Love Story escrita por Lady Rogers Stark


Capítulo 56
Capítulo 56 (depois edito o título)




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Vigio todos e tudo. Poucas pessoas dançam, mas muita gente veio. O salão está lotado, todos compareceram. Continuo checando se a comida que estão servindo está com a qualidade prometida. E depois vejo com o quarteto de cordas, amigos meus que estão animados para tocar para tanta gente “importante”. Eles acham que são importantes, mas discordo.

Ainda estou com raiva. Explodindo de raiva. Nem dirigi a palavra ao Jhones. Não o chamo mais de senhor, mas apenas de Jhones. Não há mais respeito. Mas quando a esposa dele veio falar comigo, Barbara, ela é tão gentil e educada que não tive como ficar com raiva de alguém só porque é casada com ele.

Alisei o vestido e segui para o pessoal responsável pelas luzes. Expliquei que há lugares que está muito escuro e que transfira o excesso de luzes do centro para esses lugares. Eles acatam a ordem em cinco minutos, quando eu já estava conversando com os convidados e tentando esquecer os meus problemas.

A música é calma e romântica, eu queria dançar, mas não ouso dançar com ninguém além do Steve. Ninguém. Me convidaram quatro vezes desde que cheguei aqui e comecei a me socializar, mas neguei todos e dei a desculpa que torci o tornozelo, ou estou com um salto muito alto ou simplesmente estou a trabalho.

Dos convidados fui a cozinha avisar que os enroladinhos de salmão estavam acabando e que era para levar mais. Os funcionários concordaram e eu já vi novos pratos indo em direção a mesa de comida. Dei uma olhadinha no palanque montado as pressas hoje e respirei nervosa. Onde será a equipe patetal irá apresentar o projeto?

Não me sinto mal pensando coisas ruins deles. Eu os culpo, mesmo eles não terem feito de propósito. Mas culpo a mim mesma também. Na verdade, principalmente a mim. Enquanto eu não ouvir que está tudo bem saindo da boca do Steve, não deixarei isso escapar da minha mente.

Se passou mais meia hora e eu já estava na minha terceira taça de champanhe. Me surpreende que eu não tenha tomado mais. Por mim eu estaria fora desse vestido apertado e bebendo vinho em casa tentando não pensar nos meus erros. Mas sei que falharia tanto quanto agora estou tentando me concentrar no trabalho e não pensar nele.

Olho ao redor no cantinho do salão, perto de uma pilastra feita toda de granizo bege, muito bonita. Na verdade, as cores principais desse salão sem essas luzes de festa é salmão e bege, algo bem básico. Até o chão é feito desse material.

Os lustres fazem parte do lugar, não aluguei de uma loja de lustres. São bonitos, elegantes e bem grandes. São quatro, todos iluminando o centro do salão. Eu diminuiria essas luzes coloridas que Jhones pediu para colocar, tudo para dar a atenção que esses lustres magníficos merecem.

Pessoas passam por mim, alguns funcionários eu reconheço e os cumprimento educadamente. Mas ao me despedir de Betty, com quem pedi para conversar segunda feira, vejo Jhones acenando para mim. Ele queria que eu fosse até ele para alguma coisa. Espero que não seja um desperdício de novo como foi a “emergência de ontem”.

Me aproximei descontente, mas tentando disfarçar isso. Por mais que eu esteja furiosa com ele, não consigo dizer e demonstrar isso tão claramente. Se eu fosse aquela adolescente revoltada e rebelde de dez, onze anos atrás eu conseguiria. Mas agora preciso colocar um sorriso na boca porque isso é vida adulta.

Me aproximo e vejo Barbara rindo de alguma coisa que ele disse e até penso se era sobre mim. Mas Barbara é muito educada, não iria deixar algo assim acontecer. Eu espero.

—Ah, Laura, essa festa está incrível – ela comenta e sorrio agradecida e um pouco sem graça. Eu não estava achando grande coisa pois eu não conseguia aproveita-la, mas que bom que ela está e as outras pessoas também – Diga para ela, querido – ela o incentiva e imagino que ela saiba que ele não é uma pessoa de elogios fáceis também.

—Sim, está bem legal sim – ele afirma e dou um sorriso mais discreto segurando as minhas mãos na frente do corpo –E avisa aos instrumentistas que a hora da apresentação é em cinco minutos – concordo com a cabeça de prontidão. Irei fazer isso sim – E se prepare e quero que fique do lado esquerdo de Carlos, ok? – pânico e choque, são as primeiras coisas que penso.

—Vou ter que subir no palco? – pergunto alarmada e Barbara ri achando graça do meu desespero. Jhones confirma com a cabeça – Para fazer o teste? – pergunto ainda mais preocupada. Eles deixaram bem claro que eu não teria que fazer mais aquilo. Mas parece que a palavra deles não vale nada. Jhones revira os olhos.

