Love Story escrita por Lady Rogers Stark


Capítulo 2
"Existem momentos na vida em que a única alternativa possível é perder o controle". Paulo Coellho


Notas iniciais do capítulo

Eu ainda não acredito que todas as leitoras amaram a história! Fico imensamente feliz e grata! Gostaria de agradecer a Clarissa McAdams, Brenda e Aline Cabral! O capítulo vai para vocês!
Beijos!
OBS: Hoje, dia 14/01/2016, editei esse capítulo, mas precisamente na cena do bar e na cena do apartamento. Refiz tudo e coloquei aqui, achei ruim, e por isso refiz. Em breve refarei outras cenas da fic.



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Depois de verificar todo o apartamento, que não era muito grande, retirei os lençóis dos móveis e os dobrei deixando em cima da mesa junto com as minhas outras coisas.

Os móveis estavam um pouco acabadinhos. Desbotados e com índices de cupim, não estavam tão ruins assim, dava pro gasto, mas amanhã mesmo irei numa loja comprar tudo o que for necessário para viver confortavelmente aqui.

Fui em um dos quartos e peguei o colchão e o levei ate a sala, já que foi o único lugar que consegui abrir a janela, as outras estavam bem emperradas, parecendo que estavam trancadas.

Abri a minha mala e retirei o meu pijama favorito. Troquei de roupa ali mesmo e peguei minha escova de dentes, fui ao banheiro.

Os azulejos eram brancos, mas pelo tempo estavam amarelados. Alguns pisos do boxe e debaixo da pia, estavam quebrados nas pontas. O vaso sanitário estava quase bamba.

Abri a torneira da pia e demorou um pouco para a água sair, mas veio normal, menos problema para mim. Molhei a escova e coloquei um pouco de pasta de dente e comecei a escovar os dentes. Me encarei no espelho, meu cabelo num rabo de cavalo de qualquer jeito, meus olhos vermelhos de sono e meu rosto demonstrando claramente cansaço da viagem e de todos os problemas que vou ter que resolver para dar uma geral nesse apartamento. Ainda bem que o ensaio é só daqui a seis dias, preferi chegar antes, para me acostumar á cidade.

Cuspi a pasta de dente na pia, fiz gargarejos e enxuguei a minha boca com a toalha que eu trouxe e saí do banheiro fechando a porta e desligando a lâmpada.

Cobri o colchão com o lençol que minha mãe me obrigou a trazer. Ela pensava que os lençóis estariam velhos, e que provavelmente nem teriam. Me deitei fechando os olhos. Claro que o sono não surgiu. Eu estava exausta, porque não consigo dormir?

Sem escolha, saí da minha cama improvisada e fui a janela respirar um pouco além desse mofo.

A paisagem era linda, com carros com seus faróis ligados deixando um rastro de luz por onde passavam. A ponte do Brooklyn ao fundo. O céu limpo e cheio de estrelas. Uma paisagem merecida de uma foto. Fui ate a minha mala e peguei a minha câmera fotográfica. Com cuidado, tirei a foto, a minha primeira foto no meu mais novo lar. Sorri e a guardei na mala novamente.

Logo lembrei dos meus pais, a milhares de quilômetros de distância de mim. Como eles devem estar? Orgulhosos ou chorosos? Felizes ou com a saudade maior do que tudo? Pois é assim que eu me sinto. O orgulho de mim mesma por dar um passo tão grande ao caminho do sucesso em minha carreira está menor do que a saudade que sinto do Brasil, mas especificamente, da minha família.

Quero minha casa, quero meus pais, quero os meus amigos, quero o meu país de volta, mas isso, é uma coisa um pouco difícil de conseguir agora. Já que eu já dei o passo, não vou recuar, vou ate o fim e vou tocar com todo o meu coração, assim como o meu pai me falou, e não vou fraquejar, fraquejar é para os fracos e eu não sou fraca.

Tentei abrir ainda mais a janela, mas estava dura demais.

Peguei o meu celular e disquei o número de casa. Logo minha mãe atendeu ao telefone.

Filha? Como você está? Como foi a viagem? – ela me encheu de perguntas, para variar.

–Tô bem mãe. A viagem foi boa, passei o quase o tempo todo dormindo. Terminei o livro – eu disse rindo.

Ouvi sua risada do outro lado do telefone.

E como é o apartamento?

Bom, primeiro, tive problemas com o porteiro, parece que ele é novo. Segundo, o apartamento estava com a porta super emperrada. Terceiro, as janelas não abriam. E quarto, os móveis vão precisar de uma reforma – eu disse tentando deixar o Steve de lado nessa história pois eu sabia que ela iria me encher de perguntas como ‘’Como ele é?’’, ‘’Bonito?... Humm... Seu pai não vai gostar’’ ou como ‘’Ele já deu em cima de você?’’.

Se você quiser, nós podemos mandar dinheiro caso... – ela ia dizendo, mas a interrompi.

–Nem pensem nisso mãe. Eu já recebi o dinheiro que vocês me deram, e vai ser o suficiente. Claro que não vou fazer uma grande reforma, só pequenas coisas, como trocar uma lâmpada, trocar os interruptores ou retirar o mofo daqui. Só uma faxina, pequenas coisas.

Ai filha... Temos tanto orgulho de você. Não se esqueça disso. Temo que alguma coisa te aconteça e estamos a tantos quilômetros de distância que não podemos fazer muita coisa daqui – ouvi sua voz chorosa novamente.

–É ela? Deixa eu falar com ela – ouvi meu pai ao fundo do telefone – Filha? Como você está? – meu pai perguntou preocupado e roubando o telefone da minha mãe.

–Tô bem pai – eu disse.

E como está o apartamento?

Como eu disse para a mamãe, está precisando de pequenas mudanças. Trocar lâmpadas e coisas assim.

Ufa! Pensei que ele estivesse caindo aos pedaços.

Quase isso.

–Não está tão ruim assim.

Quais são os problemas que podemos mandar o dinheiro.

Pai... – eu disse em tom de advertência – Vocês já me deram um bom dinheiro, não preciso de mais, ate porque eu sei que você pediu um empréstimo no banco só para bancar a minha viagem.

Laura. Eu faço de tudo para você ficar bem aí, faço de tudo.

