Lágrimas de Amor escrita por XxLininhaxX


Capítulo 17
POV Rose




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Eu cheguei em casa e meu pai estava com a Sophie no escritório. Eu já sabia o que acontecia lá e até senti um pouco de pena dela. Ok, não era só porque ela estava tomando uma surra. Eu sentia pena por muito mais do que isso, pois sabia que aquele era o menor de seus problemas. No dia seguinte ela teria que enfrentar algo bem pior. Cara! Eu ainda estava indecisa! Se eu fosse conversar com meus pais, com certeza daria para trás. Não era isso que eu queria. E aquele vampiro tinha sido claro; se eu estivesse blefando eu me arrependeria. O problema é que não conseguia tirar da cabeça que, não importa a decisão que eu tomasse, eu me arrependeria de qualquer jeito. Por isso achei melhor não falar com ninguém! Eu queria ficar sozinha, eu tinha que pensar! Subi direto para o meu quarto e tranquei a porta. Deitei em minha cama e afundei meu rosto no travesseiro. Várias perguntas me vinham à mente. O que aquele vampiro faria com Sophie? Será que a machucaria? Será que a torturaria? Será que faria algum tipo de experiência, já que ele parecia um cientista maluco? Ou será que ele só queria matá-la, como aquele outro que nos atacara? E por que raios eu estava pensando nisso? O que ele faria com ela não importava! Tudo que eu queria era me livrar daquela tormenta e fazer com que os dias de paz voltassem a reinar em nossa casa. Eu sabia que com Sophie ali, isso não seria possível. Ela estava com a gente tinha menos de dois dias e eu já tínhamos sido atacados por um vampiro e eu tinha acabado de ser chantageada por outro. Era perigoso demais!

Bufei contra o travesseiro. Eu achava justo o que estava fazendo, mas a dúvida permanecia. Será que se eu contasse para meus pais, mudaria alguma coisa? Será que poderíamos salvá-la? Será mesmo que eu não estava sendo cruel? Culpa, culpa e mais culpa. Eu nem tinha feito nada ainda e já estava me corroendo em culpa. Será que não seria melhor ouvir o que meus pais tinham a me dizer antes de tomar qualquer decisão? Quer dizer, eu sabia que podia confiar neles, mas eles estavam cometendo um ato tremendamente insano. Eles sabiam que ela era uma assassina. Eles a viram matando! Será que não era meu dever colocar um pouco de juízo na cabeça deles? Por mais responsáveis que fossem, sei lá, pareciam estar cegos de amor por aquela pirralha. Eu não conseguia gostar dela! Ela estava se aproveitando da boa vontade e ingenuidade dos meus pais para encontrar um lugar para morar. Afinal, pelo que entendi, ela não tinha casa e nem família. Era uma interesseira! E meus pais estavam caindo como patinhos. Espera! Será que era isso mesmo? Afinal, ela recusara entrar para a família tantas vezes. Será mesmo que era tão interesseira assim? Talvez apenas tivesse fingido desinteresse para que suas reais intenções não viessem à tona. Ou talvez ela, realmente, precisava de ajuda. AH! Aquilo estava dando nós na minha cabeça!

Eu não tinha que ficar pensando em nada daquilo! Eu tinha tomado a minha decisão por motivos simples. Primeiro, eu não gostava dela. Segundo, ela só traria problemas para nós. Edward podia ter caído nessa história de menina coitadinha que precisa de ajuda e Bella só aceitara aquilo porque tomara uma surra do papai. Mas eu não me daria por vencida. Eu era a única que tinha condições de fazer meus pais pensarem racionalmente de novo. Eles estavam tão sem noção que resolveram chamar aquele cachorro fedorento de filho! Como se já não bastasse a psicopata, agora tinha também aquele cachorro dos infernos! Era muita loucura. Não tinha o menor cabimento continuar com aquela palhaçada. E, pelo visto, quem estava encarregada de dar um fim naquilo era eu.

Ouvi batidas na porta. Meu pai ainda estava no escritório com a pirralha, então só podia ser uma pessoa.

– Filha, abre a porta pra mamãe. – Esme falou.

– Não, mãe! Quero ficar sozinha. – disse.

– Mas seu pai vai querer conversar com você, princesinha. – ela insistiu.

