Último dia do inverno. O nascimento está previsto para o fim da primavera, uma linda época para se nascer, com todas as flores e cores espalhadas. Sentei no sofá e coloquei meus pés inchados para cima, puxei minha blusa que não chegava nem na metade da barriga e me acomodei. Estava quase caindo no sono quando senti uma pressão na lateral da barriga.

Levantei a cabeça rapidamente e fiquei encarando minha barriga. Alguns segundos depois senti o movimento novamente: um chute. Coloquei minha mão no lugar aonde eu sentia os movimentos e pude sentir claramente ela se mexer.

Senti-la se agitando dentro de mim me fez ser consumida por um terror tão velho quanto a própria vida. Tem uma criança dentro de mim, uma vida que depende dos meus cuidados. Eu nunca consegui proteger quem eu amava, como poderiam me confiar um pequeno e inocente bebe?

Sai em direção a porta, ao abrir dei de cara com Haymitch que falou assustado:

– Que recepção calorosa é es...

Não deu para ouvir o resto, eu já estava andando para longe com o coração martelando em meus ouvidos. Comecei a correr o máximo que meu corpo permitia, o que não era muito e não parecia ser o suficiente. Porém eu continuei correndo até não aguentar mais.

Eu não sabia aonde estava e nem como havia chegado ali. Sentei embaixo de uma árvore enquanto esperava o panico diminuir. Peguei uma flor com um caule grande e comecei a dar pequenos nós, e desmanchando logo em seguida.

– Sabe... - Comecei a falar com a voz embargada de choro - Foi um amigo meu que me ensinou isso, ele dizia que acalmava ele, dava algo para ele fazer. Depois de um tempo eu comecei a fazer isso também, e eu e Finnick ficávamos sentados um do lado do outro dando nós. - Falei com uma breve risadinha no fim. - A Rue teria achado isso engraçado, acho que ela até nos acompanharia. Ela era uma boa amiga, faria de tudo para me fazer sentir melhor. Esse é uns dos motivos que ela me fazia lembrar Prim... Sua tia. - Minhas lágrimas começaram a descer mais rapidamente e foi difícil continuar. - Ela amari-a ter uma meni-ninh-aa para cuidar. Ela te enfeitaria com flores nos cabelos e lindos vestidos. E é claro que Cinna que mandaria os vestidos para você, aposto que ele já estaria agora planejando muitas roupinhas e ele te deixaria linda!

Minha filha parecia compreender o que eu falava, fazendo pequenos movimentos como se estivesse me incentivando a continuar e ficando quieta enquanto eu falava.

– E também teria a Mags, e o Boggs, e meu pai... Teria muitas pessoas. Você seria amada e cuidada por todos, assim como eles fizeram comigo.

Passei o resto da tarde sentada no mesmo lugar. As flores já estavam nascendo, se recuperando do longo inverno e uma leve brisa fria indicava o fim do inverno.

Quando me dei conta já estava escurecendo. Decidi voltar para casa, porém antes de ir recolhi alguma das flores que eu usei para fazer nós nos caules. Era lírios. Juntei alguns deles e comecei a caminhada, tentando encontrar o caminho de volta.

Cheguei em casa e já era de noite, o céu estava tomado por estrelas e eu era guiada pela luz da lua. Peeta estava na frente de casa, sentado com a cabeça entre as pernas, me esperando. Parei em pé na frente dele, e após ele perceber minha presença levantou a cabeça e abriu um pequeno sorriso.

Antes de ele falar alguma coisa, me ajoelhei em sua frente, puxei a barra da blusa que mal tampava a barriga, peguei sua mão e posicionei no local que eu sentia os movimentos. Peeta me olhava curioso, mas não perguntou nada.

– Vamos, pequena. Mostre para o papai o que você saber fazer. - Falei dando leves toques pela barriga.

A bebe começou a se mexer logo após eu falar, se agitando com força dentro de mim. Peeta olhava maravilhado, colocou suas duas mãos pela barriga e continuou falando com minha barriga, fazendo com que a bebe se agitasse.

Peeta não perguntou nada sobre aonde eu tinha ido, só me falou que Haymitch ficara preocupado. Não contei a ele também, aquele momento era meu e de minha filha e queria guardar ele para nós duas.