Obrigada pai – eu disse segurando o choro.

Sua mãe quer falar com você.

–Filha, não esqueça nunca do que eu vou te falar. Nós te amamos. Não existe distância possível de nos fazer deixar de te amar.

Mãe, eu vou chorar – eu disse já com lágrimas nos olhos.

E você acha que estou como? – ela perguntou fazendo nós duas rimos.

–Acho melhor eu desligar, uma chamada como essa custa muito caro.

Tá bom filha. Tenha um bom dia.

Mãe, aqui é de noite – eu disse e eu ri da confusão dela.

Noite? Parece ate que você foi para o outro lado do mundo.

É só o continente vizinho – eu disse e ela riu – Tchau mãe.

Tchau filha.

E desliguei a chamada.

Coloquei o meu celular para carregar e me deitei no colchão. Fechei os olhos e relaxei e logo fui levada para o mundo dos sonhos.

Horas depois...

Acordei com o meu celular me despertando como o programei. Me espreguicei na cama e fui ate a geladeira, a única coisa que esqueci de verificar. A abri e nada tinha dentro dela, nada, totalmente vazia. Minha barriga roncava. O que eu vou comer aqui? Ótimo, vou ter que tomar meu café fora.

Peguei uma muda de roupa e fui ao banheiro junto com a toalha em mãos.

Me despi e abri o chuveiro, a água demorou, mas veio, fria, mas veio. Entrei e comecei a me banhar.

Desliguei o chuveiro para economizar água e saí do banho. Me enxuguei e vesti a roupa que escolhi.

Penteei meu cabelo e o deixei solto. Fiz uma maquiagem leve. Saí do banho e deixei a toalha no pequeno varal preso a parede. Peguei um pouco de dinheiro e saí de casa com o telefone e a câmera na bolsa que eu levava.

Desci as escadas e me deparei com outro porteiro, fiz força para lembrar o nome dele. Carlos.

–Bom dia – falei assim que cheguei na portaria chamando a sua atenção.

–Bom dia senhorita – ele disse simpaticamente com um sorriso no rosto – A senhorita que chegou ontem, não foi?

–Foi sim .

–Gostou do apartamento? – ele me perguntou.

–Gostei sim, só achei que precisa de algumas reformas.

–Se quiser alguma ajuda, e só falar comigo que tenho um primo que meche com reformas.

–Bom, obrigada.

–Bom dia Carlos. Ah, oi Laura! – disse Steve descendo as escadas com uma calça jeans, um blusa quadriculada verde e um óculos estilo aviador.

–Bom dia senhor Rogers. Sua correspondência – disse Carlos lhe entregando as cartas.

–Bom dia Steve – falei enquanto ele pegava as cartas da mão do Carlos e o agradecendo.

Ele me lançou um sorriso enquanto verificava as cartas.

–Como foi a sua primeira noite no seu primeiro apartamento? – ele me perguntou brincalhão.

–Foi boa. Tirei fotos da paisagem daqui, muito bonita aliais. E to indo agora tomar meu café da manhã.

–Gostaria de companhia? – ele perguntou cavalheiro.

–Claro – eu disse sorrindo.

–Eu conheço uma lanchonete perto daqui que é ótima. Tchau Carlos.

–Tchau senhor Rogers – ele gritou de volta assim que saímos.

–Ainda bem, que estou morrendo de fome – falei.

–Sorte sua que é perto daqui – ele falou e eu ri.

O caminho ate lá foi com conversas animadas, agora quem falava mais era ele, falava sobre sua vida, seu trabalho no exército que teve que sair. O motivo? Ele não revelou.

Finalmente chegamos a lanchonete. Nos sentamos perto da janela por onde dava para ver os carros passando e as pessoas passando. Logo uma garçonete veio nos atender. Entregou os cardápios e esperou ate a gente escolher o que pedir.

–Eu vou querer uma limonada e algumas panquecas com calda de chocolate – disse Steve entregando o cardápio com um sorriso no rosto.

–Boa escolha – ela falou – E você? – ela perguntou para mim.

–Está difícil de escolher, viu? Muita coisa gostosa e estou morrendo de fome – eu disse a fazendo rir – Vou querer um waffles de morango com banana, uma salada de frutas com leite condensado e suco de laranja – eu disse fazendo o Steve arregalar os olhos.

–Tem certeza que vai conseguir comer tudo? – ele perguntou assim que a garçonete saiu.

–Acho que sim – eu disse.

Perguntei a ele como era trabalhar no exército e se era tão puxado quanto parecia. Ele disse que era sim, que tinha que gostar do que fazia. Aquilo me lembrou do meu primo, que era militar. Ele trabalhava para a força aérea consertando os jatos. Contei sobre ele ao Steve que ouvia atentamente a história de como conseguiu convencer aos pais (meus tios) a deixarem ele entrar para a aeronáutica.

–Mas e depois? Ele conseguiu pilotar um jato? – perguntou Steve curioso.

–Não, ainda não. Mas ele foi promovido a mecânico chefe. Daí pra frente, só depende dele. Talvez ele tenha que prestar uma prova para ser piloto.

–Geralmente é assim que acontece. Mas e você?

–O que tem eu?

–Como você descobriu que queria ser violinista?

–Desde os cinco anos, sempre fiz aulas de violino. Era uma luta para eu sair de casa em vez de ficar em casa treinando. As outras crianças me achavam esquisita, pois eu não conseguia brincar com as outras crianças.

–Porque não? – ele perguntou.

–Porque eu não achava graça. Quando eu estava na escola, eu só pensava no violino, exceto nas aulas, só nessas horas era diferente.

–Mas como você descobriu o violino?

–Eu estava passando de carro com meu pai quando vi um lugar que davam aulas de violino. Falei para o meu pai parar o carro e ele me levou ate lá. Me mostraram como era por dentro e me encantei.

–É uma história bonita.

–Obrigada.

–Aqui está o pedido de vocês – disse a mesma garçonete de antes colocando todos os pratos sobre a mesa.

Agradecemos e ela foi embora. Começamos a comer e conversar também.

–E quando é a sua apresentação?

–Daqui a dois anos – eu disse comendo mais uma garfada dos waffles.

–Dois anos? – ele perguntou espantado e concordei com a cabeça – Porque tudo isso?

