Money Make Her Smile escrita por Clarawr


Capítulo 41
Please, don't try so hard to say goodbye


Notas iniciais do capítulo

OLÁÁÁÁ Á Á Á ÁÁÁÁ Á Á
Até que demorei pouco dessa vez, não é, queridos? Bom, eu me esforcei. Eu disse no twitter (@ifimoonshine) que esse capítulo não ia passar de segunda feira, e eu queria de verdade ter postado mais cedo, mas hoje foi meu primeiro dia na faculdade (uhullll) (vcs lembram que quando eu comecei essa fic eu tava começando o SEGUNDO ANO DO ENSINO MÉDIO??) (pois é, o tempo voa) (Curiosidade inútil: vocês sabiam que eu vou estudar na UFRJ, e terei algumas aulas justamente no PRÉDIO DE BIOLOGIA lá no fundão, onde o nosso herói Odair passa a maior parte do tempo? Quem diria, né? Só queria que fosse possível encontrá-lo por lá).
Esse não foi um capítulo nada fácil de ser escrito, então eu demorei até arranjar forças para começar, e eu ficava o tempo todo me interrompendo e me distraindo, porque realmente não queria escrever o que vai acontecer aqui. Não quero dar muito bandeira já nas notas iniciais, então dessa vez vou falar bem pouco, até mesmo porque não tenho muito a falar mesmo. Espero vocês nas finais.
Música do título: She Will Be Loved - Maroon 5 (o coração de vocês também dá uma quebradinha só de ouvir o NOME dessa música??? pq o meu dá) e a do capítulo ficou por conta da Avril Lavigne, com When You're Gone.



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"When you walk away, I count the steps that you take
Do you see how much I need you right now?
When you're gone
The pieces of my heart are missing you
When you're gone
The face I came to know is missing too
When you're gone
The words I need to hear to always get me through the day
And make it ok
I miss you"

 

— Cara, o que está acontecendo? – Peeta perguntou, a voz alarmada diante dos olhos vermelhos e do nariz inchado de Finnick. – Você está chorando, Finnick? – Peeta insistiu, a voz um tanto próxima do desespero, porque se tinha algo que não acontecia com frequência, esse algo era Finnick ser flagrado chorando sozinho em casa.

Finnick sacudiu a cabeça, tonto por dentro. Nada parecia fazer sentido e ele se sentia estranhamente deslocado da própria realidade, como se tivesse se descolado de si mesmo.

Ele abriu a boca para tentar começar a explicar, mas não foi capaz de produzir som algum. O que falar? Como explicar?

Ele chegara em casa fazia mais ou menos uma hora, e veio o caminho todo se segurando para não chorar ou se atirar embaixo de um ônibus. Ele se sentia surpreendentemente disposto a fazer ambos. Assim que colocou os pés no apartamento, se atirou no sofá da sala – sem forças para chegar até o quarto – e deixou que tudo pelo que ele vinha passando o esmagasse. Toda a raiva, a injustiça, a impotência que vinham sendo seus principais companheiros recentemente se misturaram e o soterraram como uma avalanche, e a única coisa que ele se sentia capaz de fazer era se manter sentado ali chorando enquanto via sua vida terminar de ruir bem a sua frente.

Tentou rememorar os acontecimentos recentes para poder formular alguma resposta a pergunta de Peeta.

Depois de ficar encarando Coin com a boca aberta como a de um peixe por cerca de um minuto inteiro, ele percebeu que ela não daria maiores explicações sobre a ordem que acabara de dar a não ser que ele perguntasse.

“Eu quero que você termine com a Annie, Finnick.”

Será que ele tinha mesmo ouvido aquilo ou o estresse estava deteriorando também sua sanidade mental?

— Quê? – Ele foi capaz de balbuciar, enquanto sua cabeça se esvaziava pelo choque e seu coração se acelerava com o pavor que as palavras carregavam.

— Eu quero que você termine com a Annie. – Ela repetiu, destacando cada palavra com uma precisão que beirava à psicopatia. – Eu preciso que você faça esse sacrifício agora, pelos planos futuros que eu tenho para você.

