Money Make Her Smile escrita por Clarawr


Capítulo 20
I’m so tired being blue, crying over you


Notas iniciais do capítulo

24 dias desde o último comentário nesta fanfic, então vocês podem imaginar como estou me sentindo um lixo por ter demorado tanto a postar.
Pois é, gente, eu sei que disse que agora que estava de férias não ia deixar vocês esperando, etc, etc e realmente, essa não era a minha intenção, DE JEITO NENHUM.
A grande verdade é que eu sentei minha bunda de frente para o computador TODOS os dias desde a última vez que eu postei. Na verdade, logo depois do último post, eu já comecei a escrever isso aqui, mas eu tive um grande problema de bloqueio criativo em que ESTA PORCARIA NÃO SAÍA DE JEITO NENHUM. Eu gritei, me irritei, estive a ponto de martelar o computador, mas simplesmente não conseguia escrever esse capítulo do jeito que eu queria. Teve gente que veio até na dm me perguntar da atualização (Obrigada por isso, inclusive!) e eu disse que não passava de quinta, mas na verdade até agora não estou muito certa da qualidade desta porquera aqui.
Enfim, gente, eu queria pedir desculpas, do fundo do meu coração, mas é que foi difícil mesmo. Estou me cobrando essa atualização mais do que vocês, acreditem. E demorar para postar, principalmente depois dos reviews incríveis que vocês deixam dói muito mais em mim, tenham certeza.
Bom, falando sobre o capítulo, agora, eu não faço ideia do que vocês vão achar. Sério. Isso é uma coisa que eu meio que tinha planejada desde o início da fic, mas eu não faço ideia de qual reação esperar de vocês, então........... aguardo comentários kkkkkkkkkk
Ficou grande, é (maior capítulo da fic), porque tem muita coisa acontecendo. A música tanto do título como do capítulo em si é So Sick, do Ne-yo, e fala mais dessa questão do Finnick de não conseguir esquecer a Annie e tudo, mesmo que esteja cansado (so sick rsssssssss) de pensar na desgraçada (kkkkkk).
Espero que gostem, porque até agora nem eu sei se gostei ou não kkkk



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“And I'm so sick of love songs

So tired of tears

So done with wishing you were still here

Said, I'm so sick of love songs so sad and slow

So why can't I turn off the radio?’

O dia estava ensolarado, exatamente do jeito que Finnick gostava, mas o calor e a umidade típicos do verão carioca que tornavam o ar denso e pesado continuavam a aperreá-lo. Aperreá-lo tanto que ele estava quase rompendo sua regra pessoal de nunca reclamar do verão, independente do quanto de calor ele trouxesse, porque achava que qualquer queixa de sua parte seria hipocrisia se levar em conta que ele aguardava ansiosamente essa época do ano já que ela vinha acompanhada de seu paradisíaco recesso da faculdade.

Ele estava sozinho em casa. Peeta havia saído com Katniss para que pudesse desfrutar de sua tão esperada primeira noite e não dava sinal de vida desde a noite anterior. Pelo menos isso era um sinal de que as coisas iam bem, e que Peeta havia deixado suas inseguranças descabidas de lado. Finnick quase sorriu ao lembrar-se do desespero do amigo para uma simples noite de sexo. Isso era algo que ele jamais deixaria Peeta esquecer, nem jamais deixaria de zoá-lo.

Mas era inevitável, com aquela casa vazia e silenciosa, que seus pensamentos escorregassem para a imagem de Annie. Não só sua imagem, um retrato de seu rosto, pura e simplesmente. Finnick ouvia ecos de sua voz, de sua risada, de frases que ela havia lhe dito e provavelmente nem se lembrava mais. Não eram nem os “eu te amo” que voltavam à sua cabeça, ou os olhares apaixonados que os dois costumavam trocar. O que cutucava a cabeça de Finnick era o jeito que ela andava, como seus olhos imperturbavelmente verdes se moviam quando ela estava com pensamentos impuros na cabeça, as pontas dos dedos deslizando pelo longo cabelo liso e escuro; todas essas coisas banais e trejeitos que ela sempre teve, mesmo antes de conhecê-lo. Porque ele sabia que não tinha sentido pensar em todos os hábitos que eles criaram juntos se não havia mais relação para mantê-los vivos, se eles não existiam mais. Finnick sabia que não tinha cabimento pensar no jeito em que Annie lhe dizia que lhe amava, ou acariciava seus braços quando os dois estavam abraçados na cama se nenhuma dessas coisas aconteciam mais.

