Money Make Her Smile escrita por Clarawr


Capítulo 33
Amor, ficar sozinho dá caô!


Notas iniciais do capítulo

AMOOOOOOOOR
FICAR SOZINHO DÁ:
CAÔ
VÊ SE ME ENTENDE, POR FAVOR
EU SOU DO JEITO QUE EU SOU
SE VOCÊ DER MOLE EU VOU
SE
VOCÊ
ME
DER
MOLE
EU
VOU
EU VOU
OLÁ, BONDE!!!!!!! Como estão? Eu? Com saudades, LÓGICO!!!!
Ahh, mas peraí. Dessa vez foram menos de quinze dias, pô! E daqui pra frente as demoras vão ser cada vez menores. Sabem por quê? PORQUE ELAS CHEGARAM, MEU QUERIDOS. AS AGUARDADAS, AS SUPLICADAS, AS FAMIGERADAS: FÉRIAS!!!!!!
GENTE, EU ACABEI A ESCOLA!!!! É SÉRIO!!! EU TERMINEI O ENSINO MÉDIO!! FIM, THE END, IT'S OVER. Agora eu tenho férias maravilhosas para curtir e descansar desse ano alucinado que eu tive, e, obviamente, PARA ESCREVER MUUUUUUUUUUITO PARA MONEY MAKE HER SMILE. Gente, não dá nem pra dizer como eu estou feliz, é sério. Daqui a exatos 13 dias nós completamos dois anos (!!!!) dessa história, e eu finalmente vou ter tempo real de me dedicar a ela sem preocupações por pelo menos dois meses e meio. VOCÊS MERECEM, MEUS LINDOS!
Bom, sobre esse capítulo, ele é bem doido (kkk). Para comemorar minha volta em grande estilo, resolvi descacetar tudo de vez, e já dá pra perceber isso desde a escolha da música para o título, que pela primeira vez é um funk e que eu recomendo DEMAIS que vocês escutem, porque é engraçada pacas (e, a propósito, é Não Me Deixe Sozinho, do Nego do Borel). Eu amei DEMAIS escrever essa bagaceira toda aqui, e sinceramente não faço ideia do que vocês vão achar. Nas notas finais falo mais disso.
Só pra fechar e eu já libero vocês para a bomba: música do capítulo: Bad Girl, do Usher (outra que eu mega recomendo que você escutem durante a leitura do capítulo, caso gostem de ler ouvindo música). Aliás, lá no meu twitter (@ifimoonshine), eu soltei umas músicas para dar dicas sobre como seria esse capítulo, e elas super servem de playlist para a leitura. Além dessas duas, também incluí I'm a Flirt, do R. Kelly com o T Pain e o T.I., Valeu, do Exaltassamba e todas as músicas citadas ao longo do capítulo: Sensual Seduction (Snoop Dogg), Look at Me Now (Chris Brown) e Yeah, também do Usher.



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“Playas, when you see me

Act like you know me

I keep a dollar worth of dimes

You know, pimpin' ain't easy

For all my chicks in the club

Who knows how to cut a rug

If you're a bad girl

Get at me bad girl



Ooh work me, baby

Shakin' it the way I like

I'm ready to be bad

I need a bad girl

Get at me bad girl

What sexy lady's comin' home with me tonight?

I'm ready to be bad

I need a bad girl (super bad, baby)

Get at me bad girl”

Finnick observava de longe Peeta dançar com a quinta garota diferente desde que chegara ao Señorita e, pela quinta vez, sacudiu a cabeça em desaprovação.

Ele sabia que havia algo errado, e sabia exatamente qual era o problema. Não que Peeta dando uma de gostoso na balada fosse cena incomum para Finnick, mas era um cenário que havia sido cortado do script desde que uma certa morena de olhos cinzentos entrara na vida de seu amigo.

Agora, no entanto, não havia mais morena, de modo que a cena presenciada por Finnick deveria ser até esperada. Era a essência de Peeta voltando à tona, e Finnick se perguntou por que lhe parecia tão estranho se não era nada fora do comportamento normal do Peeta solteiro.

Talvez ele já tivesse se acostumado com a presença de Katniss mais do que percebera, e ele não conseguiu deixar de se perguntar se fora assim também quando ele terminou com Annie. Se seus amigos tinham sentido a mesma atmosfera esquisita, muito embora ele não tivesse tentado compensar a saudade e o coração partido caindo na balada uma semana e meia depois do término.

Gale se aproximou do balcão do bar e, sem dizer uma única palavra, acompanhou o olhar de Finnick, ainda fixo em Peeta rebolando na pista com uma garota tatuada.

