Capítulo 19

Sair dos braços de Elena naquela manhã foi difícil. Estar com ela era tudo que eu precisava e tudo que eu desejei. Ela era meu pensamento dia e noite, e ela estando comigo, me completava de um jeito que nunca senti antes.

– Damon? – sua voz doce e rouca soou em meus ouvidos quando me afastei da cama e dos lençóis macios.

– Desculpe se eu te acordei – eu disse, aproximando-me novamente para beijar seus lábios.

– Você já vai? – sua sobrancelha esquerda se arqueou em questionamento. Suspirei.

– Elena, eu quero fazer tudo certo dessa vez – peguei suas mãos entre as minhas e beijei seus dedos longos e magros – Eu ainda estou casado com Hayley, mas quero ficar com você.

– Vai pedir o divórcio?

– Sim, e algo que eu deveria ter feito há muito tempo, mas esse é o momento, não posso esperar ou adiar isso ainda mais.

Ela sorriu, um sorriso encantador que me fazia lembrar a Elena adolescente. Era um sorriso jovem, iluminado... Era lindo!

– Depois me ligue – ela disse.

Beijei-a novamente e acabei de vestir minhas roupas. Passei no quarto de Lizzie, e a observei dormir por alguns instantes, e logo depois saí do apartamento.

Eu sabia que conversar com Hayley não seria fácil, afinal passamos muitos anos juntos e eu sabia que ela me amava, mas meu amor por ela não era desse tipo.

Após alguns minutos cheguei no prédio em que morávamos. Cumprimentei o porteiro que me olhou questionador, e subi para nosso apartamento. Quando entrei, encontrei Hayley sobre o sofá, com o rosto escondido entre as mãos.

– Eu sei – ela disse antes que eu pudesse abrir a boca – Eu sei onde você estava e eu te odeio por isso, Damon.

– Hayley... – suspirei – Eu gostaria de dizer que sinto muito, mas eu não sinto, na verdade eu me sinto muito feliz, como eu não me sentia há muito tempo. Me odeio porque sei que isso te magoa, mas é a verdade e eu não posso mais esconder isso e te machucar ainda mais... Me machucar! – disse tudo que estava entalado na minha garganta.

Ela se levantou, transtornada enquanto lágrimas escorriam de seu rosto, veio em minha direção e esmurrou meu peito. Uma, duas, três vezes. Eu não a impedi, sabia que merecia isso. Invés de sentir dor – Hayley não tinha a mão leve – senti alivio.

– Eu te odeio Damon Salvatore, te odeio, te odeio! Odeia ela, odeio ela! Por que você sempre amou ela? O que ela tem que eu não tenho Damon? Por que você não pode ficar comigo? Ein, Damon? Eu te amo, por favor, não faz isso comigo... Fica aqui, fica comigo!

Sua voz alta foi se tornando raivosa e logo era apenas uma lamuria sofrida. Seu corpo escorregou ante a mim, e ela caiu no chão, aos prantos.

Abaixei-me e segurei seu rosto nas mãos, olhando bem fundo em seus olhos verdes.

– Sinto muito, Hayley, mas não posso fazer isso, não mais, não quero viver numa mentira. Espero que me perdoe um dia, por mais que eu não o mereça.

Beijei sua testa com carinho, e demorei com os lábios ali. Com o coração na mão por deixa-la daquele jeito, fui até o quarto e comecei a fazer minha mala. Do canto dos olhos, a vi encostada no batente da porta, com o olhar marejado e sofrido, a maquiagem borrada que escorria por seu rosto.

– Eu não vou ser nenhuma nojenta, Damon – ela disse, se aproximando de mim. Limpou as lagrimas e me olhou – Não vou brigar por você, não vou me rebaixar a esse nível, se vamos nos separar, eu manterei minha classe.

– Não esperaria menos de você – sorri.

Quando deixei o apartamento, ainda no meio do corredor, eu pude ouvir seus gritos raivosos e barulhos de coisas quebrando. Era aquela típica cena de gente que pode gastar dinheiro e quebrar coisas caras, mas apesar de sentir que precisava, não voltei. Hayley não dependia de mim, e a única coisa que nos ligava agora era o casamento que logo seria anulado. Mantive isso na minha cabeça!

Voltei para casa de Elena em poucos minutos. Arregacei as mangas e afrouxei a gravata, me sentindo mais cansado do que deveria, estava vestido assim pois pretendia passar na empresa, mas sinceramente não tinha mais forças para isso.

