Mantendo O Equilíbrio - Finale escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 131
Capítulo 130


Notas iniciais do capítulo

Separem um potinho de amor e um caldo quentinho pra Milena, pfv



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/453816/chapter/131

Quarenta e nove menos três? Quarenta e nove... menos três...?

— Ainda dá tempo de ir.

Falo, olhando para o teto e folgando o abraço à almofada. Ao meu lado no sofá, Vinícius só me afaga o ombro, onde um braço seu descansava. Ele já não se alarmava, mas não deixava de ficar extremamente cuidadoso quando se tratava de uma crise minha.

— Nenhum soldado fica para trás.

Um pouco apática, tentando me recuperar enquanto ainda ouvia uns leves trovões repercutirem na área, e tentando também não me perder da conta mental que fazia – trinta e sete menos três— retruco, resistente:

— Somos dois soldados para trás. Na verdade, três.

Murilo só saiu pra comprar o almoço depois que eu disse que estava com um pouco de fome, senão era outro pra ficar do meu lado. Era estranho ficar em casa dia domingo, porque já estávamos todos acostumados em ir para a casa do vô-sogro. Mas hoje estaria só Djane, Renato e Iara, já que seu Júlio e Filipe viajaram.

O dia amanheceu bem fechado, um friozinho na medida. Murilo já tinha me avisado no dia anterior que seria um dia chuvoso e de trovões, e disse que poderíamos ficar em casa sem problema. Só que eu não queria ficar em casa. Mas também não queria ter uma crise fora dela. Fiquei na dúvida até essa manhã, quando os primeiros trovões deram as caras. Invariavelmente, Vini apareceu debaixo de chuva pesada. Só não entrou ensopado porque agora usava capa de chuva. Parecia um alien todo de plástico verde, mas meu alien, pronto para sua missão do dia.

Olho de rabo de olho para ele e sei, tô dificultando pro namorado. Ele, por outro lado, está se mantendo bem calmo, como se nada estivesse acontecendo, como se nada estivéssemos perdendo. Eu agradecia internamente por isso – e por ficar comigo e segurar na minha mão o tempo todo, conversando e concentrando minha atenção fora da fobia. Eu só... me sentia um pouco culpada.

Não só por perder o almoço de domingo, mas também o aniversário de um de seus colegas de turma. Eu os via tão pouco e ficava feliz de Vini estar cada vez mais aberto às pessoas, e por isso queria ir à festa. Mas esse raio de fobia... e esse tempo imprevisível... Era algo que me limitava assim.

Como se soubesse exatamente o que eu pensava – eu desconfiava que sim – Vinícius encosta sua cabeça na minha, que deitava no encosto do sofá, e logo sinto um carinho em meu rosto, seguido de um beijo demorado, mas leve na minha bochecha.

— Eu digo qualquer coisa. Não é sua culpa. Não há culpa, na verdade. São só coisas que... acontecem. Além do mais, gosto quando ficamos sozinhos.

— Até quando eu tô com a cara inchada?

Eu estava exagerando, claro. Dessa vez não chorei tanto assim. Senti aquela angústia inexplicável e irracional e as lágrimas desceram sem quase eu as perceber, quietas. Mas desespero mesmo, eu já não sentia. O combo de Murilo e Vinícius me fazia sentir certa segurança. A gente sabia o que acontecia e como acontecia. Não era uma surpresa. Esperar passar parecia uma eternidade, mas em algum tempo passava.

Vinícius me pega pelo queixo para virar meu rosto para o seu e diz, sincero e gentil, algo que me refresca os ânimos.

— Até quando me esnoba vendo tv.

A tv estava desligada, só para constar. Na verdade, ele fazia uma referência clara a outra situação: a vez que fiquei sozinha com ele com febre. Ele não esquecia.

Rio um pouco, dispersando o nervosismo que se abatera em meu corpo em minutos. Com a proximidade de Vini, seu apoio, suas graças e seu carinho, definitivamente me perdi da conta mental que fazia. Era só um exercício para aliviar a sensação ruim, afinal. Me perder da conta e conseguir exprimir uma reação positiva era sinal de que estava melhorando enfim. Estava passando.

Expiro, na expectativa de logo normalizar minha respiração e me achar merecedora daquele amor todo. Nessas horas, preciso lembrar, nada que me vem na mente é muito confiável. Fecho os olhos, ainda me sentindo desnorteada, e por isso brinco, pra me sentir eu de novo.

