E se Eu não Tivesse Me Atrasado pra Formatura? escrita por Tati


Capítulo 35
Que a justiça seja feita!




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Ele acordou naquela manhã e se encontrou no mesmo lugar em que passou os últimos... Quanto tempo exatamente se passou? Ele não saberia dizer. Não tinha relógio, calendário, janela... nada. Ele queria se levantar de sua cama de concreto mas, novamente, aquela pergunta que ele se fazia todos os dias voltava para assombrá-lo: Por quê? De que valeria a pena se levantar e dar não mais do que sete ou oito passos até chegar à grade de sua cela? Ficar preso era, a cada dia, uma coisa mais assustadora do que no dia anterior, mas a pior parte de tudo era ser inocente quanto a um crime do qual estava sendo acusado.

A única coisa que ele passava o dia todo fazendo era contemplar aquele teto escuro e esperar. Esperar um tempo incontável por um julgamento que parecia jamais vir. Um julgamento que poderia livrá-lo daquele lugar ou condená-lo a anos de uma punição injusta por um crime que não havia cometido. Havia momentos em que ele parava de pensar nisso e sua mente se voltava para o que lhe era mais desesperador naquele momento: O que pode ter acontecido com Matt? E com Alex? Ele não conseguia parar de pensar em como aquele garoto, que ele acreditara ser seu filho, estava passando agora. O que havia lhe acontecido agora que morava com seus pais de verdade. Ele sabia que Chuck e Amanda jamais tratariam aquele garoto da maneira que ele tratava e lembrar-se de que ele nunca mais veria aqueles olhos esverdeados e colocá-lo para dormir novamente o incomodava. E Alex... Fazia muito tempo desde a última vez em que ele havia ouvido falar nela. Ele tinha o direito de receber visitas todas às sextas-feiras, das 13hs até às 13hs30mins, mas parecia fazer muito tempo desde a última vez em que alguém foi visitá-lo. Da última vez em que ele ouviu falar da Alex, ela ainda não havia acordado e ele estava preocupado, perguntando-se se ela havia resistido ou não, mesmo assim, a certeza jamais viria já que ele nunca mais conversou com ninguém nem sobre ela e nem sobre mais nada. E era tudo isso o que estava fazendo com que sua "estada" na cadeia fosse ainda pior. Não saber o que estava acontecendo do lado de fora daquelas paredes escuras era pior do que não saber que horas eram, não saber a quanto tempo estava preso, não ter ninguém com quem conversar e até mesmo do que ter sido esquecido por todos.

Isso mesmo, esquecido. Era assim que ele se sentia. Ele não tinha nenhum companheiro de cela, o máximo que ele teve de contato humano nos últimos tempos era ver alguns policiais passando para buscar prisioneiros das outras celas para verem seus amigos e parentes, mas já haviam se passado três semanas desde que alguém veio buscá-lo pela última vez para ver os amigos na sala de visita. Três sextas-feiras desde a última vez em que viu alguém conhecido. Três semanas desde que alguém se importou em ir vê-lo. E, depois de passar tanto tempo assim trancafiado em uma cela escura, três semanas podem durar mais do que um ano para uma pessoa em liberdade.

Ele não conseguia dormir à noite, não sentia mais sono depois de tanto tempo deitado lá, sem nada para fazer, ou caminhando por seu pequeno cubículo. Ele não queria mais comer daquela comida estragada, mas estava começando a se acostumar com seu gosto. A comida não precisava mais ter um gosto agradável, só precisava acabar com a fome. Ele não conseguia se lembrar mais de como era a vida fora daquele lugar, com a luz do Sol tocando seu rosto, um filho para criar e a mulher que ele amava ao seu lado. A única coisa que ele tinha como vida por um bom tempo era aquele quarto pequeno em que ele havia passado cada segundo desde o momento em que foi preso.

Além de tudo isso, sua mente não lhe dava descanso. A única coisa que ele passava o dia todo fazendo era pensar. Era a única coisa que não tinham conseguido tirar dele. Pensar na Alex, no Matt, em sua vida antes da cadeia, nos amigos que perdeu e em como... em como se culpava pelo momento em que ele estupidamente havia tocado aquela arma. Se ele soubesse que aquele ato instintivo mudaria tanto assim a sua vida, ele não ousaria olhar para aquela arma. Tudo mudou desde aquele momento e ele sabia que, provavelmente, sua vida nunca mais iria voltar a ser o que era.

"Bouvier!" ele ouviu um policial chamando e destrancando sua cela "Aproxime-se."

Rapidamente, ele saiu de sua "cama" e se aproximou do policial. Era a primeira vez em semanas que alguém lhe permitia que saísse da cela. Ele não sabia quanto tempo havia se passado desde a última sexta-feira mas, considerando a última vez em que se lembrava de ter visto um prisioneiro saindo para ver os parentes, ele sabia que não havia se passado uma semana, então não poderia ser dia de visita. Foi isso que não o permitiu entender o que estava acontecendo, mas não resistiu quanto a sair dali.

