Pobre Frankie escrita por Persephonne


Capítulo 7
Capítulo 7




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Frank estava sentado no sofá vendo tv. mais de 300 canais, e não tinha nada passando. E ainda tinha que ficar em casa sozinho, sem Gerard. Se perguntava aonde o namorado tinha ido.

Aliás, ele não gostava nem de pensar onde poderia ser. Apenas a ínfima ideia de um sumiço do namorado era suficiente para lhe lembrar dos primeiros tempos dos dois juntos, e de tudo o que ele havia passado ao lado de Gerard. Era isso que trazia à tona o lado mais sujo e vingativo dele. Frank tinha consciência de que o que fazia não era certo, não mesmo. Nos raros momentos de consciência ele se colocava no lugar do namorado, lembrava do que ele mesmo tinha passado e como aquilo havia sido doloroso. Mas, como já foi dito, esses momentos eram raros, e não bastavam para tirar da cabeça de Frank a ideia da revanche e de seu corpo o impulso da traição.

Mas bem, agora pelo menos ele se distraía um pouco com a televisão, enquanto Gerard não chegava.

Até que a porta foi violentamente aberta e a voz furiosa de Gerard encheu a sala:

— Por quanto tempo você achou que ia me fazer de idiota?!!

Frank apenas levantou os olhos para o namorado. Gerard estava nervoso como nunca tinha estado antes. Frank apenas desligou a tv e falou calmamente:

— Oi, Gerard.

OI??!! Como assim oi? Você realmente achou que eu não ia descobrir? E pensar que eu acreditei quando você falou que queria as coisas como antes...

— Mas elas estão como antes, Gerard.

Ele estava calmo e sério. Inexpressivo, por assim dizer.

— Como antes?...  – ele ficou sem saber o que falar por um momento. - Eu te falei o quanto eu estava arrependido. Eu te falei... porra, eu falei que te amo e você arma isso pra cima de mim? O quão baixo você pode descer??

— Palavras são baratas. Mais pra você do que pra qualquer outra pessoa. -Frank suspirou, desviando seus olhos dos de Gerard por segundos. Voltou a encará-lo. - Sabe, eu não era assim. Foi você quem me fez assim. Foi tudo o que você fez comigo que provocou isso. É culpa sua.

— Eu não falei aquilo só por falar e você sabe disso. Você sabe muito bem, mas é idiota demais, ou metido demais pra admitir. - as suas palavras tremiam. Ele tentava segurar as lágrimas que teimavam em sair. Até agora, ele estava ganhando delas. - E sim, eu admito que eu queria te mudar. Mas tudo está diferente agora! Você não vê?! Deus, como você é idiota!

— O idiota aqui é você, que se envolve com as pessoas só por elas não serem podres como você! - Frank estava começando a se alterar. Levantou do sofá e levou as mãos à cabeça. - Você realmente acha isso bonito? Dizer que ama uma pessoa depois de ter magoado e ferido ela tantas vezes, tendo plena consciência do que estava fazendo? Tudo o que você me disse não diminuiu em NADA a raiva que eu sentia. NADA.

— Isso é mentira e você sabe. Nós dois sabemos. Simplesmente não é possível que você tenha esquecido tudo que a gente teve. Você não pode ter se deixado levar por essa vingançazinha. Aliás, você só voltou por causa dessa vingança? Porque eu acho que não foi só por isso. É como se você não me conhecesse o suficiente pra saber que eu só percebo que amo algo ou alguém quando a perco!

— Cala a boca. Pára de ficar colocando palavras na minha boca e pensamentos na minha cabeça. Quem sabe o que eu penso aqui sou eu e não você. E não, eu não voltei com você só pela vingança. Eu voltei porque eu te amo. Mas eu não podia deixar aquilo assim, entenda Gerard. Foi humilhação demais, foi doloroso demais. Eu não consigo ser como você e ter esse seu papo de dar valor pras coisas só quando as perco.

— Ah é? Você se esquece que antes da gente começar isso tudo, nós éramos amigos. Melhores amigos, porra. E eu sei que eu era meio insensível, mas.... merda, você me fez sentir! Você me ensinou o que é se importar com alguém.

—E você me ensinou o que é não se importar com alguém.

