Angelic Me escrita por Thaís Fonseca


Capítulo 8
Capítulo VIII – Um Peão Em Uma Partida De Xadrez




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Eu estava na sala de aula, terminando uns exercícios que o professor de Inglês pedira, quando Jess se aproximou cautelosamente, mas sem disfarçar a excitação:

- Já sabe Bella?

- Sobre? – continuei resolvendo os exercícios, sem levantar o olhar da folha do caderno.

- O baile bobinha. Quer dizer, mais precisamente, o tema do baile. – ela falou antes de qualquer tipo de manifestação de interesse. – Ok, é Monte Carlo! Imagine. Luxo, e tudo aquilo. Vai ser muito legal.

Ai Deus, eu havia esquecido! O baile estava chegando. E eu odeio bailes. Mas todo ano é a mesma pressão, pessoas te perguntando do que vai fantasiada, meninas empolgadas, suas amigas te pedindo ajuda sobre o que fazer. E eu nem sei dançar. Nem nunca fui a um desses bailes. As pessoas normais, se preocupam com a roupa, o cabelo, os sapatos e... o par. Eu, me preocupo em conseguir me equilibrar sobre meus pés ao andar num par de saltos dez, um vestido glamuroso e me mexer mais do que deveria ao som de músicas dançantes.

O pior era que Jessica já me conhecia a tempo suficiente para saber que eu não gosto disso. Não sou do tipo que atrapalha a diversão alheia. Eu queria poder me divertir nisso também, mas nasci com um vácuo na cabeça, no lugar do cérebro, o que fazer? E ela precisava ficar falando daquilo para mim?

- Ai Bella, vamos, se anime. Esse ano você tem que ir.

- E por quê? – a olhei, erguendo a sobrancelha.

- Acorda, em que mundo você vive? – ela revirou os olhos. – os Cullen, é obvio! Eles devem ir, pois ninguém perde um baile, a não ser você claro, e a gente precisa paquerar um pouquinho...

- Jess – eu ri – você é a pessoa mais bem informada da escola – pra não dizer fofoqueira, pensei. – e ainda não sabe que os Cullens estão juntos?

- Juntos? Como assim? Tipo, juntos, juntos?

- É Jess! – ri mais uma vez – Emmett e Rosalie, Alice e Jasper.

- Eca! – ela torceu a cara. – mas eles moram juntos! Eles deveriam ser meio que irmãos não é?

- Mas parece que não são.

Ela ficou olhando para o nada por uns momentos, e como num desenho animado, em que aparece uma lâmpada sobre a cabeça de alguém que teve uma idéia, ela se agitou, dando um pulinho na cadeira.

- Espera aí! Você não citou um deles...

Eu já deveria saber...

- Edward?

- Ele! Ai. Meu. Deus. Ele está sozinho?

Dei de ombros.

- Deve estar, como vou saber?

- Ah não, agora mesmo eu vou nesse baile. Tipo, ele é muito lindo!

Agora, quem revirou os olhos fui eu.

- Jess, ele não vai dar bola pra você! Quer dizer, ele nem olha pra ninguém!

- Bom, nisso você tem razão... mas, você não chegou com ele hoje?

Senti meu rosto corar.

- Sim, mas é que meu carro deu problema, e como ele é meu vizinho e tudo, eu pedi uma carona... – menti bem convincente dessa vez.

- Ah sim. Então, você meio que é amiga dele?

- Bom, amiga é meio forte. Eu... falo com ele as vezes. Converso mais com Ali...

- Que seja! Você vai ser minha chave mestra!

O sinal de saída acabara de bater. Recolhi minhas coisas, sem muita pressa, enquanto uma Jessica impaciente batia o pé ao meu lado.

- Vamos Bella, anda!

- Já vou, já vou...

Assim que fechei o zíper da mochila, Jess me puxou pelo braço, me arrastando pelos corredores. Saímos pela porta de entrada, quando ela resolveu falar, animada:

- Obrigada por concordar em me ajudar nisso! – concordar? Eu falei que concordava? E aliás... concordar em quê? – Ai, esse Edward é tão fofo... falando nele...

Ele estava parado de frente para seu Volvo, mas seu olhar não era tão doce quanto o do Edward da manhã. Ele estava duro de novo, eu podia ver.