— Você não existe.

— Não existo, é?

— É. Devia, sei lá, ficar chateado.

Minhas conversas também não são confiáveis.

— Não vamos entrar nessa de novo, Lena. A ideia é respeitar seus limites.

— Eu sei, eu sei. Eu só...

— Não tá pegando leve consigo mesma.

Não resisto e alfineto:

— Tu tá andando demais com a Michele.

— Em alguns intervalos, talvez.

A Michele, aquela Michele da confusão do passado com a Becca, sua ex-não-namorada. Ela cursa Psicologia na mesma faculdade do Vini, e pelo que ele já me contou, às vezes ele puxava conversa sobre técnicas para crises, algo que me surpreendeu ele ter tomado iniciativa de ir atrás. Foi assim que descobri alguns exercícios de dispersão (obrigada, Youtube!) – como respirar durante uma crise pesada e como me forçar a desfocar do sentimento de angústia. Fazer contas matemáticas – como de 100 a 0 diminuindo três de cada resultado – tem demonstrado alguns resultados. Nas últimas vezes, consegui controlar mais a situação. E já não ficava tão mal, durante ou depois. Claro, ter o apoio dos dois homens da minha vida é algo fundamental. Suas presenças, respeito e conversa fazem total diferença.

— Mas você sabe o que penso sobre isso, amor.

Visitar um profissional. Contar minha história. Melhorar minha história.

— Murilo também está tentando, como você viu.

Vi e ouvi.

Ontem, quando fomos visitar a Lia, acabamos ficando para o jantar. Era mais pra conversar (baixinho) do que realmente ver Lisbela ou a Lia, que exaustas, dormiam e acordavam o tempo todo. Em dado momento, eu tive uma daquelas minhas cólicas (verdadeiras) e por isso deitei em um dos quartos. Era daquelas dores que me deixa molenga e sonolenta, daí tirei um pequeno cochilo.

Um tempo depois, vi o Vini no quarto, na ponta da cama. Umas piscadelas depois, ouvi o Murilo entrar. Ele procurava algumas ferramentas, pelo que entendi. Porém, ao mexer numa bagunça do armário, um pote de creme caiu em cima do meu mano, sujando a criatura. Engraçado era ele tentando urrar nervoso de maneira silenciosa. Vi mais ou menos o Vini tentando ajudá-lo com a meleca toda.

Murilo se enfiou num banheiro próximo. Enquanto estava fora, seu celular tocou na cômoda do quarto. Ouvi quando ele falou para o Vini atender. O namorado voltou para a ponta da cama, de costas para mim, e atendeu. Ouvi a breve conversa que teve com quem ligava.

— Alô? É o número dele sim, mas no momento ele não pode atender. Quer deixar recado? Ok. Da clínica de quê? Pode falar mais alto? Ah, clínica psicológica, sim. Hã, ok. Vou repassar as informações pra ele, pode deixar. Obrigado pela confirmação.

Por um tempinho, o Vini ficou encarando o celular do meu irmão. Eu estava mais desperta, apesar de ninguém ter notado. Fazia um tempo que ouvia a conversa deles, pra falar a verdade. Daí, sem eu perceber, ele virou pro meu lado e me encontrou de olhos abertos. Pela minha expressão, ele entendeu que eu tinha ouvido e eu entendi que ele também não queria esconder.

Aliás, tem um tempo que Vinícius tem tentado me convencer a buscar uma solução terapêutica para minha fobia. Embora tenha treinado comigo alguns exercícios do Youtube, ele preferia que eu buscasse um profissional, uma recomendação direta de Michele. Enquanto eu tinha minhas reservas, ele segurava um pouco da situação.

Eu realmente não sabia o que pensar sobre isso. Ao passar dos anos, sempre respondi não e ignorei o tópico. Não era algo em que eu queria mexer, sabe? E se Murilo, que é o Murilo, decidiu procurar um profissional, eu pendia a aceitar um experimento. Mas, reservas, eu tinha um bocado delas. Esperava conversar com meu mano primeiro pra saber como funcionava. O caso é que eu esperava o Murilo puxar assunto. Em todas as nossas conversas desde a volta, ele não mencionou nada. Eu sabia que uma consulta estava marcada, mas ele não sabia que eu sabia. Acho.

— Eu prometo pensar mais sobre isso.

— Não precisa prometer, amor. Só pensa mesmo.