– Isso porque ele só bebeu duas cervejas. – Gale comentou, virando-se na direção de Finnick, que agora passava um pano úmido no balcão molhado com pequenas porções de bebidas derrubadas.

Finnick suspirou.

– Ele só está sendo ele mesmo. A gente é que não se lembrava.

Gale assentiu, voltando seu olhar para a pista, e os dois compartilharam um breve momento quase de saudades de Katniss. De alguma forma, ela trazia paz para Peeta, as coisas pareciam mais certas. Eles sempre lidaram bem com o fato de Peeta ser o pegador do trio; de vez em quando as doideiras nas quais ele se metia por um rabo de saia eram até engraçadas. Mas a situação que eles encaravam agora parecia simplesmente errada. Porque era forçada. Porque ambos sabiam que se dependesse só de Peeta, ele estaria dançando com uma garota só. E ela estaria aqui, rindo com os braços ao redor de seu pescoço, sacudindo os longos cabelos negros e beijando seus lábios delicadamente entre um passo de dança e outro.

O celular de Gale vibrou em seu bolso e ele logo o pegou para ver quem o solicitava, já esperando ver o nome de Johanna brilhar na tela. Ela estava a caminho do Señorita para se encontrar com os meninos, provavelmente levando Katniss e ignorando solenemente todo o climão que se estabeleceria ao juntar Katniss e Peeta no mesmo recinto, especialmente com Peeta agindo como o garanhão que sempre foi.

Depois dos momentos de agonia que a separação de Finnick e Annie gerara ao sexteto com todo aquele desconforto de nunca se saber o que fazer quando os dois se encontravam, eles não esperavam que a situação se repetisse com Katniss e Peeta. Os seis haviam aprendido alguma coisa com a festa de Katniss, afinal. Ninguém queria repetir aquele cenário, então todos simplesmente ignoravam o fato de os dois estarem agora separados e tentavam ao máximo não alterar a dinâmica do grupo por conta do término.

Apesar da aparente normalidade, Peeta não sabia que Johanna e Katniss estavam a caminho. Esconder essa informação do loiro havia sido uma estratégia dos amigos, que não teriam paciência para lidar com o chilique lotado de acusações de “vocês estão estragando a minha noite!” que sairia da boca de Peeta assim que ele soubesse. A intenção da noite era a gloriosa reestreia de Peeta solteiro nas pistas do Rio de Janeiro, mas Finnick e Gale concordaram que seria insuportável lidar com sua volta sem as amigas para fazerem companhia quando Peeta se atracasse com alguma garota.

“Tô chegando. Vou sozinha, a Kat disse que precisava fechar algumas coisas pra campanha da Cherry ainda hoje.”

Depois de um segundo, o celular vibrou novamente com outra mensagem.

“Espero não me arrepender de ficar aí sozinha com vocês”

Pausa.

“Nem presenciar vocês protagonizando cenas lamentáveis de machinho pegador na balada”

Gale desviou o olhar para Peeta, ainda dançando com a tatuada na pista, e guardou o celular no bolso, pensando que era melhor deixar Johanna sem resposta do que mentir para a amiga.

~~

– Hoje é a noite dos hip hops antigos ou o quê? – Johanna perguntou quando se aproximou do balcão na intenção de pedir um drink a Finnick, estranhando a playlist que estourava nas caixas de som, quase totalmente composta dos hits do hip hop dos anos 2000.

– P.I.M.P. Night. – Finnick respondeu e Johanna soltou uma gargalhada.

– Ainda bem que eu não perdi essa noite. – Ela disse. – Quanto é esse Señorita? – Ela perguntou, referindo-se ao drink oficial da casa.

– 17 reais. – Ele já tinha até decorado.

Johanna mordeu o lábio, dividida. Ela queria muito o drink, que parecia bastante convidativo quando Finnick enchia um copo com morangos, leite condensado e Grey Goose; mas ao mesmo tempo seu salário estava quase se esgotando, porque era fim de mês, e ela ainda tinha que sobreviver uma semana e não pretendia ter que passar os dias até receber seu salário passando as compras no cartão, porque os juros do cartão de crédito estavam cada vez mais exorbitantes.

– Ser pobre é uma merda, né? – Finnick comentou, observando o sofrimento de Johanna e reconhecendo no olhar da amiga a mesma dor que coloriu seu olhar tantas vezes que ele teve que escolher entre ser sensato com seus gastos ou se endividar em nome da diversão.

– Acho que está na hora de pedir um aumento. – Johanna ponderou, ainda encarando fixamente o drink que Finnick preparava e que, obviamente, não era para ela.

Finnick riu e terminou de misturar as bebidas na tulipa onde o Señorita era servido, deixando-o no canto esquerdo do balcão para ser levado para algum garçom que o serviria a seu dono. Ele logo pegou outra tulipa e os ingredientes para preparar um segundo drink.

