Mantendo O Equilíbrio - Finale escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 134
Capítulo 133


Notas iniciais do capítulo

GENTE! Em tempos de corona vírus e pandemia, a melhor decisão é ficar em casa pra evitar proliferação e proteger uns aos outros! Vai aí minha contribuição para que esses dias sejam melhor aproveitados. Vale ler e reler capítulos, vale cuidar da gente, vale acompanhar notícias, informações e dúvidas!

Pfv, não sejam negligentes ou irresponsáveis com os outros.
E, pfv, não façam brincadeiras imprudentes numa blitz ;P



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— Me lembrem de nunca, NUNCA, nunca mais fazer festa surpresa alguma. Pra ninguém, pra qualquer situação.

Foi o que eu disse quando saímos da delegacia rumo às nossas casas e camas. Ou era o que imaginava. Já tinha me despedido dos meus amigos, estava cansada e com fome. Ia dar meia-noite e eu só planejava fazer algum achocolatado e ir deitar. Mas Iara insistiu em irmos para uma lanchonete. Fui porque o Vini pediu.

Quando dei por mim, estava numa mesa rodeada com a galera, como deveria ter sido se não tivéssemos sido parados na avenida. Iara estava tentando nos divertir, assim como Vinícius. Mas estávamos eu, Bruno e Sávio tão quietos que a noite não rendeu mais que nossos sanduíches. Era também o cansaço falando mais alto.

Dormi que nem senti, levantei que nem pensei. Estava desanimada, claro. Sentia que devia reagir, mas sequer teria cara para encarar meus amigos de novo. Um buraco poderia me engolir que estaria tudo bem.

— Não estaria não.

Um Murilo de pijama sai de seu quarto e passa pela porta do banheiro, onde estou jogando água ao rosto após escovar os dentes. Devo ter falado alto e espinhosa sem perceber. Não me sentia totalmente descansada, porém, poderia arriscar a jornada diária de trabalho e estudos. Só ficaria aleatória por um tempo.

Derrotada, sigo para cozinha e encontro meu mano já preparando um café instantâneo, pelo leite que esquentava ao fogão. Abro a geladeira pra fazer um achocolatado gelado mesmo, porque não queria esperar nada esquentar. Sinto-me observada e isso me enfeza um pouco.

— Não me olha assim, tá.

— Assim como?

Murilo soa perdido.

— Num sei. Do jeito que está olhando agora.

— Tô só esquentando o leite. O meu e o seu.

Me desarmo no mesmo segundo. Eu não tinha visto a outra xícara. Coloco a caixa de leite de volta na geladeira, puxo o pão e a manteiga, e me sento à mesa. Logo Murilo desliga o fogo e tem uma fumacinha gostosa abaixo do meu rosto levando todo um aroma às narinas.

Ficamos em silêncio enquanto bebericamos o café e comemos devagar. Embora desarmada, ainda estou indignada. Murilo, por outro lado, parece distraído. Estaria me dando espaço? Ou seria uma artimanha?

Não importa, porque preciso falar o que está me revolvendo toda. Vomito:

— Foi um fiasco, Mu. Um completo desastre. No começo foi até engraçado, pelo absurdo da situação, claro, mas daí estavam procurando drogas nos meus bolinhos. Drogas! Drogas de verdade. E o Sávio abrindo os presentes lá? Meu Deus, coitado! O PIOR aniversário, a pior surpresa. E, assim, a gente tava se apoiando ali, mas agora... Não sei se consigo encará-los de novo.

Murilo só se recosta na cadeira, terminando de mastigar e assistindo eu pirar. Como que ele não estava pirando também? Ele foi me buscar na delegacia!

Bufo diante de seu silêncio, emburrada, até que ele se manifesta.

— Consegue sim que eu sei.

— Consigo o quê?

— Encará-los. Seguir a vida.

Simples assim? Eu não acho.

— Como você pode ter tanta certeza?

— Porque vocês não fizeram nada de errado. Bom, fora a história do lenço. Foi uma brincadeira muito infeliz em uma hora mais infeliz ainda. Afinal, de quem foi a ideia?