Depois de chegar ao policial, ofereceu suas mãos às algemas, mas o policial não as colocou. Ao invés disso, ele abaixou-lhe as mãos e pediu-lhe para segui-lo. Porém, ele não foi levado à sala de visitas, mas sim, ao escritório do policial, onde viu Seb, Jeff e David esperando por eles depois de três semanas ou mais sem se verem. Aquela era, também, a primeira vez em que lhe permitiam ver mais de uma pessoa por vez.

"Bouvier, sente-se." Ordenou o policial

"Certo..." ele concordou confuso e sentando-se "O que aconteceu?"

"Bom, Pierre, eu acho que você deve ter percebido que fazem três semanas desde a última vez em que viemos, então... antes de dizer o que está acontecendo, queríamos explicar o que aconteceu durante essas semanas." Pediu Jeff 

"Tudo bem, podem falar."

"Bom, Pierre, três semanas atrás a Amanda decidiu trazer o Matt de volta para você. Ela não queria mais que o Chuck continuasse perto deles. Ela disse que estava arrependida do que fez e que queria viver sua vida em paz daquele momento em diante. Ela ia voltar a morar com os pais e tentar seguir o sonho dela antes de tentar sair de casa e reconstruir sua vida sentimental de novo e iria te devolver a custódia do Matt, mas o Chuck descobriu o plano dela antes que de ela conseguir deixar Nova York. Quando ela chegou ao aeroporto, ele atirou nela e ela foi removida para o hospital o mais rápido possível. Chuck foi preso naquela noite. O Matt me telefonou algumas horas mais tarde e pediu-me para que fosse até lá. A Amanda estava me chamando. Eu cheguei em Nova York na manhã seguinte e segui diretamente para o hospital. Foi então que ela me disse que não ia sobreviver muito tempo, então ela me deu os papéis da adoção do Matt e pediu-me para os assinar para que ela pudesse descansar em paz sabendo que ele não iria para uma casa de adoção. Depois, ela me pediu para que chamasse alguns policiais pois ela queria confessar que sabia quem tentou matar Alex. Eu tentei fazer com que ela conversasse com alguns policiais naquela mesma tarde, mas, antes que ela conseguisse, ela faleceu."

"A Amanda o quê?!" ele perguntou surpreso

"Sentimos muito, mas foi isso o que aconteceu." Disse David "A Amanda se foi."

"Eu nunca pensei que ela fosse... Minha nossa..." ele sussurrou para si mesmo, tentando conter as lágrimas que segurava "Se o Chuck atirou na Amanda e a Amanda sabia quem tentou matar a Alex... então o Chuck realmente..."

"É, foi mesmo o Chuck quem tentou matar a Alex." disse Seb

"Eu não consigo acreditar nisso..."

"Infelizmente, é verdade." Disse David "Ele foi preso acusado de homicídio doloso contra a Amanda, ameaça contra menor, ameaça contra autoridades e tentativa de suborno."

"Nossa!" foi o máximo que Pierre conseguiu dizer, impressionado em ver no que seu melhor amigo havia se transformado "Mas isso não explica porque vocês passaram três semanas longe e o que estão fazendo aqui."

"A Amanda morreu naquele momento porque passou por uma emoção muito forte e essa emoção foi escrever uma carta para você." Disse Jeff "Ficamos com a carta e vamos entregá-la a você daqui a pouco. Ela pede pelo seu perdão na carta. Sabemos que é uma carta particular, mas a polícia quis lê-la já que a carta era uma evidência, e foi nessa carta que ela denunciou Chuck. Mesmo assim, aquilo não foi o suficiente para conseguir a sua liberdade. Eles quiseram ficar com a carta por mais algum tempo para tentar achar mais evidências. Depois disso, o Matt disse que queria ficar mais um pouco em Nova York porque o aniversário de Amanda seria em uma semana e ele queria deixar uma última flor no túmulo dela. Também pediu para que eu chamasse Seb e David para ficarem com a gente durante aquela semana. Depois daquela semana, só conseguimos comprar passagens de volta para Montreal em outra semana."

"Até aí foram duas semanas..."

"Tentamos te visitar na próxima semana, mas então o problema foi a Alex." disse David

"O que aconteceu com ela?"

"Bom, estávamos saindo do hospital para vir te visitar mas foi aí que nos disseram que a Alex estava sofrendo algumas alterações rápidas em seu quadro clínico." Ele respondeu "Não poderíamos deixá-la sozinha sabendo como ela estava então ficamos no hospital até o momento em que ela se estabilizou de novo, mas já havia passado muito tempo desde o fim do seu horário de visitas quando isso aconteceu. Foi naquele dia que ela acordou."

"Então ela finalmente acordou?" ele perguntou sorrindo

"Sim." Respondeu Seb "Não só isso, mas ela quis dar seu testemunho à polícia assim que soube que você foi preso, então os chamamos algumas horas depois de ela ter acordado. Ela também denunciou Chuck. Depois, contatamos a polícia de Nova York e eles decidiram investigar um pouco mais a fundo o caso. Fizeram questionamentos com o Chuck e, quando pressionado, ele acabou confessando e está agora esperando por seu julgamento."

