Facção. Dos. Perdedores escrita por jonny gat


Capítulo 90
Até que o Fim de Tudo.




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Robin se sentou à beira da praia vazia que sofria da poluição dos mares. Conseguiria contar os pneus de borracha presentes na beira do mar caso fosse um computador criado apenas para essa tarefa. Ele era um homem que estava em busca das coisas que precisava fazer antes que o universo acabasse. Ele não tinha uma lista. Ele só pensava que tinha tantas coisas que precisava fazer antes que tudo acabasse. Depois que tudo acabar, não haverá nada, não é?

As esperanças de que conseguiriam salvar o universo não faziam sentido, mas ele as tinha, mas pela falta de bom senso dessas esperanças ele simplesmente as ignorava. Acabaria, procurava ter certeza disso, mas aquela coisa estranha fazia com que ele tivesse certeza de que o universo não acabaria e ele salvaria isso. Não importava isso agora, importava que precisava de uma lista e de fazer cada item da lista antes do momento final, antes do Fim de Tudo.

Era noite. Dias tinham passado desde o capítulo de reencontro com Frota. Ele não saberia descrever o que veio fazendo nesses últimos dias. Ele não fez nada em especial, apenas levou dia por dia. Quando o dia acabava, outro estava por vir na qual ele levaria até o final com considerável indiferença. As estrelas cantavam lá no céu. A praia cheirava muito mal. O mundo dizia para Robin que preferia girar ao redor dele do que ao redor de um buraco negro, ele não soube interpretar isso então deitou sua cabeça no chão da areia que não estava tão suja quanto os jornais anunciavam alguns anos atrás. Ele lembrava disso de anos atrás porque ainda vivia naquela cidade como um assassino. Não queria mais ser Robin, o assassino. Esse era claramente o Robin do passado. Nesses últimos capítulos também não queria ser Robin, o herói. Ele não era o herói, e esperava nunca se tornar. Ele era ele mesmo. Robin, alguma coisa. Sim, alguma coisa que ele ainda precisava descobrir. Robin, o Robin. Afinal, ele era ele mesmo e nada além que isso. Ele mesmo pode ser muitas coisas, só que quando o mundo está acabando e você é frequentemente possuído pelo espírito de um herói sua cabeça está distante demais pra saber o que você é. Nunca foi muito bom em dar valor no que era bom, também. O Robin de antes se achava bom em muitas coisas, mas no fundo sabia que não era tão bom assim em nada.

A noite era fria na beira da praia. Mesmo poluída ainda mantinha o clima comum de uma praia, então de noite o ventinho era bastante frio. As ondas pareciam tímidas. Robin admirava o céu com um grande desconforto como temática do seu emocional. O tempo estava tão passando tão rápido. Há poucos capítulos tinha reencontrado Frota. Ele andou muito através de vários continentes sem ser o seu natal e encontrou pessoas a qual salvou, a qual não conseguiu salvar, a qual treinou junto... Encontrar-se era o que faltava para a página final da sua vida que com convicção disse que estava para acabar. A certeza cega em sua mente disse que sim, você vai morrer. Ressentido engoliu a seco e confirmou que era o que era esperava. Esse é o destino de um guerreiro.

Ele queria mover pra frente, mas não tinha certeza se tudo ficaria bem assim. Tinha receio de acontecer com Frota o que tinha acontecido com as pessoas amigáveis do vilarejo, os monges estranhos da montanha do clã Xyauxyau. Ele não poderia abandonar o amigo antes de ter certeza de que ele estivesse a salvo porque não queria perder mais ninguém.

Robin não teve a chance de descobrir que o homem que esbarrou na rua por estar distraído demais com sua nostalgia era na verdade uma versão alternativa de si mesmo. Aquele homem não era maligno, porém os longos anos sombrios sozinho na Terra praticamente morta o fez perder consideravelmente a capacidade de discernir o que está em cada lado da linha da moral. Ele perdeu isso. Ele não via uma linha, não via nada que o impedia.

Tinha sido um líder daquele mundo que florescia, teve um filho... Um querido filho, que preferiu isolar em um universo alienígena para que fosse bem protegido, estudado e cuidado. Ele estava protegido por milhares de anos-luz, mas não demorou para que a vida também se extinguisse lá quando os robôs de Shepard chegaram para dar fim à Terra. Eles deram fim às grandes civilizações densamente populosas nas galáxias daquele mundo. Infinitamente vagam pelo infinito em busca de mais vida para destruir. Esse Robin alternativo sobreviveu porque era o mais poderoso.

Ele teve a oportunidade de viajar para a realidade do nosso conhecido e famoso Robin Tenyst Wood quando se encontrou com uma mulher com ideias um tanto visionárias. Ela era alta e morena, usava calça-jeans e jaqueta-jeans e uma regata laranja. Não era o tipo de roupa que se utilizaria normalmente para lutar contra robôs da morte de outro universo, mas ela fazia isso com estilo. Terminava as lutas antes que elas mesmo começassem

Seu nome era Hipátia, ela tinha dito ao Robin alternativo que precisava viajar entre os universos para encontrar uma amiga sua que parecia estar em apuros. Robin achou estranho que a mulher murmurasse enquanto dormia canções de ninar. Não demorou a se acostumar e aproveitar a canção de ninar que era melhor do que ficar contando carneirinhos.

 Ela o levou a uma passagem secreta entre os universos que rastreou com as habilidades místicas de Hipátia que Robin nunca descobriu. Ele não a perguntava, a solidão de mais de uma década o fez um tanto estapafúrdio no quesito de interações sociais. Na caverna da montanha no centro de um deserto encontraram o portal e atravessaram para a realidade de nossos personagens queridos com sucesso.