– Papai! – Lizzie me recebeu com um delicioso abraço de boas vindas. Incrível como uma criança é capaz de mudar o mundo de uma pessoa – Onde você tava?

– Resolvendo alguns assuntos – respondi sorrindo, após beijar sua testinha. Ela estava cheirosa e já não usava mais o pijama.

– Que assuntos, papai? – perguntou curiosa.

– Coisa de adulto, anjinho.

– Aff, odeio quando vocês adultos tem conversa de adulto – ela fez um biquinho adorável e eu gargalhei, sentindo meu peito dor de tanto amor que eu sentia por aquela garotinha.

– Ok, menininha – revirei os olhos de brincadeira – Onde está a mamãe?

– Tá no quarto, ela disse pra eu avisar que se fosse você na porta era para você ir para lá – disse – Mas eu quero ficar com o papai!

– Eu vou conversar com a sua mamãe e depois eu prometo que fico com você ok?

– Jura de dedinho? – ela ergueu o dedo mindinho, com uma sobrancelha arqueada em desafio, como Elena sempre fazia.

– Juro de dedinho – lacei meu dedo com o dela e ela me olhou satisfeita, voltando a ver o desenho que passava na TV.

Andei pelo corredor largo até que cheguei em seu quarto, ela estava sobre a cama, lendo um livro. Os cabelos longos estavam amarrados em um rabo de cavalo que deixava alguns fios teimosos caírem. Fica simplesmente linda daquele jeito tão natural!

– Vai ficar me encarando até quando? – perguntou com a voz divertida, tirando-me dos meus pensamentos.

– Apenas estava pensando em como você é bonita – eu disse, aproximando-me. Sentei-me ao seu lado, e segurei sua mão – Conversei com Hayley.

Vi Elena ficar tensa, mas não querendo me deixar notar, evitou o olhar no meu. Suspirei.

– E ai?

– Não foi bem uma conversa, acho que tudo pode ser definido como desabafo. Hayley estava transtornada. Eu sei que não fui muito sensato e responsável, mas mesmo assim ela entendeu tudo, isso foi incrível da parte dela. Ela disse que iria aceitar o divórcio e que sairia por cima de tudo, mas eu sei que ela está sofrendo.

– Damon... – Elena me olhou, se colocando entre minhas pernas e me olhando fixamente, com ambas mãos sobre meu rosto – Eu sei que tudo isso é difícil, mas é necessário. Ninguém pode viver mentiras, e Hayley vai entender, ela é uma mulher sensata e incrível – ela sorriu – Eu sei que você não escolheria qualquer mulher para casar com você, então coloque um voto de confiança no que vocês viveram.

Eu a olhei maravilhado, encantado com tudo que Elena era.

– Você é perfeita, sabia? – a beijei, sentindo meu coração acelerar.

– Papai!

A pequena Lizzie estava parada no vão da porta, com as mãos na cintura e a carinha emburrada enquanto olha de mim para Elena.

– Você prometeu!

– Estava apenas terminando de conversar com a mamãe, amor – respondi sorrindo, Elena me olhou questionadora.

– Prometeu o que? – perguntou a morena mais velha.

– Ficar com essa princesa linda do pai – me levantei e fui até ela, a pegando no colo, enchendo-a de beijinhos enquanto ouvia a gargalhada mais linda do mundo.

– Pra sempre, papai? – me perguntou de repente.

– Pra sempre o que, Lizzie? – indaguei confuso.

– Ficar com a Lizzie e com a mamãe pra sempre.

Lizzie era inocente, e eu sabia que aquela simples frase mostrava tudo que ela era. Gentil, carente, amorosa... E muito mais.

Elena me olhou com os olhos marejados e um sorriso incrível nos lábios. Voltei a encarar minha menina e beijei sua bochecha.

– Para sempre Lizzie, vou ficar com vocês para sempre de agora em diante.

Olhei novamente para Elena, que agora vinha em nossa direção. Ela me beijou e senti o gosto salgado das lágrimas, e depois beijou Lizzie na testa.

– Agora seremos uma família como você queria, boneca.

E o sorriso que a baixinha deu foi suficiente para inundar-me completamente de amor e tudo que aquelas duas estivessem dispostas a me oferecer. Eu nunca recusaria!