Facção. Dos. Perdedores escrita por jonny gat


Capítulo 23
Teletransporte.




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Xupa estava de mau-humor e entediado, mas nem por isso queria dizer que para destruir seu tédio e seu mau-humor o melhor a fazer seria andar por aí em círculos e acabar se perdendo. Antes que se perdesse decidiu retornar para o banco rente ao poste de luz onde anteriormente estivera sentado e inclusive passara seu mau-humor para seu subalterno Robin Tenyst Wood.

Agora estava sentado e entediado, e ainda de mau-humor – o que lhe perturbava. No entanto realmente era mil vezes mais agradável estar sentado do que andar pelo vasto, perigoso e obscuro local e acabar se perdendo naquela imensidão claustrofóbica. O melhor era encarar seu subalterno também mal-humorado e subestimado que estava com seus olhos fechados com o intuito de conseguir descansar melhor.

Robin não gostava de ser subestimado. Virou-se para o lado, em um movimento de total repreensão de seu chefe de trabalho e abriu os olhos. Sentiu em seus olhos uma nuvem de poeira e então seus olhos arderam, os fechou e retornou para sua posição normal esfregando a mão direita em seus olhos. A parte direita, a qual vinha à rajada de vento que carregava as cinzas do local, do terno de Robin também estava devidamente suja. Xupa também estava sujo, e isso era muito melhor representado já que seu terno era branco, e agora parecia com um cinza muito pavio curto assim como os olhos do Imperador Solar.

– Sim, faz um tempinho desde que esse vento está vindo de lá, provavelmente uma nuvem de poeira está seguindo viagem para cá e deixou que as maletas fossem enviadas na frente – era uma metáfora e não esperava que seu subalterno impotente entendesse.

Robin podia ser impotente, mas não era burro.

– Percebi – mesmo com a metáfora sendo certamente cômica, não queria dar a Xupa a satisfação de ver o riso conseqüente da própria piada.

– Quanto tempo vai demorar? – Tentava ser o mais amistoso possível, estava querendo se desculpar das ofensas de mais cedo, mesmo não mudando sua opinião, pois percebera o mau-humor de seu subalterno.

– Não sei – disse.

Na verdade faltava pouco, porém Robin não queria dar ao homem de terno branco tal satisfação. Sua força já estava em torno dos noventa por cento, e isso já era grande coisa.

– Falta pouco – respondeu, pensando um pouco melhor.

Quase sorriu, mas preferiu fechar o sorriso quando esse estava prestes a se abrir. Concluiu que ainda tinha que esperar. E tal verbo não era nem um pouco animador. Voltou a seu rosto normal.

Desde então Xupa Cabrinha entrou em transe total, seus pensamentos estavam sendo mantidos por três chaves em um dos cantos mais profundos de sua mente. Eram um dos poucos que conseguia acessar, provavelmente esquecera-se de como utilizar o restante após ser congelado em meio às geleiras de Pinball Wizard. Sua mente estava centrada e focada no super-herói, não que estivesse apaixonado por ele, mas aquele mistério não saia de sua cabeça.

Aquele homem de fato parecia saber mais de Xupa do que o próprio Xupa sabia de si mesmo. Tinha certas dúvidas sobre quem ele era e provavelmente tinha uma lista de nomes, mas procurar pela lista sem nenhuma evidência não daria em nada. E, aliás, Capitão Marvel dissera que seria revelado assim quando necessário. Ainda não era necessário. A curiosidade pairava nos ventos levianos da mente do jovem que o levou para outro canto de sua mente, esse já conhecido. Porém, ainda parecia estar mais limitado. Seu passado.

Xupa não se lembrava de nada em relação à sua infância ou até mesmo seus atos de heroísmo na Guerra do Fim do Mundo. Nada vinha à sua mente quando invocava sobre ela o verbete conhecido como “passado”. Entretanto aquele homem, o super-herói, sabia de seu passado. Agora a curiosidade havia crescido e então decidiu parar de pensar com o intuito de não fazê-la aumentar a cada pensamento seu – e era isso que aconteceria caso continuasse.

