Quando estávamos quase chegando ao restaurante, a mãe do Isaac ligou pra ele. Eles se falaram por uns cinco minutos então Isaac desligou o celular e disse:

– Minha mãe estava em uma apresentação de teatro do colégio do Graham, e a apresentação acabou faz tempo, mas é que ele sumiu e ela teve que procurar ele pelo colégio inteiro! E advinha onde ele estava?

– Onde, Isaac? – perguntou a minha mãe.

– Atrás do palco jogando carta com alguns amigos. – e todos caímos na risada

– Sério? – perguntei.

– Sim, esse garoto é o demônio.

– Coitada. – falei.

– E ela disse que deixou o Graham ir à casa de um colega e está vindo almoçar com a gente, se não tiver problema.

– Claro que não, imagina. – meu pai disse.

Chegamos ao restaurante. Ajudei Isaac com o cinto e o levei para dentro. Sentamo-nos à mesa número 5, que na verdade era grande demais apenas para nós quatro.

Peguei o cardápio e fui lendo para Isaac enquanto meus pais falavam com a balconista.

– O que você vai pedir, Haz? – perguntou.

– Comida vegetariana, e você? Tem algo em mente?

– Haz, eu não sou telepata para ler o cardápio com a força da mente. – e nós começamos a rir.

– Eu leio o cardápio pra você então. – ofereci.

– Não precisa. Eles não têm pizza? - perguntou.

– Tem. Mas você vai comer uma inteira?

– Não. Você vai dividir comigo.

– Bom, só se for vegetariana. – falei.

– Desde que seja pizza.

– Tudo bem, uma pizza vegetariana então.

Esperei meus pais voltarem para fazer o pedido.

– Já escolheram? - perguntou minha mãe.

– Sim. Pizza vegetariana. Eu e Isaac vamos dividir.

– Pizza? Mas tem tanta comida gostosa aqui.

– Bom o que você acha Isaac?

– O que mais que tem?

– Tem carne grelhada, carne de panela, peixe, massa, massa com molho, arroz, feijão, batatas gratinadas, salada, lasanha de frango e lasanha de brócolis e doces. – listou meu pai.

– Se não se importarem de servir pra mim Sr. e Sra. Lancaster. – pediu.

– Claro que não Isaac, que é isso. – disse minha mãe. – O que você vai querer?

– Vou querer um pouco de peixe, arroz, feijão, batatas, alface e lasanha de frango. – e abriu um sorriso.

– Vou pegar, falou minha mãe. – e saiu.

– Vou me servir também. – falei. Peguei arroz, feijão, batatas, salada e lasanha de brócolis.

Quando voltei minha mãe já tinha colocado a prato para Isaac.

– Voltei. – disse. – Quer ajuda Isaac?

– Seria ótimo. Isso que dá convidar um cego sem a mãe para o seu aniversário, Haz.

– Ai, quanto drama. Não custa nada, tá?

– Fico feliz que a sua ajuda é de graça. – E começamos a rir.

Meus pais se sentaram e começaram a comer. Para beber, pedi suco, Isaac pediu Sprite e meus pais pediram Guaraná.

– Oi, Hazel, oi, oi. – falou a mãe do Isaac que tinha acabado de chegar.

– Oi, mãe do Isaac!

– Oi! Que bom que veio! – comemorou minha mãe.

– Oi, tudo bem? – cumprimentou meu pai.

– Sim, sim, ai o Graham me dá um trabalho. Oi Isaac. – comentou a mãe do Isaac.

– Oi, mãe.

– Trouxe um presentinho para você Hazel. Espero que goste. Isaac me falou que adora ler.

– Poxa! Não precisava não, muito obrigada! – parecia ser legal, era da saga daquele menino, o Percy Jackson.

– De nada querida. – e começaram a conversar, os adultos.

Logo depois chegaram a mãe e o pai do Gus. Agora eu entendi o porquê de uma mesa tão grande.

– Feliz aniversário Hazel! – falaram.

– Obrigado! Que surpresa!

– Sua mãe, querida, nos convidou, disse que era surpresa pra você.

