Mantendo O Equilíbrio - Finale escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 144
Capítulo 143


Notas iniciais do capítulo

Hoje temos tentativas - de reaproximação, de estabelecer limites, de saber o espaço do outro, de entregar quem é pra entregar, de se respeitar e se cuidar. Muita coisa num capítulo só!

ENJOY!



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Tem sido tantos dias estranhamente confusos que tento, agora, me firmar em cada corda de ajuda que me lançam. Principalmente as do Vinícius. Corresponder a toda e qualquer mensagem sua é uma tentativa minha também de compensar pelos meus esquivos. Sinto que eu o magoei. Não que ele vá me dizer isso acho, ele é do tipo que guarda esse sentimento. Pela desenvoltura de nosso relacionamento, sei que é assim. Por isso quero ter um momento com ele só pra me desculpar, porém, a rotina continua extenuante.

Mas quando recebo uma mensagem sua dizendo “Matéria estudada com sucesso. Pode até me perguntar, pra testar”, parece que terei uma chance. Senão de pedir desculpas, de fazer perceber que ele é sim importante neste momento e que prezo de verdade suas tentativas de trazer algum sentimento bom em mim. Prezo seu amor e paciência. Cada investimento nosso em comunicação vale a pena.

Quero também poder contar-lhe sobre um bom sonho que tive com ele nessa noite. Talvez por efeito das mensagens que trocamos antes de dormir. Estávamos conversando no telhado de sua casa, observando a vizinhança e falando sobre melancias, nuvens e árvores de Natal. Sentido? Nenhum. Mas é assim que os sonhos funcionam, né?

Chega mais uma mensagem e ela diz “Significa eu na portaria da sua facul ou eu na sua porta?”, em continuação ao fato da matéria da faculdade. Esse é seu esforço para não parecer que estou atrapalhando seus estudos. É final de período pra ele também e não quero que mais uma pessoa seja afetada pelos meus problemas e menos ainda que ele também caia no seu rendimento. É tão minha cara dizer isso que ele já se armou pra me driblar. Ou melhor, cumprir com os requisitos.

— É o Vini?

Pergunta meu mano, me olhando de canto de olho, enquanto presta atenção no trânsito. Agora que ele mudou de prédio, ficou bem mais fácil para ele me dar carona e nossos horários até batem. Em alguma coisa o universo acertou enfim.

— Por que acha que é ele?

— Não vejo essa sua expressão boba faz um tempinho. Não estou reclamando, estou dizendo que gosto dela.

Enquanto respondo “Você na portaria” ao namorado, feliz de vê-lo hoje logo após a aula, observo um pouco de meu mano. Posso estar somente vendo o perfil dele por estarmos lado a lado, porém, também gosto que ele veja meus pequenos alcances de humor. Em respeito a seus esforços também, estico o assunto:

— Você costumava dizer que não gostava de nos ver melosos.

— Eu gostava era de atrapalhar vocês. Agora... Agora confio em vocês.

Murilo me olha de esguelha de novo, meio desconcertado. Eu desconfiava disso desde sempre, mas não aponto nada, nada sobre seu passado. Também porque minha energia não estava lá muito para o aporrinhar. Só... Gosto do Murilo de agora e gosto de correspondê-lo. É uma das boas e grandes coisas que percebi no meio dessa tempestade toda.

E, definitivamente, faz uma grande diferença quando estamos em um ambiente de suporte. Penso sobre isso quando salto do carro e me encaminho para a empresa. Não vejo o Sam, o segurança, no seu ponto habitual, e conforme ando, vejo quem apareceu hoje. Logo na entrada avisto Aguinaldo sendo recepcionado pela Iara. Talvez tenha vindo cedo pra começar a compensar suas faltas. Aproveito que um grupo de engravatados altos entra e passo à sombra deles pra ninguém me notar.

Trata-se de me preservar. Sei que em alguma hora vamos ter que ficar juntos por força maior das circunstâncias, como na faculdade, porém, me reservo no direito de me preservar o quanto posso.

Hoje quero ter um bom dia.