– Deixa pra amanhã, mãe. E-eu estou com um pouco de dor de cabeça, não estou me sentindo muito bem. – menti.

– Está se sentindo mal? Vou chamar o Carlisle para que te examine, então. – droga! Eu tinha que inventar aquela desculpa sabendo que tinha um pai médico?

– N-não precisa! Não é para tanto! Eu apenas preciso dormir. Isso deve ser suficiente. – tentei enrolar.

– Tem certeza? Não prefere que seu pai dê uma olhada?

– Tenho mãe! – ela tinha que ir embora logo, droga!

– Tudo bem então, princesinha. Vou falar com seu pai quando ele terminar com a Sophie. Se não melhorar, nos chame, ok?

– Tá.

Ela não falou mais nada, concluí que tinha ido embora. Droga! Detestava mentir para ela, mas eu precisava realmente ficar sozinha. Eu ainda não tinha me acostumado com a ideia. Ainda não consegui afastar a culpa. Que explicação eu daria ao meu pai depois que ela fosse capturada? Claro que ele ia exigir uma explicação! E o que eu inventaria? Eu diria que ela tinha sido capturada, mas só isso? Ele ia querer que eu contasse com todos os detalhes. E provavelmente ia querer procurá-la. Pelo menos aquele lunático me garantira que nunca mais a veríamos. Mas e se ele cometesse algum erro e meu pai conseguisse encontrá-los? Provavelmente ela contaria o que realmente aconteceu. Aí eu estaria ferrada! Se meu pai descobrisse que eu estava por trás disso, não queria nem imaginar o que ele faria! Chegava a dar arrepios só de pensar. Mas eu não tinha que ficar com pensamentos tão pessimistas. Apesar de ser meio excêntrico, aquele cara parecia ser competente. Não iria cometer uma falha que comprometesse seu objetivo. Ele parecia querer muito colocar as mãos em Sophie. Então ele não seria idiota de deixar uma oportunidade, daquelas, escapar. Eu não precisava ter medo de ser desmascarada. No final eu seria a grande heroína dessa história. Será mesmo?

Estava começando a ficar com fome, mas não podia sair ou meu pai acabaria me encurralando. Já estava com sorte por ele não ter aparecido. Normalmente ele insistiria de todas as formas para me examinar, sabendo que eu estava passando mal. Até estranhei ele não ter aparecido para perguntar alguma coisa. Provavelmente estava muito ocupado com sua nova caçulinha. AH! Aquilo me irritava demais! Era sempre assim. Todas as vezes que meus pais resolviam adotar um filho, eles ficavam meses com as atenções voltadas para o novo membro da família. E resto que se explodisse! Eu achava aquilo um absurdo! Uma pessoa que tinha acabado de chegar não deveria ter direito a todo aquele paparico. Ok, não posso dizer que quando fui adotada eu não gostei de ser paparicada. Mas eu merecia, oras! Depois de tudo que eu passei, depois de terem me transformado sem sequer considerar minhas vontades, era o mínimo que eles poderiam fazer. Os outros não! Eles não viveram o inferno que eu vive. Até Jasper, que considero aquele que mais sofreu entre os outros, não podia sequer imaginar a dor que se apossou da minha alma ao acordar e perceber que sofri tudo aquilo e não tinha morrido, pelo menos não do jeito que eu ficaria com a alma em paz. Droga! Eu estava recordando aquelas coisas de novo. Mesmo anos depois, eu ainda continuava com aquilo em minha mente. Mas eu sabia que não tinha como esquecer. Qualquer mulher que passasse por aquela situação, teria uma ferida aberta para o resto da vida. Era algo horrível! Uma violação não só ao corpo como à mente. Era um ato tão baixo, tão vil, tão imoral! Eu repudiava aquilo e me repudiava mais ainda por ficar revivendo isso, mesmo que minha vida agora estivesse completamente tranquila, quase que como um sonho.

Cara! Tudo que eu queria era um pouco de paz! Será que era pedir demais? Talvez eu estivesse sendo injusta, talvez estivesse sendo egoísta. Mas era tão errado assim querer paz? Será que era tão errado assim querer levar uma vida tranquila depois de ter sofrido tanto? Eu não ia abrir mão disso. Não ia mesmo! De repente, ouvi alguém batendo à porta.