Estava perto de completar um mês desde aquele dia maldito que Annie aparecera naquele apartamento para acabar com tudo e não houve nenhum mísero dia que Finnick não sentiu seu peito se apertar. Às vezes era de saudade. Às vezes de tristeza. Às vezes de raiva, até de ódio, um ódio furioso e descontrolado. Não por ela, mas por toda a situação complicada que aquela louca criara em sua cabeça para mantê-los separados. Sentiu muita raiva dela, isso era inegável, e até se entristeceu porque percebeu que não a conhecia tão bem quanto julgava conhecer. Mas ódio? Impossível. Se ele a odiasse, não ansiaria mais que tudo para que ela batesse naquela porta aparecesse, tão inesperada e sorrateiramente como quando veio dar-lhe um pé na bunda, disposta a tê-lo de volta. E isso era o que mais lhe doía. Quase um mês, 30 dias, aproximadamente 720 horas, e ele sentia que não teria forças para dar-lhe as costas se ela surgisse tentando retomar as coisas como se nada tivesse acontecido.

E ele estava cansado, porque se tem uma coisa que estar triste o tempo todo faz é te esgotar. Tristeza cansa, o aperto no peito cansa, a saudade cansa. Ele queria poder sair de dentro de si mesmo só para não ter mais que lamentar o rumo que as coisas haviam tomado, para não se pegar nunca mais pensando no que poderia ter feito de diferente para Annie não ter desistido, para não sentir como se tivesse sido sua culpa. Ele estava cansado, não só no sentido de esgotado, mas como no sentido de saco cheio. Finnick não aguentava mais acordar e sentir as mesmas coisas. Ele abria os olhos toda maldita manhã e sua cabeça já lhe avisava que em breve o aperto estaria de volta, quase como um computador sendo iniciado.

Ele se virou de bruços na cama do quarto, porque suas costas já haviam ficado quentes devido ao contato prolongado com o colchão sem mudança de posição. Sua cabeça também estava quente devido aos pensamentos repetitivos sobre Annie, mas esses ele não tinha como rearrumar.

O telefone começou a berrar na sala, o irritante toque atravessando as paredes e chegando aos ouvidos de Finnick, fazendo seu corpo rejeitar a idéia de ter de se mover. O “trim trim” ainda ecoava, demandando urgentemente a presença de Finnick, e ele finalmente se levantou e soltou um suspiro a medida que sua cabeça girava com a mudança repentina de posição. Seus pés dançaram por um momento enquanto ele tentava caminhar na direção da porta do quarto e ele seguiu tropeçando até alcançar o telefone, já na sala.

– Alô?

– Finn? – Uma conhecida voz grave e levemente rouca o saudou.

– Pai? – Finnick perguntou, confuso.

– Oi, filho. – Finnick sentiu que o tom da voz mudara e ele quase foi capaz de ver seu pai sorrindo do outro lado da linha. – Como você está?

– Bem, bem. – Finnick respondeu, ainda meio aturdido. Ela havia saído de casa há quase três anos nesse período de tempo todas as vezes que falar com seu pai no telefone significaram: a) que estavam em alguma data comemorativa b) sua mãe estava sofrendo de saudades e queria combinar um almoço no próximo fim de semana ou c) alguma desgraça. – E você?

– Tudo indo, Finn, tudo indo... – Ele fez uma pausa que Finnick interpretou como um mau sinal. Seu pai sempre fora um cara calado, com tendência a deixar sua mulher – baixinha e invocada, mas cuidadosa ao extremo. - tomar a frente e resolver as coisas quando se tratava da criação de Finnick. Não era negligência, ou falta de amor; era falta de jeito mesmo. – Finn, eu liguei porque... – Ele hesitou e depois soltou uma risadinha. – Primeiro de tudo, como estão as coisas por aí? Você e o Peeta estão precisando de alguma coisa?

– Tá tudo ótimo, pai. – Finnick respondeu, caminhando até a cozinha com o telefone sem fio preso entre o ombro e o pescoço. – E a gente está se virando, como sempre. – Finnick fez uma pausa. – Está tudo bem mesmo, pai?