~;~

Chegava da sala da xérox com uma papelada no braço, conferindo os documentos quando percebi uma presença próxima de minha mesa. Imaginei ser Thiago, já esperando uma parcela dos papéis, porém logo noto pelo perfume e pelo porte de quem se tratava.

— Milena.

Aguinaldo chama minha atenção, quieto, com uma meia voz, mesmo que seja de noção consciente para ambos que ele estava ali para falar algo comigo. Mas no momento eu não queria nem respirar perto dele. A tristeza pelo que havia feito era tão maior do que qualquer raiva que eu não tinha boa energia para interagir com ele, quiçá gritar com ele.

Por isso mal lhe dirijo um olhar ou uma expressão, focada em separar os documentos agora na mesa, ainda de pé. Sem muita vontade, digo com calma:

— Agora não.

Ele, no entanto, não parece querer se mover dali.

— Vim deixar sua carteirinha. Achei no chão da sala depois que o Vini saiu.

Isso porque o Vinícius foi visitá-lo, assim que entendeu o que houve, para ouvir de sua pessoa o que tinha feito. Eu não sei os pormenores da conversa, só sei que o namorado conseguiu pegar minhas coisas que ficaram para trás naquele dia. A carteirinha que tanto procurei, no entanto, havia ficado perdida nesse meio. Posso apostar que Aguinaldo não levou na aula passada porque queria um pretexto pra se aproximar hoje.

Sem uma retaliação propriamente, só indiferença, respondo:

— Eu tenho outra. E posso tirar outra.

E assim me retiro para a sala do meu chefe.

Thiago parece tão ocupado com sua tela de computador que mal me olha e acho até melhor. Porém, quando coloco os papéis de volta a sua mesa, ele me dedica uma atenção que capta bem minha vibe machucada. Mas disfarço, claro.

— Pensei que te veria melhor com a volta do seu amigo.

— Fim de período me suga a alma. Acho que estou gripando também. E pensei que te veria morto depois de ontem.

Thiago estala a língua, assentindo que fez besteira.

— É, a Iara nem tá falando comigo. Tá muito chateada. Mas vou seguir aquele seu velho conselho, vou ouvir dessa vez e fazer o que ela precisa que eu faça. Se é dar espaço, assim será.

— Ela quer seu apoio, massss... Ela também quer lutar as próprias batalhas.

Thiago só suspira, desconsolado.

— É que ver o que o Sérgio vinha fazendo, me tirava do sério. Ela é mil vezes mais competente do que ele. Ela veio de longe, aprendeu fazendo, sabe mais do que a gente, e vem esse cara achar que é alguma coisa só por conta de diploma?

— Também me dá vontade de... fazer coisas. Mas a I estabeleceu os limites e assim devemos cumprir.

— Acho que ela tá mais fera comigo porque ela vai ter que falar pro chefão. Digo, ela conseguiu resolver a tempo. Mas entendeu que tem que fazer algo a respeito de Sérgio.

— Algo que não seja colocar sal no café dele.

Meu chefe resgata uma memória e sorri bobo.

— Foi a cusparada mais épica de todas. Meus sobrinhos me deram as ideias. Assistem muito desses filmes com sabotagens.

— Isso explica muita coisa. E já pediu desculpas?

— Já. Demoro a engatar nas desculpas, mas caí em mim quando ela gritou comigo naquela hora que vocês estavam saindo. Foi a primeira coisa que fiz quando ela voltou. Mas ela não me respondeu mais.

— E falando em desculpas... Me desculpe pelo que vou dizer: eu não sabia que vocês eram tão amigos.

— Ah, entendo o porquê. Digamos que somos a dupla do barulho – literalmente, do barulho – nas reuniões. Nossa amizade nasceu assim. Acho que um workaholic reconhece outro. No meu aniversário ela me perturbou o dia inteiro com canções...

Lembro que ele comentou que alguém fez isso. Não me liguei que seria a Iara.

— ...E quando vocês fizeram a Semana Iara, eu também atazanei muito ela. Do nosso jeito, digo.