– De presente para você. – Ele disse, enquanto lambuzava as laterais do copo de leite condensado.

– Não! – Ela exclamou, mas não pareceu muito convincente. – Não, Finnick, eu preciso aprender a ser uma adulta controlada financeiramente, e isso inclui passar vontade de vez em quando.

– Fica quieta. – Ele respondeu, amassando uns morangos no fundo do copo e adicionando um licor que Johanna nem sabia qual era à bebida. – Isso vai sair do meu salário, mesmo. É agradecimento por você ter vindo hoje.

Johanna estreitou os olhos nos cantos, processando a última frase. Ela não sabia exatamente o que Finnick quis dizer, mas entendeu vagamente que tinha a ver com salvá-los do espetáculo de Peeta.

– Cadê ele, aliás? – Johanna encostou as costas no balcão, virando-se de frente para a pista de dança, seus olhos varrendo o recinto à procura do loiro.

– Deve ter arranjado alguém. – Finnick comentou, adicionando mais leite condensado ao drink, porque sabia que Johanna gostava da bebida mais doce. Ele espirrou um pouco do doce para fora do copo, e o líquido viscoso escorreu pela lateral externa do vidro.

– Sinceramente, por que isso está incomodando vocês? – Johanna passou o polegar no rastro deixado pelo leite condensado, limpando o copo, e lambeu o dedo logo em seguida. – Dá pra entender eu me incomodar, porque eu sou amiga da Katniss. Mas até parece que vocês não estão acostumados.

Finnick suspirou e empurrou o copo cheio na direção da amiga.

– É que eu o conheço bem o suficiente para saber que ele está fazendo isso para provar para todo mundo que está tudo bem. Porque ele é teimoso pra cacete e porque sair para pegar geral é a única coisa que ele sabe fazer quando as coisas não estão bem. Ele está fodido na faculdade; sai pra pegar geral. Ele termina o namoro; sai pra pegar geral. Briga com a família; sai pra pegar geral.

– Ele é um moleque de quinze anos, Finnick. Mentalmente falando. – Johanna explicou, enquanto dava o primeiro gole em seu drink. – Hmmm, isso aqui ficou ótimo. Obrigada. Um dia eu te pago, prometo.

O loiro riu e deu de ombros.

– Não dá para dizer que estou encarando isso numa boa, porque eu sei que a Katniss ainda está sofrendo por ele. Desapontada, mas não surpresa, é mais ou menos como eu estou agora. Eu sei que ele também está sofrendo e que o jeito dele de botar isso pra fora é vir aqui dar esse show – Ela disse, antes que Finnick pudesse sair em defesa do amigo. – e é por isso que eu não estou me importando. Ele está no direito dele, porque a verdade é que ele está solteiro. Eu só queria que a Katniss fosse desprendida o bastante para descontar a sofrência beijando na boca de todo mundo também. – Ela espetou, e Finnick entendeu que na verdade Johanna estava irritada, mas não com Peeta, e sim com o fato de Katniss não ser capaz de pagá-lo na mesmo moeda de desprezo e indiferença.

– Como ela está? – Finnick perguntou, e Johanna hesitou. Ela sabia que ele só estava preocupado com Katniss, porque afinal de conta eram todos amigos, mas ela não queria deixar a amiga com a imagem da garotinha que sofria por homem sozinha com a cabeça enterrada no travesseiro. Até mesmo porque não era verdade. Ela estava muito bem, obrigada.

– Bem. Seguindo a vida, na verdade. Ela não ia cair no fundo do poço por causa dele. – Johanna disse, simplesmente. – Ela se importa com ele, e eu sei que sente saudades. Mas acho que é normal.

Finnick assentiu, e não fez mais nenhuma pergunta. Tinha, em seu íntimo, a forte intuição de que a história desses dois ainda não estava encerrada, mas guardou a observação para si, porque sabia que, no fundo, Johanna também acreditava nisso. Mas não tinha a intenção de compartilhar suas observações a cerca da vida amorosa dos amigos, especialmente porque sabia que tinha outro trabalho a fazer naquela noite.

– Cadê o Gale? – Ele perguntou, sutilmente, e Johanna sentiu um leve arrepio percorrer sua espinha à menção do nome do moreno.

– Ele sumiu. – Ela comentou, casualmente, tentando não dar bandeira de que sentia a falta do maldito desde que ele escapou de suas vistas, o que acontecera há uma meia hora.

– Acho que ele está precisando de você. – Finnick comentou, e Johanna quis jogar o drink na cara do amigo, mesmo que soubesse que Finnick tinha a melhor das intenções.