– Loira, abre pra mim. – era Emmett. Para ele eu não me importava de abrir. Levantei e destranquei a porta, mas voltei a me deitar. – Você está bem?

– Não quero falar sobre isso. – vi que ele voltou a fechar a porta.

– Tá de mau humor por que, Loira?

– Vai me dizer que não sabe? – falei sarcástica. Ele apenas suspirou e se sentou na cama, ao meu lado.

– Você precisa parar de implicar com a tampinha. Ela não tem culpa de nada.

– Até você, Emmett? Sério! Se foi para isso que você veio, pode dar meia volta. Eu não tô com saco pra isso! – me irritei.

– Loira, eu tô pensando em você. Caramba! Se você continuar agindo assim vai acabar com a paciência do papai. E olha que ele tem sido bastante compreensivo com você. Em circunstâncias normais ele já teria te levado para o escritório e esquentado seu traseiro. – não podia negar que ele tinha razão. – Não entendo qual é a sua implicância com a tampinha. Ela é meio louca, mas é gente boa. Tenho certeza que se você conversasse com ela, vocês se dariam super bem.

– Eu não quero, Emmett! Essa garota já trouxe e, com certeza, vai trazer ainda mais problemas pra nossa família! Saco! Já não bastava tudo que a gente passou pela Bella. Agora o papai vem com essa palhaçada de novo?! Eu tô cansada disso! – eu desabafei e Emmett me abraçou de repente. Fiquei sem entender.

– Loira, confie no papai. Ele não vai deixar que as coisas fiquem assim. E além do mais, não sente que a tampinha merece a chance de ser feliz? Ela teve uma vida difícil, Loira. A situação dela foi pior até que a sua.

Ah não! Aquilo tinha sido demais! Ele ia apelar para aquele lado? Eu não estava acreditando! Isso só aumentou minha raiva daquela magrela azeda! Afastei Emmett de mim, apenas para olhar dentro daqueles olhos e fazer com que ele visse o tamanho da minha mágoa por conta daquela comparação chula.

Escuta aqui, Emmett! Não subestime o que eu passei! Se você acha que qualquer coisinha pode superar o que aconteceu comigo, significa que você não dá a mínima pra mim! Eu sofri muito! E ainda sofro! Eu não sou obrigada a ficar escutando isso de alguém que nem se importa! – eu disse alterada. Emmett se levantou nervoso.

– Não dá a mínima?! Não dá a mínima?! Você tem coragem de falar isso pra mim? Tem noção do quanto eu fui paciente com você? Tem noção do quanto eu me esforço para que você esqueça o que aqueles canalhas fizeram com você? Sabe o que parece? Que você quer que todos sintam pena de você!

– O QUE? Por que eu ia querer algo assim? – aquilo me deixou com raiva.

– EU NÃO SEI! Parece que você quer esfregar na cara de todo mundo que você sofreu e que por isso tem que ter a vida de uma deusa, que não pode ter nenhum tipo de incômodo!

– E NÃO É ISSO QUE VOCÊS QUEREM OFERECER PRA PIRRALHA?! – comecei a gritar.

– NÃO! NÃO É ISSO ROSE! A gente quer dar pra ela o que ela nunca teve! AMOR!

– Pois não é isso que parece, já que desde que chegou todos a ficam mimando como se fosse uma coitadinha!

– Quer saber, eu não vou ficar aqui discutindo com você! Eu te amo, Loira! Mas quando você resolve ser teimosa e mimada eu tenho vontade de te mandar pra...

– Posso saber que barulheira é essa aqui? – meu pai entrou no quarto, interrompendo Emmett.

– Não é nada, pai. – Emmett saiu do quarto, bastante nervoso.

– Emmett! – meu pai chamou em vão. Quando viu que ele não voltaria, virou-se para mim. – Rose, eu não sei o que aconteceu, mas não se preocupe. Eu vou conversar com ele, princesa. Descanse. Você está com dor de cabeça, não é? – ele me olhou carinhosamente e eu senti que estava sendo a filha mais cretina da face da Terra.

– S-sim, papai. Obrigada. – tentei sorrir, mas com o veneno enchendo meus olhos era difícil esconder minha tristeza.

