Morgan estava alquebrado. Via-se mais magro, perdera peso certamente. Não sentia mais fome. Aliás, podendo escolher, evitaria ao máximo ter de comer. Pensava que talvez fosse culpa dos cigarros que andava fumando, mas afinal não é como se narcóticos não comessem, então essa hipótese poderia ser parcialmente descartada. Certo dia, experienciou pela primeira vez ter de forçar a comida para dentro visto que já não se alimentava há mais de 12 horas: ele quase vomitou, seu estômago rejeitava a comida. Dali para frente se acostumou com a sensação de enjoo toda vez que sentava à frente de um prato.

No final das contas, tudo era uma questão de tempo, de se acostumar. Logo toda inquietação desapareceria.

– Ah~ Hey... - Exclamou o louro, pausadamente, com olhos semicerrados e uma expressão de desagrado - Não é pra por a mão dentro da cueca...

– Mas... Morganzinho! Você não... Você não fica duro de jeito nenhum! - Respondeu uma voz necessitada.

– Hah! Hah! - Um riso pesado saiu raspando pela sua laringe - Claro que não, você é feio demais, como espera que eu me excite? Aliás, você já se olhou no espelho..?

Morgan se ajeitou novamente sobre a cômoda na qual ele sentava após ralhar com o rapaz, uma gota de um suor frio desceu pela sua coluna.

– Espera! A gente quer ver você gozar! - O pervertido interveio - Você é tão bonitinho aí em baixo, tão rosadinho e redondinho e eu--- Hm!

– Cala a boca, porco! - Morgan o silenciou com uma cotovelada na barriga - Que nojo de você!

O louro na realidade se deleitava e se fartava com as bajulações daquele grupo de meninos e de seus visitantes para com ele. Achava-os patéticos, poderia fazer pouco de qualquer um e ainda sim ser desejado.

– "A gente quer ver você gozar" uma ova, - Uma outra pessoa parafraseou o garoto - eu quero é gozar na sua cara!

– Cai fora, imundo... - Respondeu ele, debochando.

– Hey, hey.... Cadê a ordem aqui? Não quero ninguém aborrecendo o Morgan - Uma voz grossa interrompeu.

Era Adam.

Ele afastou-se da rodinha de garotos que circundavam o louro e veio em sua direção.

– Adam! - Regozijou ele.

O rapaz encostou as coxas na cômoda onde sentava o outro e este, por sua vez, separou suas pernas para que ele pudesse chegar ainda mais perto.

– Bando de idiotas, não sabem como tratar uma dama!– Comentou o líder, com tom de chacota para os outros.

Morgan estranhou a denominação que ganhara e negou ser o que ele dizia.

– Aproximem-se. - Mandou - Vejam de perto e tentem aprender!

O alto rapaz abriu o cinto e desabotoou as calças antes de agarrar firme nos ossos do quadril de Morgan, que já sentia uma agitação por baixo de sua pele.

– Mas Adam! - Um deles interrompeu, já com uma ereção crescente em suas roupas - Você não tem que deitá-lo primeiro? Ou você pretende... Sentado assim!?

Adam riu da ignorância do colega e apenas prosseguiu. Os outros se deram pressa em tentar participar de alguma forma, fosse tocando neles mesmos ou em Morgan, ou ainda apenas assistindo e dali tirando suas bizarras satisfações. Bocas e dedos o atacavam por todos os lados, mas sua atenção se prendia no grande rapaz com beijos sabor nicotina que o invadia indelicadamente.

– A gente... Tem sorte em te ter, Morgan... - Em respirações entrecortadas falou o líder do grupo.

E todas resistências do louro eram dissolvidas perante elogios.

– Tão bom... Eu vou enlouquecer... Desse jeito-- Ah!

– É mesmo... Ainda bem que o Adam disse pra trazermos ele - O garoto que brincava com os mamilos do louro completou, voltando rapidamente ao que fazia visto que outro já tomara os botões de rosa dele nos lábios - Hey, sai daí!