- Vamos – cochichou Jessica – vá falar com ele, me apresente.

- Jess, não acho que...

- Ora Bella, por favor.

Falando isso, ela me empurrou em direção a ele, que me olhava zangado.

- Er... oi.

- Oi. – sua voz era fria.

- Essa é a Jessica, minha colega de...

- Oi, Jessica Stanley. – ela estendeu a mão, tentando jogar charme para Edward. Ela me irritava, é sério.

Ele, por sua vez, sorriu elegantemente, apenas acenando.

- Edward Cullen... mas isso você já deve saber.

- Sim, eu sei. – ela riu, guardando a mão no bolso do casaco. – então, eu sei que nunca falei com você, nem nada, mas o baile está se aproximando, e é tradição que as meninas convidem os garotos. E como você é novo na cidade e tudo mais, é uma ótima oportunidade de se enturmar com a galera. Sabe... eu quero saber se quer ir ao baile comigo.

Fiquei ali parada, observando a cena. Queria voar nela. Onde já se viu convidar uma pessoa pra alguma coisa no primeiro segundo que fala com ela? A Jessica deveria rever seus conceitos.

- Hm. Obrigado, Jessica. Mas não sou o tipo de cara que vai a bailes, nem nada...

- Não seja modesto. Aposto que era atleta na ultima escola!

Revirei os olhos. Como ela podia ser tão fútil?

- Na verdade não, eu era extremamente reservado, como sou aqui. Mas em outra ocasião talvez... acho que Mike gostaria que o chamasse... ele parece, digamos que hm... intrigado com essa conversa.

Olhei para trás e vi que Mike fitava Edward de longe, como se fosse capaz de atravessar o estacionamento e encher Edward de porradas. Se ele não quebrasse os punhos antes, claro.

Jessica olhou na mesma direção, decepcionada.

- Hm, ok então. Fica pro próximo ano.

- É, quem sabe. – ele sorriu.

Ela se derreteu, obviamente, e saiu cambaleando para chamar Mike para o baile.

- Então é isso?

Me virei para Edward, sem entender. Ao invés de falar qualquer justificativa, ele apenas respirou fundo e se virou, abrindo a porta do carro.

- O que...?

- Nada Bella.

Ele entrou no carro e já ia fechando a porta, quando disse.

- Vá a pé. Caminhar faz bem à saúde.

Então ele bateu a porta e saiu, cantando pneus pelo humilde asfalto da estrada. Mas, quê? O que acabara de acontecer aqui? Eu sonhei de manhã e vim sonâmbula para a escola, só pode ser. Aquele Edward gentil, era fruto da minha imaginação. Isso era mais que obvio.

- Bella, Bella! – ouvi a voz estridente de Jessica me chamar.

Me virei sem abrir a boca, mas tentei não ser rude. Angela estava com ela, ambas animadas.

- Angela convidou Eric e eu, convidei Mike! Eles aceitaram!

Sorri, sem disfarçar a falta de entusiasmo.

- Meus parabéns.

- Ah Bella, por favor. – Angela disse, pedinte. – Sei que não gosta desse lance de bailes, mas, queríamos que você viesse conosco... para nos ajudar a escolher um vestido. Esse fim de semana, em Port Angeles!

Olhei para ela, tentando transmitir a idéia de que eu não era boa para isso de vestidos, para variar.

- Ahhh, Bella, sua opinião é importante. Por favor, venha! Depois vamos a um restaurante e jantamos, que tal?

Eu precisava sair um pouco de lá. E a idéia de ir a Port Angeles, me animava um pouco. Eu precisava de novos livros para distrair minha mente. Principalmente agora. E Forks não tinha um acervo de livros muito bom.

- Ok, eu vou.

- Isso! Combinamos depois então.

Sorri amigavelmente e esperei que elas fossem embora. Caminhei para casa, pensativa. O Edward da manhã se fora, como eu receava. Agora tudo voltara ao normal. Chegando em casa, Alice estava sentada no meu sofá, sozinha. Confesso que me assustei a princípio. Ela invadiu minha casa?

- Oi Bella...

- Oi – falei meio intrigada – como é que... como você entrou?

