Zóiudo estava empoleirado nos galhos da arvore, se balançando e me olhando como se me encarar mudaria o fato de ter me roubado e me dado uma baita dor de cabeça. Mas eu não tinha certeza se podia culpa-lo por ter um instinto tão “Hermes”, afinal, o símbolo que esse macaco tinha nas costas o denunciava explicitamente.

Eu nunca ouvira ninguém dizer nada sobre esses animais, mas se tem uma coisa que eu tinha certeza era que outros deuses também possuíam animais mágicos ou com muita benção. Agora tudo o que eu precisava era encontrar uma maneira de manter esse macaco afastado a tempo suficiente para tirar as alianças de dentro da água e dar no pé antes que ele perceba.

Não pensei duas vezes antes de pular dentro do lago. Minhas roupas estavam tão sujas que molha-las não me importava, mergulhei e desci para a parte mais baixa e escura do lago, com as carpas nadando de um lado para o outro, desviando de mim quando precisavam.

Na parte inferior, a que tocava o chão,era repleta de encanamentos para facilitar a limpeza e enviar água para os irrigadores da praça. Preso a eles estava à caixinha de veludo, que já estava suja por causa da água e das patas de Zóiudo. Peguei a caixinha com cuidado e subi para a superfície.

Quando subi me deparei com muitos outros macacos pendurados na arvore. Eles se balançavam e se chutavam para fora dela, outros catavam piolhos e os comiam, alguns apenas se encaravam e travavam uma batalha por lugar nos galhos.

–Como...?- Me arrastei para fora e procurei por minha espada, que estava servindo como coçador de costas por um dos macacos- Mas o que estão fazendo aqui?

Por um momento eles pararam de brigar e pularam de cima da copa, saltitaram e se espalharam pela praça, fazendo uma dança engraçada.

–Vou inscrever vocês no Se ela dança eu danço- Ri

Um dos macacos gritou e apontou para um monto nas minhas costas, e todos juntos gritaram em uníssono.

Se antes já era perturbador estar perto de um único macaco, um bando deles era ainda pior. E um bando deles pulando feito loucos e gritando era de arrancar os cabelos.

Uma forte rajada de vento balançou as copas das arvores, tirou as folhas do chão e bagunçou ainda mais meus cabelos. Olhei para trás cobrindo os olhos por causa do vento, algumas pessoas correram em direção á lojas, as que estavam dirigindo aceleraram e subiram a rua á toda velocidade, fugindo de um grande gorila azul de mais ou menos dois metros de altura- Que para eles deveria ser alguma outra coisa tão assustadora quanto.

Os macacos correram de volta para as arvores e se encolheram, sabiamente com medo de serem pisoteados pelo pé peludo e mal cheiroso do gorila que se aproximava. Fiquei tentado a me juntar á eles.

Contracorrente já estava em minhas mãos, senti o impulso da água sobre meus pés e mãos. Deixei com que ele se aproximasse, seus passos eram largos e pesados, seus olhos pequenos e maldosos. Seu pelo era azul bebê, com duas cobras cobrindo seu peito e se juntando á um cajado em suas costas.

–muahahaha-há- urrou ele tão alto que fez o chão tremer

King Kong se aproximou, ele já estava na calçada quando decidi fazer alguma coisa. Os irrigadores ligaram e fiz uma parede de água em minha frente. Com a água do lago fiz um rodamoinho e o mandei em direção ao gorila, que o acertou de punhos fechados. Golpeou a parede a chutou o rodamoinho, acertando os peixes e espirrando água para os lados.

O gorila era duas vezes o tamanho de um ônibus visto de perto, tentei acerta-lo com o rodamoinho mais uma vez. Os irrigadores pararam, certamente porque tirei toda a água do lago. Agora eu estava com um enorme cone giratório nas mãos, brigando com o rei macaco, e sem nenhuma proteção.

Ele urrou, bateu as mãos no chão fazendo o tremer mais uma vez. Vacilei para o lado, o rodamoinho cessou.

Olhei envolta, os macacos continuavam escondidos assistindo e as ruas estavam desertas. Os fios de eletricidade ao redor da praça estavam pendendo, os postes perto o suficiente do chão para causar um holocausto.

– Chegue mais perto!- Chamei

O gorila urrou, esperei que ele chegasse mais perto e lancei água sobre os fios soltos que faiscaram e eletrizaram todo o poste. As lâmpadas estouraram e os estilhaços despencaram do alto, atingindo o gorila na cabeça.

King Kong caiu no chão, seu pelo ficou preto por causa do choque. Ele ergueu a cabeça e me encarou com raiva. Ele se levantou com dificuldade, joguei mais água sobre ele, que urrou e bateu os punhos nos postes destruídos e nos jardins laterais que contornavam a praça.

– Parece que a prefeitura de Nova York terá um grande trabalho a fazer

Enquanto fala para distrair o gorila, pensei em alguma maneira de me aproximar e manter uma distância segura para atingi-lo com contracorrente. Esperei que ele chegasse mais perto. Quando ele estava á um metro de distância urrou novamente, fechou seus punhos e os ergueu para o alto, rolei por de baixo de suas pernas antes de suas mãos acertarem o chão bem no local onde eu estava. Agora que estava na vantagem chutei seu traseiro peludo para frente. Ele cambaleou e caiu de joelhos.

Provavelmente eu estava sendo assistido pelos deuses, então me exibir um pouco não faria mal.

A água do lago ornamental não ajudaria mais, já que usei toda ela para causar o pane na fiação elétrica- Que agora deixara metade da cidade sem energia- então tive que me contentar com minha espada de bronze celestial.

– Levante!- desafiei

Eu não tinha certeza do que estava fazendo, mas eu sabia que se deixasse aquele macaco pensando que era mais forte do que eu, ele teria no que se apoiar.

Depois de anos frequentando o acampamento e saindo em missões, aprendi que se você começa na vantagem e com confiança, as coisas começam a se sair melhores. Seus movimentos se tornam mais rápidos, seus passos antecipados e precisos, cada golpe se torna certeiro e seus oponentes mais fracos. Se eu quisesse despistar o gorila e seu bando de macacos, eu teria que mostrar que eu era mais forte e mais esperto.

King Kong se levantou apoiando em seus joelhos. Olhou por cima do ombro para mim, que sustentei seu olhar.

–Com medo?- girei Contracorrente nas mãos.

O gorila sorriu de lado como se dissesse “ Dá brincando?!”. Ele mergulhou para um salto, seu corpo quase caiu em cima de mim que por sorte consegui me jogar para o lado. O gorila chutou o ar e bateu com o braço esticado onde um momento antes estivera minha cabeça.

Me levantei com o coração disparado por causa do susto. King Kong rolou para o lado e tentou me acertar com os pés, me arrastei para o outro lado e o acertei. O gorila se virou de bruços e eu o golpeei pelas costas, cravando-a bem no centro. Ele se desfez em pó.