Nos levaram por um corredor escuro e estreito. Vários guardas nos rodeavam, impedindo qualquer fuga, não que planejássemos fugir. Nos vendaram e guiaram até um aerodeslizador, odiei o fato de não enxergar nada e me sentir cega, aquilo me incomodou de verdade e o panico começou a me dominar.

Quando senti o aerodeslizador pousando relaxei um pouco. Continuamos vendados e nos levaram até algum lugar, que eu não sei bem aonde é. Ouvi barulho de várias pessoas, algumas espantadas, outras até chorando.

Finalmente tiraram a venda, a luz do sol me cegou por alguns segundos e eu não conseguia enxergar nada. Mas então eu vi aonde a gente estava: o mesmo palco aonde tinha sido a homenagem para os símbolos da revolução.

Muitas pessoas estavam reunidas lá, para assistir o que Fullton planejava. Localizei Claire, Haymitch e Annie no meio deles, todos com caras apreensivas. Os guardas amarraram nossas mãos com cordas e Fullton foi para frente do palco.

– Olá a todos! Como voces podem ver os seus queridos símbolos da revolução estão aqui, incapazes. - Ele gargalhou alto. - Bem, eu queria mostrar como voces colocaram a sua confiança nas pessoas erradas. - Toda a platéia o encarava sérios e curiosos, e até eu estava curiosa. - Para começar, temos aqui Katniss Everdeen, a garota em chamas, o Tordo da revolução. Uma fraca.

Dois guardas me levaram para frente do palco, bem ao lado de Fullton. Ele esticou sua mão e eu vi uma arma que foi logo posicionada ao lado da minha cabeça. Senti o metal frio do cano em contato com minha pele, meu corpo estremeceu por inteiro.

– E fracos não merecem todo esse louvor que ela tem.

Prendi a respiração, esperando pela morte. Ouvi o gatilho da arma. Era assim que eu iria morrer? Depois de sobreviver duas arenas, a guerra, eu iria morrer com um tiro na cabeça de alguns rebeldes? Bem, acho que é esse o fim. Vou me reunir a todos meus amigos que se foram também.

Olhei para Haymitch, seu olhar era de dor. Olhei para Claire que chorava descontroladamente enquanto Annie tentava consolar ela de alguma forma. Tentei lançar um olhar de "tudo vai ficar bem" para eles, mas acho que não fui convincente.

Fechei os olhos com força e esperei pelo tiro, pela dor, mas não senti nada. Ouvi barulho de um tiro. Talvez eu tenha morrido e não tenha percebido, talvez morrer fosse assim.... Mas eu me sentia bem viva.

Abri os olhos e contemplei o corpo caído de Fullton, com um círculo vermelho em sua testa. O tiro tinha sido nele, não em mim. Encarei ele por um tempo, todo o mundo estava fazendo isso, o silencio reinava.

E de repente o tumulto começou, a multidão estava correndo em panico. Fui ao encontro de Peeta, ainda não acreditando que estava viva. Estávamos rodeados dos guardas de Fullton, então saímos de lá.

As mãos amarradas nas costas dificultava a fuga, mas continuamos correndo. Procuramos por Haymitch ou Claire, mas era impossível no meio dessa multidão. Encontramos Johanna, que de algum modo já tinha tirado as cordas de seu braço, ela parou para ajudar a tirar os nossos e depois corremos em direção da aonde antes estava Haymitch.

Encostramos Claire escondida e logo em seguida Haymitch e Annie, carregando o pequeno Finn. Dessa vez decidi que iria procurar a Pres. Paylor ao invés de me esconder, então saímos correndo em direção do palco novamente.

Os guardas estavam todos posicionados e a Pres. Paylor com um grupo de guardas dela também, mas ninguém atirava. A cena ficou assim por um minuto, todos se encarando, e de repente os guardas saíram correndo para o aerodeslizador e sumiram de vista.

As coisas começaram a se acalmar mas a população ainda estava em panico. Depois de tudo isso Annie começou a ter um ataque, falando sozinha, chamando por Finnick e chorando descontroladamente. Fiquei com Finn enquanto Peeta e Claire tentava acalmar ela.

A Pres. Paylor subiu no palco gritando para as pessoas se acalmarem e após uns 5 minutos todos estavam quietos, ela mandou que retornassem para suas casas e ficassem por lá. Eu não tinha para onde ir e só fiquei parada.

Finn tocou em meu rosto, em meus machucados. Ele parecia assustado por um momento, mas começou a fazer carinho, como se eu fosse melhorar. Dei um sorriso para ele, que me retribuiu com um também. Então eu percebi que aquilo tinha acabado, que eu tinha saído da tortura e que eu estava viva.

Uma alegria tomou conta de mim. Depois de Annie ter se recuperado entreguei Finn para ela e corri abraçar Peeta. Tudo o que eu mais queria agora e retornar para nossos lares, juntos.

Algumas pessoas começaram a nos levar para uma espécie de enfermaria. Passaram muitas pomadas em meu corpo inteiro, me deram muitos remédios e comida. Eu estava completamente grogue.

Cambaleei para onde os outros estavam. Todos estavam reunidos: Gale, Claire, Haymitch, Peeta, Johanna, Annie... Ver todos reunidos e bem era um alívio enorme e eu me sentia feliz, aquela era minha família.

Fizemos uma rodinha sentados no chão. Fiquei encostada em Peeta, ainda grogue com os remédios e entendendo pouca coisa do que acontecia ao redor. Não demorou muito para eu cair no sono, eu me sentia tranquila e segura, como a muito tempo não sentia.

Abri levemente os olhos quando senti alguém me colocando na cama, era Peeta e estávamos no quarto da casa da Pres. Paylor. Puxei ele para meu encontro, ansiando por seus abraços, agarrei a ele como se ele pudesse sumir a qualquer instante.

Ele sorriu e me deu um beijo na testa. Correspondi com um beijo em seus lábios, suave mas com urgência. Algo que eu necessitava a muito tempo, eu queria.

Nos enrolamos juntos para dormir, mas antes de cair no sono novamente sussurrei.

– Eu te amo. - E fui tomada pela escuridão, sentindo a paz que eu tanto queria há tempos.