A chuva lá fora, que havia diminuído, de repente se faz forte, justo quando ouvimos um carro parar. Ativando o portão da casa, Murilo entra com o veículo na garagem. Não demora muito e vem um alto e claro “cheguei, família” da entrada da cozinha, algo que certamente me traz aconchego.

Ninguém aqui é mais o mesmo, lembro a mim mesma. Ainda assim, aprecio o momento de calmaria após uma tempestade de sentimentos. Felizmente, não era como um tempo atrás, eu já conseguia olhar eles nos olhos e agradecer pelo que faziam.

Quando sinto o cheirinho de comida, repenso o que Vinícius me disse há pouco. Não há culpa, na verdade. São só coisas que... acontecem. Sinto como se todo o tempo fechado na minha cabeça começasse a abrir para um sol. Dois sóis, na verdade.

Alívio. Acho que estava voltando a me sentir eu mesma.

~;~

Se Maomé não vai até a montanha, a montanha vai até Maomé, disse uma Djane se enxugando do pouco de chuva que pegou ao entrar na minha casa. Ela seguia a instruções de meu mano de agir normalmente e não ficar preocupada com minha situação. Pelo menos não excessivamente.

Um pouco depois do almoço, ela ligou perguntando se poderia vir, porque ela queria estar onde seus filhos estão. Murilo deixou a sugestão em aberto pra mim, que no momento estava um tanto aérea. Vez que aos poucos estou tentando me acostumar com outras pessoas estando comigo nesses dias difíceis, permiti. Não deve ser algo de que me envergonhe, embora isso – vergonha e culpa e medo – ainda me derrube durante uma crise.

Eu saía do banho quando vi Djane chegando. Vi que teve um impulso de correr e me abraçar, mas foi interrompida por Murilo e seu zelo de deixar as coisas amenas. A mim mesma, continuava a dizer que estava tudo bem. O banho ajudou bastante em dispersar o peso que ficara no meu corpo. Mas ainda me sentia distante, apática.

Por isso me demoro no quarto. Em algum ponto, só sento na cama de pijama e vejo umas notificações no celular, sem realmente ter cérebro pra interpretar o que estava escrito ali. Por mais que isso fosse melhor do que situações passadas, ainda não era ideal.

Alguém bate na porta do meu quarto. Era Djane.

— Milena? Posso entrar, querida?

— Hã... Acho que sim. Entra.

Com cautela, Djane fecha a porta e se senta ao meu lado. Sei que me observa e finjo estar ok, me mexendo pra não parecer tão quieta. Mas quanto mais tento passar despercebida, mais fico na sua mira. Djane acaba por se render ao seu instinto.

— Ah, minha menina.

— Djane!

Eu meio que bloqueio. Não queria chorar mais do que já havia chorado. Até baguncei meu cabelo com toalha pra secar e pra não destacar minha cara abatida. De repente entendo a Flávia ignorando seu próprio estado no outro dia.

Sinto o carinho de Djane mesmo sobre a toalha, que agora eu usava para me distanciar de sua observação.

— Não precisa fingir comigo, querida.

— Eu sei, Djane. Eu só não consigo evitar.

— Tudo bem, não vou falar mais nada. Esperava te ver porque... quero contar uma coisa.

Ela fala a última parte em um sussurro. Eu toda emo e de toalha na cara viro pra ela perdida com a abordagem. O quarto estava fechado. Não tinha porque falar baixo.

— Por que você está sussurrando?

— Porque soa mais interessante.

Não nego, abro um meio sorriso por essa sua tentativa. Tenho que dar um voto de confiança depois dessa. Ao ver que minha reação positiva, Djane sorri também. Mais agitada, me belisca – sem doer, claro – pra provocar com drama.

— Senti sua falta essa semana.

— Só foi uma semana fora, amanhã tudo deve voltar ao normal. Aliás, tenho que lembrar de levar a camisa do Pompeu.

Djane faz uma cara engraçada daquelas que pergunta sem perguntar diretamente. Eu poderia dar um abraço por seu esforço, mas abraços nesse momento ainda me fariam chorar. Puxo a toalha da cabeça e tento falar com mais normalidade.

— É que eu consegui a proeza de ter uma blusa estragada por um suco de goiaba no dia da minha apresentação. Daí o Pompeu, que era um dos monitores, me emprestou uma camisa.

— Ah, sim.

