Facção. Dos. Perdedores escrita por jonny gat


Capítulo 86
Dez.




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Não se pode definir pessoas como se define partículas da Física. Pouco é certo sobre as partículas, inclusive. Você pode saber o momento e a posição dela e você ainda não sabe de nada. É parecido com como são as pessoas.

As partículas são, infelizmente, generalizadas. Reagem com outras, são repelidas por umas... Elas são matematizadas e é criada uma lei geral. Não se pode ter isso com pessoas.

A verdade é que as leis generalizadas não funcionam nem com partículas. Daqui a alguns anos cientistas velhos rabugentos vão bater o pé porque foi descoberto que o universo na verdade é uma árvore de natal que tem vontade própria. É uma ideia inconcebível , mas com o artifício matemático certo para explicar essa conclusão maluca, a teoria será aceita. Alguns anos depois, fará arte do senso comum e irão falar do universo como árvore de natal de uma forma mística e intangível à percepção do cidadão comum, mas dita como verdade absoluta, na mesma forma que será dita na academia.

Ninguém vai entender, mas aceitarão porque deve ser verdade né, Einstein disse.

Um homem velho que xingava pra fazer graça pros outros disse que não existem verdades na ciência, só certezas. Não foi ele que disse isso pela primeira vez, nem sei quem disse isso pela primeira vez. Atribui-se essa frase à um alemão pessimista que eu acho que falou isso antes da Alemanha se tornar a Alemanha de hoje.

Faz uns parágrafos, mas lá em cima eu falei as partículas e pessoas e deixei meio que esse rumo de lado. As partículas são injustiçadas – pessoas também. Dizem que elas são o que provavelmente não são por essas leis gerais estabelecidades que só funcionam no universo ideal da matemática.

Elas são julgadas pelo seu comportamento e a academia diz “É isso. Fizeram isso quando isso então é óbvio que aquilo!”. Um pouco de debate acontecerá por esporte porque todo mundo gosta de fazer seu próprio julgamento sobre as coisas, até as que não conseguem entender.

É triste quando não são as partículas, são pessoas analisadas num processo parecido. E julgam as pessoas por seus comportamentos como se fossem verdades absolutas.

As pessoas estão muito mais próximas de nós do que a ideia do Big Bang. Até mesmo as pessoas mais diferentes de você em amplos sentidos. Então não é dito como algo místico, as generalizações ficam mais próximas do real do preconceituoso. O preconceito faz sentido pra quem o prática.

Eu não gosto de preconceito, não faça isso com meus personagens também. Parem com isso.

Depois de tudo que aconteceu deliberatamente sem pedir licença para Xupa, o homem não queria mais saber de nada nada nada nada nada. Ele queia saber de muito há algum tempo. Desistiu quando foi teleportado de volta para casa pelo homem misterioso. Os acontecimentos não se explicaram. Com alguns drinques de alguma coisa que tinha gosto de fungo ele percebeu que estava tudo bem em não saber de nada que estava acontecendo na sua vida desde que ressuscitou. Muitas pessoas passam pelo mesmo, não saber o que está acontecendo com a sua vida é algo normal e deveria simplesmente aceitar isso.

Estava muito bêbado, mas ainda raciocinava um pouco. Disse a si mesmo que o universo não o devia explicações porque o universo não faz sentido.

— Ei, você que matou o presidente? – apresentou-se um homem suado e sujo de tinta com bafo de álcool forte. Tinha apostado com os amigos sentados na mesa suja do canto que o sujeito sentado no balão era Xupa Cabrinha.

— Hã... Talvez. Qual é o presidente agora?

— Não sei – respondeu, perplexo. Talvez não era uma resposta que servia. Voltou gesticulando para os amigos que a resposta do homem foi inconclusiva.

O rapaz de barba mal feita e sorriso maléfico sentado ao seu lado no balcão decidiu também se pronunciar: - Eu sei quem você é, mas não vou te dedurar para ninguém. Pode ficar relaxado, sou como você.

— Ok – levantou-se e foi ao banheiro.

Krom Hellrock apareceu, fazia um tempo que ele e Xupa não conversavam.

— Você não ouviu? Suspeitam de quem você é. Devia voltar para o esconderijo e voltar às operações.

Cambaleando, dirigiu-se ao banheiro com grande indiferença a tudo ao seu redor.

— Eu nem to pelado. – Falaria mais. Flaria que esse papo todo não funcionaria mais. Já estavam quase no centésimo capítulo e não queria saber de fantasma de Krom Hellrock.