–Eu preciso treinar, e pra isso preciso de tempo.

–Mas tudo isso? Não é muito tempo?

–Na verdade, terão algumas apresentações ao longo dos dois anos. A grande apresentação é daqui a dois anos.

–Estarei lá – ele disse.

–Obrigada – sorri e tomei um gole do suco de laranja.

–Essas pequenas apresentações são para quê?

–É mais como um teste, para ver como nos saímos na frente de tanta gente. Também é uma maneira de saber realmente como você toca.

–Maneira inteligente.

–E assustadora – completei.

–Porque?

–Mesmo que você passe horas treinando tanto o violino quanto a sua mente para se apresentar, várias pessoas sempre borram as calças. E geralmente, cortam o número de instrumentistas ao meio por causa disso. Se você toca mas não sabe se apresentar na frente de várias pessoas, você não presta e ponto final.

–E como você está?

–Tô bem, ansiosa e animada, o que é bom.

–Ainda bem. Depois de tudo o que aconteceu com você, é mais do que justo que você dê uma boa apresentação.

–Obrigada.

Terminamos de comer e cumpri a minha promessa de que comeria tudo, eu realmente estava morrendo de fome.

No caminho de volta para casa, eu disse que precisava comprar algumas coisas e perguntei onde tinha um supermercado mais próximo.

–Três quadras daqui – ele disse.

–Tudo bem, obrigada Steve. Tchau – acenei e fui dando as costas.

–Laura, espera – ele agarrou meu braço e virei para ele – Quer uma carona?

–Não, tá tudo bem, já incomodei você demais por hoje – eu disse sorrindo.

–Tem certeza? – ele soltou meu braço.

–Claro, você deve ter coisas importantes para fazer – expliquei.

–Tá bom – ele concordou.

–Tchau.

–Tchau Laura – ele sorriu e fui andando.

Depois de uma rápida caminhada pelas ruas de uma cidade que eu ainda não conhecia direito, entrei em um supermercado que tinha poucas pessoas.

Peguei um carrinho e comecei a enche-lo sempre escolhendo coisas mais baratas, pois eu tinha um limite no qual eu podia gastar por mês o dinheiro dos meus pais. Comprei tudo o que era necessário para mim, desde papel higiênico ate verduras, ou seja, vou encher a geladeira. Comprei também algumas lâmpadas, panos, vassouras, produtos de limpeza e óleo para as janelas abrirem com mais facilidade. Paguei tudo e tinha dado várias sacolas, algumas pesadas demais para carregar.

Fui andando sem jeito, as vezes esbarrando nas pessoas que passavam, eu pedia desculpas, algumas eram educadas e outras me xingavam, eita povo estressado.

Finalmente quando cheguei na frente do edifício, o porteiro me ajudou a subir as coisas, agradeci e entrei em casa. Coloquei tudo sobre a mesa e coloquei as coisas que precisavam mais de urgência primeiro na geladeira. Depois, peguei a minha mala e coloquei no quarto. Abri o guarda-roupa e estava todo empoeirado e com cheiro de mofo, vi que eu teria que começar a faxina mais cedo do que o planejado.

Peguei as vassouras e comecei a varrer todo o apartamento retirando muita poeira e sujeira. Molhei os panos e coloquei nas vassouras e passei novamente pelo apartamento, limpei as janelas e os moveis retirando todos os lençóis e os dobrando. Eu estava com dificuldade de empurrar o sofá. Fiz força, mas nada. Ouço a companhia e vou atender desistindo temporamente do sofá.

–Oi Steve – sorri para ele na porta.

–Oi Laura, conseguiu levar as coisas para casa com facilidade? – ele perguntou.

–Só na hora de subir as escadas. Por favor, entre – dei espaço e ele entrou pedindo licença – Comecei a fazer a faxina agora, não liga pra bagunça não, por favor – eu disse sorrindo envergonhada por causa do caos que estava.

–Eu não queria incomodar – ele disse olhando para mim.

–Que isso, você não atrapalha nunca. Mas você poderia só fazer uma coisinha para mim?

–Claro – ele sorriu.

–Empurra aquele sofá para mim? É pesado demais para mim.

–Esse aqui? – ele perguntou apontando para ele, porque haviam dois sofás, um pequeno e outro grande.

–Esse mesmo – confirmei e com facilidade, ele o empurrou – Preciso voltar para a academia – eu disse surpresa pela facilidade de como ele fez.

Ele riu.

–Obrigada – eu disse.

–Não tem de quer. Tem mais alguma coisa que eu possa fazer para ajudar?

–Não, tudo bem, daqui eu assumo.

–Eu só vim aqui para ver como você estava.

–Bom, estou bem – sorri ainda mais.

–Bom, tchau.

–Tchau Steve, obrigada de novo – nós fomos para a porta.

–Não tem de quer – ele saiu e fechei a porta com um suspiro saindo pela minha boca sem querer.

Fiquei a imaginar como devem ser os lábios dele.

–Que isso Laura? – perguntei para mim mesma – Você nunca foi disso. Olhe para ele, ele deve ter alguém em mente e com certeza não é você – eu disse pegando novamente a vassoura com o pano e o passando pelo lugar que antes estava o sofá.

Tentei fugir desses pensamentos, mas eles sempre voltavam para mim me fazendo parar de limpar e atrasar tudo.

Depois de passar pano em tudo, limpar novamente as janelas, arrumar a cozinha, limpar o banheiro e o quarto, terminei de fazer tudo, claro que quando terminei, fiquei exausta e acabada. Me joguei na cama que tinha acabado de colocar o colchão e fechei os olhos e logo o cansaço foi maior e acabei dormindo ali mesmo.

Horas depois, acordei ainda cansada, mas eu tinha que acordar, eu estava com fome, mas ainda estava cansada, mas a fome era maior. Cambaleando, fui para a cozinha, de lá, preparei um sanduíche de alface, maionese, tomate e queijo. Comi tudo com satisfação e tomei um suco de manga que comprei em caixinha no supermercado.

Limpei e guardei tudo. Me sentei na cama e peguei o controle da pequena e velha televisão. A liguei e só vi chuviscos. Verifiquei atrás da televisão. O problema é que não haviam nenhum outro cabo a não ser o da energia.

