Aquilo que os Sonhos dizem. escrita por Ana Áctile


Capítulo 87
Não conte a ninguém.


Notas iniciais do capítulo

Gente, que nostalgia >< .



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Alguns meses depois.

Hoje é domingo. Adam e Lucy estão aqui em casa. Estamos assistindo filme de terror.

–Menina burra. Escuta um barulho e em vez de sai correndo, vai ver o que é... - Adam reclamou.

–Insanidade mental, fazer o que... - Falei.

Lucy estava com o rosto afundado numa almofada.

–Odeio-filme-de-terror. - Sua voz saiu abafada por causa da almofada.

–O que? - Adam perguntou só para ela ter que tirar a almofada do rosto e repetir o que disse.

–Odeio. Filme. De. Terror. - Falou pausadamente dessa vez. - Entendeu agora? Palhaço.

–Ah sim! Agora entendi. Obrigado.

E eu cai na gargalhada.

Continuamos a ver o filme.

–Ah, porra! - Adam falou ao levar um susto.

Ri.

–Insana. - Me referi a garota do filme.

–Burra. - Adam entrou na brincadeira.

Ficamos nisso por mais duas rodadas. Mais um susto por conta do filme e derrubamos o balde de pipoca que estava na minha mão.

Era pra eu e Adam catar a pipoca espalhada pelo sofá e pelo chão, mas na verdade estávamos tacando pipoca um no outro. Enquanto isso, Lucy está abafando gritos com ajuda da almofada.

•••

Uma semana depois.

Eu, Adam e Lucy estamos espalhados pela sala da minha casa. Estamos fazendo trabalho em grupo de história que temos que apresentar essa semana.

Adam está sentado no sofá, usando o notebook pra pesquisar coisas em relação ao trabalho. Não dá pra ver seu rosto já que estou sentada no chão e o notebook está atrapalhando, escondendo seu rosto. Lucy está sentada em frente a mim, usamos a mesa de centro como apoio enquanto fazemos a parte manuscrita do trabalho.

Estou, mais uma vez, sem falar com Gother.

–Já volto. Vou no banheiro. - Lucy avisou.

Ela levantou e saiu correndo pro banheiro. Quando ela sumiu, Adam veio até mim.

–Posso? - E apontou pro chão do meu lado.

–Pode. - Falei com indiferença.

Ele se sentou do meu lado.

–Rose...

Fiquei calada.

–Rose, olha pra mim.

–Pronto, Adam. - Falei depois de me virar pra ficar de frente pra ele. - O que é agora?

–Sobre aquele dia, eu sei que errei então me desculpe.

–Tá.

–Rose...

–O que?

Eu sabia que estava tendo uma atitude infantil. Fazer o que se é a melhor forma de Adam perceber mais rápido que está errado.

–É sério.

Suspirei.

–Eu desculpo você. - Dessa vez, olhei em seus olhos. - Mas da próxima vez, se estiver irritado com alguma coisa, não fica descontando em quem não tem nada a ver com isso. Combinado?

–Combinado!

Nos abraçamos. Por conta disso senti dor no arranhão que está em meu ombro. Arranhão originado no sonho que tive ontem.

–O que houve?

–Nada. Só... só tá machucado.

Levei uma mão até o ombro.

–Rose, o que é isso no seu braço? - Adam perguntou, surpreso.

Procurei pelo braço o motivo de sua pergunta. O que Adam viu foi uma cicatriz.

Estou nervosa e por conta disso não sei o que falar.

Adam tirou minha mão que estava de novo no meu ombro e assim viu o recente arranhão.

–Rose, o que é isso?

Minha mente disparou a procura de uma saída. E agora? O que eu faço? Eu não consigo achar outra saída que não seja contar a verdade.

Adam e Lucy são meus melhores amigos. Eles sabem tudo sobre mim da mesma forma que eu sei tudo sobre eles. A única diferença é que Lucy sabe dos meus sonhos, Adam não. Mas eu tenho total confiança em ambos. Se eu confidenciei meu maior segredo a Lucy, por que não confidenciar a Adam também? Afinal, confio inteiramente nele. Sei que ele nunca me trairia, jamais contaria meu segredo a alguém.

–Quando eu era criança, tive um amigo...

Quando percebi, Lucy estava parada, apoiada na parede. Quanto tempo ela está ali? Olhei pra ela de forma que entendesse que eu estava pedindo pra ela estar aqui do meu lado. Ela veio e se sentou do meu outro lado.

Respirei fundo e continuei a contar a história.

–O nome desse meu amigo era Jack. Jack Blaker.