– Sim, filho... – Ele respondeu, parecendo distante. – Na verdade... – Ela voltou atrás e Finnick soltou um suspiro, preparando-se mentalmente para um dos três motivos acima teria motivado a ligação de seu pai. – Finn, as coisas estão mal aqui.

– Está tudo bem com a mamãe? – Finnick interrompeu o pai, uma sensação ruim crescendo de dentro pra fora e saindo sob a forma dessa pergunta.

– Está, está. – Ele fez uma pausa. Aquela conversa estava pausada demais para Finnick. – Finn, nós estamos com um problema. Eu e sua mãe. A gente está quebrado. Eu estou para ser demitido e só o que a sua mãe ganha como secretária não vai segurar as pontas por muito tempo. – Ele suspirou e Finnick pôde vê-lo andando pela casa com o telefone na mão e esfregando os dedos nervosamente pela testa, como sempre fazia quando estava irritado ou cansado. – A empresa está naquela de cortar gastos e eu não vou durar muito. Eles mal estão vendendo para se sustentar, quanto mais para sustentar os outros. – O pai de Finnick trabalhava há quase 15 anos em uma tradicional sapataria no subúrbio. – É claro que eu vou me virar e arrumar algum outro emprego, mas seu pai já está velho e não é um gênio, nem tem um puta diferencial. Não tem muita gente disposta a dar um emprego para alguém que não sabe fazer muito além de vender.

– Pai... – Finnick murmurou, sem conseguir esboçar nenhuma reação além dessa.

– Eu sei. Mas calma, porque eu sei que a gente vai dar um jeito nisso tudo. Eu e a sua mãe sempre demos, mesmo antes de você nascer. Afinal, quem é da Vila não vacila. – Seu pai citou a famosa rima que sempre era atribuída aos moradores do bairro de Vila Isabel, onde o Sr. Odair tinha nascido e formado sua família. Finnick conseguiu sorrir. – Mas a questão, filho, é que até as coisas se estabilizarem eu não vou mais poder te ajudar.

Agora nós fazemos uma pausa para explicar essa “ajuda”. Finnick e Peeta dividiam o apartamento, e como todos sabem, manter um casa custa caro. O apartamento era alugado, então, para ajudar os filhos a concretizar o sonho de morar sozinhos e mais perto da faculdade, os pais dos dois concordaram em ajudar com o aluguel do apartamento, dividindo entre si o valor da locação. Alimentação e as contas ficavam por conta dos meninos, mas o valor do teto ficava dividido entre as duas famílias desde que os dois acordaram dividir o apartamento.

– Eu não tenho mais como te mandar esse dinheiro. Eu não vou ter esse dinheiro, não tenho de onde tirá-lo. – o Sr. Odair fez uma pausa, esperando que o filho falasse alguma coisa. Não que Finnick fosse reclamar, porque ele sempre foi acostumado à condição simples da família. Desde pequeno sabia que seus pais fariam de tudo por ele, e que se estavam lhe negando algo, o motivo residia em nada além do que falta de condições financeiras.

– Pai... – Finnick repetiu. – Pai, a gente precisa resolver isso.

– Nem pense, Finn. – Seu pai cortou seu protesto pelo meio. – Você vai entrar no último período da faculdade, eu quero você bem concentrado nos estudos para poder entrar no mestrado logo assim que acabar a graduação.

– Mas pai, como é que você quer que eu pense em mestrado sabendo que você e a mamãe estão nessa pindaíba?! – Finnick exclamou mais do que perguntou, seus pés agora o levando para o corredor do apartamento, que ele já havia cruzado quatro vezes. Finnick não conseguia ficar parado com o telefone na mão. Herdara isso de seu pai.

– Finn, a gente vai se virar. Eu não quero que você se preocupe conosco. Eu nem estaria te ligando para dizer isso se eu não tivesse que te avisar que não vou mais poder te mandar o dinheiro do aluguel. Eu não quero que você esquente a cabeça pensando em mandar dinheiro pra gente.

Então Finnick pensou. Sua cabeça girava, girava em círculos monótonos e desesperados que não mostravam nenhuma novidade ou saída, sem conseguir pensar em nenhuma idéia de grande ajuda. Na verdade, a única solução que lhe ocorria era meio drástica, trabalhosa e desgastante...