Mas desde que soubera dos reais sentimentos de Gale por Katniss, Johanna simplesmente não conseguia lidar com todos agindo como se eles fossem feitos um para o outro. Lembrava-a de como Gale sempre seria uma frustração para ela, e de como ela esteve tão perto de conseguir fazer tudo dar certo, se não fosse o pequeno desvio que o coração dele cometera ao se apaixonar pela pessoa errada.

Ela não aguentava mais ver todo mundo enxergando o casal Johanna e Gale como se eles fossem apenas questão de tempo. Porque era muito mais complicado que isso, e como as pessoas não percebiam? Como ninguém percebia que havia um mundo de empecilhos entre eles? Depois ela se lembrou que, por muito tempo, também pensou assim, então concluiu que não podia culpar os amigos por ainda insistirem na causa de juntá-los. E que, no fundo, apesar de irritá-la, isso a confortava de um jeito estranho, porque significava que ela não era a única louca que pensou que eles podiam acontecer. Não era um delírio tão distante assim, se todos os seus amigos acreditavam que podia acontecer.

– Se ele precisasse, já teria vindo me procurar. – Ela respondeu, meio azeda.

Finnick quis perguntar qual era o problema, mas a sutil mudança na aura de Johanna o impediu de abrir a boca à procura de respostas. Era bastante óbvio para ele que Johanna e Gale eram um casal em potencial, mas ao mesmo tempo ele sentia que havia algo prendendo os dois. No entanto, ele acreditava que essas amarras eram puramente falta de inciativa de ambas as partes, o que podia ser facilmente resolvido com alguns empurrãozinhos de sua parte.

Os misteriosos acordes iniciais de Sensual Seduction, do Snnop Dogg, se fizeram ouvir pelo salão, e Johanna imediatamente começou a mexer seus quadris na cadência da batida. Finnick tinha colocado bastante vodka em seu drink, mas ela mal sentia o gosto do álcool, e isso a preocupou. Ela estaria bêbada antes que se desse conta.

De repente, um relance de uma manga vermelha de camisa entrou no campo de visão de Johanna, e ela nem precisou esperar o corpo inteiro do cidadão se fazer visível para saber que era Gale chegando.

– Estava te procurando! – Ele exclamou, os quadris se remexendo de um jeito engraçado no ritmo das palavras de Snoop Dogg. – Vamos dançar?

Ela trocou um olhar com Finnick, e os olhos verdes do amigo pareciam incentivá-la. Claro.

Ela só queria alguém que fosse entender aquele olhar. Um olhar de quem já estava cheia de ser vista como a futura namorada de Gale, mas ao mesmo tempo não conseguia negar-lhe um convite para dançar, porque gostar de alguém é essa bela porcaria que te deixa idiota e carente de qualquer contato com o desgraçado.

Ela virou o resto do drink em seu copo, o álcool finalmente ardendo suavemente ao descer pela garganta.

– Vamos. – Ela respondeu, deixando o copo no balcão e pegando na mão de Gale, que a conduzia em direção à pista.

~~

– Mellark. – A voz penetrante de Clove atingiu os ouvidos de Peeta, que voltava do bar, caminhando na direção da pista de dança com uma cerveja na mão.

– Clove. – Ele respondeu, mas pareceu mais uma pergunta. – Vai tocar hoje?

Ela sorriu de lado.

– Não. Eu não posso vir pro Señorita só para curtir? Sou uma mortal em busca de diversão numa sexta à noite, como qualquer um de vocês. – Ela argumentou, o sorriso ainda pendurado nos lábios, a expressão permanente de escárnio um pouquinho mais pronunciada em seu rosto.

– E de todos os bares do Rio de Janeiro, você resolve vir justamente onde faz show toda semana? – Ele perguntou, o sorriso bem humorado mascarando a desconfiança sutil que revestia a pergunta.

Os perigosos olhos cor de âmbar se estreitaram nos cantos, destacando a sombra azul escura que coloria as pálpebras.

– Eu não queria, mas você vai me obrigar a admitir. – Ela se aproximou dele, como se fosse dizer um segredo. Peeta sentiu seu perfume adocicado, que se misturava de uma maneira expressiva com o cheiro do shampoo que se espalhava sempre que ela sacudia a cabeça e os cabelos curtos balançavam. – Eu estou sem dinheiro. Pelo menos aqui eu consigo beber de graça. – Ela ergueu a taça em suas mãos, cheia de um drink alaranjado.

– Justo. – Ele comentou. – Você já trouxe dinheiro demais para esse lugar. Acho que merece os privilégios.