Bufei e não sabia mas o que eu podia fazer para passar o tempo.

Decidi tomar um banho e sair pela cidade a conhecendo melhor, já que vou ficar aqui pelos próximo dois anos da minha vida.

Peguei o meu vestido favorito, meus sapatos favoritos e os acessórios que combinavam.

No final, tudo ficou mais parecido com as roupas da década de quarenta daqui. Como falam...? Vintage! Isso, vintage. Ficou mais parecido com vintage, mas eu simplesmente amo tudo que ficou assim não foi por querer.

Um vestido florido, uma sapatilha também florida, um colar com a clave de sol, uma bolsa de couro, um rabo de cavalo com um laço fino, um delineador preto nos olhos e um batom vermelho de leve.

Enchi minha bolsa com coisas necessárias, bala de menta ate chaves do apartamento e dinheiro. Fechei tudo e saí do apartamento e trancando.

Desço as escadas e encontro o porteiro de ontem, aquele cara abusado.

–Nossa "sinhora"!- ele gritou e assoviou quando passei.

–Pare com isso, por favor – eu disse calmamente e com educação.

–Só estou elogiando uma bela dama, só isso. Parece ate com as mulheres de antigamente, sabe?

–Mas para – eu disse firmemente.

–Não prometo nada – ele disse mexendo em algumas das cartas – Essa aqui é para você – ele me entregou apenas uma carta.

–Obrigada, eu pego quando eu voltar.

–E você volta quando?

–Não te interessa, você não é meu pai – falei enquanto saia do prédio e sentia o cheiro de poluição e esgoto, mas que era bem melhor do que o apartamento por horas.

Caminhei por algumas quadras e olhando tudo com atenção e admiração.

Passei em uma cafeteria e me sentei na mesa ao ar livre. Com um ambiente tranquilo e calmo, observei as pessoas passarem e me encantei ainda mais.

–Algum pedido? – a garçonete perguntou me tirando de meus devaneios.

–Um capputtino com canela, por favor.

–Tudo bem, só isso? – ela falou enquanto anotava.

–Por enquanto.

–Com licença.

Continuei a olhar as pessoas passarem e procurei meu celular. Duas chamadas não atendidas da minha mãe.

Ativei o Wi-Fi e ainda bem que havia, e era de graça. Fiz uma chamada de vídeo para a minha mãe que logo atendeu.

Filha, oi! – ela disse sorrindo.

–Oi mãe! – falei.

Onde você está? Não é o seu apartamento.

Não, não é. Estou numa cafeteria perto do prédio.

Vai se encontrar com alguém? Está tão bonita...

Que isso mãe! Não, apenas quis sair um pouco de casa depois de arrumar tudo.

Você merece filha.

Obrigada.

Mas então... Me diga, como é Nova Iorque?

Linda, muito linda! Lembra do Rio?

Lembro.

Só um pouco mais bonita!

Ela riu e sorriu.

–Olha só – usei a câmera de trás e mostrei toda a paisagem. Prédios, carros e pessoas era o que se via, mas tudo se encaixava de maneira perfeita que parecia que foi feita pela própria mãe natureza.

Tem razão Laura! É muito linda!

Quando vocês estiverem aqui, vou mostrar tudo isso!

Ela sorriu com ternura.

Ouvi uma porta batendo.

Cheguei! – alguém gritou, meu pai!

–É o papai? – perguntei.

É sim! Amor! É a Laura! - ela gritou.

Laura? Oi filha – meu pai sorriu roubando o celular da minha mãe me fazendo sorrir.

Oi pai! – sorri.

Onde você está?

–Numa cafeteria – ouvi minha mãe responder no meu lugar.

Não tem nenhum rapaz com você, não né? – perguntou meu pai com ciúmes.

–Não pai, não tem ninguém aqui comigo – falei segurando o riso.

Ainda bem, não posso afastá-lo daqui – ele disse me fazendo rir.

–Você quer que eu morra uma tiazona solteirona, né pai?

De preferência.

Pai! – reclamei.

Ele apenas riu.

–Aqui está o seu capputtino, senhorita – a garçonete me entregou a xícara com o conteúdo quente.

–Obrigada – a agradeci e foi embora.

Pediu o quê? – perguntou minha mãe ao lado do meu pai compartilhando a câmera.

–Um capputtino com canela.

Tudo bem – assentiu minha mãe.

É ela? Quero falar com ela! – disse alguém fazendo a câmera balançar um pouco.

–Quem é? – perguntei confusa.

Oi Laura! – falou a pessoa que eu menos queria ver na vida, estava na tela do meu celular roubando a chance de eu falar com meus pais!

–Vai embora, por favor. Entrega o celular aos meus pais, por favor – falei calmamente evitando que as feridas abrissem novamente.

Eu só quero conversar – disse ele.

–Mas eu não. Não quero ver você nem pintado de ouro, não quero! Entregue aos meus pais que quero falar com eles!

Me dê isso, seu moleque! – disse meu pai roubando o celular das mãos do Emanoel que protestou.

–Obrigada pai.

Pronto, ele já foi embora.

Sério, obrigada. Não aguento mais olhar para ele.

Nem sei como ele foi parar aqui.

Melhor ficar assim. Ele sabe que não quero falar com ele.

Melhor assim com certeza. Você está bem, filha?

Estou sim.

–Melhor conversar amanhã, não é?

–Também acho.

Tchau filha. Fique com Deus.

Tchau pai, dá um beijo na mamãe por mim.

Tá bom, tchau!

E desliguei a chamada. Coloquei o celular sobre a mesa e o guardei para garantir.

Tomei o resto do cappuccino e paguei. Saí do café com um pouco de stress na cabeça.

Caminhando pelas ruas com pressa, nem percebi quando trombei com uma pessoa que certamente era uma parede.

–Desculpa, eu não... Steve? – o encarei surpresa enquanto o mesmo me ajudava a levantar.

–Laura? – ele me olhou surpreso da mesma forma que eu estava.

–Está me seguindo? – perguntei brincando.

–Não, não! Só foi uma coincidência.

–Várias em dois dias – falei rindo.

–Você está linda!

–Obrigada – corei levemente e olhei para baixo.