Ele franziu o cenho, os olhos ainda desfocados, a boca ainda aberta, mas a dor já começava a dar as caras no tom de voz.

— Que? – Ele repetiu, a voz agora fraca, como se falar lhe fosse um esforço tremendo. Seus olhos não demonstravam raiva, nem mesmo ódio, só um absoluto vazio que aos poucos ia sendo preenchido por uma tristeza dolorosa até de ver, quanto mais de sentir. – Do que... Por que... – Ele gaguejou, a voz cansada, a vulnerabilidade transparecendo. Porque o golpe tinha sido forte demais até para que ele reagisse com a agressividade que costumava reagir. – Coin, pelo amor de Deus. – Ele sacudiu a cabeça. – Isso não.

Ela pareceu ser pega de surpresa pela reação dele. Não estava acostumada a vê-lo se entregar.

— Eu não queria fazer isso, juro. – Ela começou, e parecia absolutamente sincera, os olhos acinzentados sem nenhum vestígio de diversão ou da costumeira ironia da qual ela adorava abusar sempre que tinha a oportunidade. – Mas preciso disso agora. Suas chances de ser contratado por até mais de uma marca vão subir muito.

— Eu não quero saber! – Ele exclamou, mas não estava exatamente explodindo de raiva, porque ainda estava chocado demais para que a fúria gerasse uma reação mais violenta. A voz era mais exasperada do que qualquer outra coisa. – Eu faço qualquer coisa. Eu fotografo para qualquer outra marca, com qualquer outra mulher. Eu fotografo pelado se você quiser. Mas não tira ela de mim. – Ele pediu, a voz falhando no final da frase.

Coin o encarou gravemente.

— Sei que estou pedindo demais, mas não posso e não vou abrir mão de você, Finnick.

— Eu não vou fazer isso. – Ele disse, os olhos fora de foco, a cabeça virando inquieta de um lado para o outro. Ele parecia a beira de um ataque. – Não vou. Você faz o que quiser com a Cherry, eu vou voltar para a Annie agora e contar que foi você que espantou os investidores, e que você vai fazer de novo. Mas eu não vou fazer isso.

— E como você pretende provar que fui eu?

— Eu não preciso disso. Ela vai acreditar em mim.

— E como você acha que ela vai se recuperar do tombo depois que eu acabar com a lojinha dela e da mãe dela?

— Eu não sei. Eu só não posso deixa-la. – Ele repetiu, o olhar tresloucado o fazendo parecer completamente insano. Finnick se sentia escorregando para um abismo perigoso, como se fosse realmente capaz de enlouquecer se não se disciplinasse com muito cuidado para não perder a cabeça ali, diante de Coin. Porque se deixasse que aquilo o esmagasse naquele instante, sabia que demoraria muito, muito mais para voltar aos eixos.

É como um sábio disse certa vez: “É melhor não ceder a isso. É dez vezes mais demorado se recuperar da crise do que entrar nela.”.

— Mas você vai. – Coin endureceu o tom de voz, sua paciência se esgotando para pieguices. – Você sabe o que vai acontecer se não for. Está disposto a pagar o preço? Talvez ela mesma termine com você depois de descobrir que você foi o responsável pela destruição de tudo que ela preza.

O olhar de Finnick vacilou, sendo preenchido pela costumeira sensação de encurralamento sempre que ele pensava em descumprir qualquer ordem vinda de Coin, sempre que ele se lembrava que não tinha para onde correr.

Mas tinha que haver um jeito. Dessa vez, ele precisaria fritar os miolos para achar um jeito de passar Coin para trás, porque obedecer a esse pedido cruel simplesmente seria demais para Finnick. Ele não tinha ideia do que poderia acontecer consigo mesmo se perdesse Annie de novo.

— Eu vou te dar uns dias. – Coin apaziguou os ânimos, o tom conciliador. – Uma semana. Sei que vai ser difícil, mas se vocês se amam de verdade, ela vai entender isso.

Ótimo. Agora ele estava sendo consolado por sua carrasca. Foi nesse exato instante que a ideia de se jogar embaixo de um ônibus surgiu em sua cabeça pela primeira vez, e não o abandonou até o presente momento, em que ele encarava aturdido o olhar assustado de Peeta diante de sua cara vermelha.