– E eu acho que também mereço o privilégio de dançar com você. – Ela atirou assim, sem mais nem menos. Não que as coisas precisassem de explicação quando se tratava de Clove; ela simplesmente ia lá e fazia. E alguma coisa na blusa preta que Peeta usava a fez reparar que ele tinha os ombros largos, e dava para ver direitinho as linhas dos músculos retesados cobertos pela camiseta justa... – Você não acha?

Ele pareceu disponível demais para ela fingir que não tinha visto o jeito que os cabelos loiros bagunçados caíam sobre sua testa, emoldurando aqueles olhos azuis elétricos.

– Eu achava que você só concedia o privilégio de uma dança com você para o Finnick. – Ele observou, o sorriso ainda esticando os lábios, mas a voz levemente desconfiada.

Era uma questão moral, na verdade. Ficar com a garota que seu amigo havia ficado meses atrás não parecia correto.

Do outro lado da balança, repousava o fato de que Peeta sabia que Finnick não se importava. O que ele tivera com Clove havia sido passageiro, e o que ele tinha com Annie era forte demais para deixa-lo ter ciúme de qualquer outra mulher que não fosse ela. Ele também sabia que Finnick não era orgulhoso a ponto de se chatear com ele, caso rolasse algo com Clove.

Além do mais, era só um convite para dançar. Ele não precisar beijá-la. Com quantas garotas ele havia dançado até o momento sem beijar nenhuma boca? Ele era capaz de fazer isso mais uma vez.

– Eu não sou do Finnick, Mellark. – Ela estalava os lábios de um jeito atraente quando chamava Peeta pelo sobrenome, e logo depois sorria daquele jeito enigmático típico. – Eu existia antes dele, e continuo existindo depois. – Ela ergueu uma sobrancelha, o rosto agora sério, sem sombra do sorriso irônico. Ela não aceitaria ter sua identidade restrita à imagem de Finnick só porque tinha ficado com ele uma ou duas vezes. Ela era bem mais do que isso.

Como sempre faziam com as pessoas num geral, as palavras de Clove pairaram pelo ar, rondando a cabeça de Peeta e destrancando algumas coisas que ele vinha mantendo bem fechadas até o momento.

Sim, Clove existia depois de Finnick. Mas e ele? Será que ainda existia depois de Katniss?

Bem lá no fundo, ele sabia que ainda não estava inteiro e tinha medo de não conseguir voltar a ser o que era, mesmo depois que se recuperasse. Katniss sempre fazia isso! Deixava-o no escuro, sem saber lidar consigo mesmo. Ela despertava tantos sentimentos novos nele que cada pontada desconhecida em seu peito provocada por ela lhe deixava confuso, como uma criança que recebe muitos estímulos ainda aprendendo a andar e a falar. E, acima de tudo, Katniss o mudava de um jeito que ele não se via sendo capaz de voltar a ser o que era antes, não 100%.

Ele ergueu as mãos na altura dos ombros, num resto de quem se rende.

– Tudo bem, desculpa. – Ele disse. – O convite para dançar ainda está de pé?

A música tocando naquele instante era Look At Me Now, do Chris Brown. Peeta percebeu que os quadris de Clove não pararam de se mover um só instante do diálogo.

Ela olhou em volta por instante, e voltou a encará-lo. Seus lábios envolveram o canudo em seu copo, puxando um pouco de bebida. Ela encarou gravemente o fundo dos olhos de Peeta.

– Se essa música não fosse tão boa, você teria estragado tudo. – Ela pontuou, os olhos afiados na direção do rosto dele. Peeta ficou tenso, mas o sorriso largo que Clove abriu logo em seguida tirou a preocupação de seus ombros.

Teria estragado tudo. Não estragou. Por pouco, mas não estragou.

~~

Foi só quando Johanna sentiu as mãos de Gale em sua cintura enquanto os dois dançavam Yeah, do Usher colados demais no canto da pista de dança do Señorita que ela percebeu que as coisas estavam saindo de controle.

Ou ela estava bêbada e ainda não havia se apercebido – o que não era nada impossível, depois de misturar aquele drink com outros mais baratos a base de vodka e duas latas de cerveja -, ou ela simplesmente havia desistido de resistir às investidas de Gale, que muito provavelmente também já estava mais para lá do que para cá.

Investidas tortas, porque ela sabia tudo que estava envolvido, Katniss, Peeta e blá blá blá. Com o álcool subindo à cabeça, ela ainda se sentia incomodada com aquela proximidade que não daria em nada, mas mal conseguia se lembrar porque ficava tão irritada sempre que as pessoas mencionavam Gale.

