XI - Marcas

 Duas semanas após o casamento.

 Ouvi aquele batucar suave novamente. Eu realmente não sabia de onde ele vinha, só sabia que estava bem próximo e que o som me fazia esquecer totalmente os últimos acontecimentos.

 Me casei com Nahuel, e tudo ocorreu como tia Alice previu. Mas não era nada igual como passar o tempo com Jacob.

 Nossa lua de mel foi na Ilha Esme. Toda vez que Nahuel me tocava sentia náuseas. Não sei se eu estava doente ou algo assim, mas minha barriga remexia ao sentir ele perto de mim. Não era nada igual a suavidade e intensidade de Jacob.

 Jacob.. Como sinto saudades dele. Acabei de voltar de viajem, portanto ainda não o vi, e acredito ser mais difícil de vê-lo. Ainda mais agora que vó Esme construiu uma casa próxima a dos meus pais para os 'noivos' morarem.

 A casa não era muito grande por fora, mas por dentro era uma imensidão. Tinha detalhes lindos que você só vê em contos de fadas ou novelas mexicanas. Vó Esme sabia mesmo como decorar uma casa.

 Agora estou aqui, secando a louça do almoço que acabei de comer sozinha. Nahuel ficará meio período no hospital e o resto do dia na faculdade de medicina durante a semana. Ele está se formando para ser como meu avô, ou meu pai.

 As vezes me sentia muito sozinha naquela casa.

 O batucar soou novamente. Nunca ouvi esse som na minha vida, e estava realmente começando a me preocupar. Ele começou nesta manhã, logo que acordei, e continuava até agora. Contei mentalmente: Um batucar a cada um segundo e outro a cada três segundos. Que troço mais esquisito.

 De repente ouvi a porta da frente bater e um aroma conhecido se aproximar.

 "Nessie querida?" Mamãe chamou da sala. Joguei o pano em cima da mesa e me virei para caminhar até ela. Nesse momento tudo ocorreu muito rápido.

 Senti uma tontura profunda quando me virei, que tentei segurar na mesa, mas ela não estava mais lá - era o que parecia - e a próxima coisa que senti foi o chão às minhas costas.

 Perdi a consciência.

 Me sentei novamente e pude notar que alguém me observava. Era um ser pequeno, de olhos chocolate e pele clara que sorria para mim. Levantei para caminhar em sua direção e pude observar seu sorriso aumentar totalmente e seus olhos se estreitarem com o reflexo.

 Foi aí que notei que era uma criança, uma menina maravilhosa.

 A pequena estendeu sua mão para mim que eu logo capturei. Ela era fria, assim como Edward e o resto da minha família. Fria como gelo.

 Ela começou a me puxar em direção a floresta, onde outra criança brincava entre as árvores. Era um menino de pele amadeirada. Ele sorriu docemente ao me ver e correu em minha direção estendendo seus pequenos braços para que eu o pegasse no colo.

 Segurei o pequeno em meu colo e em seguida a garotinha também. Me senti extremamente aliviada e feliz ao olhar para seus rostinhos. Permanecemos assim, até que o garotinho me abraçou sussurrando: "Mamãe."

 Me espantei por um momento, até que a garotinha fez o mesmo e sussurrou beijando minha bochecha: "Te amo mamãe."

 Suas vozes eram como veludo; Perfeitas demais para pertencerem a duas crianças. Assim, minha visão começou a embasar, e as vozes aveludadas de meus supostos filhos desapareciam lentamente, junto com a imagem em minha cabeça.

 Abri os olhos lentamente. Despertando daquele sonho maravilhoso, senti uma lágrima escapar pelo canto do meu olho. Olhei ao redor: Não estava mais em casa.

 Estava deitada em uma maca de hospital, ligada a várias máquinas que apitavam de vez em quando. Eu sabia que estava na casa dos meus avós, pois mamãe estava encostada à janela, enquanto vó Esme conversava com ela e Carlisle olhava algo naquelas máquinas esquisitas e anotava o que via em um papel.

 "Bem vinda de volta Nessie." Vovô sorriu para mim, sentando-se ao meu lado. Em menos de 3 segundos Esme e Bella estavam ao meu lado. "Como se sente?"

 "Bem.. um pouco tonta e faminta.. mas bem." Me sentei na maca, encostando as costas no travesseiro, tentando um sorriso. "O que aconteceu?"

 "Você desmaiou meu bem." Bella respondeu e passou sua mão fria pelo meu cabelo.

 Ficamos em silêncio por um segundo. Mas não era um silêncio completo, pois aquele batucar ainda existia, e agora estava lento, como se tivesse despertado junto comigo.

 Cerrei os olhos para pensar. Esse barulho só podia estar vindo de mim. O que era estranho, pois eu nunca "fiz esse barulho" antes. Era tudo novo para mim, inclusive esse som tranquilizador. Senti meu estômago roncar, e por reflexo coloquei a mão sobre minha barriga. Foi ai que percebi.

 Existia uma pequena elevação em baixo do meu umbigo, como se eu tivesse engordado ou algo assim. Ok.. agora estava começando a me preocupar. Eu não comi tanto na ilha para ficar desse jeito! E o que mais poderia aumentar minha barriga dessa forma, sem ser a comida que eu como?

 Bem..

 Existe uma coisa.