— E eu acho bom você não tentar me enganar. – Ela avisou, como se pudesse ler seus pensamentos. – Esse é um passo grande, e eu vou garantir que você o dê exatamente como eu estou mandando. Se você tentar qualquer gracinha, Finnick, eu vou acabar com todos vocês. — A ameaça saiu como o sibilar de uma serpente, e apesar de não ser nova, Finnick sentiu que ela tinha planos mais requintados caso ele descumprisse essa ordem específica. – E eu vou tomar meus cuidados para garantir que você vai fazer tudo exatamente como eu falei, e se você tentar me passar a perna, eu vou saber.

Ele se sentia incapaz de falar, então só ficou parado, encarando Coin com aqueles olhos desesperados com a perda antecipada.

Finnick não se lembrava exatamente do curso dos acontecimentos depois dessa última ameaça, nem tinha muita certeza de como chegara em casa se sua cabeça estava a quilômetros de distância de cumprir seu papel e dar a direção correta para seus pés. Tropeçando pelos cantos, ele foi capaz de recusar a carona de Coin e se enfiar em um ônibus qualquer e chegar em casa, quando finalmente desabou no sofá sem saber se algum dia conseguiria levantar dali.

— Eu... – Ele gaguejou, a voz horrorosa, rouca, por um fio. Ele pigarreou. – Eu não sei. – Ele respondeu, simplesmente.

Peeta franziu o cenho, as sobrancelhas se contraindo, deixando claro que a resposta não serviu para esclarecer nada. Depois de alguns segundos de silêncio em que ele esperava que o amigo desenvolvesse melhor o assunto, ele percebeu que Finnick não parecia disposto a explicar exatamente porque estava transtornado daquele jeito.

— Finnick? – Ele chamou o amigo mais uma vez, quando percebeu que uma nova lágrima marejava os olhos verdes.

— Eu vou perder a Annie. – Ele soluçou, os olhos perdidos olhando fixamente para o rosto de Peeta sem ver nada de verdade.

Peeta contraiu ainda mais a expressão.

— Não vai me dizer que ela aprontou de no... – Ele começou, já prestes a se levantar com o ultraje.

— Não. – Finnick o interrompeu energicamente, os olhos voltando ao foco e parecendo enxergar Peeta pela primeira vez, apesar de eles já estarem conversando (ou pelo menos, Peeta estava tentando) há um tempo. – Não, não, não. – Ele negou repetidamente. – Eu vou terminar com ela.

Peeta quase teve cãibra nos músculos da face de tanto franzir o cenho naquele dia. E a cada resposta de Finnick que mais confundia do que explicava, a contração era mais forte. Dessa vez, foi acompanhada e um queixo caído, porque apertar as sobrancelhas até quase uni-las na testa não parecia suficiente para expressar sua confusão.

— Por quê? – Ele perguntou, a voz com uma nota aguda no final por conta da surpresa.

Finnick emudeceu, e os olhos voltaram ficar pesados, a mais primitiva forma de dor nublando seu olhar. Porque era assim que ele se sentia, perder Annie era como uma dor primitiva e física, dor da fome, da sede, da falta de oxigênio, qualquer uma dessas coisas essenciais à vida.

— Finnick, por que você vai terminar com a Annie? – Peeta repetiu a pergunta pausadamente, esperando que o amigo ainda pudesse ouvi-lo.

A verdade subiu e se entalou pela garganta de Finnick, mas a necessidade de guardar o segredo o freou de vomitar toda a verdade em Peeta. 

— Porque eu preciso. – Ele respondeu simplesmente.

— Meu Deus, Finnick, fala comigo. – Peeta pediu, exasperado, mas a preocupação se sobrepujava à irritação por Finnick estar dando as informações tão precariamente. – Você está com algum problema e por isso vai ter que terminar com a Annie? É isso?

Finncik assentiu fracamente.

— Ah, cara, para de falar merda. – Peeta relaxou, ainda sem entender a magnitude da situação do amigo e agora levemente mais convencido de que aquilo não passava do drama que Finnick costumava adotar quando ia a extremos do romantismo. Ele dizia que não, mas Peeta sempre teve a impressão que ele adorava transformar a vida em algo onde ele pudesse bancar o herói.