- Ah. Eu achei a chave reserva. – ela sorriu envergonhada. – perdão, mas eu precisava muito falar com você...

- Tudo bem. – ela era meio estranha. Não que eu fosse a melhor pessoa do mundo para identificar o que era ou não estranho. – mas, o que era?

Ela respirou fundo, olhando o chão por uns instantes. Me sentei ao seu lado no sofá e a observei, esperando uma resposta. Ela então me olhou. Em seu rosto, preocupação.

- Bella, você marcou com as suas amigas de ir a Port Angeles esse final de semana?

Como ela sabia? Será que ela viu isso? Porque quando elas me chamaram, eles já haviam ido embora. Todos os Cullens.

- Sim... – respondi sem saber onde iríamos com aquele conversa.

- Eu... Bella, não vá.

- Mas... por quê? Você viu algo?

Ela me olhou como se não quisesse que eu falasse aquilo em voz alta. Não de um jeito rude, mas de um jeito um tanto quanto maternal.

- Não sei exatamente. Eu vi você... na livraria. Na frente dela, na verdade. De repente tudo ficou muito turvo e era como se uma neblina muito intensa cobrisse toda a minha visão. E então você gritava por socorro, e eu ouvia duas pessoas correndo. Aparentemente, você e mais alguém. Ou algo. Mas aí a visão mudava, e eu via seu pai chorando ao receber uma ligação...

Eu não sabia realmente o que dizer. Aquilo me pegou de surpresa e eu apenas continuei olhando para ela.

- Eu sei, é meio estranho. Mas por favor, não vá. Quero dizer, eu não tenho certeza do fim disso. Não sei se algo muito ruim lhe aconteceu mas... eu não sinto uma coisa boa Bella, não vá.

Eu estava tão surpresa, que nem sequer pensei direito antes de falar.

- Tudo bem, eu não vou.

Ela sorriu e me abraçou.

- Obrigada Bella. Eu gosto muito de você, e me preocupo. Espero que não me ache uma chata, controladora ou coisa assim.

- Não Alice. Eu não acho. – sorri também. Não era possível que ela fosse chata, não mesmo.

Alice se levantou rapidamente.

- Vou tentar esconder nossa conversa de Edward, eu prometo.

- Por favor. E obrigada por se preocupar comigo.

Ela apenas sorriu mais uma vez, e já ia indo embora quando eu a interrompi.

- Alice!

Ela se virou, me olhando com curiosidade.

- Há algo que eu preciso saber. Fui ontem à sua casa, mas você não estava, então...

- Edward comentou algo sobre isso.

- É, claro que sim. – engoli seco, espero que ele tenha comentado somente isso. – Bom. Hm. Acho que você deve se sentar outra vez.

Educadamente, Alice obedeceu minha solicitação e se sentou no mesmo lugar que ocupara momentos antes.

- Eu... é estranho isso mas, quando desconfiei que havia algo de diferente com vocês, mas especificamente Edward, conversei com um amigo meu... ele me contou algumas lendas. Lendas quileutes. – nesse momento, Alice fechou a cara e fez uma careta. – Ele me contou sobre os frios, que seriam vocês nessa história toda.

- Sim, éramos nós, mas isso você já não sabia?

- Sim, eu sabia... mas era sobre outra parte da história que eu queria saber...

Alice agora me olhava de um jeito estranho. Ela parecia já saber o que eu perguntaria e não gostava nem um pouco de ter que responder.

- Jacob me disse que a família dele, supostamente descendia de lobos. E que os frios, eram os inimigos naturais dos lobos. Como cão e gato. É verdade isso?

Alice hesitou.

- Por favor Alice. Eu já sei que vocês são vampiros. Mas preciso saber... eles são lobisomens?

- Bella, por favor.

- Alice, você sabe da história, eu posso ver isso.

Ela se deu por vencida devido ao meu apelo. Depois de hesitar tanto, ela não ia achar que eu era tão burra a ponto de não perceber que havia uma razão em tudo o que eu dizia, ia?