Meu pai fechou a porta e eu me afundei no travesseiro, mais uma vez. Por culpa daquela pirralha agora eu tinha brigado com meu Emmie. AH! Mas ela ia me pagar caro! Ela ia me pagar cada lágrima que estava escorrendo do meu rosto. Eu não ia deixar que ela saísse daquela história como a coitadinha injustiçada. Mas não ia mesmo! Eu não estava disposta a ser tratada como a vilã da história! Era EU quem estava pensando no bem de todos! EU quem estava me fazendo de carrasco para que nossa família pudesse viver em paz novamente! Não era justo que ter que passar aquilo por conta daquela fedelha metida à coitada!

Soquei a cama várias vezes. Quando comecei a sentir que ela estava prestes a rachar, parei. Continuei chorando baixinho, agora olhando para o teto. Droga! Por que aquelas coisas aconteciam justo comigo? Só podia ser praga! Alguém com muita inveja rogaram-me uma praga! Não tinha outra explicação. Eu não fiz nada pra merecer tamanho martírio. Eu sei que era metida, sempre gostei de me gabar e de estar por cima, mas eu nunca fiz mal a ninguém. Então por que as coisas ruins sempre grudavam em mim como um encosto? Isso era tão injusto que eu sequer conseguia mencionar. A raiva estava me consumindo aos poucos. Aquela pirralha... Aquela pirralha... Ela era o alvo de toda aquela raiva! E ela se arrependeria disso amargamente. Como ela se atrevia a fazer meu homem brigar comigo daquela maneira?! Não! Aquilo não ficaria daquele jeito!

Fiquei horas remoendo aquilo. Minha raiva era tanta que eu já sentia que poderia entregá-la para aquele lunático sem sentir um pingo de culpa. Agora sim ela merecia! Merecia cada desgraça que estava prestes a acontecer! Mas deixaria para ter o prazer de vê-la sofrer no dia seguinte. Agora eu só queria que meu Emmie voltasse pra mim. Fiquei esperando, mas não estava aguentando o cansaço. Acabei dormindo.

Acordei no dia seguinte, bem cedo. Emmett estava do meu lado, com o braço ao redor da minha cintura. Sorri. Provavelmente meu pai conversara com ele. Dei um beijo de leve em seus lábios e ele se mexeu para o outro lado, manhosamente. Sorri novamente. Aquilo era bem a cara dele. E eu podia dizer que amava aquilo. Achei melhor não acordá-lo. Olhei para o relógio e me assustei. Já era tarde! Eu tinha que me apressar se quisesse cumprir com o trato. Só esperava que aquela inútil já estivesse acordada. Caso contrário eu teria que acordá-la e teria que arrumar uma boa desculpa pra conseguir tirá-la de casa. Dei um jeito de me arrumar bem rápido, mas sem fazer barulho. Saí do quarto e desci para a cozinha. Por sorte encontrei Sophie lá. Ela olhava para fora através da porta de vidro. Parecia pensativa, mas ao sentir minha presença logo virou para mim. Fiquei encarando-a e por um breve momento senti que eu estava errada. Eu reconhecia aquele olhar. Era o olhar de alguém que não aguentava mais continuar vivendo. Alguém que carregava a vida se arrastando pelos caminhos a sua frente. Eu sabia muito bem o que era viver daquela maneira. Carlisle e Esme tiveram muito trabalho para que eu não vivesse mais daquela forma. Por que justo quando eu já estava decidida? Por que ela tinha que me olhar daquele jeito? Não! Eu não voltaria com a minha decisão. Por culpa dela, eu e Emmie brigamos como há muito não fazíamos! Eu não a perdoaria só por ela demonstrar aquela fraqueza!

– Bom dia. – ela disse timidamente para mim, tirando-me de meus devaneios.

– Bom dia. – respondi tentando ser o mais doce que conseguia fingir. – Onde estão meu pai e minha mãe? Não acordaram ainda?

– Eles saíram para comprar algumas coisas. – ela me respondeu como se olhasse para o vazio.

Fez-se silêncio por um tempo. Eu estava ansiosa. Tinha que ser rápida. Precisava de uma desculpa para tirá-la dali e levá-la ao lugar combinado.

– Eu queria falar com você. Será que podemos conversar? – ela me disse, surpreendendo-me.

– Que tal se déssemos uma volta?! Assim poderíamos conversar sem nenhuma interrupção. – sugeri esperando que ela concordasse.