–Você está indo para onde? – ele perguntou educadamente.

–Acabei de sair de uma cafeteria, só estou andando sem rumo – olhei para baixo olhando minhas sapatilhas.

–Estou indo encontrar alguns amigos, você quer ir também?

–Não sei... Não conheço ninguém...

Ele levantou o meu queixo me fazendo olhar para ele.

–Nossa! – falei baixinho e surpresa.

–O que foi? – ele perguntou acanhado.

–Os seus olhos... São muito azuis...

–Obrigado – ele disse um pouco vermelho.

–Bom, onde vocês vão?

–Num bar, perto daqui.

–Tudo bem, eu vou, se eu não for incomodar.

–Claro que não, sua companhia não me fará ficar sozinho olhando pro nada – ele disse com as mãos para trás e se colocando para andar na direção oposta de onde eu estava. Eu ri e segurei o riso quando percebi que ele falava sério.

–Desculpa.

–Tudo bem, eu concordo que é engraçado – ele disse olhando para baixo.

Minutos depois, chegamos a esse bar que ele estava falando. Não era bem um bar, estava mais para um... Restaurante. Com mesas aos cantos e sofás em vez de cadeiras, um pequeno bar com um bar man lavando e secando os copos, uma música animada e alegre dava vida ao lugar.

–Ali estão eles – ele apontou para uma mesa ao canto com três homens.

Tá bom... Estou com medo.

–Tem mais alguém para chegar? – perguntei a ele ainda na porta.

–Não, somos os últimos.

–Sabe quando você senta ao lado de várias mulheres e você não entende do que eles estão falando? Então, é assim que eu sei que vou me sentir – falei rápido enquanto ele assentia com a cabeça e sorria.

–Fica calma, você vai poder participar dos assuntos, não precisa se preocupar – ele colocou a mão nas minhas costas me levando para dentro. Relutante em uma guerra interna e a procura de uma desculpa plausível para ir embora, entrei.

–Oi – ele falou na mesa – Essa aqui é Laura... Desculpa, mas eu ainda não sei o seu sobrenome – disse Steve risonho.

–É Teixeira.

–Laura Teixeira – completou Steve.

–Oi – disse um homem moreno e de cabelo cortado e um rosto simpático.

–Oi – respondi tímida.

–Esse é Sam Wilson – disse Steve nos apresentando.

–Prazer – ele estendeu a mão e a apertei.

–O prazer é meu – retribui com um sorriso.

–E esse é Logan – ele disse mostrando o último cara, encostado na parede com um charuto na boca, não tinha a cara muito simpática.

–Oi – ele disse seco.

–Oi.

Nos sentamos nos sofás de couro, macios e vermelhos, bem estilo vintage mesmo. Nossa mesa ficava perto da parede de madeira macia, e com uma luminária pendurada do teto sobre a gente fazendo a iluminação. Eu fiquei de frente para o Steve, e ao meu lado estava o Sam, e o Logan na outra ponta.

–Vocês... – Sam apontou para o Steve e eu, perguntando se estávamos juntos. A pergunta me fez ficar envergonhada, mas consegui responder sem problemas.

–Não, não – neguei com um sorriso simpático – Somos vizinhos.

–Mas nada? – perguntou Logan com uma sobrancelha arqueada e provavelmente duvidando um pouco daquilo.

–Apenas isso, vizinhos e amigos – destaquei e olhei para o Steve sorrindo que retribuiu ao sorriso simpático, mas desfez o sorriso e olhou para outro lado.

–Aham, sei – ironizou Logan com bastante sarcasmo, e tragando seu charuto ignorando a regra clara de que é proibido fumar em ambientes fechados. E como para mim a aparência do moreno assusta um pouco, ninguém veio reclamar.

Steve o olhou em advertência, claramente pedindo para que ficasse quieto. No fundo eu também queria isso, porém, como sou educada e novata aqui, não disse e nem expressei nada.

–Garçom! – gritou Logan chamando para que alguém fosse atende-lo, porém chamando a atenção de metade do bar.

–Sim? – perguntou um rapaz rapidamente com uma bandeja, bloco de notas e caneta em mãos.

–Quero quatro cervejas – pediu Logan, provavelmente seria o que os rapazes pediriam normalmente, mas eu não bebo.

–Não, não obrigada, eu não bebo – eu neguei lembrando das vezes em que eu bebi no Brasil, foram tão poucas que acho que não me acostumei ao sabor da cerveja de lá, mas e daqui, é diferente?

–Vamos, uma vez na vida não te mata – incentivou Sam, e pelo olhar do resto do grupo, também incentivavam eu tomar a cerveja, mas era só uma, e eu nem tomaria tudo, não vai acontecer nada.

–Tudo bem... - digo aceitando que fui vencida e muito bem convencida.

–Tudo bem, só quatro cervejas? – perguntou o garçom.

–E traz algumas batatas fritas para mim – pediu Sam acenando com o dedo.

–Para mim também – eu pedindo também.

–Tudo bem – ele concordou, anotou tudo e foi embora.

–Bom, Laura – disse Sam puxando assunto colocando as duas mãos entrelaçadas em cima da mesa – De onde você veio? – ele perguntou educadamente.

–Sou do Brasil – respondi com um mero sorriso.

–Ah! – ele se encostou no sofá – Brasil... Já estive lá – contou me deixando surpresa.

–Sério? Aonde você foi? - pergunto curiosa e surpresa. Eu não esperava que ele tivesse ido.

–São Paulo e depois fui para Manaus, e tenho planos de voltar - conta e assinto com a cabeça interessada - E você veio de onde?

–Eu vim de Santa Catarina, no sul - respondo e ele deixa um sorriso simpático no rosto.

–Quem sabe eu visite lá? – ele sugeriu com um sorriso no rosto – E chegou quando? Pelo jeito faz semanas – chutou mas neguei com a cabeça com um sorriso divertido, gostei de conversar com Sam.

–Não, cheguei ontem! – respondo e ele me olhar surpreso, como se não acreditando naquilo.

–Você acabou de chegar! E aí? Está gostando de Nova Iorque? – pergunta curioso e aceno com a cabeça – Que bom, essa cidade é fantástica. Tenho que te mostrar a Broadway, você tem cara de que gosta de musicais teatrais – ele sugeriu e afirmei com a cabeça.

