. Como não, se são tão fofos?

Ela fez o que eu faria com Murilo no meu lugar: deu com o caderno na minha cabeça. Acho... ACHO que mereci.

~;~

Saio da sala após a prova e tenho quase certeza de que minha cara estava sem definição. Meio boquiaberta talvez. Quer dizer, nem meus pensamentos estavam parecendo coerentes. Teria professora Silvana ouvido minhas preces? Pois ou a prova estava muito fácil ou água que tomei antes de entrar em sala teve efeitos alucinógenos e me fez acreditar que as questões estavam num nível muito bom.

Ou Silvana só tocava terror nas provas normais? Bom, se ela era boazinha na substitutiva, acho que prefiro as provas normais, pois como avaliação extra, a gente tem que pagar um dinheirinho por fora das mensalidades e eu não tô parindo dindim pra uma mordomia dessas. Mas que compensava, bom, isso compensava. Não conhecia muita gente que tenha ficado nas matérias dela para saber se funcionava desse jeito, é apenas uma teoria que me perpassa, procurando uma explicação.

Gui e Flávia ficaram na sala, eu ia os esperar lá embaixo, assim saí andando pelo corredor, anestesiada por essa surpresa que foi a avaliação, e quando atingi o alto da escada para descer, Sávio surge subindo os degraus. Ele havia saído primeiro que eu, então estranhei o fato de ele estar voltando. Deve ter ficado estampado na minha cara, pois ele logo explicou:

– Esqueci minha pasta em cima da máquina do bebedouro.

Aí olhei para trás e avistei a pasta dele lá em cima mesmo, nem percebi quando passei. Sávio alcançou o bebedouro em poucas passadas, pegou o material e descemos juntos. Estava quase crente de que aquela água tinha mesmo alucinógenos, pois eu não sentia nada de ruim enquanto fiquei emparelhada com ele. Não era que tudo havia se apagado por ele ter me ajudado, mas com certeza aquela vibe dele me emanava um porte diferente.

Nos últimos degraus, ele sai de seu mundo, e hesita antes de falar algo, como que escolhendo suas palavras:

– Então... como você está?

– Bem. Digo... na medida do possível.

Bem casual, e nunca me olhando diretamente, ele mantém certa conversação comigo. Até outro dia era ele quem estava puxando assunto, agora parecia além, não se apegando muito ao que falávamos. O que devia estar lhe perturbando?

– A Dani me disse mais ou menos o que aconteceu. Encontrei com ela ontem por acaso, fiquei preocupado, mas... não quis te incomodar, então não liguei ou mandei mensagem.

Havia definitivamente algo diferente nele e eu queria saber o que era. Com Sávio sempre foi assim, pelo que ele deixa no ar, algo intrigante, pois não é de muitas palavras ou de muita atitude. Ainda que não fosse um livro aberto, muito vinha de como se expressava. Às vezes era tão fácil lê-lo, outras... acho que ele não queria ser lido.

– Sávio...

Ele se vira para mim, finalmente, que permaneço no último degrau e assim ficamos alinhados em questão de altura.

– Não precisa dizer nada, ok? Você tá com esses problemas, eu que não vou ser mais um.

– O que quer dizer?

Como que pego, ele arregala os olhos por um segundo e disfarça, ajeita sua mochila no ombro e quase sai, como se estivesse muito apressado de repente, olhando para algo além de mim, só que sem foco. Estava um pouco difícil de lê-lo desse jeito senão que ele não queria falar sobre o assunto, mas como tocara nesse ponto, fiquei na curiosidade.

– Hã... nada.

Assinto um tudo bem, não poderia insistir. Se era assim que desejava, teria de o respeitar. Só me perguntava onde estava aquele Sávio que prometera reconquistar minha confiança. E como ele iria resgatar isso se comportando desse jeito, fechado. Ele se despede com um tchau breve e quase silencioso, mas quando dá o primeiro passo para “fugir”, eu o chamo. Éramos somente nós àquele espaço, a faculdade estava um deserto só por as aulas terem finalizado faz uns dias.

– Sávio, espera.

No mesmo instante ele para no pátio, sem, entretanto, se voltar. Como provavelmente não iria mesmo, andei até mais próximo dele, ficando bem às suas costas.

– O que?

– Obrigada novamente. Por ter sempre atendido meus absurdos pedidos, que acho que foram demais em algumas vezes, então me desculpe também por isso.

Ok, fico surpresa comigo mesma por estar fazendo isso dado ao nosso histórico.

– Não foi nada.

– Não, foi algo sim. E foi algo também o fato de você ter voltado, na segunda.

Na descida do apê de Filipe, quando o elevador se abriu, de primeira avistei Iara, então Sávio logo ao lado dela numa poltrona rasa do saguão do prédio. Não era algo anormal se eles já se conheciam de outras datas, outros encontros e conversas. Ela foi a primeira a se levantar e vir ao meu encontro. Mas quando a abracei, me mantive olho com olho com ele até que Vinícius nos interrompesse, para ir para casa. Não acho que nos notaram.

Antes de seguir caminho, repeti sem som algum, apenas com movimentos dos lábios que estava bem, se era isso que precisava saber. Preferi não comentar nada além para evitar qualquer constrangimento, por parte dele e de Vinícius, fora que processava a revelação de Filipe na hora da saída. Foram surpresas demais ao mesmo tempo.

Sávio vira o rosto para mim por sobre o ombro e suspira, calmo e sereno.

– Estava apenas preocupado.

– E eu queria apenas... te entender.

Assim que enfatizo o “apenas” partindo do gancho dele, a serenidade se esvai e fica esse jogo de entrelinhas, que muda a vibe dele, faz com que fique inquieto novamente, percebo pelo modo com que remexe a alça da mochila ao ombro e como um lado recai por estar às avulsas. Fica tão inquieto que se desconcerta. Me deixa uma pista, sinto, só não sei que sentido dar a ela:

– Não é apenas a melhor hora. Quer dizer, não fique pensando nisso, ok?

Por que tão milimitrado? Por que tão misterioso?

– Não dá para dizer uma coisa dessas e não esperar que eu não pergunte, não é?

Porque pra mim é óbvio. Até parece que ele não havia convivido comigo.

– Mas também não dá pra eu falar agora, por mais que eu tenha aqui comigo as respostas. Existem limites. Que você mesma estabeleceu. Então me deixe te respeitar, tudo bem?

Isso me pega. De certa forma tinha lá uma razão e mais mistério o encobria. Eu queria mesmo saber sobre isso? Era apenas curiosidade? Como que uma hora ele parece se importar tanto, outras, foge? O que tem de errado com ele, afinal? E por que eu tô mesmo considerando essas coisas, se, como ele lembrou, existem os meus limites?

Me perco momentaneamente nessas questões, o que ele não nota por ainda se manter de costas para mim, então para ele não havia mais que silêncio de minha parte enquanto eram os pensamentos que falavam, se encontravam e me enchia de interrogações. Ele repete sua pergunta:

– Tudo bem, Milena?

– Tudo bem.

Só assim ele segue caminho... Intrigante desde sempre.


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Notas finais do capítulo

Eita combo inesperado! E suspense... 'intrigante desde sempre'... (alguém chuta esse mistério?)

Quase matei a Milena por ter botado a Flávia (e todo mundo) em desespero desse jeito, viu. Não culpem a escritora! A gente dá a mão, eles criam vida e roubam até nosso RG se possível.

Anyway, obrigada por acompanharem :) Tá sendo uma baita de uma jornada, não?

See ya vocês em breve!

Abs,
Alexis.



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