– Por mim tudo bem. – ela respondeu seca.

– Ok! Vou pegar as chaves do meu carro.

Subi correndo para pegar as chaves. Nem conseguia acreditar que não precisei inventar nada. E já que eu estava em cima da hora, qualquer coisa estava valendo. Em velocidade vampiríca subi e desci. Ela já estava na porta da cozinha me esperando.

– Vamos? – balancei as chaves em minha mão.

– Sim.

Segui com ela até a garagem. Entramos no carro e logo saímos. Por algum motivo senti que ela estava um pouco tensa. Achei estranho. O que será que ela queria conversar comigo? Não importava! Mesmo que eu quisesse não poderia voltar. Provavelmente aquele vampiro já estava lá e, na velocidade que estava, chegaríamos em questão de minutos. Fora que eu podia apostar que ele estava me seguindo ou tinha colocado alguém para fazê-lo. Nada do que ela dissesse ia adiantar. E ela parecia querer esperar para dizer algo, pois até o momento estava totalmente calada. O clima chegou a ficar desconfortável por conta disso. Quanto mais silêncio fazia, mais eu sentia meu peito se apertando, como se meu coração voltasse a bater. Pra onde tinha ido aquela raiva toda que eu estava sentindo? Será que só com aquele olhar ela conseguiu dissipar qualquer sentimento negativo que eu estivesse nutrindo? Logo eu que pensava que ela estava se fazendo de coitadinha? Eu estava caindo naquele truque barato? Não! Eu sabia reconhecer o sofrimento verdadeiro. Eu não era idiota e nem estava cega de raiva para não distinguir verdade e falsidade. E agora? Será que eu estava me arrependendo? Não! Eu precisava me focar. Ela me fez brigar com Emmett! Ela me fez brigar com Emmett! Isso era imperdoável.

Chegamos onde eu queria. Novamente estacionei o carro perto da estrada. Eu desci e ela me acompanhou.

– Vamos até lá em cima. Tem um lugar do qual gosto muito, acho que lá teremos sossego. – disse.

– Tem certeza que quer ir? – ela me perguntou como se estivesse tentando fazer com que eu confessasse algum crime.

– T-tenho sim. Vamos.

Achei aquilo estranho. Será que ela sabia de alguma coisa? Não tinha como! Como ela poderia saber? Subi correndo e percebi que ela vinha atrás de mim. Quanto mais nos aproximávamos do local, mais eu ficava insegura. Será que aquele lunático estaria lá, esperando? Eu tinha conseguido chegar a tempo. Talvez ele fosse do tipo super pontual e só aparecesse na hora marcada, embora eu duvidasse muito. De qualquer forma, chegamos ao topo. Eu parei e ela parou um pouco à minha frente, quase na ponta do penhasco. Ela estava de costas, como se estivesse apreciando a vista. O sol já brilhava no céu, mas tinha algo diferente nela. Ao olhar para sua pele percebi que não era como a nossa. Ela parecia um diamante totalmente lascado. Era difícil explicar. Não consegui evitar colocar as mãos na boca, espantada. Não sabia nem o que dizer. Nunca tinha visto algo igual.

– Está assustada? – ela falou sem sequer virar pra mim.

– Com o que? – perguntei tentando disfarçar.

– Minha pele. Ela é diferente, não é? Pareço uma pedra que foi quebrada e colada novamente. – ela agora se virou para me encarar. – Mas sou como vocês nesse aspecto. Essa aparência é apenas consequência da minha mutação. – ela sorria tristemente.

Eu senti a culpa me invadir. Onde eu estava com a cabeça? O que eu estava fazendo ali? Por que tinha feito aquilo? Aquela garota claramente estava sofrendo. Como eu pude ter ignorado aquilo? Como eu não vi antes? Mas era tarde demais. Engoli em seco, esperando que o vampiro, que estava atrasado, não aparecesse mais.

– Sabe, não é só minha pele que é assim. Já perdi a conta de quantas vezes fui quebrada, estilhaçada em mil pedacinhos e depois tive que colar os restos. – ela deu uma risada sombria. – Parece até piada que eu ainda esteja aqui.

– O-onde quer chegar com isso? – perguntei, tentando mudar de assunto.

– Bom, eu apenas queria falar sobre o que aconteceu entre você e o Emmett ontem. – ela ficou séria.