–Sou apaixonada por Mamma Mia – contei animada e ele disse que também era.

Reparei pelo canto do olho que Logan havia cochichado algo no ouvido do Steve, algo que fez o loiro olhar de cara feia para o moreno.

–Está tudo bem? – perguntei estranhando aquela atitude. E o que Logan cochichou no ouvido do Steve de tão horrível assim para merecer aquela cara do loiro?

–Tudo ótimo – afirmou Steve com um sorriso, porém, forçado demais. Decidi ignorar, os nossos pedidos haviam chegado e estavam com um cheiro fantástico.

O garçom chegou e colocou as quatro cervejas em cima da mesa lacradas, e as duas porções de batata frita também, com alguns molhos em copinhos de café ao lado.

–Obrigada – agradeci, o garçom assentiu com um leve sorriso e foi embora.

Logan não perdeu tempo em abrir as cervejas com o abridor que estava em cima da mesa. Logo se pôs a beber, vários goles de uma só vez, enquanto eu beberiquei bem pouco e coloquei de volta em cima da mesa.

–Algo de errado? – perguntou Steve depois de beber um gole da sua garrafa de cerveja estranhando o fato que bebi tão pouco.

–Não, nada, apenas vou beber aos pouquinhos – dei uma desculpa, não sou muito fã de cerveja mesmo, mesmo as daqui.

Também comi algumas batatas, que estavam bem quentes.

A conversa fluía levemente, sobre diversos assuntos, esportes, politica, fatos cotidianos, e quase sem interrupções, com exceção quando Logan pedia por mais cerveja, o que acontecia quase de cinco em cinco minutos. Eu participava um pouco da conversa, apenas dava a minha opinião.

Percebi que Sam olhava para mim de vez em quando e sorria, eu retribuía por educação, mas logo voltava a prestar atenção no que o Steve dizia ou o Logan.

E como eu disse, a conversa fluía, e bem rápido. Quando percebi, já havia se passado uma hora e meia, e de toda a minha cerveja foram só três goles que eu dei, e ela já deve estar quente. Logan tomou quase sete cervejas inteiras, e estava ainda sóbrio.

Percebi também que Steve estava sorridente, apesar de estar meio distante, não conversava muito, apenas concordava e tomava goles pequenos. Algo estava perturbando ao loiro.

E os olhares de Sam estavam começando a ficar cada vez mais escancarados, algo que estava começando a me incomodar e constranger. Eu desviava, fingia que não via, mas não deixava de incomodar.

Eu pedi mais uma porção de batatas quando a anterior já estava no fim, e eu ainda estava com fome, mas decidi e acabei pedindo um hambúrguer, para matar a fome, e um suco de cenoura, já que na foto parecia delicioso. Assim que conclui o pedido com o garçom, Logan bufou, eu apenas ignorei entregando o cardápio.

–Esse jogo pode decidir o campeonato! - insistiu Sam batendo no ombro de Steve, que apenas riu levemente - Eu não acredito que você não vai - ele disse decepcionado, mas eu sabia que era apenas parte da brincadeira.

–Não posso, estarei ocupado no dia - ele respondeu sem dar muitos detalhes.

–Mas e você, Laura? - perguntou ele se virando para mim com um sorriso no rosto.

–O que tem eu? - perguntei curiosa e surpresa e pouco desligada para saber do que se tratava.

–Vai fazer alguma coisa semana que vem? - perguntou colocando o cotovelo esquerdo sobre a mesa, uma atitude bem charmosa na minha opinião, mas acho que era justamente a intenção dele.

–Depende de qual dia e horário - respondo tomando água do copo pelo canudinho.

–Sábado, ás três da tarde, no estádio dos Yankees - ele responde e me pergunto onde fica esse estádio, é perto?

–Para o jogo? - pergunto e ele assente com a cabeça esperando pela resposta -Pode ser - respondi com um sorriso animado, era somente um jogo, que mal teria nisso?

–Não preciso nem perguntar para você, não é Logan? - Sam pergunta ironicamente.

–Até porque já estou cansado de vocês me convidarem para esse tipo de coisa, já basta esse bar de gay - ele responde mal-humorado, e vejo que Logan realmente não é uma companhia agradável, porque ainda o convida?

Revirei os olhos e comi as últimas batatas esperando pelo hambúrguer.

–Da próxima vez você escolhe então – rebateu num resmungo chateado do Steve.

–Ainda bem - disse terminando com a sua cerveja e deixando a garrafa vazia na mesa com um pouco de força demais, mas não a quebrou, ainda bem.

–Pronto, senhorita - disse o garçom voltando e colocando o prato com o hambúrguer na minha frente e o suco na minha esquerda. Agradeci educadamente e ele se foi deixando também três cervejas lacradas a pedido dos rapazes.

–Vai tomar a sua ou não? - perguntou Logan diretamente apontando para a minha cerveja que mal toquei, mesmo ele nem tendo aberto a dele ainda. Neguei com a cabeça - Posso? - pergunta e assinto, o moreno pega e toma longos goles da garrafa mesmo tendo ficado um silêncio perturbador enquanto ele tomava.

–Logan! – Steve e Sam reclamaram juntos, seria engraçado se não fosse pelo tom, claramente não aprovando com a atitude do moreno.

–O que é? - ele reclamou mal-humorado.

–Você pegou a cerveja dela desse jeito? - perguntou Steve injuriado.

–Eu perguntei - ele se defendeu simplesmente, suspirei sabendo que daria confusão, por isso intervi.

–Está tudo bem gente, eu não iria beber mesmo, além do mais, fui eu que dei a ele - eu lembrei tentando parar com aquilo e notando o quanto eles me protegeram, mesmo de algo tão bobo quanto aquilo.

Steve acenou concordando com a cabeça, Sam concordou também bufando, não concordando com a atitude de Logan, que nem se queixou, apenas continuava a tomar sua cerveja quieto e carrancudo.

–Já está tarde - observou Steve se levantando em seguida, eu sabia que ele estava incomodado e deu uma desculpa para sair.

–Senta aí, cara - pediu Sam sorridente e relaxado estendendo o braço para ficar acima dos meus ombros numa atitude ainda mais desleixada e relaxada, mas não consegui ficar bem com aquilo, mas não reclamei, apenas tomei do meu suco.