– Você... – Ele gaguejou, pensando que talvez o pai pudesse não ter pensado nisso, o que lhe livraria da responsabilidade de apresentar essa idéia, mas sabendo que tinha uma obrigação moral de sugerir tudo que pudesse, mesmo que remotamente, servir como ajuda para a situação de seus pais. – Você quer que eu volte?

– O quê? – Seu pai perguntou.

– Voltar. Praí. Pra Vila. – Ele explicou.

– Você enlouqueceu, garoto? – Finnick ouviu a voz de seu pai se elevar. – Nunca. Nem que essa fosse a última solução. Eu jamais te obrigaria a fazer qualquer coisa que fosse prejudicar seu desempenho na faculdade. Ir para a UFRJ daí é muito mais fácil do que daqui.

– Mas pai...

– Não fala bobagem, garoto. – Seu pai o interrompeu. – Se você acha que esse grande sacrifício – o Sr. Odair ironizou. – vai me ajudar de algum jeito, eu te provo que não: com você morando aí, eu só gasto os R$400 reais do aluguel contigo. Agora se você vier para cá, vai ser mais uma boca comendo, usando da minha água e da minha luz. Imagina o quanto que as contas vão subir se você voltar!

Finnick foi obrigado a soltar uma risada. Era bem a cara de seu pai mesmo, num momento como aquele, onde deveria estar comovido com o desprendimento do filho, jogar um balde de água fria no ato heróico que o loiro provava estar disposto a fazer.

– Está bem, pai. – Ele concordou, ainda rindo um pouco, por mais que a situação parecesse trágica. – Mas então me diz o que eu posso fazer para ajudar vocês.

– Eu já falei: se concentre no fim da faculdade. A única coisa que você vai precisar fazer é bancar sua própria parte no aluguel do apartamento. Mas assim que as coisas se acalmarem eu volto a te ajudar, filho, eu prometo. – O tom grave voltou à voz de seu pai e Finnick de repente sentiu algo ruim se agitando dentro dele.

Era horrível estar de cara para um problema e não ter meios de resolvê-lo. Finnick sentia como quando ele era criança e seus pais o afastavam da sala sempre que havia alguma questão maior sendo discutida. Como se não tivesse capacidade ou maturidade para participar da resolução de um problema que envolvia a família toda. Agora ele tinha 22 anos de idade, mas os hábitos pareciam ter mudado pouco.

– Pai... – Ele suspirou. – Que merda. Eu queria estar aí com vocês.

– Mentiroso. – o Sr. Odair acusou e Finnick riu.

– É sério. – Ele insistiu. – Como está a mamãe?

– Normal. Ela sabe que as coisas vão ficar apertadas por um tempo, mas a gente sempre se ajeita. – Mais uma pausa incômoda, porque o Sr. Odair conhecia seu filho e sabia que Finnick ainda estaria pensando em alguma medida para resolver tudo, não importando quantas vezes lhe dissessem que ele não precisava se preocupar. Em parte isso lhe dava orgulho, porque mostrava que a criação dada à Finnick obtivera algum sucesso, mas por outro lado, lidar com a teimosia do filho podia ser bem incomodo de vez em quando. – Bom, era isso. Liguei só para dar a triste notícia.

– É, eu sei. – Finnick respondeu. – Se cuida, pai. De verdade. Qualquer coisa, você sabe que pode me ligar, não é? Nem se você e a mamãe precisarem vir morar aqui com a gente.

– Eu sei, filho. Obrigado. Obrigado mesmo.

Os dois se despediram e Finnick caminhou até a sala novamente, na intenção de colocar o telefone de volta na base, aquela típica sensação de cabeça oca pós-notícia ruim assaltando sua cabeça. Depois de fazer seu cérebro se concentrar minuciosamente na colocação do telefone em seu devido lugar, Finnick ficou alguns bons minutos parado, encarando o aparelho.

O que ele faria agora? Não é como se ele não estivesse acostumado a viver apertado, vá lá, mas o dinheiro que ele conseguia no estágio mal era suficiente para sustentá-lo durante o mês. Contas, comida, uma ocasional saída no fim de semana... Ele teria de reorganizar todos os seus gastos. E... contar para Peeta de sua nova situação financeira.