– V-você o-ouviu?

– Acho que toda casa escutou, não é? – ela voltou a sorrir de maneira triste, para logo ficar séria de novo. – Eu me encontrei com Emmett ontem, depois de tudo aquilo. Ele estava conversando com Carlisle, mas me vi obrigada a interromper. Eu não podia deixar que as coisas ficassem daquele jeito.

– O que quer dizer?

– Eu não tenho o direito de destruir o relacionamento de vocês com a minha existência. Eu sei muito bem que só pelo fato de estar naquela casa, já é suficiente para causar um enorme caos. Sempre foi assim em todos os lugares onde eu fiquei por algum tempo. Claro que eu esperava que fosse demorar um pouco mais para acontecer, afinal, faz apena dois dias que estou lá. De qualquer forma, eu tentei avisar ao Carlisle de todas as maneiras possíveis. Mas ele é muito determinado. Nunca encontrei alguém tão determinado quanto ele. Ele não me ouviu e por minha culpa você brigou com seu companheiro. Eu pedi para que Emmett não fizesse aquilo mais. Agradeço a boa vontade dele, mas nada justifica que ele brigue com você. Ainda mais por um motivo tão insignificante quanto eu. – ela parou por um tempo e encarou o chão. – Eu peço desculpas por causar problemas. – sua declaração me surpreendeu. – Eu não preciso que ninguém me defenda. Não preciso que ninguém tome as dores por mim. Eu carreguei esse fardo, sozinha, por séculos. Eu entendo muito bem que você não goste de mim. Não é como se eu esperasse que todos concordassem com a minha entrada naquela casa. Na verdade me espanto em pensar que apenas uma pessoa foi contra. E devo dizer que, de todos, você era a que tinha razão.

Aquelas palavras estavam me matando por dentro. Ela estava me pedindo desculpas? Ela estava me dando razão? Ela era algum topo de masoquista? Eu a estava desprezando e ela agia como se me aplaudisse? Ela estava tão mal assim? Ela sofria tanto assim ao ponto de não ter o mínimo de respeito próprio? Eu não conseguia entender. Eu não queria entender! Se eu entendesse a culpa me corroeria. O vampiro ainda não tinha aparecido. Será que ainda dava para sair dali? E-eu... Eu não queria mais! Eu tomei aquela decisão sem antes tentar entender aquela garota. Eu estava cega de raiva por ter as atenções tiradas de mim. Eu estava mesmo reconhecendo aquilo? Eu estava mesmo reconhecendo que estava com ciúmes? Não! Se aquilo tudo tinha sido por ciúmes, eu seria obrigada a concordar que estava sendo mimada e imatura. Não! Tinha que ter algo mais. Balancei a cabeça, como se quisesse afastar aqueles pensamentos. Não tinha como mudar aquilo! O que estava feito, estava feito. Mas... Como podia? Ela apenas me disse algumas palavras! Será que era isso que Emmett queria dizer quando falou que se eu conversasse com ela, poderíamos nos dar bem? Será que ela sabia que eu entenderia aquele sofrimento melhor que ninguém? Droga!

De repente ouvi um barulho extremamente alto e subiu uma enorme poeira na minha frente. Assim que tudo se acalmou, vi aquele lunático prendendo Sophie no chão. Ele colocara uma espécie de coleira de metal nela e algemara suas mãos. Fiquei sem reação.

– Ora, ora! Parece que me atrasei um pouco, mas fico feliz que tenha cumprido sua promessa, Rosalie. – ele falou comigo. Depois se dirigiu à Sophie, que estava sendo pressionada no chão por ele. – Está vendo, gracinha? Não adianta! Você jamais terá uma família! Você é uma aberração! Seu lugar é no laboratório para ser estudada. Quem sabe dessa vez eu consiga dissecá-la?!

Sophie não respondeu. Ela estava de olhos fechados, como se estivesse aceitando aquele destino. Mas, por um breve momento, ela olhou em meus olhos. E eu pude sentir que ela sabia de tudo. Naquele momento tive certeza que ela sabia que aquilo ia acontecer. Senti-me a pior pessoa do mundo. Ela sabia que eu a estava levando para uma emboscada. E mesmo assim tinha ido comigo. Por quê? Será que era só para me pedir desculpas? Não! Não! Não podia ser! Se fosse assim, eu...