– Falta pouco para terminar de recarregar as energias, ou faltam poucos minutos? – Indagou, era uma pergunta confusa que causou a confusão na mente de Robin.

– Falta pouco – respondeu, voltou a calar a boca, e, simplesmente ignorar a presença de Xupa.

Então, houvera mais minutos de silêncio, transe e pensamentos MRUV que o melhor é deixar para lá, pois mais parágrafos seriam considerados encheção de lingüiça.

Uma coisa muito interessante em relação aos tele transportes, e que realmente não vêm ao caso agora – no entanto virá mais tarde e por isso explicarei de uma vez por todas – é que o tele transporte é algo muito menos e muito mais complicado do que parece. Há vários meios de tele transporte, é claro, e todos eles resultam com a desgraçada TPT. Podemos citar como exemplo teleporte quântico, o teleporte tecnólogo, o teleporte equacional, o teleporte hiper-espacial, o teleporte eletromagnético e o teleporte matéria-espacial.

A maioria deles, principalmente o teleporte matéria-espacial ou o teleporte eletromagnético não se move simplesmente de lá para cá diretamente. Para serem utilizados, é necessária uma travessia longa com certas paradas com intervalos de um milésimo de segundo. E para programarem as paradas, que precisam ser uniformemente variáveis e em latitude oposta à longitude e isso requer um cálculo desgraçado que normalmente é desenvolvido por uma máquina muito inteligente.

O teleporte eletromagnético, na verdade, apenas pode ser executado graças ao auxilio de quatro delas. A primeira, e uma mais importante, é a máquina que converte a massa do usuário em energia, essa que logo após pega uma carona com as ondas eletromagnéticas e não é muito legal ser transmitido junto as ondas eletromagnéticas, mesmo por alguns segundos, - e por isso é considerada uma tática primitiva do teleporte – e, então, a mesma calcula o local onde devem ser localizados as outras quatro, sendo duas responsáveis pelas pausas e última o destino desejado. Então, as duas primeiras devem estar localizadas no local certo para que as ondas eletromagnéticas possam se transformar em matéria no destino final. A máquina do destino final deve conter uma antena captadora de ondas eletromagnéticas que as atrai para o interior onde há um transformador de matéria casualmente muito mal feito. As outras duas máquinas, as dos intervalos, devem conter um atrator de spins momento magnéticos intrínsecos. Chegando ao destino final, ocorre uma TPT tão exorbitante que pode causar a morte – aliás, a transformação constante em ondas eletromagnéticas pode causar doenças como AIDS ou fazer do teleportado um ser estéril. Também pode causar uma anomalia nas células que não é nem um pouco gentil. Foi o primeiro teleporte inventado e aquele que um bando de ratos cobaias morreu tentando conseguir o queijo de cada dia trabalhando para os cientistas loucos.

Já o teleporte matéria-espacial, apenas funciona caso for utilizada uma energia nuclear que possibilita a ativação dos dados magnéticos humanos que transmitem ondas de partículas elétricas capazes de serem absorvidas ou captadas por alguma antena muito bem feita. Precisa claro, do cálculo, que muitas vezes é necessário ser feito a mão.

Você pode considerar isso como encheção de lingüiça. E o autor concorda em certas partes dessa afirmação.


No momento em que fugiu usando o teleporte matéria-espacial, Ikovan obtinha a matéria nuclear, no entanto não havia antena alguma no local que necessitava ir. Queria ir para casa, e por mais que tivesse a máquina em casa, o mau-contato do plug da máquina com a tomada era constante.

Poucas máquinas daquele tipo ainda existiam, pois os cientistas preferiam usar uma espécie de teleporte que não necessitava de utilização de energias nucleares ou sensores magnéticos quânticos que captam spins opostos ao normal.

Acabou chegando a um lugar qualquer e que não esperava chegar, já que sua máquina era praticamente a última do tipo e pensou que estava ferrado. Não estava, pois conseguia ver ao horizonte a presença de prédios acinzentados e acima de sua cabeça um céu vermelho e profundo. É um cenário de fato familiar para os leitores que acompanham o decorrer do enredo, principalmente porque é um cenário comparado ao que Xupa e Robin estão presentes.