– Legal mãe. Obrigado por me avisar. – falei rindo.

– Se eu te avisasse, aí não iria ser surpresa.

Depois de cumprimentar todo mundo, a mãe do Gus, segurou minhas mãos, olhou nos meus olhos e disse: - Tudo de bom pra você, querida. Muito amor, saúde, felicidade... Toma aqui o seu presente, espero que goste.

Era o último livro da continuação de “O Preço do Alvorecer”.

– Obrigado, Sra. Waters!

– De nada, querida. Achei no fundo do armário do Gus, tem um recado para você aí dentro. – sussurrou.

–Ah... Ok. – mas deixei para ler quando chegasse em casa. Era algo muito pessoal.

Já tinha passado uma hora quando todos resolveram que era hora de cantar parabéns para mim, eu não queria, mas eles insistiram tanto que dava pena de dizer não.

– Parabéns pra...

– Espera! – gritou alguém chegando bem na hora. Kaitlyn. – Ufa! Cheguei bem na hora, que sorte!

– Kate! – disse. Nossa, minha mãe tinha preparado tudo mesmo. - Você veio!

– Claro né, querida. Você acha que eu ia faltar o seu aniversário? Só tive uns contratempos, mas já estou aqui, não estou? Aii, e ó, toma o seu presente, acho que você já sabe o que é.

– Não me diga que você comprou o vestido pra mim.

– Sim, eu digo. E digo mais: Você vai vesti-lo agora.

– Abre o presente Hazel.

Abri o presente. Era o mesmo vestido da loja daquele dia em que fomos ao shopping.

– E aí? Gostou? - perguntou Kate, com um sorrisinho malicioso.

– Sim. - tive que dar o braço a torcer.

– Vai lá se trocar vai. – falou.

– Boa ideia, Kaitlyn, coloque o vestido Hazel, é seu aniversário.

– Tudo bem...

Tentei ser o mais rápida possível, mas com os tubos se enrolando na minha roupa o tempo não dá. Graças a Deus minha mãe apareceu e me deu uma ajudinha. Voltamos para o restaurante e todo mundo elogiou o vestido.

– Nossa Hazel, é mesmo a sua cara. – falou a mãe do Isaac.

– Ficou perfeito. - disse a Sra. Waters.

– Linda, meu anjo. – elogiou meu pai.

– Obrigada gente. – falei.

– Eu disse, eu disse, eu disse. Tá! Hora do Parabéns! – puxou Kaitlyn.

Só uma palavra: constrangedor. Acho que não tem uma pessoa que não fique com cara de tacho quando cantam parabéns pra ela.

No final do Parabéns, vem as fotos, com cada convidado. Primeiro o Isaac e sua mãe que eram os que estavam do meu lado. Depois Sr. e Sra. Waters, depois a Kaitlyn e depois meus pais. Aí, comemos o bolo que minha mãe tinha encomendado, e as pessoas começaram a ir embora. Por que já começava a escurecer. Fui até a frente do restaurante com Isaac enquanto a mãe dele terminava de conversar com meus pais.

– Foi um dia muito legal. – disse Isaac.

– Pois é. – concordei.

– Eu queria poder ver você nesse vestido. – reclamou Isaac. – É nessas horas e em todas as outras que você acha horrível não poder enxergar. – brincou e nós rimos.

– Ah, um dia você vai poder voltar a enxergar, Isaac. – reconfortei – o.

Ele deu uma risada.

– É a única pessoa que disse isso pra mim desde que eu me operei.

– Estou tentando ser mais original desde que disse que eu te imitava muito. – brinquei.

– Ah! Então, a questão é tentar ser original e não dizer uma palavra amiga mesmo que ela seja mentira? Que traidora você em Hazel Lancaster. – caímos na gargalhada.

– Eu acredito nisso.

– Bom, se você acredita, eu também acredito. – ele sorriu, e eu sorri de volta mesmo que ele não visse. – Hazel, posso te contar um segredo?

– Pode. – eu disse chegando mais perto.

Ele chegou bem perto e gritou:

– Viva o Falanxifor!

– Poxa, que susto Isaac! – e voltamos a rir mais do que nunca.