– Como se sente sendo uma traidora, Rosalie? Aposto que seu papai vai ficar muito triste quando souber. – ele gargalhou debochado.

– CALA A BOCA!! – gritei. – E-eu mudei de ideia! Devolva a Sophie! – falei tentando demonstrar coragem. Ele apenas gargalhou ainda mais.

– De jeito nenhum! Temos um trato! Você a traria até mim e eu sumiria com ela da sua vida para sempre. Você não a odiava? Pois bem, agora não precisará mais encará-la.

– CALA A BOCA! CALA A BOCA! CALA A BOCA! – eu não queria ouvir aquilo. Dirigi-me para Sophie, já com os olhos cheios de veneno. – Sophie, você é forte! Quebre essas correntes e acabe com esse cara! E-eu vou te ajudar. – coloquei-me em posição de ataque.

– Ela não pode! Essas correntes foram feitas por mim. Elas bloqueiam os poderes dos vampiros, tornando-os inúteis. Eu as chamei de correntes de Prometeu. Apropriado, não? – ele falava de maneira debochada.

Naquele momento eu estava em um beco sem saídas. Eu tinha que fazer alguma coisa! Eu precisava atacar aquele lunático! Preparei-me para avançar, porém fui surpreendida por Sophie.

– Não faça nada. Ele é forte demais para alguém como você. – ela disse olhando dentro de meus olhos intensamente.

– Mas... – fui interrompida.

– Ela tem razão! Se eu fosse você não faria uma besteira dessas. Aproveite que deixei que ficasse livre. Não são todos que tem esse privilégio, não é Sophie? – ele continuava com seu tom debochado. – Aliás, Sophie, você é mais patética do que eu pensava. Está preocupada com o bem estar dessa garota que acabou de te entregar de bandeja para o inimigo?

– Eu tenho pena de você, Anderson Tissot. – Sophie sorria ironicamente. Ela o estava provocando? Por acaso era louca?

– O que disse? – ele pareceu ficar irritado.

– Você ser baixo ao ponto de armar esse circo todo só para me pegar, eu já sabia. Mas daí aparecer aqui fedendo a Volturi? O que é? Resolveu se tornar um mero empregadinho, subordinado, apenas para me pegar? Esperava mais de um vampiro habilidoso como você!

Ela tinha perdido a cabeça! Ela o estava provocando naquela situação? Ele ia matá-la! Mas, para minha surpresa, ele começou a rir.

– É por isso que você sempre foi minha presa preferida! Mesmo em uma situação dessas ainda tem coragem de ser atrevida dessa forma. Tenho que dizer que você me diverte. Odeio presas submissas!

Logo após dizer isso ele deu um soco no estômago de Sophie, que logo cuspiu veneno pela boca. Aquilo me assustou. Ela caiu no chão de joelhos. Eu não conseguia ver aquilo e ficar quieta! Parti para cima dele. Desferi um soco, mas ele desviou e segurou meus cabelos, me erguendo do chão.

– Não, Rosalie. Não seja idiota. Coloque-se no seu lugar! – ele sussurrou em meus ouvidos.

Logo depois me arremessou no chão. Ele realmente era muito forte. Levantei-me com algum custo. Estava disposta a enfrentá-lo de novo. Coloquei em posição de ataque e parti para ataque novamente, mas fui parada.

– NÃÃOOO!! – Sophie gritou. – Já chega, Rose.

Sophie olhou para mim e eu senti que ela queria dizer-me que estava tudo bem, que eu não precisava me preocupar. O que é? Aquela garota estava tirando a minha responsabilidade naquilo? Ela não queria que eu me sentisse culpada? Ela estava mesmo disposta a aceitar aquilo? Por quê? Por que por mim? Fui eu que a levei até lá! Eu era a culpada daquilo! Por que ela estava sendo boazinha comigo? Eu não merecia! Eu não queria que ela me olhasse de maneira tão compreensiva. Eu queria que ela me odiasse! Queria que ela ficasse com muita raiva, ao ponto de querer me matar! Eu estava me sentindo tão pequena diante dela. Ela tinha uma nobreza de espírito muito grande. Senti-me tremendamente idiota e infantil perto dela. Eu não tinha um motivo real para ter feito o que fiz. No fundo eu sabia, mas não queria admitir. Não queria admitir que era infantil aquele ponto. Minhas motivações eram vazias de significado. Tudo que eu fiz foi arrumar desculpas que de alguma forma pudessem dar algum tipo de sustentação ao meu egoísmo, ao meu ciúme. Estava envergonhada por ser tão ridícula. Eu tinha agido como uma molequinha mimada. E ela? Ela estava passando a mão na minha cabeça. Ela estava jogando na minha cara o quanto eu era ingênua perto dela. O quanto eu ainda precisava crescer e amadurecer! Eu não queria entender aquilo justo naquela situação! Estava cada vez mais arrependida. Já não conseguia segurar as lágrimas.