Fisco pasma por ele estar tão... sei lá. Comentando coisas tão... sei lá.

— Importa agora?

— Não, só estou dizendo que vocês já passaram por coisas muito piores e vocês sempre dão um jeito. Sempre.

Ele dá de ombros, enquanto cata as migalhas de pão que se espalharam pela mesa.

Eu... mastigo o fim do meu pão e finalizo meu café. Ele tem razão. Murilo tem razão. Mas não deixo de me sentir inquieta. Então simplesmente jogo as coisas de novo:

— Por um momento, eu achei mesmo que seria presa. Ainda que por algo tão... Não sei dizer. Foi horrível, só isso. Fiquei uma tagarela tão louca que até o Bruno me mandou calar a boca.

Murilo levanta as sobrancelhas enquanto, de pé, pegava nossas xícaras.

— Quer dizer, ele só me cutucou com o braço para parar de falar. Mas daí você já vê o nível. E tem mais! O delegado lá me conhecia. Do caso da invasão daqui de casa. E eu olhei bem pra cara dele e tenho zero lembranças dele.

Meu irmão, que colocava tudo na pia e ajeitava a lixeira, como se eu estivesse falando uma coisa bem banal, se virou nessa hora pra me olhar.

— Que estranho. Mas... lembranças podem pregar peças na gente. E policiais também.

— Talvez. Em alguns momentos parecia que ele estava até se divertindo. O delegado. Só sei que foi tudo tão doido.

Eu tava era muito louca, isso sim. Ainda me sinto assim, acho.

Inspiro profundamente, chateada. Fecho os olhos e lembro de quando quase expus Max quando comentei por alto algo sobre ele num momento de espera, quando chegamos à delegacia. Uma das pessoas do atendimento disse pra uma colega:

— Tô aqui rezando pra me responderem.

E eu completei, baixinho:

— E eu rezando pra isso não chegar nos ouvidos de certa pessoa.

Só que o Bruno tava bem colado em mim e ouviu. E não entendeu. O Sávio entendeu, porque depois que me percebi da situação, ele olhou para o outro lado. Eu dei a desculpa de ser Djane, porque obviamente iria ligar pro Murilo.  

Chateada, deito à mesa sobre meus próprios braços, desejando me enfiar no buraco que eu própria criei e não sair de lá tão cedo. Mas por que raios estou mais incomodada com a quietude do Murilo do que com o desastre da noite anterior?

— Você vai pra aula hoje?

De dentro do buraco escuro que formei com meus braços, respondo abafada:

— Vou. E pro trabalho também. Preciso me distrair.

— Hum. Que tal se a gente fizesse o almoço? Ao invés de comprar, digo.

— Almoço?

Levanto a cabeça de imediato.

Eu tava falando tanta coisa e, do nada, almoço?

— É, a gente fazer junto. Nada muito elaborado. Só fazer mesmo.

Entro na noia dele, embora me sentindo bem sem noção, só pra ver o que acontece.

— E você acha que dá tempo?!

— Acho que vale a pena tentar.

E ele pega o pote de arroz ali perto dele, no armário de utensílios. Como se fosse um dia qualquer, como se nada doido tivesse acontecido, como se a noite passada nem tivesse existido. Eu não teria uma imaginação tão fértil pra estar sonhando isso.

Ao dispor do pote de arroz e feijão à mesa, ele volta pra pia e liga a torneira para lavar o que usamos no café da manhã. Eu nem sei por onde começar.

— O que tá acontecendo, Murilo?

— O que quer dizer?

Ele responde sobre os ombros, envolvido no sabão e esponja e xícaras.

— Me diz você. Eu tô contando aqui todo o desastre de ontem e você tá aí... estranho.

— Estranho como?

— Calmo. Distraído. Sei lá, quieto demais. Eu perdi alguma coisa? Eu me esqueci de alguma coisa? Você tá chateado comigo? Eu fiz algo?