Finnick sabia que podia contar com Peeta, mas não teria como pedi-lo para assumir o valor integral do aluguel. Mas ele teria de pedir paciência para o amigo, no sentido de que o dinheiro para as outras contas que eles normalmente dividiam poderia atrasar um pouco de agora para frente. Ele sabia que o amigo jamais reclamaria pelos atrasos, mas ele se sentiria mal de deixá-lo na mão. Peeta podia estar numa situação financeira um pouco melhor do que Finnick, mas ninguém ali podia esbanjar. E quando você conta os seus trocados para dividir as contas com seu melhor amigo todo mês, qualquer novo arranjo na divisão pode ser uma complicação.

Ainda olhando com cara de tacho para o telefone, Finnick ouviu seu celular tocar, dessa vez no quarto. Exatamente como quando ele estava no quarto e o telefone tocou na sala, seu corpo rejeitava a idéia de ter de atravessar a casa para atender quem quer que fosse, mas ele sabia que se ignorasse a ligação a pessoa provavelmente ligaria de novo, e de novo, e se ele não atendesse nunca mais alguém o daria como morto – o que sinceramente não parecia uma má idéia naquele exato instante.

Ele andou a passos rápidos até o dormitório e resgatou o celular, que repousava placidamente em cima da cama. Seus olhos bateram rapidamente na tela, somente pelo tempo necessário para registrar o remetente da ligação.

– Alô? – Ele disse para o telefone.

– Oie! – A voz perpetuamente animada de Cashmere o saudou do outro lado da linha. – Tudo bem?

– Oi, Cash. – Ele disse, sorrindo um pouco pelo entusiasmo da garota. – Tudo, sim. E você?

– Estou ótima, mas estaria melhor ainda se estivesse fazendo alguma coisa nesse dia lindo.

– E deixa eu adivinhar, você me ligou para ser sua companhia? – Finnick perguntou.

– Isso! – Ela exclamou do outro lado da linha. Cashmere tinha um entusiasmo natural que beirava a infantilidade, mas de um jeito bom. – Na verdade eu estou perto da sua casa... Vim visitar minha prima e tudo. Estou em Santa Teresa. – Ela disse, referindo-se ao bairro vizinho ao de Finnick. – Você não está a fim de descer para me encontrar? – Ela sugeriu. – Nem que seja para a gente ficar sentado conversando na escadaria de Santa, sério. – Ela disse, referindo-se às famosas escadarias coloridas que levavam às vilas, que abrigava a maior parte dos moradores dos bairros. – Eu só não estou a fim de voltar para casa agora.

Finnick mordeu o lábio, hesitante. Ele não estava exatamente a fim de sair naquele momento, mas pensou que talvez botar o pé para fora de casa pudesse ser bom. E ele sentiu uma certa energia estranha no “Eu só não estou a fim de voltar para casa agora.” de Cashmere que o fez pensar que talvez ela precisasse dele mais do que apenas para acompanhá-la em um passeio num dia bonito.

– Vamos. – Ele disse, finalmente.

– Eba! – Ela comemorou. – Eu te encontro na descida da sua rua, pode ser?

– Pode. Eu vou trocar de roupa e descer.

– Vê se não demora, tá, fofinho? – Cashmere ironizou.

– Aposto que eu vou chegar aí antes de você, fofinha. – Ele respondeu.

– Então corre, vai, vai. – Ela disse, sua voz levemente distorcida por uma risada e pela respiração ofegante. Finnick deduziu que ela devia estar andando rápido para alcançar o ponto de encontro antes dele e sorriu com a possibilidade. Cashmere era uma criança, mesmo. – Beijo.

–Beijo. – Ele respondeu e desligou o telefone, abrindo seu armário e procurando a bermuda menos surrada do armário para vestir e ir ao encontro de Cashmere.

~~

– Eu disse que ia chegar aqui antes de você. – Finnick acusou, quando Cashmere se aproximou dele cerca de cinco minutos depois de ele ter chegado na rua combinada para o encontro.

– Desculpa, desculpa! – Ela disse, abraçando o amigo. – É que eu tive que parar para comprar essas pulseiras. – Ela ergueu o pulso já cheio de penduricalhos e Finnick não soube dizer exatamente qual era a nova. – O moço da barraquinha fez as duas por seis reais, eu não podia desperdiçar a oportunidade. Você já chegou faz muito tempo?