– Ora, ora! A loirinha se arrependeu? Que pena ser tarde demais! – o vampiro falou.

– Rose, não se preocupe. Você não tem culpa! Essa sempre foi minha vida. Mesmo que você não tivesse feito nada, algum dia ele ia me achar. – Sophie falava de maneira tão doce que apenas fazia com que eu me sentisse pior.

– Você sabia, não é? – falei. Ela apenas sorriu para mim.

– Eu já fui capturada várias vezes. Sei quando é uma emboscada. Por iss...

Ela nem terminou de falar. O vampiro deu-lhe um chute. Assim que ela caiu no chão ele começou a pisotear sua cabeça. Ela parecia fora de si.

– Sua vadia, desgraçada! Por que está sendo tão boazinha? Sabe que eu odeio quando você age assim! Mostre-me! Mostre-me a vampira atrevida e com sede de sangue que eu tanto gosto! – ele falava enquanto pisava em sua cabeça cada vez mais forte.

Eu não conseguia continuar presenciando aquilo. Já estava no meu limite!

– PAAAAAAARAAAAAAA!! – gritei, mas ele não parou.

Foi então que vi Sophie impulsionar os pés e dar uma cambalhota para trás, tentando se desviar do alcance de Anderson. Ele parou e de repente sorriu. Quando eu olhei para Sophie, me espantei. Seus olhos estavam negros. Aquela assassina tinha voltado.

– Ótimo! É assim que eu quero! – Anderson falou, sorrindo satisfeito. – Já consegui o que queria. Acho que está na hora de partir. Bem, Rosalie, foi um prazer negociar com você.

Ele pegou Sophie nos braços e sumiu pela floresta. Eu caí de joelhos no chão, com as mãos no rosto. Não conseguia conter as lágrimas.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Yooo pessoitas XD
Estão bem? Então... Gostaram do Cap? Odeiam a Rose ou estão com peninha dela? Hauahauahauahauhau XD!! Espero de verdade q tenham gostado de ler tanto quanto eu gostei de escrever xD!! Sério, amei escrever esse cap XD!! E as coisas apenas começaram a esquentar XD!! Qual será a reação do Carlisle quando souber disso? Cenas do próximo cap... hauahuhauahauhua XD!!
Comentem e deixem uma ficwriter feliz... hauahauhauahauahau XD!!
Ah... Só esclarecendo uma coisa XD!! Non sei se vocês sabem quem foi Prometeu XD!! Vou contar a história dele pra vcs, caso desconheçam:
Prometeu foi um titã da mitologia grega. Resumindo, ele era amiguinho de Zeus, mas Prometeu passava tempo demais se dedicando à humanidade. Por isso Zeus foi ficando enciumado. Por conta desse ciúme e por causa de uma trapaça q Prometeu fez contra os deuses do olimpo, Zeus tirou o fogo da humanidade. Mas aí Prometeu foi lá e roubou o fogo do olimpo e devolveu pros homens. Isso deixou Zeus fulo e ele puniu Prometeu. Hefesto fez correntes que prenderam Prometeu no alto de um monte, onde todos os dias uma águia viria e bicaria seu fígado, destruindo-o. Como Prometeu era um titã, por isso passaria por aquele tormento por toda a eternidade, já que seu organismo se regenerava muito rápido. Ficou assim até que Hércules o libertou de lá e Zeus permitiu que Prometeu morresse como um mortal.
A ideia de dar aquele nome à corrente foi justamente uma comparação com a forte corrente produzida por Hefesto, capaz de imobilizar um titã ^^
Nyah... chega de falar né ^^!!
Até o próximo cap o/



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