—Claro que não. É apenas para ficar no palco, não dizer nada e nem fazer nada. Apenas ficar lá. Não recebeu o e-mail? – pergunta ele e nego com a cabeça tirando a bolsa de mão de debaixo do braço e pegando o celular para avisar. Agora ele usa meios eletrônicos para coisas do trabalho.

—E fica tranquila, Laura. É só ficar bem quietinha que vai dar tudo certo. Dura apenas alguns minutinhos – Barbara garante tentando me tranquilizar. E até que consegue, pois ficar na frente de tanta gente para fazer aquilo que fiz ontem? Nem se pagasse o triplo do meu salário –Treinamos a apresentação à noite toda. Quinze minutos, no máximo! – ela exclama e sorrio agradecida novamente.

—Tudo bem, obrigada – agradeço de coração e ela sorri em retribuição. Guardo o celular de volta e bolsa fica debaixo do braço de novo – Vou avisar aos violinistas – aviso e eles voltam a conversar tranquilamente enquanto ando em direção a banda.

Aviso a eles bem baixinho enquanto eles continuavam a tocar. Eles concordaram e Cameron avisou que a música já estava acabando e que uma pausa iria cair como uma luva, estavam começando a ficar cansados. Concordo com a cabeça e aviso que eles estavam indo muito bem.

Um garçom passava com taças de champanhe cheias, pego uma e bebo um pequeno gole observando as pessoas novamente. Não tinha muita coisa além de fazer isso. Mas quando eu vi taças de champanhe vazias e sujas acumuladas nos cantinhos da mesa do bufê, eu já tinha algo a fazer urgentemente.

Depois de conversar com o supervisor dos garçons bem rapidamente, ele garantiu que todas as taças sujas do salão seriam recolhidas no momento seguinte. Mas aí percebi que não era só ali, ele sabia que tinha em todo lugar e não mandou ninguém? Que absurdo.

Saí da cozinha e os violinistas pararam de tocar naquele exato momento. Sinal que era hora da apresentação. Corri os olhos e procurei por Jhones ou os outros dois patetas. Os avistei caminhando juntos em direção ao palanque. Andei em passos rápidos até eles para alcança-los. Percebi que sem a música, consigo ouvir mais a conversa das pessoas, ainda bem que tínhamos música.

Subi no palanque logo atrás de Carlos. Tive que subir apenas um pouco o vestido para não pisa-lo, era bastante longo. Jhones se pôs no meio com um microfone na frente, Antônio ao seu lado, Carlos e eu em seguida. Algum assistente se encarregou de colocar a mochila por baixo de um pano em destaque. As luzes pararam de focar no salão e foram postas principalmente em Jhones. Eu sabia que ele estava nervoso. Até eu estou, e não por mim.

Ele bate no microfone chamando a atenção de todo mundo com um sorriso nervoso no rosto. Sua mão esquerda está no bolso da calça e acho que o terno preto deve estar com manchas de suor debaixo do braço. Vejo Barbara murmurar um “você consegue” para ele e finalmente meu chefe tomar a coragem para falar.

—Boa noite – ele cumprimenta e pelo menos fez uma coisa certa. Mas acho que deve ter um discurso pronto dentro da cabeça – Quando eu era menino, eu sofria bastante com brincadeiras maldosas de colegas de idades parecidas com a minha na época. Desde o jardim infantil até o ensino médio. As coisas só foram mais diferentes na faculdade pois eu estava junto de pessoas que também sofreram com essa violência. As consequências do bullying são devastadoras em mentes tão jovens e em desenvolvimento. Baixa auto estima, dificuldades de relacionamento e desenvolvimento escolar, estresse e até mesmo a automutilação. Não tive nenhuma dessas consequências, apenas físicas. Voltar com o olho roxo para casa, por exemplo – ele dá um risinho nervoso olhando para os sapatos sociais. Ele estava indo bem, falando bem e se movimentando. Melhor do que fingir ser uma arvore o tempo todo.

Olhei novamente para os convidados, procurando suas reações. Maioria estava atenta ao discurso e comovidos com o depoimento dele. Mas alguns não davam a atenção merecida. São aqueles que acham que é besteira e frescura e que faz parte da infância. Chamo isso de falta de compaixão. Mas volto com a minha atenção para Jhones.

—Por isso, eu e meus colegas, Carlos e Antônio, temos orgulho em apresentar o nosso mais novo projeto. Não é uma arma, é um escudo. Para que os mais fracos possam ter a sua chance de defesa contra o bullying – consigo apreciar a ansiedade dele, o sorriso orgulhoso e a inquietude dos outros dois cientistas –Senhoras e senhores, as Indústrias Stark tem orgulho em apresentar pela primeira vez, a Mochila Anti-Bullying – ele retira o pano mostrando um pequeno banquinho com a mochila em cima inclinada levemente para que pudessem ver da plateia.