E Peeta não sabia, mas, naquele momento, era exatamente isso que ele estava fazendo. 

— Para com isso. – Peeta falou, a voz agora livre da preocupação. – Seja qual for o problema, você não precisa terminar com ela para resolver.

— Essa é a única maneira de resolver. – Finnick sentenciou, a voz assustadoramente vazia.

— Finnick, você não se meteu em merda com mulher, não, né? – Peeta perguntou, a preocupação voltando. – Isso é coisa minha, eu é que arranjo esse tipo de problema.

— Não. – Ele disse, embora não fosse bem verdade. Finnick tinha, sim, um problema com uma mulher, mas não era do jeito que Peeta estava pensando.

A suposição ridícula de Peeta chegava a ser engraçada, e Finnick riria se não se sentisse como um túmulo por dentro. Ele não riu, mas a conjectura do amigo serviu para trazê-lo um pouco mais para perto da realidade, e a sensação de desconexão com o mundo deu uma trégua. Por um segundo, Finnick foi capaz de se lembrar de quem ele era, de onde estava; a consciência de seu corpo voltou e ele não se sentia mais tão sem chão. De repente, a gravidade voltou a fazer efeito sobre ele e o fio que o conectava a si mesmo se reestabeleceu, prendendo-o de volta.

— Deixa para lá, Peeta. – Ele pediu, levantando-se subitamente. – Você tem razão. Eu só estava surtando por bobagem. – Ele disse, como um robô, porque era o que precisava dizer naquele momento.

E caminhou até o quarto, disposto a fazer na cama o mesmo que fez no sofá; deitar e esperar a morte vir busca-lo. 

~~

Ele esperou até o prazo final para fazer o que tinha que fazer, porque tinha esperança de ter uma luz que o tirasse daquela tortura antes de ter que finalmente chutar o banquinho e sentir a corda apertar seu pescoço. Era aquela questão que você simplesmente fica encarando até o final da prova, na esperança de se lembrar da fórmula a tempo, porque um segundo é tudo que você precisa para ter um insight. Mas, assim como na prova, o insight nunca vem.

Ele pensou em se rebelar e contar tudo para Annie. Pensou em simplesmente contar a verdade a ela e eles armarem um esquema para forjar o término, pensou todas as coisas que você, leitor, também pensou para salvar o relacionamento desses dois. O que a gente sempre pensa quando um personagem cede a uma chantagem; sempre há um jeito quando você está de fora.

Mas, na hora H, você amarela. Porque quando aquilo que você mais preza está sendo ameaçado, você não tem coragem de pisar fora da faixa. Finnick não teve. Ele preferiu lidar sozinho com toda a dor que aquilo infligiria para proteger Annie. Porque magoá-la e acabar com tudo que os dois construíram até ali era a única forma de mantê-la segura, pelo menos por enquanto. Ele não tinha desistido da ideia de se vingar e reconquistar sua vida de volta, mas naquele momento ele não podia se dar a esse luxo. Ele precisava agradar Coin, porque como o diabo que ela bem era, ela saberia se ele estivesse armando. Ele não sabia exatamente quando Coin se tornara essa presença onisciente em sua vida, o Big Brother que controlava cada um de seus passos, mas não sabia até onde de sua vida ela tinha acesso, nem queria pagar para ver.

Ele estava a caminho da casa de Annie, preso em um pequeno trânsito e observando como os prédios iam aos poucos se tornando cada vez mais sofisticados a medida que ele ia adentrando a Zona Sul. Lembrou-se de seu primeiro encontro com Annie, como sentiu medo quando encarou aquele luxo todo, e teve medo de aquilo nunca dar certo, de ele não ser o cara para ela, de ela não ser a garota para ele. Os dois continuavam passando por inúmeras provações que tentavam deixar claro que isso era verdade, e naquele momento ele deixou a ideia entrar e tomar assento em sua cabeça. Ele sempre negou, mas o questionamento parecia muito natural agora, quando ele pensava em tudo que sempre parecia tentar separá-los. Será que o amor dos dois não era forte o bastante? Ou simplesmente não importava o tamanho dessa força, nunca seria suficiente?