Na verdade, é o mesmo cenário. E quando olhou para o lado, Ikovan deu de cara com quem não esperava dar de cara em um lugar tão solitário como aquele, assim como Xupa não esperava ver outro homem demasiado estranho em um lugar tão inusitado como aquele.

Caso era grande coincidência encontrar aquele super-herói que o procurava por ali, era mais ainda para Xupa encontrar Ikovan que tinha assuntos a tratar com Xupa, mas nada que envolvia político e o passado do Imperador Solar – esse segundo que era o interesse momentâneo de Xupa.

O bigode geométrico por alguns segundos hipnotizou Xupa, mas como se lembrou de seu real interesse momentâneo, conseguiu ignorar aquela anomalia capilar provavelmente criada por um presto-barba muito mal feito e provavelmente um dos mais baratos que encontrara no supermercado até porque seu salário, como fucionário público, não era dos melhores.

– Oi – disse Xupa.

Ikovan não acreditava, era muita coincidência. Já o homem de terno branco pouco se lixava se era um homem que sabia de seu passado ou que queria que se elegesse a presidente, estava entediado e o restante que se danasse.

– Meu querido Xupa Cabrinha... Mas que grande coincidência! – Exclamou o homem de bigode geométrico.

O subalterno de Xupa Cabrinha, que até então estava com os olhos fechados, estranhou aquela voz. Não era a voz de seu chefe, e também não era a voz de alguém conhecido. Era a voz da pessoa que viu, ao abrir os olhos, e sentiu seu coração bater forte por ver alguém ali.

Provavelmente, pôde deduzir isso através da aura, Ikovan era um homem perigoso. Vestia um traje a rigor muito estranho para a época, e por cima dele havia um blazer. Seus óculos redondos juntos as suas vestes davam-lhe um ar de conde, e um conde daqueles bem safados e ricos mesmo. O blazer tirava todo o dar de antiguidade de Ikovan, mas isso não importava para Robin.

Aquele era – provavelmente – um inimigo, e queria demonstrar mais do que qualquer coisa para Xupa sua real força. Não queria ser mais subestimado, pois já fora subestimado o suficiente em toda sua infância e toda sua puberdade, quando era um escravo de microchip com um código de barras em seu ânus. A subestimação era um trauma a parte, e como qualquer homem certa e poucamente petulante e corajoso, Robin queria vencer as agonias do passado.

– Quem – fez uma pausa para chamar a atenção do bigodudo, que até agora não havia sentido a presença do assassino – é você?

Já estava com os punhos carregados e em postura de ataque.

– Oh... Um de seus subordinados? – Indagou o bigodudo.

Robin ficou hipnotizado pelo bigode geométrico, mas logo após acordou do transe pelas palavras de Xupa Cabrinha.

– Você ainda não o respondeu. Não que eu me importe quem é você, mas você sabe o meu nome e parece que quer falar comigo e eu não gosto de falar com estranhos. Não que eu queria falar para você, eu não quero... Mas sou muito gentil e educado para revelar isso – disse Xupa, o mais educadamente possível.

– Entendo... – hesitou um pouco para continuar, tinha más recordações relacionadas à mulheres naqueles dias e elas voltaram à tona graças ao comportamento mau-humorado de Xupa – Tenho assuntos a tratar contigo.

– Ultimamente todos têm – resmungou o homem de terno branco.

– Você não respondeu ainda minha pergunta! – Exclamou Robin, excitado, esperando a chance de meter o malho.

– Eu sou Ikovan Sparrow, irmão-gêmeo de meu querido assassinado irmão Hanks Sparrow. Sim, antes que se assustem, sou sim o irmão do presidente. Sou um membro da ABC Works também, mas... – foi interrompido.

– Então você é um desses caras do governo que desejam minha morte mais do que o próprio salário... – dizia Xupa Cabrinha, com o olhar perambulando pelo corpo do irmão do presidente.