— Fico feliz de saber. Agora preciso cuidar dessas belezinhas aqui. Volto logo.

Mas assim que retorno a minha mesa, vejo que Gui ainda está no pé dela. Com as mãos juntas a sua frente e cabisbaixo, parece receoso.

Mais uma vez, ele faz uma nova tentativa. Eu me sento sem novamente lhe dirigir uma atenção.

— Milena.

— Estou ocupada.

— Só queria dizer que estou de carro hoje. Podemos ir juntos pra aula. Se você quiser.

— Meu horário mudou.

O que não é nenhuma mentira. E acho que I vai me levar. Ela não sabe ainda, mas vai. Porque ela já notou algo estranho e sei que vem me procurar.

Mas é muita audácia dele de me fazer um convite desses depois de tudo o que aconteceu. Como se eu fosse mesmo entrar no carro dele e ficar presa com ele por minutos para irmos para a faculdade. Preferiria mil vezes um busão lotado a ponto de não respirar. Será que ele ainda não entendeu? Ou mais uma vez quer desrespeitar meu espaço?

— Tudo bem.

Ele enfim deixa a carteirinha no canto da minha mesa e volta para seu local de trabalho.

 

~;~

 

É quase o fim do expediente quando recebo uma mensagem de Vinícius dizendo “cantei vitória antes do tempo :( “. Com um muxoxo, pauso um pouco minhas andanças pelos corredores da empresa e me recosto numa das paredes. O cansaço me abate um pouco, ainda mais com uma dorzinha de cabeça que estava encontrando morada em mim. Tantas idas e vindas e mudança de temperatura do ar-condicionado estavam me afetando também, pois meu nariz começava a coçar. Não é que estava gripando mesmo?

Enquanto envio um “poxa :(“ em concordância, alguém para do meu lado.

— Ei.

Sem muito ânimo, cumprimento minha amiga, já esperando um comentário em específico seu.

— Oi, I.

— Ainda não tinha te visto hoje.

— Pode deixar que não vazei informações pro Thiago.

Estou enrolando, é claro.

— Ah, não era por isso.

E então ela funga e isso me chama atenção de pronto.

— Você tá legal?

Ao olhar melhor para seu rosto, percebo que ela não estava com a melhor das expressões. Ela dá de ombros.

— Não dormi muito bem. Mas não por todo o rolê de ontem. Estava... er... difícil de respirar... com o nariz congestionado.

— Gripe também?

— Como assim também? Acho que é só um resfriado mesmo. E... porque dei uma choradinha ontem.

Logo penso que o outro poderia ter comentado sobre o recado, em forma de violência, direcionado ao pai.

— O Gui contou alguma coisa?

Aperto a ponte do nariz. Iara, por outro lado, vinca sua testa e cruza os braços.

— Não, ninguém me disse nada. É só que eu terminei abrindo o caso com meu pai. Na verdade, com o vô Júlio. E um tempo depois vi que papai tava ouvindo. Mas agora quero saber disso aí.

Ela se vira pra mim e eu olho para o chão.

— Acho melhor esperar alguém contar. Porque não tenho muita energia para falar sobre isso, I.

— Devo me preocupar?

— Um pouco. Mas acho bom você se concentrar em si mesma por enquanto. Como foi com Filipe?

Mudo de assunto, claro.

— Digamos que eu esteja fugindo dele agora. Ele não gostou muito de saber.

Ela leva uma mão ao rosto, como se pudesse se esconder mais.

— Um pai descobrindo que sua filha está sendo perseguida, quem gostaria?

— Não diz desse jeito, que eu... Sei lá. Ainda me sinto mal com tudo isso.

— Quem devia estar se sentindo mal e fugindo era o Sérgio. Filipe disse o que vai fazer?

Iara aperta mais os braços em si, confusa.

— Não. O que me preocupa. Mas o vô Júlio falou com ele, diz ter colocado meu pai nos eixos. E me disse que sou um orgulho, não uma decepção.

— Concordo com ele.

Minha amiga me olha de canto, descrente.

— Família diz isso, não diz?

— As que realmente acreditam, sim.