Tento vasculhar pelo meu cérebro, repassando o dia anterior desde o começo ao seu trágico fim e não salta nada demais. Murilo enxagua as xícaras, novamente quieto. Fico agoniada. Mais do que já estava.

Ao terminar de passar água e colocar no escorredor, ele se vira, enxugando as mãos e braços com um pano de prato, pensativo. Eu, por outro lado, encaro-o com uma tamanha interrogação na cara.

— Acho que... Como posso dizer? Pensei sobre outras situações e em como eu sempre reagia, e como você reagia. Se fosse eu voltando da delegacia, eu sei que você tentaria trazer meu espírito de volta. É o que você faz. Mas acho que não sei fazer isso direito, então, tô aqui só tentado fazer algo diferente. Algo diferente do que faria antes.

Murilo fala tudo isso olhando para nada em especial, um pouco acanhado, mordendo os lábios. Eu via que seu maquinário estava se esforçando para explicar. Eu? Só encaro essa criaturinha e não me acho merecedora. No segundo seguinte, me acho merecedora demais.

— Ai, Murilo. Eu nem sei o que dizer.

E nem sei mais se me sinto chateada.

— Eu sei que você consegue, Lena. Eu sei que está chateada e foi... Foi uma situação bem chata. Eu também não sabia o que esperava encontrar quando seguimos o tal sinal de GPS, sabendo onde você estava. Só quero que saiba que estou aliviado. E que tô aqui pra dizer que tá tudo bem. E que... Tudo o que você falar de negativo sobre si, eu vou dar meu jeito de achar ou tornar algo positivo.

Murilo me quebra e me conserta de uma maneira... inacreditável.

Olho para meu irmão, tão inibido e tão vacilante, que só levanto da mesa e vou até ele. Abraço a criatura de maneira que prendo seus braços, coisa que ele poderia se soltar com um leve movimento, mas não o faz.

— Obrigada por isso. Obrigada por colocar minha cabeça no lugar, mesmo de um jeito meio agoniante. E obrigada por colocar tanta fé em mim quando já não sobrou nada.

Ele se remexe e eu aperto-o mais.

— Tá, ok, sobrou. Porque você deu seu jeito de achar pra mim.

— Então, vamos preparar o almoço?

Solto a criaturinha e assinto. Ele, por outro lado, inventa coisas.

— Ótimo. Vou pegar meu celular.

— Você vai gravar, criatura?

— Vou só colocar música, sua coisa. Essa casa precisa de ânimo.

É verdade, assinto quando ele some da cozinha.

Ainda estou desacreditada, mas, de algum modo, feliz. Murilo realmente achou algo positivo para me animar. Porque até ser chamada de “coisa” por ele, me preencheu o coração.

Vocês já passaram por coisas muito piores e vocês sempre dão um jeito. Sempre.

É, a gente também, Murilo.

A gente também.

~;~

Alex Cortez – Don’t Speak

https://www.youtube.com/watch?v=NZnESkoNCN0

(02:42)

— Don't speeeeak, I know just what you're sayiiin', so please stop explainin', don't tell me 'caaaause it hurts… Don't speak, I know what you're thiiiinkin', I don't need your reeeeasons, don't teeell me 'caaause it huuuurts, don’t tell me cause it hurts.

Quando entro na biblioteca vazia da faculdade, já sei quem está lá. E não é a bibliotecária. Aliás, não a acho de cara, só a Daniela mesmo em uma das mesas, mexendo em sua pasta e balançando a cabeça, enquanto cantava. Pelo seu fone de ouvido, ela parecia bem imersa. Mas como ela está bem de frente para a porta, logo me nota. Puxa o fio das orelhas.

— Atrasada?

— Tão atrasada que sequer tentei a sorte na porta de classe. Você também?

— Total. Senta aí.

Sento e espalho meu material pela mesa. Já era confortável ficarmos perto, o que é algo muito bom. Acho que ela também sente isso, pois parece mais disposta e aberta. Organizando seu material, ela ainda cantarola baixindo um pouco do refrão da música Don’t Speak, que ouvi quando entrei uns segundos atrás.

— Música difícil essa.

— Difícil?

— Carga pesada.