Ela sentia seu corpo inteiro grudado ao dele, sua cintura envolta por suas mãos grandes, suas costas pressionadas contra o peito dele, e aquilo era tão bom, sentir seu corpo se movendo junto com o dele guiados apenas pelo ritmo incrivelmente rebolativo da música... Ele intensificou o aperto entre os dois, seus braços se flexionando para extinguir a distância entre eles e coloca-la tão perto que ela era capaz de sentir sua bunda quase encostando em seu...

Subitamente, ela se deu conta que estava sarrando em Gale. Que era apaixonado por sua melhor amiga. Ao som de uma música que embalara inúmeras de suas primeiras matinês quando ela entrara na pré adolescência.

O pensamento latejou em sua mente, contundente, mas como sempre acontece quando estamos bêbados, ela não achou que era grande coisa. Johanna simplesmente se virou de frente para ele (porque ainda não tinha perdido totalmente seus princípios, e sabia que, apesar de ele parecer estar gostando bastante da situação, ela não era sua primeira opção para fazer aquilo), sem quebrar o complicado ritmo em que os dois moviam os quadris.

Ela não queria dar espaço para que os pensamentos idiotas a assaltassem, e sua cabeça estava tão avoada que ela realmente não conseguiria fazer grandes reflexões além de entender que esteve muito perto de sarrar com Gale e que tomara a atitude certa ao interromper o movimento. Mas um pedaço minúsculo de sua cabeça acenara com a colorida ilusão: “Talvez ele goste um pouquinho de você”.

De fato, a atitude dele era esquisita para alguém totalmente desinteressado. Ninguém dança abraçado por trás com uma simples amiga, e Johanna era capaz de seguir essa lógica. Mas, mesmo bêbada, ela também era capaz de sufocar as ilusões, porque estava cansada demais de ser feita de idiota pelas circunstâncias da vida. Então ela apenas continuou dançando com Gale, porque ainda não era forte o bastante para se afastar e principalmente porque não via motivo para se afastar. Era idiotice se privar disso. Ela podia não tê-lo inteiro, mas não fazia sentido se abster de usufruir da sensação de estar perto dele e saber que ele também queria estar perto dela.

Ela não precisa transformar seus sentimentos por Gale em um eterno sofrimento. Ela podia tirar uma casquinha dele, já que ele parecia aberto para isso.

Exatamente quando Johanna fazia essa constatação que tirava um grande peso de suas costas, Gale sorriu para ela, suas mãos ainda firmes em sua cintura, os braços de Johanna ainda suspensos acima de sua cabeça, uma de suas mãos na curva de sua nuca. Johanna sentiu suas costas baterem contra a parede, e percebeu que Gale a encostara naquele apoio por um motivo muito específico. A música estava claramente mais baixa, e agora ela podia reparar em outros detalhes, como na respiração ofegante dos dois, no peito de Gale que subia e descia rapidamente. Seus antebraços estavam à mostra, porque a manga da blusa vermelha que ele colocara por cima da camisa branca discreta estava enrolada até os cotovelos, e Johanna sentiu que ele esfregava sua cintura delicadamente.

Ela sentiu que seus dedos involuntariamente acariciaram as costas de Gale, suas unhas compridas deslizando delicadamente por cima do tecido enrugado da blusa.

Foi uma fração de segundo. Uma daquelas frações de segundo que mudam tudo, e que não dão espaço para reação. Aquelas frações de segundo que sempre são esquecidas depois, e quando você tenta relembrar se reduzem àquele mísero “eu não sei como isso aconteceu”. Aquele momento que se torna um enorme vácuo na sua mente e que sumiria no meio do relato de como a situação chegara naquele ponto quando ela fosse contar para as amigas.

Porque você nunca se lembra do momento em que as bocas se encostaram. Dos caminhos que os rostos fizeram até se encontrar, se você sorriu antes do beijo acontecer, se ele segurou no seu cabelo ou na sua cintura. Essas pequenas coisas sempre somem.

Ela se lembraria, sim, de como eles estavam dançando antes. De como eles beberam juntos e riram juntos.

E de como ela simplesmente virou o rosto para o lado quando Gale estava prestes a beijá-la.

Ela sentiu o nariz de Gale tocar sua bochecha, e ele ergueu o rosto para beijar sua bochecha suavemente. Ele não tinha desistido.

“Eu não acredito que ele está fazendo isso comigo”. Foi a primeira coisa que ela pensou, parte de sua mente doendo de vontade de virar a cara de frente para ele e deixa-lo fazer aquilo logo, em nome de Jesus e brigando com a outra parte, que quis acertar um soco no meio da cara dele por estar se atrevendo a fazer aquilo.