''Nós eramos bem próximos. Quando criança, ele era meu único amigo.

Lembra quando contei que já conhecia Peter? Pois é! Foi nessa mesma época. Peter era chato, me perturbava sempre que tinha chance, sinceramente, não sei porque ele ficava me perturbando. Bem, Jack sempre me defendia dele.

Foi assim desde que nos conhecemos. Aos quatro anos de idade. Desde a beliscões quando muito pequenos até a chamamentos quando já eramos maiorzinhos.

Quando tínhamos seis anos de idade, um acidente aconteceu. Numa dessas de me defender, Jack empurrou Peter e o garoto acabou caindo da escada'' .

–Eu pensei que ele havia morrido. E pra salvar meu amigo, eu assumi a culpa do acidente.

–Você o que? - Adam perguntou, surpreso.

–Ele era maltratado pelos pais. Imagina se eles soubessem que ele matou um garoto na escola?

–É, mas ele não matou. - Adam falou.

–Pois é... mas eu pensei que sim. Ninguém na escola sabia do estado de Peter ainda. Ele foi levado por uma ambulância e depois ninguém soube mais nada. É ai que surge uma duvida até. Eu não sei se fiquei sabendo que Peter havia sobrevivido antes de... de eu sofrer um acidente também. Sendo que alguns anos depois.

Adam não sabia o que falar. Ele ficou me olhando boquiaberto. Não queria acreditar no que estava ouvindo.

–Fiquei em coma por cinco anos e acordei com amnésia. - Falei. - Não lembrava de nada. Jack, Peter, o acidente... nada. E então comecei a ter sonhos... Esses sonhos me ajudaram a lembrar de tudo que havia acontecido, porém, não consigo aguenta-los direito, por isso, durante a noite eu acabo me machucando.

Quando terminei de falar abaixei a cabeça e fiquei olhando para as minhas mãos que estavam pousadas em minhas pernas.

Senti braços me envolverem. Adam estava me abraçando. Correspondi ao abraço e me ajeitei de modo que pudesse incluir Lucy. Ficamos assim por um tempo e desfizemos o abraço.

–Você já sabia, né? - Perguntou para Lucy.

–Sim... - Ela respondeu.

–Mas, Rose... você disse que já tinha se lembrado de tudo. Por que ainda tem os sonhos?

–No começo eu sonhava com Peter, ou melhor, com os olhos dele, só conseguia ver os olhos. Mas quando eu descobri que ele estava vivo meus sonhos tiveram uma mudança. Agora sonho com uma criatura, ela tem uma forma perfeitamente humana sendo que, dessa vez, os olhos são a única coisa que ela não tem. Eu acho que ela é uma representação desse meu amigo.

–E por que seria ele?

–Depois que tudo aconteceu, ele sumiu. Foi embora sem me agradecer ou pedir desculpas. - Respondi. - Nessas férias eu descobri que tinha um diário. Nele eu escrevi tudo. Até uma promessa que fiz. Prometi a mim mesma que se eu encontrasse Jack, iria até ele e perguntaria por que ele foi embora. É por isso que ainda tenho os sonhos, eu ainda não encontrei Jack. Só assim eu vou poder ficar em paz. Me livrar disso tudo. Mas ele não foi embora só de mim.

–Como assim?

–Nessas férias, eu e Lucy procuramos por ele. Adam, chegamos a ir até a casa que ele morava com a família. A família tinha se mudado e por pura sorte eu consegui o endereço certo. - Contei. - Fiquei cara a cara com a mãe dele.

–Você falou com a mãe dele? - Adam perguntou para ter certeza do que tinha ouvido.

–Pois é. Uma mulher bêbada e grossa. - Consegui rir disso. Um riso curto, fraco. - Ela me disse que Jack fugiu de casa. Ele fugiu no mesmo dia do acidente. E como não tem mais por onde procurar Blaker, vou ter que viver com esses sonhos pra sempre.

–Rose, eu nunca iria imaginar uma coisa dessas. - Adam falou. - Não pensa assim, tá legal? Você vai conseguir encontrar esse cara! Você não merece ter esses sonhos pra sempre!

–Obrigada! - Falei. - Ah! E não preciso nem pedir pra...

–Não contar pra ninguém. Claro que não! Nunca iria fazer isso. - Adam garantiu. - Confia em mim, Rose. Nunca mentiria pra você. Nunca te trairia.

–Sei que não! É que... isso é muito importante pra mim.

–Entendo. - Adam falou. - Esse é o nosso segredo.


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Notas finais do capítulo

Adam descobriu o segredo da Rose .-.