— Ah. Nada, estava ouvindo uma versão pop animada que nem me toquei da base dramática da música original. O No Doubt faz parecer... intenso. Dolorido. Mas a Alex Cortez faz disso uma festa. É um remix meio batidão e que apenas gruda na gente.

Aproveito o gancho para a conversa não morrer simplesmente. Aos poucos temos reiniciado e acho que isso devo alimentar.

— Parece bom. Me manda o link depois?

Vejo sua surpresa quando para um segundinho de organizar suas papeladas, sorri e disfarça.

— Mando sim.

— Sabe, Filipe tava me perguntando sobre suas apresentações, se há algo agendado.

Mas ela não consegue disfarçar quando falo dele. Seu sorriso não é apenas feliz, é brilhante e lindo. Lembro instantaneamente de Murilo nesta manhã falando que não importa o que tenha acontecido comigo junto aos meus amigos, pois, sempre damos um jeito. Sempre. E esse contato com Dani tem sido isso, um novo jeito pra nossa amizade.

E, cara, como senti falta disso.

— Fechei com eles para ser depois das provas finais. Apesar de sentir uma baita vontade de sair daqui e só pegar o microfone. Mas tenho que me dedicar aos estudos. Meu empresário que disse.

Ela faz um jeitinho gracioso com a cabeça ao citar esta terceira pessoa.

— Empresário? Já está nesse nível? Parabéns, Dani!

Ela sorri ainda mais, mesmo acanhada. Ao que parece, seu novo jeito. Seu novo jeito para lidar com nosso hiato. E eu não tinha ideia do quanto de coisas estavam acontecendo vez que eu estava bem por fora sobre sua vida. Minha sensação era de que só tínhamos parado no tempo.

Mas muita coisa rolou já. Murilo já foi e já voltou, por exemplo. Foi uma eternidade. Então foi uma eternidade que passei distante dela também. O tempo passou para nós duas.

— É só o meu tio-avô. Ele... me incentiva muito.

— Lembro que você sempre quis ter conhecido um avô ou avó. Um tio-avô já vale muito!

— Vale demais mesmo. Ele ficou distante da minha família por tantos anos que eu nem sabia quem ele era até pouco tempo atrás. Então reapareceu, nos conhecemos e não largou mais de mim.

— Gosto assim!

Fechando sua pasta, ela vacila um pouco, mas logo depois se equilibra.

— Às vezes, sei lá, nem acredito, sabe? Ele botou tanta fé em mim, assim simplesmente. Nem meus pais me levavam a sério nessa ideia de cantar. Mas daí entrou um dinheiro na conta depois das apresentações e agora até eles estão interessados. Como as coisas mudam, né?

— Nesse meio artístico, acho que só tem que ir e fazer acontecer. O resto a gente arranja depois. Suporte principalmente.

— E você, pensa em voltar a cantar, Milena? Algum dia?

— Nos palcos, como você?

— Também, acho. Não construir carreira e tal. Só... cantar mesmo. Sem expectativas. Pra espantar os males.

Comento, entre risos.

— Nesse caso, eu preciso muito. Preciso urgentemente.

— Poderíamos fazer um ensaio juntas, o que acha? Sem ir pro palco, só... cantar. Juntas. Como nos velhos tempos, como nos ônibus que muitas vezes pegamos.

Inspiro, ponderando essa ideia hiper tentadora.

— Eu iria parar no youtube?

— Se quiser que eu grave, upo lá. Você escolhe.

Penso momentaneamente no Silveira e como seria um bom presente. Lembro também que o Vini queria me contar algo sobre Viviane. Ele foi interrompido pela aparição de Sávio e como tudo o que aconteceu depois, não deu para tratar mais nada. Só mesmo entender como ele tinha me achado naquela delegacia.