– Não. – Finnick respondeu, sorrindo para Cashmere. – E então, para onde vamos?

– Não sei, você decide. – Ela respondeu.

– Vamos tomar sorvete. – Finnick sugeriu, começando a andar. Cashmere o acompanhou. – Cash... – Ele hesitou. – Você está legal?

A loirinha franziu o cenho.

– Estou. Por que não estaria? – Ela perguntou.

– Não sei, no telefone você disse que não queria voltar para a casa agora... Achei que pudesse ter acontecido alguma coisa. – Finnick explicou.

– Ah, não. Está tudo normal – Cashmere disse, vagamente, e Finnick não sabia dizer se aquela vagueza era proposital ou apenas fruto da distração constante da menina. – Tudo normal. – Ela repetiu.

– Normal não é bem. – Ele respondeu, a medida que os dois desciam a rua rumo à sorveteria.

– Ah, você sabe. É que sempre que eu entro de férias dá merda porque eu fico muito tempo em casa com a minha mãe e a gente se estranha. Mas não foi por isso que eu disse que não queria voltar para casa, está tudo bem entre a gente, pelo menos por enquanto. Eu só não queria desperdiçar esse dia lindo, mesmo. – Ela tagarelou. – E você?

– O que tem eu? – Finnick perguntou.

Os dois entraram na sorveteria e se dirigiram ao balcão para fazerem seus pedidos.

– Está tudo bem?

– Tudo... – Finnick respondeu, embora claramente isso não fosse verdade.

– Mais uma vez, com mais sentimento e veracidade para a cena ficar melhor. – Ela ironizou e Finnick sorriu.

– Tá. – Ele disse. – Cash, se eu te falar uma coisa, você jura que não conta pra ninguém? Tipo, ninguém mesmo? Porque você vai ser a primeira pessoa pra quem eu vou contar isso.

– Claro que eu juro. – Ela respondeu. – Eu quero uma bola de chocolate branco com biscoito. – Ela disse, dessa vez se dirigindo ao atendente no balcão.

Finnick fez seu pedido e os dois foram para uma mesa vazia no canto da sorveteria.

E ele contou tudo que estava acontecendo, a ligação de seu pai, sua insistência para que ele não se preocupasse e sua total impotência diante da situação que agora preocupava sua família.

– E é isso. E eu não sei o que fazer. E eu não sei de onde eu vou tirar dinheiro pra bancar o aluguel nem faço ideia de como ajudar meus pais. – Ele concluiu, quando os dois já haviam saído da sorveteira e caminhavam na direção de uma das escadas de Santa em busca de algum lugar para sentar.

– Putz, Finn... – Cashmere disse, sem conseguir pensar em mais nada para confortar o amigo.

– Eu sei. Fiquei mais ou menos assim quando meu pai me ligou, também.

– Mas, sabe, você não deveria se preocupar tanto com isso agora. Eu não estou te dizendo para não ficar preocupado, porque é óbvio que você vai ficar. São seus pais. Mas você acabou de receber a notícia, não tem como se cobrar uma solução assim tão rápido. Não precisa se sentir mal por não saber o que fazer. – Ela sentou em um degrau coloridinho e Finnick sentou-se ao lado dela.

– Mas eu devo isso a eles, Cash. Eles sempre fizeram tudo por mim, mas continuam agindo como se eu fosse uma criança e me tirando de perto quando tem algum problema maior para resolver.

– Eles estão com medo de você se concentrar neles e perder o foco da faculdade. Pensa bem, Finnick, a faculdade foi tudo que eles sempre quiseram para você. Cada centavo que eles gastaram na sua educação foi para você ir estudar em algum lugar que fosse te dar um futuro melhor e eles não querem te ver desperdiçando tudo isso preocupado com eles.

– E eu vou me sentir um filho da puta egoísta se simplesmente esquecer do que eles estão passando e continuar minha vida como se nada estivesse acontecendo. Eu sei que eles podem se resolver e que tudo vai ficar bem, mas eu quero que eles saibam que eu me importo.

– E você acha que eles não sabem? - Cashmere perguntou. – Fala sério, Finnick, eles conhecem o filho que criaram.

Finnick suspirou. Cashmere estava tentando confortá-lo, e seus conselhos pareciam surpreendentemente sensatos, mas não adiantava. Nada que ninguém dissesse podia tirar aquela preocupação de sua cabeça, pelo menos não naquele momento.