Morgan começou a espasmar.

– Adam é... O Adam... É pai de todos homens na bíblia... E foi-- Ah! E foi ele quem nos iniciou no mundo, e isso... É bem coerente com o que eu tenho... Ah! Ah! - O amigo do nosso menino discursava sozinho em meio a arfadas e arrepios de dor em sua "valsa" intermitente da mais rebaixada luxúria.

Grande parte dos rapazes apenas o ignorou, soara realmente deslocado aquele trocadilho com o nome do líder do grupo, entretanto para o próprio Adam, isto lhe pareceu no mínimo curioso. Conseguia captar uma maior dependência da parte do menor, o que lhe interessava deveras.

Com Morgan servindo de moeda de troca, o bando se utilizava dele e ainda faturavam bem entre os alunos do internato só para garotos. Detinham os vícios e as promiscuidades que os "confinados" almejavam, sua popularidade entre os negócios dos delinquentes só aumentava. Para Morgan porém, aquilo se resumia a um passa-tempo imoral e vicioso.

Seu corpo contorcido, sua cabeça pendia para um lado, as pernas para outro. Morgan já não se recostava sobre parede ou móvel algum. Passou de escultura insensível para a ave triste e bondosa que era, a flutuar nas mãos indignas de todos garotos que o usavam.

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Horas depois e melado com sêmen de todos presentes na sessão, Morgan estava alquebrado. Regressou ao seu quarto, assim como o fizeram todos os outros. Não banhou-se, apenas sentou para aplacar sua fadiga imediata e pensou um pouco sobre o que andava fazendo. Alguns dos rapazes eram muito desagradáveis, outros nem tanto... E tinha o Adam também, não conseguia dizer que gostasse dele mas... Ele fazia bem o seu "papel".

Recordou-se rapidamente do dia em que o tal Simon surpreendeu-o na floresta e pensando agora, sem a casca do pudor, transaria facilmente com ele também se assim ele desejasse. Afinal ele era bonito, apesar do gênio. "Tantos moleques horrorosos já..."

Não é como se ele tivesse perdido grandes coisas se entregando a tais práticas porque também já não era mais virgem desde o início. Rihito não sabia de nada. Muito provavelmente achava que ele o fosse... Pobre dele! Talvez nem sua amizade merecesse, quiçá seu amor! Talvez Rihito já tivesse notado que ele era aquela coisa estranha e por consequência não o quisesse... "Nada mais natural, ele deve ter percebido." Seu amigo talvez também deixaria de sê-lo com o tempo. "Maldito Simon...."

Não demorou para que caísse no sono ali mesmo, sentado e torto, ao pé da cama com o rosto recostado sobre o colchão.

–-- ♪ ---

Rihito fora à biblioteca para fazer o projeto das aulas de física naquele dia e passou seu tempo pesquisando. Ao final do período, fez uma breve visita ao aposento de Simon para depois retornar ao seu. "Está tarde", ele dizia para si, arrumando os óculos no nariz.

Entrou despreocupadamente, a luz estava acesa. Não tinha notado o louro dormindo no chão até fechar a porta novamente. Aquela era uma posição deveras desconfortável e Rihito pensou consigo, "Seria melhor se eu o arrastasse para sua cama?" Olhou bem para o menino, seus cabelos cor de mel pareciam sujos de algo que não conseguia identificar. "Na verdade, não... Conheço esse tipo de sono." Ele acrescentou, indo aprumar-se para dormir. "Se eu acordá-lo, ele não dormirá mais. Esse é o sono em que um dorme largamente na pior condição possível. Está bom assim, deixe-o dormir aí mesmo, que eu não vou atrapalhar."

E tendo dito palavras tão frias sem nem reparar no estado de seu amigo, o garoto de olhos glaciais sorriu amistosamente e foi para a cama, preocupado com o seu trabalho de física, que permanecia incompleto.