Podia ser fácil. Ela podia nem falar com ela. Ele podia não ser tão legal, nem parecer sempre tão empolgado com a presença dela. Ele podia ficar horas falando de Katniss até Johanna se cansar, ele podia não chama-la para dançar, nem abraçá-la por trás. Ele podia agir como um cara que é amigo de uma garota, mas é a fim de outra. Ele podia não dar esperanças. Ele podia não tornar tão difícil superá-lo.

Mas não. Como se não bastasse ter que lidar com todas essas pequenas esperanças, agora ela ainda tinha uma tentativa de beijo na lista de coisas para superar.

– Gale. – Ela se afastou, abaixando o rosto, as mãos ainda em sua nuca, as mãos dele ainda em sua cintura. – Não.

Seus olhos se abriram, as íris cinzentas encarando-a ardentemente. Agora ela reparou que uma das mãos dele segurava seu rosto, enquanto a outra descansava na cintura.

– Por quê? – Ele perguntou, e seus olhos pareciam queimá-la. Por um momento, ela pensou em desistir de manter a pose, porque não era possível que alguém que a olhava daquele jeito não quisesse de fato beijá-la.

Mas ela sabia exatamente o que ia acontecer depois. Eles conversariam, e chegariam à conclusão de que havia sido um erro. Que ele não podia tê-la beijado sentindo aquele mundo de coisas por Katniss, porque era errado, porque ele a estava usando para descontar suas frustrações, porque, apesar de gostar muita dela, não era por Johanna que ele era apaixonado. E depois, fingiriam que nada tinha acontecido, tentando seguir com a amizade normalmente. Porque obviamente para ele aquilo não significara nada além de um momento de atração fomentado pelo álcool e pela dança.

E ela era capaz de lidar com todas as ilusões vindas de Gale, menos essa.

– Você sabe porquê. – Ela respondeu, e suspirou. Johanna sacudiu a cabeça, tentando se livrar da vontade de chorar que subitamente tomara seu peito. Por que, meu Deus, POR QUE tinha que ser tudo tão difícil quando se tratava dela? – Eu não posso. E não é por você. É por mim. Eu não posso fazer isso sabendo que na verdade você queria estar beijando a minha melhor amiga.

Por algum motivo, aquilo tudo era mais doloroso que uma rejeição. Porque significava incerteza e, mais uma vez, frustração. Porque mostrava novamente que tudo parecia conspirar para ser ela, mas não era. Ele a desejava o bastante para querer beijá-la, mas não era capaz de desenvolver por ela sentimentos além da amizade.

A expressão de Gale endureceu e seus olhos se moveram confusamente, como se ele só tivesse se lembrado da existência de Katniss naquele momento. Johanna sentiu sua garganta se apertar ainda mais. E se isso não tiver nada a ver com a Katniss? Ela pensou. E se ele realmente quis me beijar?

Ele colocou uma mecha de seus cabelos para trás e tocou delicadamente sua bochecha. Johanna fechou os olhos e sua cabeça pendeu na direção do toque, sua mão direita agora segurando a dele ali em seu rosto.

– Eu não posso fazer isso comigo mesma. – Ela disse. Pensou em pedir desculpas em seguida, por ser tão complicada, por não conseguir simplesmente fechar os olhos e aproveitar um momento. Mas logo concluiu que aquilo era ridículo.

Ela não podia se desculpar por estar sendo fiel a si mesma.

~~

Yeah, do Usher, ainda animava o Señorita, e, em outro canto da pista, um segundo quase casal aproveitava a batida da canção para embalar o clima pré beijo que ambos sabiam estar no ar.

Diante da situação na qual estava, Clove não se achou capaz de não estabelecer comparações entre o modus operandi de Peeta e o de Finnick.

Enquanto Finnick a ganhava com as piadas e as tiradas inteligentes, Peeta a mantinha interessada de um jeito diferente. Não que ele não fosse bom com as ironias, e eles já haviam dado boas gargalhadas juntos, mas Peeta apostava muito mais no lado físico do jogo.

Era até mais parecido com ela, para falar a verdade. Ele não precisava falar tanto, porque o jeito como ele agia dava conta do recado. Cada toque, cada lugar onde ele pousava as mãos no corpo dela para um novo passo de dança, cada sorriso, cada olhar quando ela rebolava de costas para ele – que ele fazia questão de prolongar até que ela virasse de frente e visse que ele a estava admirando -; cada uma dessas coisinhas transpiravam a essência sedutora de Peeta.

Clove ondulava os quadris da esquerda para a direita, a perna direita de Peeta entre as suas próprias, levemente separadas para dar mais mobilidade ao corpo e facilitar o rebolado. Já no final da música, ela sentiu as mãos dele envolverem sua cintura, e sorriu. Mesmo que ele já tivesse tocado em sua cintura vinte e oito mil vezes naquela noite, ela soube exatamente que daquela vez, ele finalmente ia fazer aquilo.