Subitamente, Finnick sentiu uma frustração esmagadora crescendo dentro de si, a irritação arranhando seus membros de dentro para fora. De repente todas as coisas com as quais ele vinha tentando lidar emergiram de uma só vez, acompanhadas de uma onda de raiva e vontade de desistir. Seu coração partido, todo o amor que os caquinho ainda insistiam em sentir por aquela que o quebrara, a frustração de ter de parecer estar bem e o recente problema financeiro da família; tudo voltou em uma só onda, revirando o peito de Finnick e o fazendo querer simplesmente largar tudo e andar sem rumo até algum lugar onde ele já não se lembrasse mais de todas essas coisas com as quais ele tinha que lidar.

– A Annie terminou comigo. – Finnick disse, aleatoriamente e Cashmere virou um pouco a cabeça para o lado, confusa com a repentina mudança de assunto. – Faz um mês.

– E por que você não me falou nada? – Cashmere perguntou.

– Eu não falei pra muita gente. Na verdade, só falei para o Peeta porque ele convive comigo e percebeu que eu estava prestes a pular pela janela. E o Peeta falou pro Gale, porque eu passei uns três dias trancado no quarto e eles ficaram com medo de eu ter me matado de verdade. – Finnick riu de como a coisa toda soava incrivelmente dramática quando ele a colocava da maneira mais prática possível. – Se eu pudesse, não teria contado pra ninguém.

– Por quê?

– Porque eu podia fingir que não tinha sido real, ou que pelo menos eu não tinha ficado tão desgraçado da cabeça. E sabe qual é a merda, Cash? – Ele perguntou retoricamente. – É que eu acho que não superei até agora. Eu melhorei, claro, porque agora eu consigo olhar em volta e ver que ela não vai me querer de volta e que eu tenho que seguir em frente, mas eu estou cansado. Cansado de pensar nela, de ter ficado tão triste por ela, e dela até hoje aparecer nos meus pensamentos de vez em quando. Sabe, às vezes eu estou lá sozinho em casa e vou pra cozinha pegar um copo de água e de repente a cara dela aparece na minha cabeça, e a lembrança é tão forte que eu fico pensando se na verdade não estou tão ruim como quando no primeiro dia depois de ela ter me dispensado.

– Ai, Finn... – Cash começou, olhando para o amigo. – Eu sou péssima com essas coisas, mas me parece que você está num daqueles momentos horríveis da vida em que tudo de ruim simplesmente vem junto e você tem que resolver mil coisas ao mesmo tempo, não é? – Ela perguntou e Finnick assentiu, levemente surpreso por Cashmere ter entendido com tanta rapidez o que se passava dentro dele, levando em conta o quão distraída e avoada ela era. Mas Finnick começava a perceber que essa distração toda se aplicava apenas às coisas terrenas, porque no campo sentimental ela demonstrava ser uma observadora e tanto. – É. É uma merda mesmo. E não tem mais nada que eu possa te falar, porque não tem mais nada para ser feito. – Ela disse, simplesmente, e sua praticidade fez Finnick rir. Observadora, sim; hábil com os conselhos, nem tanto. – Só que... – Ela começou, hesitante em dar seu pitaco. – olha, com todo o respeito, porque eu sei que você está sensível e tudo, - ela disse, jogando seus cabelos loiros para o lado e dando uma risadinha. – você é gato, Finnick. Por favor. Eu sei, eu sei – Ela disse, quando ele abriu a boca para protestar. – não importa, porque você não tem vontade de fazer nada, sair com ninguém, blá, blá, blá, mas você precisa tirar essa bunda de dentro de casa! – Ela exclamou. – Não precisa flertar com ninguém, vai com calma, mas só para você ver gente, deixar as meninas repararem em você. Vai fazer bem pra sua auto estima.

– É exatamente o conselho que todos os meus amigos me deram. – Ele respondeu.

– Então. – Ela disse. – Obviamente nós estamos certos. Vai por mim, querido, assim que você se lembrar do quanto é bom paquerar, você vai querer fazer de novo. E aí, tcharãm, - Ela fez um gesto com as mãos, esticando os dedos como se fosse um clarão de luz. – teremos Finnick Odair de volta à ativa, para a sorte das meninas solteiras do Rio.