– Não, na verdade não – revelou Ikovan. – Estou aqui para conversar, Xupa Cabrinha, e receio que uma conversa nada hostil e nem um pouco violenta. Para que haja paz, peço que ordene a seu subordinado que se acalme.

– Robin, você ouviu – estava ficando interessado em Ikovan.

Não gostava de receber ordens, principalmente quando elas eram contra suas intenções, mas preferia acalmar-se à que ser reprimido pelo seu líder. Aliás, a aura de Ikovan era grande o bastante para conseguir derrotar Robin com certa dificuldade, mas mesmo assim derrotar.

– Nunca me ganharia garoto – gabou-se.

Ignorou o comentário e voltou a fechar os olhos e se concentrar.

Xupa levantou-se do banco que lhe custou um agrupamento sujeira na parte de trás de suas calças que foram limpas com duas ou três palmadas do próprio. Limpou também certa parte de seu terno branco. Mas estava descansado, e sentia que com a presença de Ikovan o seu tédio teria enfim, um fim.

– Sobre o quê quer falar comigo? – Indagou Xupa. – Espero que não esteja aqui para tentar localizar-me, pois brevemente estarei me mudando.

– Sim, eu entendo, sei que aqui não é a sua base general, pois se realmente fosse teria de haver o restante de seus subordinados – que creio serem muitos – e um clima mais favorável para o seu tipo de trabalho. Você é um homem de muita influência popular, militar, política. Isso tudo mundialmente falando, meu caro, ainda mais com a morte de Sparrow que lhe acusaram ser o real assassino. Bem, não acredito nisso, pois claro que armaram para você ao lhe acusarem sem mais nem menos de assassinato e também não apresentaram nenhuma prova clara que fora, realmente, você o assassino. Não acredito nisso, fique calmo. Se eu realmente acreditasse, estaria com aqueles hipócritas a sua procura e pronto para a vingança.

– Muito bem, falou muito, mas falou bonito – Xupa já havia escutado aquela parte de que “você é homem influente, suposto assassino” naquele mesmo dia, há poucas horas. Porém ao ouvir a opinião de Ikovan, começara a tomar confiança do mesmo.

– Obrigado, mas tenho mais coisas para falar – havia perdido o fôlego nas palavras anteriores e por isso respirou um pouco para poder prosseguir.

– Tem mais assuntos a tratar comigo? – Indagou, estava interessado, mas não queria demonstrar seu interesse, pois a satisfação de um funcionário pública normalmente não é interessante de se ver.

Podia ser um funcionário público e receber um baixo salário, no entanto seu irmão era rico e por isso junto a ele morava em uma bela mansão. Seu pai, um homem velho com sérios problemas de AIDS e um grande usuário de Cell Darkness, seria aquele chamado de o co-fundador da ABC Works – não que isso seja um título a se orgulhar. Sua mãe já estava morta e apenas sobre isso poderia se lastimar.

– Armaram para você – disse, e logo após respirou fundo como se fosse voltar a falar e dessa vez seria um discurso maior ainda.

Ficou esperando a continuação das palavras do bigodudo e aquilo que seria provavelmente um discurso, mas não saíram mais palavras da boca do bigodudo que se limitou a tossir – sua doença respiratória já estava entrando em ação, e aquele discurso não o ajudou – e quase enfartar. Xupa sentiu-se feliz por não ter que gastar seu ouvido com mais discursos e confuso pela não-continuação do bigodudo.

– Prossiga – disse Xupa, parcialmente feliz e totalmente confuso.

Ikovan voltou a si e abriu a boca, mas preferiu dar um suspiro como se tivesse conseguido zerar, epicamente, um dos games mais difíceis da sua vida e quase morrera pro chefão por seu analógico esquerdo estar quebrado.

– Acho que é só isso mesmo – disse como se estivesse preguiçoso de dizer o restante. – Não, espere, tem mais, e o restante é muito mais importante, entretanto, não estou em condições de continuar.

– E como vai tratar esses assuntos comigo? – Indagou Ikovan.


