Quando terminamos o trabalho, já era de noite, papai já havia chegado em casa, então Adam e Lucy acabaram jantando aqui e depois foram embora.

Neste momento estou deitada em minha cama, olhando para o teto, tentando dormir. E fiquei dessa forma até cair no sono.

•••

Estou, mais uma vez, presa em um sonho, sendo perseguida pela 'coisa' .

Eu fiquei andando pelos corredores da escola, com a 'coisa' praticamente grudada em mim de tão perto que ela está, até que cansei e parei. E assim, fiquei sendo rondada pela criatura sem olhos.

Ela ficou andando em volta de mim, aumentando meu incomodo a cada segundo. Fiquei a acompanhando com o olhar. Comecei a ficar tonta. Tudo ao meu redor parecia girar lentamente.

–Para! - Gritei.

Surpreendente. A coisa me obedeceu e parou. Senti um cala-frio. Estremeci.

A coisa estava virando a cabeça mais uma vez, como se estivesse quebrada como sempre. E da mesma forma que aconteceu das duas vezes, primeiro ela virou a cabeça e depois o corpo.

A impressão que sinto é de estar sendo observada pela 'coisa' mesmo ela não tendo olhos. Parecia que ela estava pensando em algo. Me analisando. Então, ela tombou a cabeça pra um lado e depois para o outro, pesadamente.

–Não toque na Alice. - Sibilou.

Eu pensei que a criatura iria ultrapassar meu corpo novamente, mas em vez disso ela o arremessou. Bati meu corpo contra a parede e cai estatelada no chão. Com o pouco que me restou de força, me ajeitei de modo que ficasse sentada e com as costas apoiadas na parede.

Com tamanha rapidez a 'coisa', que ainda estava parada onde segundos atrás fui arremessada, agora está a poucos centímetros do meu rosto.

–Ninguém toca na Alice. Devo proteger a Alice. - Sibilou. Ela se distanciou de mim e voltou a me rondar, como se fosse meu guardião. Ia até a parede e voltava.

•••

Acordei gritando. Papai e Madame Blue entraram no meu quarto e vieram me socorrer. Minha vista ardeu um pouco ao ligarem a luz do quarto, antes estava tudo escuro, só vinha uma luz fraca do abajur ao lado de minha cama.

Madame Blue percebeu que o sangue estava concentrado no meu ombro, do mesmo lado que tem o arranhão. Com cuidado, ela tirou a alça da blusa que estava colada por causa do sangue e a abaixou. A expressão que ela fez ao ver o estado do meu ombro não foi a das melhores. Blue saiu correndo e voltou com a caixa de primeiros-socorros.

Blue limpou o machucado e fez um curativo, ela também me deu analgésicos por causa da dor.

Antes era só um arranhão. Mas por causa do sonho, arranhei meu ombro mais umas cinco vezes com a ajuda das unhas. As faixas que uso nas mãos não estão adiantando mais, de tanto me debater elas acabam desenrolando e eu continuo me machucando.

Como sempre, não consegui voltar a dormir. Ninguém na casa conseguiu voltar a dormir por minha causa.

•••

Dois dias depois.

Tive que faltar a escola por causa do ombro. Eu não podia nem mexer direito que já sentia dor. Hoje eu acordei um pouco melhor, não estou sentindo tanta dor.

Desci as escadas e encontrei papai me esperando. Nos despedimos de Blue e fomos embora.

Cheguei na escola e encontrei Adam e Lucy na entrada da escola.

–Rose! - Lucy falou quando me viu.

–Estávamos te esperando. - Adam contou. - Cara, o que houve? Você faltou ontem.

–Digamos que eu tive uma nova experiência com os sonhos e não foi muito legal.

Aproveitando que não tinha ninguém além de nós três aqui fora pois o sinal já tocou, contei para eles tudo o que aconteceu no meu último sonho. Só quando terminei de contar é que entramos na escola.

O professor não deixou nós entramos, então ficamos esperando do lado de fora.

–Desculpe. Fiz vocês perderem a aula.

–Nada a ver, Rose. Nós três sabíamos que isso iria acontecer. Ficamos porque queríamos. Lá fora, falamos que iríamos correr o risco. Estávamos preocupados com você, não iriamos conseguir prestar atenção na aula sem saber o que aconteceu pra você ter faltado ontem! - Lucy me consolou.

–Lucy acertou quando disse que os sonhos estavam envolvidos nisso. - Adam falou.

–Pois é. - Ela confirmou. - Passei o dia pensando nisso. Eu e Adam tentamos ligar pra você, ligamos pro seu celular mas você não atendeu.

–E ligamos pra sua casa, mas Madame Blue não explicou direito. - Adam completou. -O ombro tá muito machucado?

–Muito. Ontem não conseguia mexer direito. Hoje eu acordei melhor e vim pra cá. Desculpe por não ter avisado. Dado notícias.

–Para de pedir desculpa por tudo, Rose! Não precisa disso! Ficamos preocupados, isso é normal já que somos seus amigos, mas hoje você veio e explicou o que aconteceu. Tá tudo bem agora, tá tudo bem.

–Mesmo?

–Mesmo. - Ela confirmou.

–Promete?

–Prometo.

–Verdade?

–Para com isso, caramba! - Ela reclamou.

Como sempre, caímos na gargalhada toda vez que fazemos isso. Temos essa brincadeira desde que Lucy descobriu sobre meus sonhos, nesse dia eu fiz isso com ela quando acordou e me viu no estado 'pós-sonho', claro que naquele dia não foi uma brincadeira.