"Então... se é o Chuck quem está respondendo por esse crime agora... isso quer dizer que eu..."

"Que foi considerado inocente antes mesmo do julgamento e que está livre para voltar a sua vida normal com sua ficha policial limpa." Disse-lhe o policial

"Finalmente!" ele comemorou sorrindo "E como estão Matt e Alex?"

"Alex ainda está no hospital. Eles finalmente descobriram o que aconteceu com ela, mas ela pediu aos médicos não nos dissessem nada. Ela quer conversar com você primeiro." Disse Jeff

"Pelo menos ela quer conversar com alguém a respeito disso e dizer a verdade sobre o que ela está sentindo." Ele respondeu "E o Matt?"

"Depois que a Alex acordou e descobriu que eu o adotei para evitar que ele fosse parar em uma casa de adoção e que ele ainda precisava de um casal que quisesse adotá-lo, ela decidiu adotar o seu filho. Legalmente, agora ela é mãe dele. Eu estou cuidando dele na minha casa mas, depois que a Alex o adotou, eu desisti da custódia dele para que ficasse mais simples para que você o adotasse quando saísse daqui. As papeladas estão na minha casa. Só precisa assinar tudo e, legalmente, ele vai ser seu, assim como a Amanda queria e eu prometi."

"Não acredito nisso..." ele disse sorrindo "Eu sempre quis que o Matt fosse meu e da Alex... agora ele é..."

Não levaram mais do que alguns minutos depois daquilo para saírem daquele lugar. Ele mal podia acreditar que estava livre. A única coisa que ele queria naquele momento era ver Matt e Alex o mais rápido possível mas, ainda assim, antes buscar seu garoto de estatura média, ele decidiu passar em sua casa primeiro para buscar algo.

Dali, foram diretamente para a casa de Jeff, que não ficava muito longe. Chegaram em menos de dez minutos e Jeff foi ao quarto de Matt para encontrá-lo ainda dormindo como um anjinho. Porém, Matt aprenderia logo que quando seu pai é alguém que passou mais de um mês na cadeia, você não dorme a não ser que ele queira...

"Matt! Matt, acorda!" chamou Jeff

"Mais tarde!"

"Você tem visita."

"Diz para ele ou ela voltar mais tarde."

"Tudo bem." concordou "Pierre, o Matt não quer te ver agora então... vai embora!" ele gritou de dentro do quarto do menino

"Tudo bem, então. Talvez eu dê uma passada mais tarde." Ele ouviu Pierre respondendo da sala

"Pai!" ele gritou saltando da cama e desceu as escadas correndo, indo ao lugar onde ouviu sua voz, foi então que o abraçou o mais forte que podia enquanto chorava "Papai! Papai, eu senti tanto a sua falta!"

"Eu também senti a sua, Matt." Ele respondeu se ajoelhando e mostrando-lhe o que trazia nas mãos "Está vendo? Eu disse que ia trazer ele de volta. Pega."

"Homem aranha!" ele comemorou abraçando seu boneco "Isso quer dizer que..."

"Sim, nós vamos voltar a morar juntos. Você vai voltar com o papai e vai vir para ficar. Ninguém nunca mais vai te tirar de mim. Eu assinei os papéis da sua adoção e a Alex também. De acordo com a lei, Alex e eu somos seus pais."

"Sério?" ele perguntou animado e abraçou-o ainda mais firme "Eu quero ver a Alex. Quando vamos visitá-la? Eu estou com saudades dela."

"Eu também. Vamos para lá em alguns minutos, mas faça as suas malas primeiro para que possamos voltar para casa." Ele respondeu "Seu quarto ainda está exatamente como da última vez que você o viu, não tive coragem de mexer em nada. Isso quer dizer que ele ainda está de ponta cabeça com brinquedos até no teto."

"Quer dizer que você não quer que eu arrume para que você sempre se lembre de mim?"

"Não. Quer dizer que agora você vai ter que arrumar o seu quarto."

"Não gostei."

Mesmo assim, ele não pensou duas vezes no que iria fazer naquele momento. Ele correu ao seu quarto e começou a arrumar suas malas o mais rápido possível com a ajuda de seu pai. Mesmo assim, nenhum dos dois queria se demorar muito em arrumar uma mala que seria desfeita em dez minutos e nem perder tempo antes de voltar para casa. Então, simplesmente abriram as malas e jogaram tudo dentro delas, sem se preocupar em não amassar roupas e quebrar outros objetos. Só queriam voltar para casa o mais rápido possível e iniciar a família que tanto sonhavam em formar o mais rápido possível. Matt finalmente tinha os pais que queria, assim como Pierre tinha recuperado sua liberdade, sua namorada e seu filho. Suas vidas pareciam estar finalmente começando a entrar nos eixos.

Em menos de cinco minutos, tudo estava dentro das malas e eles estavam prontos para começar a viver suas novas vidas.


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