- Bella, sua teoria pode ser válida. – prendi a respiração ao ouvir aquilo – mas espere, não estou dizendo que seu amigo ou a família dele seja feita de lobisomens, como nós somos vampiros. Há algo muito... maior por trás disso. Eu não sei como acontece, não sei mesmo. Esse é o segredo deles, a história deles. Mas sim, existem lobisomens e parte da tribo deles já foi assim. Não sei se ainda há algum. Tudo o que sei, é que essa lenda de lobos e vampiros, é uma história real.

Eu sabia! Tudo se encaixava. Amanhã faria amizade com uma garota que me diria que era filha do Pé Grande, pode acreditar.

- Alice, obrigada por confiar em mim. Eu nunca diria nada a ninguém. Nem sobre vocês, nem sobre os lobos.

- Eu sei Bella. É por isso que confio em você... mas, tenho medo.

- De quê? – aquilo não fazia sentido.

- De que alguém descubra... que você sabe. Bella, você sabe demais. Mais do que deveria saber. E outros vampiros existem por aí. Outros, não tão controlados como nós, aqueles que fazem jus a fama de vampiro, conhecida por vocês, humanos. E eles podem não gostar de você saber disso. Por favor, tome cuidado. Não escreva isso por aí, nem nada. Guarde com você.

Eu entendia o lado de Alice. É claro que não sou ingênua o bastante para pensar que vampiros são bonzinhos por essência. Edward me mostrara isso. Se fossem tão bons, não existiriam tantas histórias de terror, como da do Drácula. E Edward não se sentiria tão tentado a me matar.

- Não se preocupe, eu me cuidarei.

Nos despedimos e eu subi para o meu quarto, logo que terminei de cozinhar o jantar para Charlie, como sempre. Vampiros, lobisomens. O que mais eu ia encontrar? E a forma como Edward mudou de comportamento, me deixou tão confusa...

Na manhã seguinte, fui para a escola, normalmente. O dia hoje estava mais frio do que o normal. Flocos de neve caiam sobre o cenário verde da cidade. Desci da Chevy com mais cuidado do que normalmente tomava. A hora do almoço chegou muito rápido. Angela se encontrou comigo no caminho para o refeitório, ela estava animada.

- E aí Bella, já falou com seu pai?

- Sobre o quê? – perguntei, sem saber mesmo do que ela falava.

- Sobre Port Angeles, sua esquecida.

Port Angeles! Eu nem me dera ao luxo de pensar numa desculpa para dizer as minhas colegas.

- Na verdade não. Eu acabei dormindo cedo e não fui perguntar a ele...

- Ok. Não esquece. Não quero ir sozinha com a Jess. Eu adoro estar com ela. Mas quando se trata de roupas... ela vai apenas olhar para ela mesma, em seus vestidos de baile e dizer que todos ficaram bons em mim, mesmo que eu vista uma cortina florida.

Eu ri, me sentindo culpada. Deixar Angela na mão não era uma coisa legal e amigável a se fazer.

Entramos juntas no refeitório. Meu olhar foi diretamente para a mesa dos Cullens, mais por costume do que por qualquer outro motivo. Mais uma vez, Edward não estava lá. Eu senti a frustração vir ao meu encontro.

- Ele não para de te olhar – ouvi Jessica falar assim que se juntou a mim e a Angela. Olhei na mesma direção que ela. Edward estava sentado em uma mesa, que nos outros dias costuma permanecer vazia. Ele estava sozinho. E realmente me olhava. – será que ele decidiu me chamar para o baile? Ou para sair, quem sabe? Eu desmarcaria com Mike, com certeza.

- Jess, ele está olhando para a Bella! – Angela falou, pegando sua comida.

- Eu sei bobinha. Mas ele já fala com ela. Pode estar querendo vir falar comigo e tem vergonha. E aí quer pedir para Bella ser nosso cupido. Que lindo, ele é tímido!

Pensei nessa possibilidade por uns segundos. Eu indo falar com ele, e de repente ouço um “será que poderia perguntar a sua amiga Jessica, se ela quer sair comigo sábado à noite?”. Aquilo me deixou um pouco... nervosa. Claro, era nervosismo. O que mais?

- Vá Bella, anda. Veja o que ele quer! – Jess me empurrou, como havia feito ontem, no estacionamento. A olhei com repreensão, peguei um refrigerante apenas e me dirigi a mesa em que Edward estava.