 Arregalei os olhos que estavam fechados e comecei a contar mentalmente: 14 dias depois 'daqueles dias' ocorreu a noite com o Jacob; se passaram 29 dias desde minha menstruação, contando a lua de mel.. e tudo isso leva a.. Céus!

 Me senti tonta novamente.

 "Vovô?" sussurrei implorando para que ele me explicasse, ele pareceu entender.

 "Sim Nessie, você está grávida de 15 dias." Ele sorriu tranquilamente.

 Pisquei duas vezes ainda chocada. Agora tudo parecia fazer sentido: As batucadas estranhas porém tranquilizantes, as náuseas, as tonturas, a sensibilidade. Eu estava grávida, grávida de.. Nahuel?

 Espere um momento, 15 dias? Contei novamente enquanto meus olhos se enchiam de lágrimas. Eu estava errada.

 "Tudo indica que sua gravidez seja curta, como foi a de Bella." Carlisle continuou. "Porque sua barriga já está levemente elevada com menos de 1 mês de gestação e já podemos ouvir o coração do bebê. Talvez sejam no mínimo um mês e meio, e no máximo três meses de espera."

 Eu sorri ao meio das lágrimas, era uma sensação maravilhosa. Lembrei automaticamente do sonho, o que me fez sorrir mais ainda.

 "Pensava que pessoas como Nahuel não pudessem reproduzir, mas parece que me enganei. Parabéns querida." Ele beijou o tomo de minha cabeça.

 "Parabéns minha filha, estou tão feliz." Bella soluçava como se estivesse chorando sem derramar lágrimas. Vó Esme fazia o mesmo. "Eu vou ser avó.."

 "E eu vou ser bisavó." Ela sorriu em meio a um soluço. Carlisle foi a seu lado e envolveu em um abraço.

 "Vamos meu amor, ela precisa descansar." Ele puxou suavemente Esme para fora da sala. "Vamos Bella?"

 "Já estou descendo." Ela sorriu para meus avós, que apenas deixaram a sala e fecharam a porta. Bella sorriu antes de beijar o topo de minha cabeça. "Como se sente minha filha?"

 Sequei as lágrimas que ainda corriam por meus olhos e toquei suavemente sua mão, dizendo com meu dom: Mamãe, pode pegar um papel e uma caneta? Preciso conversar..

 Ela me olhou desconfiada antes de sair do quarto e voltar em menos de um minuto com o que eu havia pedido nas mãos.

 Estava ciente de que meu pai não podia ler a mente de Bella. Ele sim poderia ler a minha, mas ele não estava em casa no momento, o que me permitia conversar com ela com meu dom e esperar que suas respostas sejam escritas no papel. Ela pareceu entender.

 Eu preciso confessar algo.. Disse cuidadosamente, assistindo cada feição que ela fazia. Nesse momento mostrei tudo que passei com Jacob: os beijos, as saídas, e até a noite especial. É claro que não mostrei tudo, apenas editei as cenas fortes.

 Quando acabei o pequeno filme ela estava boquiaberta. Queria eu poder ler sua mente nesse momento. Continuei a olhar para ela.

 Mamãe?

 Ela pareceu voltar ao normal. Segurou a caneta e escreveu no papel: Quando isso aconteceu, Renesmee?

 Há duas semanas.. Um d-dia antes de meu.. casamento. Eu não sabia como consegui gaguejar em pensamento, mas estava tão nervosa que acabei o fazendo.

 Bella olhou horrorizada para mim mas não disse nada.

 Mamãe por favor.. não contei a ninguém, quero que não conte também, por favor mamãe..

 Ela apenas assentiu com a cabeça, ainda em choque, acredito. Eu estava esperando uma bronca daquelas escritas em palavras desgrenhadas e divididas em cinco ou seis folhas do bloco de papel, mas tudo que eu recebi de Bella em seguida foi uma única página, com uma letra perfeita: Sente falta dele, não é?

 Abaixei os olhos e retirei as mãos da sua. Senti novamente meus olhos ferverem e as lágrimas despencarem por entre meu rosto. Essa gravidez me deixara mesmo sensível.

 Claro que sentia falta de meu Jacob, mas o que eu poderia fazer? A escolha foi minha.

 Não consegui responder a pergunta. Acredito que meu silêncio foi o suficiente, pois no momento seguinte ela me segurava em seu colo em um abraço terno, enquanto desabava de chorar em seu ombro.

 "Shh.. está tudo bem, tudo ficará bem.." Ela sussurrou em meu ouvido, enquanto afagava meus cabelos.

 Após longos minutos em que consegui conter as lágrimas, mamãe me olhou de uma forma diferente antes de pegar a caneta, virar o bloco e escrever algo. Ela fazia caretas incrivelmente perfeitas quando escrevia. Quando ela terminou, pude ver do que se tratava:

 Minha filha, esse filho é realmente de Nahuel?

 Não respondi de imediato, apenas voltei minhas mãos para minha barriga para acariciá-la ternamente. Fechei os olhos por um instante para ouvir o som de seu coraçãozinho, que parecia estar agora com duas batucadas. Sorri sentindo uma única lágrima cair pelo canto do olho e percorrer minha bochecha.

 "Jacob deixou muito mais do que seu coração e sua lembrança para mim, mamãe." Eu sorri sentindo outra lágrima insististe em meu queixo. "Muito mais."

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