Foi quando os caminhos de Robin e Hipátia se separaram. Ele, em busca de tudo que pudesse colocar as mãos, usou suas habilidades para se tornar um grande chefe mafioso debaixo dos panos. Hipátia até hoje busca por Edésia e a encontra no próximo capítulo.

Existe um futuro em que Robin decide depois de sair da praia que precisa limpar a sua cidade da sujeira e mata o seu xará de outra realidade. Não trataremos desse futuro, porque esse Robin largara esse pensamento há muitos capítulos atrás. Era tempo de despedidas e preferia que a última vez que visitara o que considerava ser sua cidade natal fosse a última vez. Ele gostava da brisa gelada do mar. Estava sentado agora, sem camisa e olhando para o horizonte. Como estaria o oceano para lá? Será que estaria ainda preenchido de muitos pneus de borracha?

Nesse futuro que mata o seu xará, ele ouve que as últimas palavras de seu inimigo são “Mario...”, seja lá o que isso significa. Robin nunca conheceu Mario algum, por mais que isso seja engraçado. Ambos já deviam ter se conhecido, se bem que Mario não anda muito participante da história desde que morreu e deu a vez para o Doutor Mario. Esse sim um bom homem.

O Robin alternativo prosseguiu deixando os negócios correrem e o sangue pintando as ruas do bairro nas madrugadas de quarta e quinta-feira. Robin não estava pensando nisso, mas se sentiu incomodado porque o narrador está focando demais nesse assunto. Por isso vou trocar de assunto agora.

Robin percebeu que o furacão de sangue que bombeava o seu coração se sentir tão sem lugar, sem família. O fim do universo estava demorando e isso estava o incomodando, quando o autor voltará a fazer a história continuar andando? Ainda eram quatro da manhã de um sábado. A música que a lua cantava parecia bastante melancólica e a areia ecoava o som nos ouvidos do rapaz.

O mundo estava em harmonia como em um musical que cantava apenas para Robin, o Robin.

— Eu não me encontrei, ou talvez me encontrei mas não consigo me reencontrar. Todas essas certezas cegas me fizeram pensar mais e me deixaram inseguro, é capaz de eu ter me perdido aí, nesse processo. Eu vivi bastante e não considero grande parte dessa vida como a parte boa. Na verdade, eu não sei quando foi a parte boa, mas eu sei que eu posso considerar uma pessoa como parte boa. Vocês sabem do que estou falando. Depois disso, espero que nós possamos lutar pra sempre apesar do que acontecer. Eu não sei se eu quero uma vida diferente ou se uma vida diferente mudaria algo para mim. Eu só descobriria isso fazendo, mas eu não vou fazer isso. O caminho que vivi me levou até aqui e devo me responsabilizar por isso. Estou distante de me tornar um homem bom. Não sei que tipo de homem eu sou, mas eu sou Robin Tenyst Wood. E isso significa alguma coisa, eu acho, pelo menos pra mim significa. Por esses últimos anos com Frota tudo o que eu queria era viver calmamente, viver em paz. Mas não acho que exista paz para alguém como eu. Não é o meu passado, ou a minha classe social... Eu só acho que a paz não decidiu vir até mim. Ao invés disso, essas séries de eventos desafortunados e estranhos vieram a mim. Eu acho que esses meses desde que isso começou foram os mais diferentes da minha vida porque eu não tive nenhuma forma de rotina.

Robin pensou nas coisas que ele deixaria pra trás se o universo acabasse. Ele não tinha muitas coisas sobrando na vida. Era desempregado e não tinha deixado filhos ou se casado com alguém. A sua família era o seu companheiro de franja. Olhando a praia, ele percebeu que ele deixaria pra trás, na verdade, todo aquele mundo e todas aquelas pessoas alheias à sua vida que estavam dormindo em seus apartamentos e os pobres de rua como ele tinha sido em sua infância procurando caixas para dormir sem um teto e paredes para protegê-los do sereno.

— Eu vou sentir falta desse mundo e dessas pessoas.

Robin não lembrava a última vez que tinha feito algo de bom para alguém. Teve a chance de fazer algo pelas pessoas enquanto buscava uma vida comum, tinha se recusado a ajudar aquelas que cruzaram seu caminho durante esse tempo. “Não era coisa do meu antigo eu, que só pensava em si mesmo”. Ele queria levantar-se daquela areia que chorava pela falta de desdenho que os humanos tinham pela natureza e fazer coisas boas pelas pessoas que precisavam de ajuda.

Ajudar um velhinho a comprar vegetais na feira, comprar comida para crianças que não tinham o que comer, dar carinho a animais que não tinham com quem contar. Dar esperança pras pessoas que tinham perdido esse sentimento há muito tempo. Quando reviu Frota, percebeu que nele também faltava esperança. Abraçou o amigo e disse-lhe para não desistir de jeito nenhum. Aproveitariam a companhia do outro como os bons e melhores amigos que eram. Existiam tantos sentimentos quando se conversavam e sabiam que não precisavam anunciar esses sentimentos, eles estavam presentes em cada gesto e em cada frase. Se Robin dissesse “Eu te amo, Frota”, Frota diria “Eu também te amo, Robin”. Eles diziam isso, quando se entreolhavam depois de algumas palavras.

E assim passaram seus últimos dias. Nesses últimos dias Robin se perguntou o motivo dessa história ser uma história sobre o fim do universo. Ele não chegou a uma resposta, mas é bem simples, meu querido Robin. É bem simples... Precisamos de um final para nos reinventarmos, assim como você se reinventou.

 

 


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