Ela me sorri e depois me olha nos olhos.

— Você ainda tá bem abatida, Mi.

— Eu sei.

— A volta do Gui não deveria te colocar mais animada? Aliás, você não apareceu na mesa do café.

— Estava bem ocupada hoje.

— Ocupada demais até pro seu melhor amigo?

É agora. Sustento o material ao corpo e mais uma vez abaixo o olhar.

— Acho que ele não é mais meu melhor amigo. Na verdade, não consigo mais vê-lo como meu amigo. Coisas aconteceram.

De repente, ela descola da parede e me encara.

— Que coisas?

— Coisas que eu não consigo falar.

— É sério assim?

Encosto a cabeça na parede e fecho os olhos.

— É difícil assim.

— Bem que ele disse algo sobre vocês não irem juntos pra faculdade, mas achei que era por conta dos horários diferentes. O Murilo vem?

— Hoje não.

— Então te levo. Aproveito também pra sair do páreo de meu pai e de Sérgio. Nós duas precisamos de tempo.

— E de um antigripal.

— Compro no meio do caminho.

 

~;~

 

Tal qual Iara fugindo do pai, eu estava fugindo de qualquer um. Só queria ir pra casa, cair na cama e não ver mais nada. O remédio ao menos aliviou minha dor de cabeça, mas energia não me deu nenhuma. E foi por falta dela que Bruno conseguiu me capturar no pátio para fazer o tal sorteio de amigo da onça. Assim como eu, algumas pessoas chegaram cedo. Me vi na roda sem muita vontade, só esperando a coisa toda acabar. Pelo menos não teria que descer no intervalo, é o que me convenço.

Dani até fala algo comigo, mas meu cérebro não processa. O cansaço de tudo mais uma vez me domina e me pergunto como vou subir pra aula.

Pego meu papel logo depois dela e mal tenho forças para abrir. Acho que não teria forças nem para ligar pra alguém, sem saber como voltaria pra casa.

Dani, ao meu lado, parece animada com seu amigo da onça. Eu, no entanto, nem consigo reclamar ao universo ao ver o nome do Gui. Com o pouco de disposição que me sobra, peço a Daniela:

— Troca comigo.

— Mas eu peguei um muito bom!

— Por favor. Você vai gostar, juro. Só troca comigo.

Algo na minha voz ou expressão “implorativa” paralisa minha amiga e permite que eu roube seu papel e coloque o outro em sua mão.

— Você não parece bem, Lena.

— E não me sinto bem. Acho que uma gripe tá me pegando.

Instantaneamente, ela coloca seu braço na minha testa pra verificar minha temperatura.

— Está um pouco quente mesmo. Não é melhor ir pra casa?

— Faz um tempo que tô esquentando o cérebro pra saber como vou pra casa. O Murilo tem uma reunião importante e o V...

— Já sei como você vai. Espera aqui.

Ela vai num pé e volta no outro com o Yuri. A gente não se bicou desde o lance com a camisa do Pompeu, mas agora não era hora de ter ou fazer muitas exigências.

— Vocês têm aula, gente.

Yuri é quem responde:

— Na verdade não. Pelo menos não agora. Chegamos cedo pra resolver algumas coisas na biblioteca. Dá pra te deixar e pegar o segundo horário de boa.

— Vocês vão pegar engarrafamento.

Dani que responde:

— O engarrafamento fica mais do outro lado da pista. Anda, você não vai ter melhor proposta que essa.

Era verdade. Saímos na surdina do grupo que nem me despeço de Bruno. Enquanto descíamos a rampa para o estacionamento da frente, Dani de braço dado comigo me amparando, Gui a subia. Ele chega a parar para nos observar, mas não diz nada. Eu não teria mesmo energia para algo ali. Apenas agradeço imensamente o resgate de Dani.


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Notas finais do capítulo

Trechinho do próximo?

"Se eu não mato, tu não mata."

e

"- E como diz em Gone, se tiver algo que eu possa fazer, você me deixaria saber?"

e

"- Ouro de troca?
— Ouro de vida."



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