Ele chegou ao prédio de Annie mais cedo do que gostaria, e sua garganta se apertou quando ele estacionou o carro na beirada da rua. Parecia que a corda estava cada vez mais justa, agora que a hora de chutar o banquinho estava tão próxima; a sensação de enforcamento já não mais apenas uma metáfora, mas sim algo real, um aperto desconfortável e sufocante.

Ele passou alguns segundos sentado no carro, as mãos debilmente agarrando o volante, como se ele quisesse se congelar naquela posição. Quando os segundos se transformaram em minutos, o peso do mundo voltou a pressionar suas costas, e ele saiu do carro com os ombros curvados, caminhando para dentro do prédio.

Cumpriu todo o ritual que antes o enchia de alegria simplesmente por preceder uma visita à Annie: bom dia ao porteiro, entrar no elevador, tocar o botão do último andar, esperar as portas se abrirem e tocar a campainha do único apartamento do andar.

— Oi. – Annie o cumprimentou, o sorriso radiante típico do reencontro dos dois abrindo caminho a murros por dentro de Finnick. Ele estava enganado; não ia suportar aquela dor. Não quando ele era obrigado a encarar tudo que o fazia se encantar por ela - o sorriso, os olhos, o rosto, a voz - sabendo que estava tudo por um fio. Era especialmente torturante vê-la tão feliz, sabendo que estava prestes a magoá-la da pior maneira possível.

Ele não aguentou. Antes mesmo de entrar, agarrou-a no abraço mais apertado que pode, tentando memorizar a sensação de engolir o corpo dela com o seu, de tê-la tão perto antes de ela se enfurecer e quebrar todos os laços diante da justificativa patética que ele tinha em mente para o término.

— Meu Deus, estava com tanta saudade assim? – Ela riu embaixo dele, retribuindo o aperto. Quando ele a soltou, ela colou seus lábios no dele por um breve segundo e correu para dentro de casa, esperando que ele a seguisse. E assim ele o fez.

Ela mexeu no notebook largado no sofá para desliga-lo e se virou para andar até seu quarto, onde pretendia se vestir para o dia de trabalho na Cherry. Estranhou, porém, o silêncio do namorado, que parou desajeitadamente no meio da sala, quase como se não se sentisse a vontade naquele espaço. Annie se virou para ver se Finnick tinha entrado no apartamento, e deu de cara com aquela posição estranha.

— Vai ficar parado aí? – Ela perguntou. – Vem, eu preciso me vestir pra ir para a Cherry.

Ele não respondeu, nem se mexeu. E foi nesse exato instante que Annie percebeu que algo muito ruim tinha acontecido, ou estava para acontecer.

Ela obviamente não pensou no que realmente estava em curso, porque a ideia jamais lhe passaria pela cabeça; não havia nenhum motivo para que ela pensasse naquilo. Pensou imediatamente que havia acontecido algo com o pai de Finnick, que ele havia perdido o emprego no Señorita, que o dono do apartamento alugado por ele e Peeta pedira o imóvel; qualquer problema mais real para as circunstâncias na qual os dois viviam.  

— Amor, está tudo bem? – Ela perguntou, os olhos cautelosos, o corpo meio virado para Finnick e meio virado para a porta de seu quarto.

Finnick parecia ter perdido a capacidade de falar. Ele abriu a boca, mas nenhum som se fez ouvir. Sentiu a corda apertar-lhe o pescoço com ainda mais força, tanta força que lhe impedia de forçar suas cordas vocais de trabalharem.

Os olhos de Annie giraram, confusos, enquanto ela não ouvia nada de Finnick além do silêncio. Ela caminhou até o namorado e colocou as mãos ternamente em seu rosto, fitando-o preocupada, buscando por sinais do que o teria aborrecido daquele jeito.

— Finnick? – Ela perguntou, a voz preocupada.

Ele olhou em cheio nos olhos dela pelo que parecia ser a última vez antes que as coisas desmoronassem. Tentou gravar na memória como ela o olhava com preocupação, como os olhos grandes eram francos e apaixonados; límpidos. Porque sabia que dali em diante, nunca mais ganharia dela um olhar livre de mágoa ou dor.