Havia uma função no meu celular que eu não compreendia bem e achava que não servia de nada. Como foi ele quem configurou, ele sabia mais ou menos. Em outro momento acho que ficaria zangada por saber que ele teria conhecimento de meu local exato o tempo todo, mas nossa confiança foi bem trabalhada nesses últimos meses, então isso não é nada demais. Quer dizer, não era como se ele ficasse checando e tal. E foi útil mesmo. Quando ligar para os celulares dos desaparecidos – no caso, eu, Bruno e Sávio – não se tornou efetivo, o namorado acabou lembrando dessa função no celular e assim ele nos encontrou.

Por fim, termino por dizer:

— Tem alguma música em mente?!

Don’t Speak?

Rimos, divertidas. Então ela faz um convite mais específico:

— Pode ser amanhã, sábado? De tarde. Até lá penso em uma música legal.

— Fico de te confirmar, mas creio que sim.

~;~

Vez que a professora Amália, quem tinha os dois primeiros horários do dia, teve que ir embora mais cedo, não havia aula para assistir. Assim que Daniela foi para o segundo horário de sua turma, fui junto, já que éramos do mesmo patamar. Mas ao descobrir sobre a professora, voltei para a biblioteca. Achei um momento bom para ver o material que Djane havia me deixado do nosso projeto “perdidona na vida pós virada” – e também para não ter que encarar Sávio e Acácio de uma vez só.

Farei em algum momento. Melhor no intervalo.

Na pasta que Djane separou pra mim havia um pouco de tudo: artigos, ensaios, lista de livros, lista de projetos que ela orientou, lista de projetos de conclusão de dois anos letivos. Mas o que me concentrei mais foi em uma folha que havia mais de 100 tópicos, dentre temas e áreas, algo que certamente ajudaria o Gui também na sua busca. No outro dia, em sua casa, conversamos um pouco sobre isso e ele tem pensado mais na professora Amália para ser sua orientadora.

Por isso aproveito da minha pesquisa para adiantar para o cara, que tá lá, todo quebrado. Hoje Flávia até prometeu vir pra aula, mas quando fui lá na sala, não a vi. Ainda bem que ela quase nunca falta, pra não perder nenhuma disciplina. Eu não sou nenhum exemplo nessa questão. Embora ainda mate umas aulas, não deveria mais. Posso ficar por um triz!

Mas, como disse a Djane, esse ano não foi fácil. E às vezes a gente tem que dar uma escapada de toda essa pressão. Matar aula ontem para o aniversário de Sávio foi também um pouco disso. Não me arrependo de ter preparado, só de ter estado no lugar errado na hora errada. Se Sávio não tivesse se atrasado, talvez...? Não importa, porque o que matou mesmo foi a brincadeira do lenço.

Enfim. Provavelmente verei o Bruno também no intervalo, então é melhor focar no que é pra se focar. Assim circulo os temas que mais teria interesse ou envolvimento, e circulo os que acredito que seriam mais favoráveis ao Gui. A Flávia é mais da área organizacional e ela já está um pouco mais avançada nesse sentido, pois já escalou o professor Paulo. Não sei como anda com o Sávio por exato, mas tenho pra mim que ele vá com o professor Sanches.

Fico realmente feliz de Djane ter tocado no assunto comigo, porque a depender de mim, só seria no ano que vem mesmo, em cima da hora. Era provável que eu até ficasse sem orientador. Teria que correr atrás de qualquer coisa com qualquer professor que aparecesse disponível. O mesmo para o Gui. Logo nós, os mais responsáveis do grupo – coisa que eu nunca admitiria para ele, claro.

De certa forma, ambos gostamos de coisas envolvendo a parte de comunicação. Só que a minha área de atuação hoje em dia consiste mais em trabalho interno – com clientes. O Gui é mais pro mercado e marketing, algo mais abrangente. Acho que ele vai me agradecer muito por essa folha preciosa de anotações. Sinto que estamos em um bom caminho.

Sentada onde Daniela estava anteriormente, com uma visão privilegiada de quem chega no recinto, vejo Max entrando. E vejo Max me vendo dali mesmo da porta. Por acaso olho para o lado, só pra me certificar se a bibliotecária estaria ali, mas já tinha sumido de novo.

Depois de um dia como ontem, se não quero ser vista pelos meus amigos, que dirá por Max. Mesmo sabendo que ele está todo apaixonadinho pela secretária de Djane.