O banheiro estava sujo como usual, o Imperador Solar não o julgou por isso e simplesmente abriu o zíper. Incomodar-se-ia com o ambiente sujo se estivesse lúcido, mas não estava há algumas horas, a última lembrança que tinha era a de chegar no bar e encarar a parede e as fotografias de homens em poses sensuais ao lado das bebidas.

— Você quer voltar no tempo?

— Nanabagag – balbuciou qualquer coisa.


— O que teria feito noventa capítulos atrás?

Xupa levou a pegunta em consideração enquanto olhava como tinha urinado por toda parte do banheiro. O dono não iria se importar, claro, porque não tinha se importado quando urinaram no bar inteiro em algum dia recente. Isso explicaria o cheiro de urina pertinente no bar.

— Não teria me alistado. Não teria te ouvido. Não teria nascido... – Fechou o zíper.

— Isso não faz sentido. É o seu destino, nosso destino, de existir. Nascer, morrer.

Xupa encarou o fantasma como se Krom fosse aquele tipo de amigo que só fala besteira e do nada decide ser todo filosófico sobre os 10 motivos do aborto ter que ser ilegal sendo que não tem nenhum tato com o assunto.

— Isso não é verdade – arrotou, parou pra pensar, encarando o tempo. – Existem vários universos. Possibilidades... Não existe um destino único. Você nem sabe o que está falando.

Krom pareceu surpreso. Só pareceu mesmo. – Como sabe disso?

— Eu vi. Antes de rever o cara de herói. Ficou tudo estranho quando me encontrei com o homem-máquina.

— Isso é incrível!

— Você não era falso assim quando tava vivo. Krom de verdade não usaria ponto de extradição. Quer dizer exclamação.

— O que você viu... Precisa falar com os outros.

— Quem – Estava embriagado demais para pensar em pontos de interrogação.

— Os outros heróis.

— Não conheço – Casualmente sentou-se novamente para pedir mais um pouco de xixi de fungo com um gesto pro dono do bar, que atendia a todos no balcão. Passou a encarar Xupa suspeitamente depois de saber da hipótese dele ser o homem procurado que matou o presidente.

— Você tem certeza? Ele te conhece.

— Quem.

Na entrada do bar estava Robin com alguns pelos faciais preguiçosos, sobrancelhas que precisavam ser feitas, músculos bonitos e roupas rasgadas. Era o galã moreno de um filme sobre piratas. Ele era o herói, um homem de bom coração capturado por piratas maus. O destino do herói era libertar-se das correntes com sua força irada e salvar os outros capturados. Ganharia uma medalha do Presidente Americano, no final, propriamente barbeado.

Robin via um homem estranho, chateado e bêbado. Aproximou-se do sujeito lentamente, acabou por parecer hostil por causa da sua aura implacável e determinada que ele simplesmente não conseguia controlar. Só queria parecer uma pessoa normal indo reencontrar um antigo conhecido, mas seu espírito de herói estava o dominando.

— Precisamos conversar – disse Robin.

— Quem é você – perguntou inconscientemente Xupa, com o pescoço virado.

— Robin – exclamou o herói dentro de si. – Cadê o Frota? – agora ele mesmo que perguntava.

Xupa estava com sono e com uma incomum dificuldade de entender perguntas.

— Com Ramon. Picone, acho. Molly... Os outros heróis.

— Certo – respondeu o herói. – Usarei minhas habilidades de herói para encontrá-los.

Isso estava acontecendo demais. O herói só falava e não fazia. O que ele quer dizer com habilidades de herói?, perguntou-se internamente Robin. Estava acostumado com essa anomalia em si, só que ficava perdido e sem graça em situações como essa.

— Vou tentar encontrá-los – corrigiu. – A situação mudou, né? – Ele não fazia ideia de quem era Ramon e Picone. Lembrava-se de Molly. Era o cara que devia lutar, mas não sabia se ainda tinham que lutar.

— Não sei – respondeu Xupa.

Robin virou-se de volta para a porta quebrada que usou para entrar. O herói decidiu coexistir também na mente de Robin, o que incomodava o discípulo de Ramon.

Que ser covarde, fraco, aceite seu destino, mas faça algo!, pensou o herói. Para com isso, respondeu Robin. Então voltou a se concentrar e sem esforços sabia para onde ir.

Xupa Cabrinha estava bem. Tomanda uma. Levando a vida sem querer levá-la para lugar nenhum. Sem compromissos e preocupações. E também cumpria com as instruções do homem misterioso vestido de herói. Dali pra frente, não participaria mais da história. Talvez depois, num momento importante. O homem deixou a entender que Xupa devia se proteger até que chegasse a sua hora.


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