Djane ainda tem uma expressão curiosa que não sei interpretar. Só sei que isso me destrava um pouco.

— Mas não me enrola, Djane, o que você tem pra contar?

Empolgada de novo, ela faz suspense.

— Quando eu descobri, Milena, a primeira pessoa que pensei para contar, foi você. Isso foi ontem, depois de uma reunião com Max e Fabiano. E eu nem sei por onde começar. Acho que é a mesma sensação de quando você diz que achou ouro.

— E qual é o ouro?

— Digamos que tem alguém no prédio apaixonado por outra pessoa do prédio.

— Mas isso é o que mais tem lá, Djane. Você e Renato são um bom exemplo. Gui e Flávia são outro exemplo. Marcinha e Cardoso é um caso mais recente.

Eu e a galera da minha turma só descobrimos isso no outro dia, quando estivemos em peso para uma palestra no ECAD. Se a vida não fosse tão complicada, talvez Bruno e Dani fossem escalados também.

Djane parece se deliciar com o ouro que ainda não espocou.

— Vou dar outra pista. Ao que tudo indica, um professor que não é professor está apaixonado pela minha secretária.

Será que ela tava falando de outro policial que estava se passando por professor?

Esse era o nível da minha lentidão. Demorou uns segundinhos pra eu sacar que não. Era de Max que ela falava.

— AH-MEU-DEUS. MAX? Max apaixonado? E pela Glorinha? Meu Deus, ela vai morrer quando descobrir. Ela já sabe?

— E eu vou contar? Deixa o Max conquistar ela, ué!

É então que eu solto uma gargalhada louca e parece que todo o peso que sentia há um minuto atrás se dissipa de meu corpo. Havia certo cansaço sim, mas aquilo era um ouro bom demais e do tipo de levantar defunto. Aparentemente, eu.

Eu, que amava muito minha sogrinha.

— Meu Deus, Djane. Agora não vou parar de pensar nisso quando o vir.

— Nem eu, querida, nem eu.

— Não acredito que vou dizer isso, mas acho que senti falta de Max.

E com o semestre quase pra acabar, fico sentida de lembrar que ele não vai ficar por muito tempo. Ele vai seguir o caminho dele.

— E de mim?

— Não te conheci ciumenta assim, Djane.

Mentira, conheci sim.

— É claro que senti. Senti falta de alguém me trancando em sua sala. Sei lá, o jeito que a senhora me sequestra é diferente.

Djane cruza os braços, se fingindo de chateada.

— Olha quem fala, Milena. Ainda tenho traumas daquele cárcere privado de vocês.

Só retruco com um sorrisinho e:

— Bons tempos.

— Bons tempos, é?

— É, quando a vida parecia mais fácil. Mas a vida é a vida.

— E você... já pensou na vida após a virada?

— Vida após a morte?!

— Vida após a virada de ano, Milena. Sua monografia. É que tenho recebido alguns pedidos de orientação. Massss... queria saber de você primeiro.

— Não precisa ser generosa assim, Djane.

— Seria uma honra te orientar, minha querida. E sei que você tem seus receios quanto a privilégios e... Eu só queria poder te ajudar, só isso. Independente do tema. Eu sei que não devia estar falando sobre isso, não quero que se sinta pressionada mesmo. Só pense a respeito.

— Fico grata pelo convite. De verdade. E feliz de saber que tem alunos atrás da senhora. Isso quer dizer que muitos já estão te aceitando.

Nas suas monitorias, ninguém se inscrevia pra trabalhar com Djane. Só o Sávio que fez esse experimento. Talvez isso também tenha ajudado na sua imagem perante os alunos. Mesmo fora de classe, faz um tempo que ela tem auxiliado estudantes. Acho que eu era uma das poucas que não tinha ainda um plano. Ou tema. Não que eu tivesse tido muito tempo e cérebro saudável pra pensar sobre isso.

Com orgulho, Djane me traz de volta para o espaço e tempo:

— Acho que nunca fui tão disputada assim.

— Disputada? Uau. Pensei que fossem só alguns pedidos.

Dou de ombro nela, que sorri encabulada. Antes que pudesse dizer algo, ouvimos uma batida na porta. Murilo enfia a cabeça na fresta que abre:

— Tô interrompendo?

— Não muito. Tava enchendo a bola de Djane por estar sendo dis-pu-ta-da como orientadora na faculdade.

Murilo levanta as sobrancelhas orgulhoso para minha sogrinha.