Ele tirou as mãos dela de seu rosto e suspirou, encarando o teto por um momento. Depois se mexeu minimamente, ainda segurando as mãos de Annie.

— Eu fui convidado para um evento. De modelos. – Ele explicou, quando ela o olhou com confusão. Imediatamente, seus olhos endureceram, o desagrado explícito sempre que Finnick mencionava sua recém começada carreira na moda. – É mês que vem, e eu vou ter que passar uns dias fora.

Ela ergueu uma sobrancelha, esperando que ele continuasse, a boca levemente torta pelo descontentamento.

— As coisas estão caminhando, a Coin diz que eu tenho muito futuro... – Soava horrivelmente falso, por mais que ele se esforçasse e soubesse que ser convincente era fundamental para proteger Annie. Ele sabia que a inverdade de suas palavras não passaria despercebida a Annie. – Eu consegui uns trabalhos bons, estou ganhando um bom dinheiro. Talvez em breve até possa sair do Señorita.

— Que bom. – Ela disse, pouco entusiasmada. – Você não vai mais precisar se ralar de tanto trabalhar no Señorita e vai ter mais tempo para descansar.

— Estou pensando em investir nisso. – Ele continuou, as palavras o colocando no caminho que ele lutava tão desesperadamente para não ter que seguir. – Preciso de um tempo para pensar, e, se decidir mesmo seguir nisso, me dedicar de verdade.

Annie ergueu as sobrancelhas.

— Isso era uma coisa que eu nunca esperei ouvir de você. – Ela disse, os lábios esticados em uma careta de admiração. – De onde surgiu essa ideia? Nunca achei que você fosse levar esses trabalhos a sério.

— Eu percebi que isso pode dar certo. – Ele mentiu. – E que se essa carreira der certo, vou conseguir muito mais dinheiro na metade do tempo.

— Mas e a faculdade? Vai desistir de ser biólogo marinho? – Ela perguntou, aturdida. – Esse era o seu sonho, não era?

— Ainda é, mas as coisas estão muito ruins. Se eu conseguir alguma estabilidade antes, vou poder me dedicar totalmente a isso daqui a uns anos. Por enquanto, preciso arrumar um jeito mais lucrativo de viver, porque passar o mês inteiro na corda bamba não dá mais.

Annie suspirou.

— Nossa. – Ela ergueu as sobrancelhas. – Não esperava por isso. Mas se é o que você quer, vou te apoiar. Só espero que você fique bem famoso logo para poder se livrar daquela sanguessuga da Coin o mais rápido possível. – Annie sorriu, mas a apreensão ainda não a deixara de todo. Aquele não era o jeito de Finnick falar, nem pensar. Parecia que ela estava ouvindo outra pessoa.

Ele desviou o olhar para a parede, as palavras queimando em sua língua.

— Eu termino a faculdade esse semestre, então estou pensando em tirar um tempo para pensar nisso tudo com mais calma. Esse evento vai ser bom, talvez dê para passar um tempo fora logo depois dele, assim que eu entregar a monografia.

Annie mordeu o lábio, o mau pressentimento a cutucando no ombro novamente.

— Você não precisa ficar longe para pensar nisso. – Ela objetou. – Quero ficar perto de você quando precisar tomar a decisão.

Finnick fechou os olhos com força enquanto as palavras cravavam fundo. É claro que ela queria estar perto, é claro que ela queria ajuda-lo; eles se amavam.

Então por que diabos estavam sendo obrigados a se separar mais uma vez?

— Não sei se continuarmos juntos é uma boa ideia. – Ele grasnou, à meia voz. – Eu vou ficar com a cabeça muito cheia e vou precisar de um tempo sozinho... – Ele se interrompeu, porque mal era capaz de forçar as palavras para fora.

A expressão de Annie não se alterou; só os olhos pareceram se sobressaltar por um breve momento, mas logo voltaram ao normal. Ele não podia estar falando sério, podia?