– Meu pai matou a minha mãe – disse Ikovan, era uma história triste de ser contada e por isso apenas disse o necessário.


O teleporte de dados é uma forma muito interessante de dizer algo a alguém sem que precise procurá-la. No entanto, para isso, é necessário ter o código de barra cerebral do destinatário. Todo o mundo tem código de barra cerebral, até mesmo os macacos ou as tartarugas, entretanto, elas não entenderiam os dados enviados, pois não são seres tão inteligentes assim.

Primeiramente, deve haver o primeiro contato informativo entre o remetente-destinatário sem que haja interferências eletomagnéticas. O primeiro contato informativo seria algo como o destinatário dizer ao remetente algo que seu cérebro considere algo extremamente pessoal. Normalmente é uma memória.

Após esse primeiro contato, fica selada uma linha cérebro-neurológica entre destinatário-remetente. O remetente deve ser aquele que conta a memória, e o destinatário, aquele que a ouve. O remetente do primeiro contato nunca poderá ser o destinatário e versa-vice. A partir daí, o destinatário poderá receber qualquer tipo de informação. Pense que o remetente é o cara que envia o e-mail para seu amigo, no caso o destinatário, a partir de uma rede telefônica. Essa linha cérebro-neurológica é algo parecido.

Depois do primeiro contato, o destinatário pode assim quando quiser acessar os dados mentais do remetente com ou sem a permissão dele. E o remetente, pode, assim quando necessário, enviar informações de sua mente ao destinatário.

– Meu pai matou a minha mãe – Ikovan considerava essa uma memória pessoal e trágica.

A bebida nunca fez bem para o já-velho Mormada Sparrow.

Então, foi feito o primeiro contato entre destinatário-remetente e Ikovan era o destinatário, sendo Xupa, o remetente. Aquilo era algo que Xupa não precisava saber e não vinha no assunto em questão – que era o assunto de que Ikovan tinha assuntos a falar com aquele Imperador Solar de terno branco. Apenas podia dizer “sinto muito”, mas algo o interrompeu.

Um pensamento.

Dois pensamentos.

Três pensamentos.

Quatro pensamento, hum.

Sete pensamentos, hmmmmm.

Nenhum deles era o seu pensamento e por isso acabou estranhando. Aqueles pensamentos contavam sobre um homem caolho e a corrupção na ABC Works, mas eram pensamentos quebrados que acabou pouco servindo.

– Molly está atrás de você – disse Ikovan, com um impacto nobre e espetacular que daria medo em crianças.

– Não sei quem é esse – respondeu Xupa. Sentia-se como tivesse acabado de ter uma epifania.

Antes que Ikovan dissesse algo, pois queria dizer algo e não agüentaria ficar mais tempo por ali sem quebrar o gelo – sim, não tinha como sair dali, pois sua máquina de teleporte matéria-espacial. Estava com vontade de perguntar “onde estamos” e “por que você está aqui”, mas Robin havia o interrompido com ótimas noticias que tiveram a atenção total de Xupa.

– Estamos prontos, vamos indo – disse Robin.

– Ótimo – disse feliz, e limpando a poeira que vinha do vento que estava criando aldeias em seu terno branco.

– Poderiam dar-me uma humilde carona? – Perguntou ao melhor estilo cara-de-pau, já que não conseguiria retornar para sua casa sem ajuda.

Xupa sorriu.

E lá estavam, meus senhores. Finalmente, depois de mais de cinco capítulos consecutivos em um lugar solitário e com o tédio rolando solto, de volta ao planeta Terra. Para Robin, não fora tão tempo assim, pois praticamente há sete horas havia dormido. E, ficaram... Digamos, que umas nove horas por lá.

Já estava de noite, e se era possível tentar deduzir o horário, seria algo como sete da noite quando o sol havia se pondo há uma hora e a escuridão pairava quase totalmente pelas terras de Fantasy. Bem, estavam e Dream On e Ikovan conseguiu se localizar.

– Ah, então é por aqui que você está se escondendo? – Indagou Ikovan.