— Parabéns, Djane!

— Obrigada.

Em uma mistura de zeloso e relaxado, Murilo abre mais a porta e se esgueira no portal. Sabia que ele estava ali para me checar e não havia problema nisso.

— Aproveitando a notícia, que acham de a gente comemorar com um... carteado?

A pergunta era pra mim, claro.

Jogar cartas era algo que a gente fazia na saúde e na doença e principalmente nos dias ruins. Era nossa maneira de dispersar sentimentos difíceis com competitividade, sede de vingança e muitas reviravoltas. Mas, apesar de todo o apoio que recebia, não me sentia no clima de participar. Não estava minimamente bem a esse ponto. Queria só ficar quieta mesmo. Conversar, talvez.

— Posso ver vocês jogarem se for o caso.

Djane passa um braço por minhas costas e me puxa para si.

— Então fica no meu time, querida. Estive treinando com Renato e...

E um ih ih ih ih ih soprado da Ellie Goulding quebra seu argumento, preenchendo o espaço. Vejo na tela do celular, era o Bruno ligando. Peço uma licencinha rápida e atendo:

— Oi!

— Ei, tá em casa?

Ouço um barulho de carros passando, buzinas e estouros de motos.

— Tô.

— E... o Murilo também?

— Sim. Quer falar com ele?

— Se não for incomodar.

— Um minutinho.

Passo o celular para meu mano, que não entende. Só digo que é o Bruno.

— Oi, Bruno. Posso sim. Onde você tá mais ou menos? Sei, sei onde é. Chego aí em uns quinze minutos. Nada, pode contar sim. Tá. Ok.

A criatura me passa o celular de volta, com a ligação que ele mesmo finalizou, sem dizer nada, e some pro seu quarto. Olho pra Djane, que dá de ombros, e eu sigo para saber o que era o pedido.

— Mu?

Encontro meu irmão calçando seus tênis.

— Vou num pé e volto em outro.

— Algum problema?

— Ele tá com o carro parado na avenida e sem recursos, por assim dizer. Vou lá levar uma gasolina pra ele.

— Ah. Mas tá tudo bem, né?

— Sim, nada demais. Volto logo.

Meu mano me dá um beijo na testa e segue para a sala. Lá, pega suas chaves na mesinha e logo seu carro está passando pelo portão de casa. A chuva já tinha passado, graças a Deus. Os trovões, idem.

— Preocupada?

Vini me pergunta assim que fecho a porta onde eu espiava Murilo sair. Ele já tinha armado o espaço para jogar cartas – pôquer e não uno. Djane estava na cozinha.

— Não. Eu só... Acho que fico feliz de ver alguns mundos colidindo.

— Colidindo?

Uma sobrancelha do namorado se levanta enquanto a boca sorri minimamente.

— Meus amigos serem amigos do Murilo, sabe, e sem implicar uma preocupação. É um alívio na verdade. Não somos mais os mesmos mesmo.

Djane volta para a sala e nos interrompe:

— E aí, vamos jogar ou não?

Não digo nada, só acompanho os dois que iam se confrontar. Esse tava se saindo um dia estranho, mas por certo há um quentinho no coração enquanto vejo o namorado e a sogrinha se prepararem para jogar. Eles eram outros mundos se colidindo. Djane, por si só, era amiga, sogra, mãe, professora.

E, quem sabe, poderia ser mesmo minha orientadora.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

"Sinto como se todo o tempo fechado na minha cabeça começasse a abrir para um sol. Dois sóis, na verdade." MEU CORAÇÃO BATE COMO UM CAROÇO DE ABACATE DEPOIS DESSA ♥
Mas, sério, orgulho do Murilo de tomar iniciativa e buscar uma ajuda profissional.
Façam terapia!

Trechinho do próximo?

"- O quê?
— Você. Sei lá. Espionando aqui.
— Não estava espion... Ouvi sem querer, tá.
— E o que você ouviu?
Bruno coça a nuca, querendo disfarçar.
— Algumas coisas.
Levanto uma sobrancelha pra ele.
— Que tipo de coisas?"

e

"Djane só assente ao ouvir meu desabafo, pensativa, enquanto estou com um buraco no estômago só de falar nisso.
— Diz alguma coisa, professora.
— Você não me chama de professora faz um bom tempo."

Obrigada por continuar até aqui!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Mantendo O Equilíbrio - Finale" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.