— É claro que é uma boa ideia continuarmos juntos, Finnick. – Ela disse, a voz impaciente. – Eu quero ficar com você em todos os momentos, inclusive quando você estiver de cabeça cheia. Eu não sou só a garota que você beija; eu quero dividir tudo com você. – Ela explicou debilmente, enquanto sua cabeça ainda girava tentando entender se Finnick acabava de lhe propor um término.

— Mas eu não sei se quero dividir isso com você. – Ele atirou, a voz dura com a tensão. Annie sentiu suas pernas bambearem, mesmo que ela já estivesse sentada no sofá da sala de sua casa. – Vai ser muito difícil ter um relacionamento no meio disso tudo, quando eu já vou estar com a cabeça tão lotada.

Ela piscou freneticamente, tentando entender. Será que naquele dia em que ela apareceu no prédio dele para terminar tudo ele demorou tanto a entender o que estava acontecendo quanto ela demorava agora?

— O nosso namoro não vai ser mais uma coisa para “encher” a sua cabeça. – Ela se exasperou. – Você veio aqui para terminar comigo, Finnick? – Ela perguntou, uma nota de desespero desafinando sua voz enquanto as palavras tremiam no ar.

— Vim. – Ele cuspiu a palavra sem conseguir encará-la nos olhos.

— Como assim “vim”? – Ela perguntou, levantando-se abruptamente, os olhos se arregalando. – Eu fiz alguma coisa errada de novo? Você está chateado comigo, eu...? – Ela se interrompeu, as palavras dançando em sua língua e tornando-a capaz apenas de soltar alguns sons desconexos enquanto lutava para fazer todas as perguntas que queria. – Você sabe que isso é idiotice, não sabe? A gente não precisa terminar, eu quero estar do seu lado quando você passar por tudo isso, eu preciso estar do seu lado... – Ela se interrompeu novamente, o desespero se firmando, a sensação de que cada vez mais a realidade lhe escapava criando raízes. Ela sacudiu a cabeça. – Por que você está fazendo isso comigo?

— Porque eu não quero ser mais um problema na sua vida. – Ele disse, com sinceridade. Era provavelmente a única verdade que ele diria naquela conversa toda. – Eu sei que você está ocupada com a Cherry, vai ser bom ficarmos separados para podermos focar em outras coisas...

— “Vai ser bom ficarmos separados”?! – Ela mais exclamou do que perguntou, o olhar acusador que Finnick sabia que receberia finalmente tomando forma. – Você está se escutando? Isso não é possível. Você arrumou alguém? – Ela perguntou, no limite da sanidade, que começava a ser perturbada pelo ciúme e pela raiva que brotavam enquanto ela percebia que ele não estava brincando.

— Não. – Outra verdade. – Só não quero te magoar, porque eu sei que não vou ser um bom namorado pelos próximos meses.

— Que parte do “eu quero estar com você” você não escutou? – Ela perguntou. – Eu também não fui a melhor pessoa durante todo o nosso relacionamento. Eu não quero desistir de você, mas ao que parece, você quer desistir de nós dois. – Ela acusou. – O que aconteceu, Finnick? E eu quero a verdade.

— Nada. Não pense que está sendo fácil para mim, mas eu pensei muito e acho que essa é a melhor opção.

— “Melhor opção”? – Ela praticamente berrou. – Eu não estou acreditando no que estou ouvindo. Por favor, me diz que é brincadeira. – Ela pediu, a voz falhando com as lágrimas que começavam a dar sinal de vida. – Finnick, me diz que é brincadeira, que você me ama e só queria me dar um susto. Porque eu vou te dar um tapa, mas vai ser melhor do que acreditar que isso tudo é verdade.

Ele ficou mudo enquanto assistia a esperança se desfazer no rosto perfeito de Annie. E ser substituída pela raiva mais fria, motivada pela mágoa. Pela dor.

— Eu não acredito que você está fazendo isso comigo. – Ela disse, a voz precária, a garganta dolorida com o volume de lágrimas pronto para vazar por seus olhos. – Isso é algum tipo de vingança? Pelo que eu fiz naquela época? Foi assim que você se sentiu e você quis me dar o troco? Você voltou para me fazer acreditar que estava tudo bem só para me derrubar desse jeito agora? - Ela perguntou, aturdida demais para considerar qualquer outra possibilidade além daquela.