— Que bom ver você, senhorita Milena.

Quase sempre bom te ver também, Max.

O quê? Provocar também é um jeito de me proteger.

Mas daí penso no que eu quero esconder e no que ele esconde. A operação. Seria algo relacionado a drogas? Pra precisar de uma operação como essa, deve ser algo grande. Drogas seria o suficiente? Ou teria sido ontem uma coincidência?

Max se distrai com algo no celular e, em sincronia, abaixo a cabeça para minha pasta, reordenando a papelada que eu havia bagunçado. Ele vai para a bancada de atendimento, onde não há ninguém. Ao perceber isso, vira-se pra mim. Antes que possa perguntar, respondo:

— Eu não sei. Tô aqui faz um tempão. Mal consegui pegar esse material quando ela voltou. Depois sumiu de novo.

— Hum.

Max aperta as mãos à cintura, à deriva e frustrado. Ele olha para além de mim, as mesas ao fundo, sem fixar em nada em especial, divagando ao que parece sobre o que precisa e o que não encontrou.

Eu quero fazer uma pergunta importante, mas também não quero tocar no assunto. Então volto para minha papelada.

Fecho a pasta e dou uma olhada na hora. Já ia começar o intervalo e eu tinha que encontrar meus amigos. Levanto, ajeito a cadeira no lugar e sigo para sair. Quando estou abrindo a porta, vem o chamado.

— Espera, Milena.

Me volto para Max de onde estou. Ele está na mesma posição de outrora, olhando ainda para a direção das mesas.

— Sem mais brincadeiras idiotas.

Ele sabe do ocorrido e isso não me surpreende. Inspiro e não o olho diretamente, desconfortável. Poderia dizer que não foi minha ideia, só que tampouco ajudei no caso. De qualquer forma, não queria falar sobre isso.

— Sim, senhor.

— E só pra você saber, não tem a ver.

Ele também não esperou a pergunta, só informou direto. Quieto e concentrado. Acontece que Max não é de ser direto. Max não é de contar as coisas.

O que haveria de diferente agora?

— Você esteve lá? Na delegacia, digo.

— Não. Mas você teve sorte de encontrar o Murad.

Esse eu tenho certeza de nunca ter ouvido falar. Mas como ele me conhecia?

Não sei, porque aí lembro de uma coisa pior. Minha voz sai só um fio e eu sei que Max ouve.

— Eu ainda sou... vigiada?

Ele fica em silêncio. Chamo-o com mais firmeza.

— Max?

— Protocolo, Milena.

Max passa a mão ao rosto, visivelmente afetado e preocupado com algo. Iria prejudicá-lo tanto assim dizer se sim ou se não? Pensei que... Pensei que estivéssemos do mesmo lado.

Talvez eu só fosse mesmo uma informante involuntária.

Quando dou por mim, ele está na minha frente, com um falso sorriso.

— Está tudo sobre controle, Milena. Nada para se preocupar.

Do jeito que Max fala, do jeito como se porta e do jeito como me olha... Estou preocupada com ele. Ele policial. Mas só assinto. Não quero ser mais um problema.

— Até mais tarde.

E ele sai antes de mim.


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Notas finais do capítulo

SENTIRAM UM ARREPIO DAÍ? eu também senti daqui!
Mas fico com essa do Murilo pra esquentar o coraçãozinho: "... tô aqui pra dizer que tá tudo bem. E que... Tudo o que você falar de negativo sobre si, eu vou dar meu jeito de achar ou tornar algo positivo."

É ou não é pra abraçar essa criaturinha?

Trechinhos do próximo???

"- Hm. Mistério. A Iara sabe. O Murilo sabe?
— Não e não vai saber."

e

"...eu totalmente iria te buscar no fim do mundo.
Brinco, porque ainda tô me sentindo uma estúpida e porque vejo como seus olhos estão marejados e gratos.
— Acho que ser buscada na delegacia pode ser considerado ser buscada no fim do mundo."

Só posso dizer que tá emocionante!





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