–Melhor não, está tarde - ele deu outra desculpa - Melhor nós irmos, Laura, te deixo em casa - ele ofereceu e suspirei.

–Mas eu ainda nem toquei no hambúrguer - o lembrei apontando para o prato ainda praticamente intocável.

–Leva para a viagem - ele respondeu seco parando um garçom educadamente que passava ali, conversou rapidamente, o garçom assentiu e provavelmente foi pegar algo para eu levar o lanche para casa.

Olhei tanto para Sam quanto para o Logan, ambos observavam sem saber no que deu no Steve, mas que nenhum de nós decidiu interferir. Apenas me levantei e acompanhei o loiro depois de uma breve despedida dos dois.

Steve entregou o prato com o hambúrguer e eu o copo com o suco, o garçom rapidamente deixou o lanche dentro de uma caixa de isopor para viagem e o suco num copo grande e descartável. Embrulhou tudo numa sacola plástica e me entregou.

–Quanto deu? - pergunto revirando a bolsa e procurando pela carteira.

–Não, não se incomode, eu pago tudo - disse Sam aparecendo. Eu sabia que discutir com homens para quem paga conta é um caso perdido, aprendi isso com o meu pai.

–É a minha vez, eu pago - disse Steve firme e afastando o moreno enquanto pegava a carteira rapidamente do bolso.

O loiro pagou tudo em dinheiro, e me despedi rapidamente com apenas um abraço do Sam, que me lembrou do jogo de semana que vem que marcamos. Assenti enquanto saia do bar com Steve na frente, que nada disse durante todo o caminho, e nem quando atravessamos a portaria e as escadas, que novamente não havia ninguém.

Estava um silêncio extremamente constrangedor, ainda mais depois de todo aquele clima pesado do bar. Mas eu ainda me perguntava, o que deu nele? E aproveitei a deixa do silêncio constrangedor enquanto chegávamos ao nosso andar. Suspirei e parei de andar enquanto ele andava para a porta dele.

–O que raios deu em você? - pergunto séria e cruzando os braços na frente do corpo, ele se vira quando estava prestes a colocar as chaves na fechadura da sua porta.

–Nada, porque? - ele responde com outra pergunta. Suspiro enquanto olho para o chão.

–Você agiu... Diferente. Antes você estava todo feliz, alegre, conversando. Mas depois do negócio do jogo murchou, parou de conversar. O que aconteceu? Fiz alguma coisa de errada? - pergunto preocupada e ele nega com a cabeça.

–Você não fez nada, a culpa não é sua - responde mas essa resposta não me satisfaz.

–Então é o que? - pergunto preocupada dando passos à frente.

–Sam ficou dando em cima de você, as vezes ele não sabe quando parar e nem disfarçar - ele reclamou e agora entendo perfeitamente. Olho para o lado constrangida enquanto mexo na casquinha de picada de inseto no meu braço.

–Não nego que aquilo me deixou nervosa, até um pouco constrangida – comento sincera, pois era assim que eu me sentia na hora. Eu não soube sair da situação.

–E ainda... –ele começou a coçar a nuca, acho que ele está nervoso – Ah, deixa para lá – ele se virou para a porta do apartamento dele desistindo de falar, o que eu não gosto que as pessoas façam comigo. Atiçou a minha curiosidade.

–Agora fala – determino enquanto seguro o seu braço, mas sei que se ele quisesse continuar a andar, ele andaria, eu seria apenas um pingente.

–Ele a chamou para ir no jogo – justificou baixinho, olhando para mim sobre o ombro, provavelmente com a timidez falando mais alto.

–E qual o problema? – pergunto curiosa de tanta preocupação assim. Mas tenho que ser sincera, eu me sinto até um pouco feliz em vê-lo se preocupar tanto comigo.

–Ele vai ficar dando em cima de você toda hora o jogo inteiro – justificou exclamando um pouco. Toquei o meu cotovelo um pouco sem jeito pela maneira como ele falou – Eu o conheço, Laura – completou e assenti com a cabeça olhando para os meus pés. Acho que o meu rosto ficou rosa...

–Mas eu sei me cuidar – garanti falando baixinho e envergonhada. Escuto os seus passos para mais perto e tomo um susto ao sentir sua mão sobre o meu queixo e levantando com cuidado e carinho.

–Eu sei que você sabe – respondeu acariciando levemente com o dedo o canto da minha boca, eu podia sentir os seus olhos nos meus lábios. Senti minhas bochechas queimarem, agora devo estar vermelha, não mas rosa – Mas não posso deixa-lo fazer isso.

–Porque? – pergunto baixinho, num pequeno sussurro. E eu sabia o motivo dele não deixar o Sam dar em cima de mim, ele se preocupava comigo, era um cavalheiro, sabe que aquilo não é uma atitude que uma mulher merece receber. Eu, tolinha do jeito que estou agora, nervosa, nem percebi quando a pergunta passou da minha boca.

Ele não disse nada, apenas continuou como estava, aproximando cuidadosamente o seu rosto do meu, com os olhos fixos nos meus lábios, eles não escapavam. E a cada segundo que passava, mais borboletas visitavam a minha barriga, e o meu estômago se tornava uma festa das fadas.

Quando vi que as minhas mãos suavam frio, e ele não passava daquela barreira quase invisível que aposto que ele deve sentir, fiquei na ponta dos pés, me apoiei em seus ombros, e devagar, não sabendo de onde saia aquela coragem absurda, toquei os meus lábios nos seus, delicadamente, saboreando a delícia do momento. Toquei seu rosto levemente sentindo a sua pele macia.

Seus lábios macios encaixavam perfeitamente aos meus, e a felicidade interna me deixando cada vez mais leve. Um simples e delicado beijo que me fez descobrir pequenas e sutis emoções que antes eram desconhecidas para mim.

Timidamente, encostou suas mãos livres no meio das minhas costas, e tão leve como o nosso beijo, me puxou para perto.

Porém ele se afastou tão rápido quanto se aproximou, e passando a mão pelo rosto nervoso e envergonhado, dando passos para trás. Não consegui deixar de sentir a rejeição cruel.