— Não! – Ele negou. Meu Deus, como ele queria que ela visse através dele e entendesse o quanto aquilo custava. – Não, Annie, eu nunca...

— Porque se for isso, parabéns, eu estou entendendo exatamente como você se sentiu naquele dia. – Ela o interrompeu, um misto de frieza e dor na voz. – Você vai me deixar. – Não foi uma pergunta. – No momento que eu mais preciso de você, você vai me deixar. – Ela disse, mais para si mesma do que para ele. – Quando as coisas pelas quais eu vim trabalhando e foram quase destruídas finalmente estão se erguendo, você vai me deixar sozinha. – Ela assentiu para si mesma, rindo friamente. – Porque eu me importo, Finnick. Eu, ao contrário de você, queria dividir as coisas com você, tudo, a minha vida inteira... – Ela se interrompeu quando sentiu as lágrimas vazarem e molharem seu rosto.    

Annie o encarou através dos olhos vazados de lágrimas, esperando que ele dissesse alguma coisa, qualquer coisa, que o redimisse. Dando-lhe a última chance.

Mas ele não disse.

— Finnick, sai daqui, por favor. – Ela pediu, a voz mecânica, um esforço tremendo de se manter nos eixos e não explodir de raiva ou de tanto chorar. – Me deixa sozinha.

Ele não se mexeu. Seu corpo parecia paralisado naquele sofá.

— Você não disse que vai ser melhor ficarmos separados? – Ela perguntou, ácida. – Então vamos começar logo. Vai, sai.

Ele se levantou lentamente, ainda zonzo, a sensação de estar solto dentro de si mesmo atacando-o novamente. Talvez ele fosse sentir assim para sempre de agora em diante, agora que perdera tudo que lhe importava. Não havia mais nada para prendê-lo a esse corpo, talvez ele fosse mesmo se sentir como um espírito vagando em todos os momentos daqui para frente.

Sem saber exatamente como, chegou à porta e deu uma última olhada para trás. Um erro, mas o que agora não estava errado? Sua mente gravou a imagem à fogo: Annie sentada no sofá, abraçando os joelhos, o rosto enterrado nas coxas, a luz do sol entrando pela janela e dando à cena uma luminosidade deslocadamente alegre, destacando os contornos do corpo dela.

Se despediu mentalmente do amor de sua vida, e bateu a porta. 


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Notas finais do capítulo

O que dizer agora?????? Desculpa?????? Eu me odeio????? Sei que vocês me odeiam também?????? Quero me matar???? População se revolta contra o segundo fim do casal Fannie na fanfic Money Make Her Smile??????? O que se diz numa hora dessas?????
Meu Deus, gente, como eu ODIEI esse capítulo, não só pelo que acontece nele, mas a escrita mesmo. Porque eu simplesmente não aguentava mais, mas eu precisava escrever as coisas, até que eu DESISTI e pra mim ele tá todo fragmentado e remendado e horrível porque eu não conseguia encadear o raciocínio para preparar esse TIRO. Não ficou nem de longe tão bom quanto o primeiro término Fannie, porque lá eu pelo menos consegui deixar a coisa bonita esteticamente, mesmo que triste, aqui tá tudo um tremendo LIXO HOSPITALAR mesmo ("Não diga nas notas do capítulo que ele ficou ruim. Se acha que está mesmo ruim, reescreva. Tenha confiança, nunca deprecie seu próprio trabalho." diz o Nyah, no que eu respondo com um belo VAI SE FODER pq depois de dois anos de fic eu falo tudo pra vcs na cara de pau mesmo e não tô nem aí) (vcs são quase família).
Chorem comigo, por favor. Tô esperando os comentários, mas sei que vou ser xingada, agredida etc, e com toda a razão. A única coisa que posso prometer é que o final feliz não está tão distante assim, mas teremos que amargar uns tempinhos difíceis até chegarmos lá.
Amo vocês, apesar de saber que nesse momento vocês NÃO ME AMAM.
Um beijo e um queijo (com goiabada por cima)