Uma única lágrima escapou do seu olho. Gerard nunca quis que aquilo fosse tão longe. Não devia estar acontecendo daquele jeito

— Você e eu..... não era pra ser assim.

—E como era pra ser, você sabe me dizer? Ou prefere que eu aponte logo pra você e diga "olhe, ele sabe chorar!"?

— Tá bom. Quer saber? Ok. Se você quer continuar se enganando assim, vá em frente. Continue com os seus menininhos. Continue sendo idiota e cabeça-dura. Se você quer desperdiçar tudo que nós temos, tudo que nós sentimos um pelo outro só porque você simplesmente não pode dar o braço a torcer, que seja. Mas uma coisa eu te digo: Você vai acabar se arrependendo disso em todos os dias pelo resto da sua vida. - A sua voz era tão fria que Frank até se impressionou. Nunca tinha visto Gerard falar com tanta emoção quanto nesse momento, a não ser na vez em que se declarou.

Frank abaixou a cabeça e seus lábios tremeram. Ele apertava os olhos para não chorar, mas era em vão. Falou com a voz tremida e chorosa:

— Você não entende que arrependimento não é o suficiente, não é? Você não entende porra nenhuma Gerard.  Não entende que tudo é e sempre foi errado entre nós. Que tudo foi um erro imenso que não pode ser consertado por qualquer amor que seja. Eu te amo, você sabe que eu te amo. Você me ama, eu sei, eu sinto. Mas isso não é suficiente pra gente ficar junto. Eu não quero mais me machucar, só isso. E eu acho que você também já se machucou o bastante. - Ele emitiu um soluço abafado e passou a mão nos olhos para se impedir de chorar.

— Então é isso?  – O olhar de Gerard partia o coração de Frank, mas este continuou firme, apesar das lágrimas. - É assim que fica? Nós simplesmente... esquecemos tudo e chamamos de "grande erro" quando na verdade nós dois sabemos que foi a única coisa certa que já fizemos?

— Se tivesse sido, a gente não teria sofrido tanto. Eu não teria chorado enquanto você dormia depois de cada trepada nossa, quando você chegava bêbado de madrugada em casa. Não teria passado noites acordado, abrindo um buraco com os pés no chão da porra da sala, enquanto esperava você chegar da rua, preocupado, sem saber se estava só me traindo ou se tinha morrido por aí.

Gerard balançou a cabeça, inconformado. Já tinha perdido das lágrimas há muito tempo. Não acreditava naquilo que Frank falava, mas ao mesmo tempo uma voz no fundo da sua mente lhe dizia que aquilo era sim verdade. Eles não poderiam ficar juntos.

— Pobre Frankie. Você não entende mesmo, né? - E nesse momento ele agarrou Frank pelo pescoço e o beijou. Um beijo misturado com lágrimas. Um beijo que os dois sabiam que seria o último. Então se afastou e gritou: - EU TE AMO, PORRA!

As lágrimas desciam soltas pelos seus rostos. Frank apenas o encarava, sem dizer uma palavra, sem sequer se mover. Até dar um passo bambo para trás, como quem havia receado muito em fazê-lo. E então Gerard sentiu uma dor que nunca tinha sentido. Sentia algo dentro de si ficando frio e vazio. A dor era insuportável. Com um último olhar a Frank, ele atravessou a porta e correu, correu o mais rápido que pôde, sem olhar para trás. Saiu do apartamento e bateu a porta. Escorou-se na parede fria e úmida do corredor, soluçando e esperneando, esmurrando a si próprio. Na sala, Frank deixara o corpo amolecer e cair deitado no sofá. Fazia o mesmo que Gerard, absolutamente o mesmo. Os dois se perguntavam qual era a razão de tudo aquilo, por que tinha que ser como era, por que eles não podiam ficar juntos mesmo se amando. Por mais que relutassem em admitir para si próprios, ambos sabiam que não era pra ser. Continuariam se machucando pra sempre se continuassem juntos, e nenhum dos dois merecia aquilo. Por isso preferiam guardar para si mesmos o amor que tinham um pelo outro, ao invés de deixar o resto do sentimento se esvair em uma nova tentativa frustrada e sem esperanças.

Eles estavam destinados a se amarem pra sempre, mas não a ficarem juntos.

 

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