–Desculpa... Eu... Eu... – nervoso, tentando se explicar, e gaguejando bastante, ele se afastou mais de mim.

–Não... A culpa foi minha – assumi sem a coragem para encará-lo, mas ele nem isso estava fazendo também, olhava para qualquer coisa que estivesse na frente dele, acho que era o rodapé ou os seus sapatos.

O que estava acontecendo com ele? Se arrependeu de ter me beijado? Não gostou do beijo? Não queria estragar a nossa amizade? Ou faltou a coragem na hora e se afastou com medo? Chuto pela última alternativa. Eu sinto que ele gostou, eu sinto que ele queria me beijar tanto eu queria ele me beijasse de novo. Ainda consigo sentir o calor da sua boca na minha.

E então, determinada a tirar a prova e não me arrepender mais tarde por não ter feito, andei em passos firmes até ele, torcendo para não vacilar, toquei seu ombro, ele se virou e me joguei colando sua boca na minha. Me joguei de corpo e alma torcendo para ele não me afastar, torcendo para ele me querer tanto quanto eu o queria.

E então a explosão aconteceu. Senti tudo se explodir dentro de mim. Não era uma festa mais de fadas, mas sim um ano novo completo, com fogos de artificio e muita música. E quando ele tocou a minha cintura, provavelmente sentindo as mesmas sensações do que eu, senti quase que um choque onde ele tocou por cima da roupa.

Meu coração acelerou tanto que eu o sentia explodir a cada batida, um efeito arrasador que teria me feito desmaiar se não fosse pelo conforto que eu sinto em seus braços.

Ele abriu a sua boca para receber a minha melhor, e nossa... Seus beijos naquele momento eu achava que poderia viver feliz para o resto da minha vida se eu recebesse um daqueles todos os dias, sem falta. Era um beijo bom, um beijo que fez todo o meu nervosismo fluir para fora do meu corpo.

E foi quando ficamos mais à vontade, relaxei os ombros e ele também. Steve se encostou na sua porta, toquei seus braços e o senti cercar o meu corpo, num abraço. Sorri e aceleramos o ritmo gradualmente, até estar forte e energético.

Toquei sua nuca o puxando para mais, eu queria mais, necessitava. O senti suspirar e sorrir, foi quando me perdi em seus braços.

Desejei que esse momento não acabasse mais.

Steve agarrou a minha cintura desfazendo o abraço, e me puxou para perto. Me imprensou conta a parede, não me deixando fugir, mas quem disse que eu iria e queria? Eu só senti os meus pulmões pegando fogo, aquela investida roubou o meu fôlego. Relutante, como se eu saísse dali agora ele não iria me beijar de novo, me desvencilhei de sua boca devagar.

Seus olhos focaram nos meus, e viu o meu estado, sem fôlego nenhum, a boca entreaberta e a respiração pesada, porém com os olhos brilhando, não muito diferente de mim ele estava.

Steve continuava a olhar a minha boca, como se esperando eu recuperar o fôlego para me beijar mais, e como eu gostaria de ter pulmões mais fortes e melhores.

Não demorou, mas finalmente recuperei o fôlego, e antes que continuássemos a nos beijar novamente, decidi o convidar e torcer para não gaguejar.

–Você... Quer entrar? – perguntei e percebi que os efeitos daquele beijo fantástico ainda não haviam passado, e desejo que nunca passem.

–Acho melhor não... – ele negou, mas eu conseguia sentir o quanto ele queria entrar, queria sentir mais a minha boca na sua, pois ainda não tirou os braços que estavam ao lado da minha cabeça, como se não me permitindo escapar dali. Mas novamente: Quem disse que eu queria escapar?

–É rapidinho – falei nervosa e pensando se eu não poderia ter arranjado uma desculpa melhor.

–Tudo bem – ele concordou, sorrindo minimamente, mas ainda não tirou os braços, como ele queria que eu passasse. Porém ele olhou para os meus lábios de novo, e deus... Como eu desejava tê-los de novo...

O senti tocar a minha nuca e nos aproximou de novo, dessa vez devagar e delicadamente, e foi o nosso terceiro beijo, porém os efeitos foram como no primeiro e o segundo. A fluidez do beijo mexia com os nossos sentimentos e sentidos, como eu acho que eu não consigo mais ouvir com tanta clareza como antes.

Toquei seu pescoço com a ponta dos dedos, e receosa, os levei até a nuca entrando no mar de fios, ele sorriu e fiquei mais tranquila, não tive receio em deixar os meus dedos se perderem, afinal, seus fios eram tão macios que eu poderia fazer cafuné por boas horas sem me cansar.

Sua língua tocou a minha, delicadamente, sem desfazer o contato, na verdade, sem querer desfazer o toque.

De uma maneira um tanto... Desajeitada, fomos aos tropeços até a minha porta, quase que rolando pela parede ao em vez de andar normalmente. Coloquei a chave completamente sem posição, e foi uma comemoração interna e discreta quando a porta abriu e girei a maçaneta, Steve a empurrou com o pé e entramos as cegas. Ouvi a porta fechar de novo e um grito de susto escapou pela minha garganta, caímos juntos no sofá.

Rimos juntos, rindo perto demais do meu rosto. O gás passou tão rapidamente e continuamos aos beijos encantadores e mágicos que fizeram perder a noção do tempo, perdi o meu controle interno e perdi o sono, mas certamente ganhei algo muito mais valioso, uma nova vontade de viver.

"Existem momentos na vida em que a única alternativa possível é perder o controle".

Paulo Coellho


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Notas finais do capítulo

Roupa: http://www.polyvore.com/cgi/set?id=101899601&.locale=pt-b

Roupa 2: http://www.polyvore.com/love_story_laura_eu_acho/set?id=103900642

Sam Wilson: http://atlantablackstar.com/wp-content/uploads/2013/11/Anthony-mackie.jpg

Hummmm... Esse beijo... KKKKK
Espero que tenham gostado do capítulo e não esqueçam de comentar!
Beijos! Ate o próximo!

OBS: Hoje, dia 14/01/2016, editei esse capítulo, mas precisamente na cena do bar e na cena do apartamento. Refiz tudo e coloquei aqui, achei ruim, e por isso refiz. Em breve refarei outras cenas da fic.



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