Ele riu, porque era engraçado ouvir aquelas palavras motivadoras saindo da boca da pequena e delicada Cashmere. Ouvir isso de Peeta era uma coisa, porque você não espera de um típico galinha nada além de um conselho como esse, mas Cashmere sempre dera a impressão de ser romântica, doce e adoravelmente tímida em toda a sua atrapalhação e, bom, ali estava ela, sugerindo que ele se lançasse totalmente livre na posição de estar na pista para negócio.

Ela sorria enquanto ele ria do que acabara de escutar e os dois viraram para frente, parando por um momento para observar a paisagem em frente. O bairro de Santa Teresa era simples, habitado por muitas famílias. Santa tem cheiro de casa, exala diversidade. Você pode encontrar de tudo por lá, e era exatamente isso que o tornava tão ou mais encantador do que os destinos mais famosos do Rio. Em frente aos dois, uma pracinha vazia exibia diversos brinquedos coloridos, a falta de crianças trazendo uma atmosfera melancólica para o cenário. O sol estava abaixando, lançando aqueles raios doidos e aparentemente sem direção correta, forte como ao meio dia em alguns pontos, fraquejando como no fim da tarde em outros.

Finnick olhou para o lado e uma faixa de luz amarela iluminava o cabelo loiro claro de Cashmere, fazendo reluzir magnificamente e contrastar com as pontas, atualmente pintadas de verde escuro. Seus olhos abaixaram e catalogaram minuciosamente tudo que ele podia ver no perfil da garota: a blusa vermelha de alcinhas, os pulsos cobertos de pulseiras, as mãos esticadas contra o degrau na intenção de segurar seu peso de modo que ela pudesse ficar com o corpo levemente erguido e esticado, as unhas compridas pintadas de azul, o short jeans cobrindo as coxas finas...

Um pensamento esquisito rondou a cabeça de Finnick, pungente como uma bala perdida. E bem no exato instante em que ele tentava tirá-lo da cabeça, Cash virou-se para ele e sorriu adoravelmente, fazendo desistir de qualquer possível tentativa de ser sensato.

Bom, ela disse que ele era gato. Ela o havia aconselhado a começar de novo. Por que não?

Meio que sem saber porque estava insistindo naquela loucura, Finnick aproximou o rosto de Cashmere, inclinando levemente a cabeça para poder tocar os lábios rosados da garota.

Foi só quando já havia se passado um bom tempo e o beijo não acontecera que ele notou que algo de errado estava acontecendo.

Cashmere afastou delicadamente a cabeça, constrangida.

– Desculpa. – Finnick disse, sacudindo a cabeça. – Desculpa, mesmo. Eu fui um otário.

– Não, não, Finn. – Ela se apressou em dizer. – Não, a culpa não é sua.

– É que eu... – Ele se interrompeu. “Merda, Finnick, você não acerta uma.“, ele pensou.

– Não. – Ela disse mais uma vez. – Eu que errei. Sabe, eu fico até lisonjeada. – Ela disse, com um sorrisinho. – De verdade. Mas é que... – Ela hesitou, mexendo nos brincos da orelha esquerda nervosamente. – é que eu sou lésbica, Finn.


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Notas finais do capítulo

OLHA EU JURO POR DEUS NÃO SEI SE VOCÊS VÃO QUERER ME MATAR ME AMAR ME ABRAÇAR OU ME ESFAQUEAR ENTÃO POR FAVOR PEGUEM LEVE.
É só que o Finnick ainda está mal, coitado, mas não está morto, né, manas? E já estava na hora de movimentar a situação Fannie aqui, porque (a princípio), ambos vão seguir com suas vidas. Se vão conseguir, ou se vocês vão aprovar algum outro casal que eles possam formar, isso já é outra história kkkk
Tô louquinha pra ler os comentários de vocês, mais do que nunca.
Um beijo enorme e uma mordida na orelha.
PS: PRA QUEM CURTE TER UMAS PESSOAS MALUCAS NA TIMELINE DO TWITTER OU SÓ QUER ME STALKEAR MESMO PRA SABER EM QUE PÉ ANDA A PRODUÇÃO DOS PRÓXIMOS CAPÍTULOS, ME SIGAM AÍ: @ifimoonshine