Não era o lugar mais bonito de se viver, pois havia maconheiros em tudo quanto é lado enquanto o fim-do-dia não fosse tocado. Sete da noite era exatamente à hora em que a orquestra se preparava para tocar, mas naquele dia não era necessário. Desde os primórdios da manhã a presença dos homens de farda negra já dizia “ninguém vai aparecer na rua hoje!” e assim ocorreu. Não havia a necessidade de tocar o fim-do-dia e por isso ele não tocou. Mas ainda era possível ver, caso olhasse para a esquerda, um pontinho preto não tão longe e nem tão perto assim.

– É, estou alojado em um hospital – disse Xupa.

– Muito criativo. Bem, minha casa é um pouco longe e acho que terei de pegar dois ou três ônibus. Ver-nos-emos mais tarde – seguiu pela direita.

– Cuidado com os guardas – advertiu Robin.

– Sou do governo, esqueceu moleque?

– Um traidor do governo – corrigiu Xupa, como se estivesse se gabando ou caçoando do bigodudo.

– HeHeHe, então nossa troca de dados funcionou. Você provavelmente já deve saber o que fazer a partir de agora – disse, e de pouco em pouco foi sumindo ao escurecer da noite.

Xupa não sabia o que devia fazer, mas queria retornar ao hospital e poder dormir. Seus olhos estavam cansados, a clareza daquele sol vermelho – mesmo não sendo muita – era perturbadora e a poeira não ajudou. Queria entrar no hospital, e entrou. A porta foi arrombada por Robin já que era mais das sete horas e o sistema de segurança automaticamente fechava todas as portas depois do fim-do-dia.

Entraram e encontraram uma jovem recepcionista dormindo apoiada no balcão de recepção. Procuraram o andar do quarto e também o arrombaram, erraram o quarto e pediram desculpa a um senhor peludo que estava prestes a fazer o exame de próstata. Mas a porta, continuaria quebrada, não que o médico se importasse, mas o senhor peludo não queria que todos o vissem sendo perfurado pelo dedo penetrador do doutor danado.

– Meus pêsames – disse Xupa antes que fosse reconhecido pelo casal.

Pegaram o elevador, infelizmente perceberam que ele não estava nem subindo nem descendo – ele era programado para desligar-se após as sete da noite – e então decidiram subir as escadas. Subiram, subiram, subiram, cansaram-se e encontraram a sala arrombando a porta que por acaso nem trancada estava. Não era aquela porta. Apenas havia um bando de pacientes reumáticos dormindo e tendo ataques de síndrome do pânico frequentemente por dormirem.


Desceram um pouco mais as escadas, abriram a porta a partir da fechadura e, por fim, encontraram Deck e Frota conversando e anotando papéis enquanto Gepeto falava ao telefone. Eles pareciam estar ocupados demais para notarem o reaparecimento de Robin e Xupa, o que provocou a ira sentimentalista do homem de terno branco em seu coração.

– Olá – disse, foi ignorado e repetiu com a voz um pouco mais alta.

– Ah... Olá... – respondeu Deck.

– Opa, os senhores voltaram – disse Frota. – Por onde estiveram danados?

Adentraram ao recinto e fecharam a porta. Robin notou a ausência de três pessoas a parte. Gepeto ainda falava no telefone, na voz mais baixa possível.

– Ehh... Digamos que estávamos tendo uma grande aventura em noutra dimensão – disse Xupa.

– E por que foram para outra dimensão? – Indagou Deck.

– Nós não fomos porque queríamos moleque – hesitou Robin –, na verdade nem sei como paramos naquela desgraça de lugar. Só sei que quando acordei depois de tomar uma surra daquele samurai já estava lá, junto com o Xupa. Aliás, demoramos porque estava sem energias... E precisei recarregá-las.

– Entendo – disse Frota.

Gepeto ainda estava falando no telefone.

– Foi uma viagem e tanto – Xupa sentou-se em uma maca vazia e esfregou os olhos com força. Era, obviamente, uma ironia.