Ela podia se gabar de ter um autocontrole excepcional – justamente por isso, era sempre ela que provocava além dos limites, até a coisa explodir. -, mas naquele pouco tempo junto de Peeta, ela entendeu que seus limites eram quase tão extensos quanto os dele. Eles podiam ficar nesse jogo por muito mais tempo, se os dois se empenhassem em se controlar para instigar um ao outro.

Mas, apesar de serem donos de autocontroles exemplares, nenhum dos dois podia contar muito com suas paciências, que acabavam rápido e, naquele instante, já estavam mais do que esgotadas. Aquele toque na cintura de Clove significou a rendição dos dois, e em um acordo mudo, ambos concordaram em por o teatrinho abaixo e deixar acontecer.

A coisa explodiu, e Peeta sentiu que Clove o encostou na parede do canto da pista, seus lábios se movendo lenta e profundamente nos dele. A medida que deslizou sua língua para dentro da boca de Clove, Peeta sentiu o aperto em seus cabelos se intensificar, e ela empurrou o corpo pequeno mais para perto dele, buscando contato.

Por algum estranho motivo, Clove percebeu que a música havia mudado, seus ouvidos captando a deliciosa batida de Bad Girl, também do Usher. Ela sorriu entre o beijo, pensando como a letra tinha a ver com a situação, e como ela estava disposta a ser a garota má que sabia que Peeta precisava naquele momento.

Ela sentiu as mãos quentes de Peeta deslizarem por sua cintura até pousarem em sua bunda, apalpando suavemente a curva, e soltou um gemido baixo. Suas mãos também desceram da nuca para o peito, do peito para a barriga, enfiando-se sorrateiramente por baixo da blusa preta. Ela sentiu os músculos definidos se retesarem com seu toque e sorriu novamente, mordendo o lábio inferior do loiro e separando suas bocas.

Eles se olharam e sorriram por um instante, a expectativa preenchendo o ar. Clove colocou os cabelos atrás da orelha e respirou fundo.

– Tudo bem. – Ela disse, voltando a enlaçar o pescoço de Peeta com os braços. – Antes de seguir com isso, eu preciso fazer uma pergunta. – Ele a olhou, esperando, mesmo que já soubesse as palavras que fossem pular da boca da morena. – E a Katniss?

Peeta soltou uma risada do timing completamente errado de Clove. Ela só perguntava isso agora?

– Eu não sou da Katniss, Clove. – Ele espelhou o tom que a morena usara com ele mais cedo, mas Clove não sorriu. Seus olhos, no entanto, pareciam levemente espremidos nos cantos, como se o resto de seu rosto sorrisse, apesar de não ser acompanhado pelos lábios. – Eu existia antes dela, e continuo existindo depois.

Ela demorou um pouco mais do que o necessário para responder, seus olhos impenetráveis fixos no rosto do loiro, ponderando se devia mesmo seguir em frente com aquilo.

– Vamos para minha casa. – Ela convidou, e ganhou um sorriso deliciosamente aberto e diabólico dele como resposta.

“What sexy lady’s coming home with me tonight?” Usher cantou e Peeta colou seus lábios nos de Clove mais uma vez, ansioso para sentir a combustão que tomara seu corpo quando ele a beijara pela primeira vez.

Pelo visto, ele havia acabado de responder a pergunta da canção.


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Notas finais do capítulo

PESSOAL, O QUE ACHARAM????
Eu AMEI ADOREI ACHEI TUDO escrever esse quase beijo Johale, e amei mais ainda a Johanna dando o toco no Gale. É ISSO MESMO MIGA SE VALORIZAAAA GATAAAA.
E esse casal sensação Peeta e Clove, hein?? Aliás, a Clove tá sempre disposta a cuidar do coração partido dos nossos meninos, né nom??? E BEM FAZ ELA PORQUE SE EU PUDESSE PEGAVA OS TRÊS!!!!!!! (deus me perdoe por esta frase) (gente que absurdo eu nunca disse isso) (foi meu cachorro que digitou).
Eu fiquei muito feliz de ter conseguido colocar Bad Girl na fanfic, porque é uma das minhas músicas favoritas EVER e eu achei que nunca fosse conseguir encaixar aqui. Mas consegui, e ainda por cima nesse capítulo BOMBÁSTICO.
Roendo o pé da cama de ansiedade pelos coments de vocês.
UM BEIJO, UM APERTO NA BUNDA (homenagem a C E R T O S PERSONAGENS DESSA HISTÓRIA) E UMA SARRADINHA AO SOM DE YEAH (mais uma homenagem a C E R T O S QUASE CASAIS DESTA FANFIC) (não falei quais)