Ele se aproxima e a pega, coloca nas costas e exibe para as pessoas. Ainda bem que repórteres não conseguiram entrar, se não isso seria uma bagunça. Seria bom terem convidado alguns, para propaganda e essas coisas. Mas Jhones não disse nada e eu preferi nem perguntar.

Carlos surge com o protetor do braço esquerdo e se coloca na mesma situação que eu ontem. Deixou o braço de maneira horizontal e numa altura que acertasse o protetor, não ele outra coisa. Jhones puxou a cordinha esquerda e duas agulhas saltaram e se prenderam ao protetor um leve choque.

—Como podem ver, o meu colega não foi eletrocutado pela mochila. Há uma pequena bateria responsável que consegue emitir até cinco choques. Não é letal, devo deixar isso bem claro. Apenas 10V, tão forte quanto uma caneta que dá choque – ele garante e continuo com a mesma cara de antes ao lembrar disso e de Antônio me dando um choque com a caneta. Vejo um sorriso risonho nele antes de escondê-lo de novo.

—Também há outros modelos, de gás e choque, de força bruta e óleo para escorregar. Todos devemos frisar que não são letais e sendo testados pelas Indústrias Stark há meses – Carlos garante com uma voz corajosa e confiante, nem parece que o chamei de cientista tímido antes de saber seu nome – É apenas um escudo para uma violência tão covarde – ele conclui e dá o espaço para Jhones voltar a falar. Ele retira a mochila e a deixa no banquinho novamente.

—Agora é a hora dos agradecimentos, a parte mais vergonhosa – ele brinca nervoso coçando o nariz e as pessoas riem, até eu rio baixinho – Foi uma ideia minha, mas meus colegas que a executaram, então o crédito vai todo para eles. Devemos agradecimentos as Indústrias Stark, que bancaram todo o projeto por meses e levou bastante a sério. A minha esposa, Barbara, que teve paciência por todo esse tempo, a Betty, que também foi bastante paciente – ele brinca e a vejo sorrir no meio das pessoas –Há muito mais gente por trás desse projeto e eu levaria muito tempo para dizer o nome de cada um. Mas vocês que participaram, obrigado – ele agradece com uma leve mesura. Tudo para não dizer que não se lembra ou não sabe o nome das pessoas que participaram.

Acho que era a hora de terminar isso aqui e voltar para o restinho da festa. Mas Jhones não saí da frente do microfone e espero que vá agradecer a mim também. Posso estar a pouco tempo aqui, mas também trabalhei duro. Também mereço.

—E não posso esquecer de agradecer a Laura – Deus deve ouvir os meus pensamentos, pois é muito acaso ele falar de mim logo depois eu ter imaginado que ele fosse esquecer de mim, e olha que nem errou o meu nome – Foi bastante útil por todos esses meses e ajudou de forma muito eficaz o tempo todo. Se sacrificando em nome da equipe – ele olha para mim brevemente e depois para a plateia de novo – Obrigado – ele agradece e olha para mim de novo. Faço uma leve mesura com um sorriso orgulhoso no rosto.

E agora os aplausos, altos e longos. Jhones agradece a atenção e todos descem do palanque e voltando ao normal da festa, se misturando e conversando com as pessoas.

Sei que faz parte da obrigação moral dele ter lembrado de mim e agradecido também, mas eu não sei quando isso aconteceu, mas não estou querendo tanto assim mais me transferir. Só espero não me arrepender disso depois.

Caminho entre as pessoas voltando a atenção aos cuidados da festa e quase que sinto o meu cérebro derreter. Ele está de costas conversando com pessoas que não conheço. Quero correr e me agarrar em suas costas largas e abraça-lo finalmente. Mas estranho. Ele saiu ontem para uma missão, como Steve está aqui no dia seguinte? Faz só um dia.

Minha barriga se transforma numa gaiola de borboletas, respiro rápido e forte sentindo meu coração palpitar perigosamente. Mas não é ele. Era apenas alguém parecido, e pela luz eu não conseguia ver que era moreno com uma barba espessa. Olho para qualquer outro lugar envergonhada, e agora sinto que meu lugar não é mais aqui.

Procuro por Jhones para avisar que estou indo embora. Não posso ficar mais aqui pois meus sapatos doem, esqueci que a vizinha conta comigo para cuidar da filha dela, que amanhã tenho que acordar cedo, ou que estou com dor de barriga. Qualquer coisa serve para eu ir para casa sem ele culpar a minha falsa de profissionalismo. Fui profissional por tempo demais e jogando fora coisas demais.


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