– Pois é... – Deck sorriu amarelo e logo desfez o sorriso para explicar algumas coisas que Robin já havia notado – Como podem ver... Né, Rick, Falcão e Kalel não estão mais aqui. Só que não sei de nada, estava dormindo e quando acordei, eles já tinham sumido...

– Bem, entendo... Frota sabe de alguma coisa? – Indagou o Imperador Solar, parecia estar apressado. E estava. O sono lhe apressava e a cama convidava Xupa a fazer do sono o seu paraíso.

– Eu vi tudo. Rick, aquele tira com o pescoço quebrado, escapou, mesmo com minhas habilidades e a do Falcão juntas. Balas obviamente não eram problemas para ele, e por isso a metralhadora do jovem piloto não teve efeito algum... Mesmo assim o policial é poderoso, ele pode se tornar um perigoso inimigo nosso – disse Frota. – Eu analisei a situação, digo, Eu e Deck... E todos os policiais praticamente são nossos inimigos. E agora que esse tal de Rick sabe nossa posição, ele sem duvidas vai convidar seus amigos tiras para vir atacar-nos.

– Ah, isso não é só uma hipótese, mas pode ser também uma possibilidade verdadeira... – comentou Deck.

– Bem... E eu presumo que Kalel, sem mais nem menos e ignorando vossas advertências do fator farda negra nas ruas, foi pra boca de fumo comprar mais. Mas e Falcão? Por acaso foi atrás de Rick e não voltou? Morreu? – Foi o mais pessimista possível, até porque não esperava muitas coisas desse subalterno.

– Não, não – negou Frota, inclusive assustando-se com a hipótese de Xupa. – Ele foi treinar.

– Ele não vai conseguir nada com nada treinando tiro ao alvo em casa, pólvora é inútil contra nosso inimigo atual – disse por sua vez Robin.

O olhar de Robin estava estranho. Diferente do normal, e por isso, estranho. Apenas Frota conhecia o jovem Robin o suficiente para conseguir saber que, aquele, era, sim, um olhar de repressão. Não que estivesse sendo reprimido ou oprimido diretamente por alguém, pois realmente não estava. Robin estava sendo subestimado, e essa era a razão do olhar diferente.

Aliás, Gepeto ainda estava no telefone.

– Provavelmente ele vai treinar com a Tia do Pó, golpes como socos e chutes – disse Frota. – Ele vai ter que ralar muito se realmente quiser deixar de ser apenas um simples amador.

– Deck também deveria ralar, fora do banheiro, é claro – caçoou Robin.

Gepeto, aliás, acabara de desligar o telefone e abriu a boca para começar a falar:

– É, e Falcão também se encontrou com Molly...

– Molly? – Indagou um, dois, três e quatro. Frota, Xupa, Deck e Robin.

– Sim senhores, Molly, é isso que o jovem Falcão diz, é claro, mas não garanto nada caso isso realmente for mentira ou não. Ao que parece encontrou-se com Molly durante seu caminho para casa, e foi praticamente chantageado para aceitar uma oferta que daria a nossa facção um prazo de duas semanas até que nos confrontássemos. Não marcou hora nem lugar, mas a data os senhores já sabem.

– Isso é serio? – Perguntou Frota.

– Não sei, mas Falcão diz que sim...

Robin viu ali uma oportunidade, enfim, A oportunidade. A subestimação que lhe perseguira nos tempos de WRK United, o trauma que tinha de ser subestimado, queria vencê-lo. E mais, queria mostrar para o seu patrão sua real força, já que estava com cem por cento de força.

– Vou mostrar para ele quem tem que se preparar para o confronto – sorriu.

Queria parecer legal e, por isso, logo após das palavras acima, desapareceu. Os outros ficaram boquiabertos, é claro.

O que Robin fez não foi muito legal para Xupa. Iria perder um de seus poucos subordinados que não eram simples poeira – por outro lado, Robin era lixo... entre aspas. Contudo não estava preocupado com a imprudência do jovem.

– Alguém comprou o jornal? Esqueci-me de ver, ao acordar – o que era hábito –, meu horóscopo.


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