- Oi, Bella. – ele falou, suavemente. Parecia envergonhado. – sente-se.

Me sentei a sua frente, colocando a lata de refrigerante em cima da mesa.

- Não vai comer?

- Não, estou sem fome. – disse, um pouco seca.

- Claro... – ele olhou para Jessica, por cima dos meus ombros. – tão fútil. Acha que o mundo gira em torno dela. Sabe, ela nem é atraente. Não é o tipo de garota pelo qual eu me interessaria, se pudesse namorar uma humana, claro.

- E qual seria o seu tipo? – me vi dizendo, antes que pudesse controlar. Logo em seguida, percebi o que eu falara e resolvi abrir o refrigerante, com pressa. Eu e minha boca.

Ele sorriu, voltando a me olhar.

- Digamos que um tipo mais... frágil. Que me inspire curiosidade. E que seja corajosa, mesmo que às vezes um pouco atrapalhada, ou até impertinente.

Tomei um gole do meu refrigerante, fingindo não ouvir nada do que ele disse antes.

- Você parecia querer falar comigo sobre algo...

- Sim, é verdade.

Continuei olhando para ele, esperando que falasse. Eu realmente estava tentando ser mais dura com ele. Não queria parecer toda interessada. Ele não me magoaria mais com seu jeito.

- Bella, me desculpe.

Me surpreendi ao ouvi-lo dizer aquilo.

- Eu fui rude ontem, e não queira saber meus motivos. – ele fez uma cara de deboche, que em segundos se metamorfoseou para algo parecido com sofrimento. – eu não queria ser mal educado. Mas fui, peço perdão.

Continuei olhando para ele, sem entender.

- Você... está me pedindo desculpas?!

Ele ergueu os braços, se rendendo.

- Edward... por que você é tão... estranho?

Ele me olhou, avaliando minha expressão enquanto eu falava.

- Bella, eu queria que você se mantivesse longe de mim. Mas como disse ontem, cansei de lutar. De querer me afastar de você. Eu simplesmente deixo as coisas acontecerem. Nunca, em minha existência, perdi o controle da situação. E agora estou aqui, rendido. Não sei o que vai acontecer depois. Não sei o que me espera amanhã. Porque não depende mais de minhas ações planejadas. Existem mais pessoas em questão. E você, é tão difícil de entender. Eu tento, me esforço pra poder decifrar seus pensamentos, mas não é fácil. Acho que estou acostumado a sempre saber tudo, quando quero. A ‘invadir’ a mente das pessoas. E aí você aparece desse jeito, e me desperta tantas coisas... há um mistério em você Bella, algo que me faz querer me aproximar, ao invés de me afastar.

Continuei olhando para ele, esperando que falasse mais alguma coisa.

- Tenho receio. Do que possa acontecer. Não a mim, é claro. Mas a você! Bella, isso é perigoso. Tudo. Você sabe coisas, que nunca, nenhum humano sequer sonhou em saber. Vocês foram ‘programados’ para simplesmente nos ignorar. Coisas como eu, monstros, são algo que alguém, devo dizer de grande esperteza, fez questão de definir única e exclusivamente como lendas. E tudo o que você sabe. Acho que nenhum humano sobreviveu para contar isso. Nossos clãs, nossos dons, nossas manias. Você está conhecendo isso. E o pior, você está se envolvendo demais. Há algo em nós, que a atrai. Eu já desisti de achar que isso seria devido a todos os nossos atrativos de predador. Já vi que você não é uma garota comum.

- Sim, eu tenho uma séria falha cerebral.

Ele riu, divertido. Aquele sorriso torto do meu sonho...

- Não é isso Bella. Existem coisas sobre você, que não podem ser desvendadas. Perguntas sem resposta. E se você fosse como... Jessica por exemplo. Ela sim, é o exemplo de garota comum. O que a atrai em nós, é nossa beleza. Talvez o cheiro, ou a elegância. Esses são pontos que essa condição nos deu. Pode ser que já éramos bonitos, mas com certeza, essa nova... ‘vida’ nos destaca, nos faz sedutores, aos olhos humanos. Apesar de que não afirmo ser tão sedutor, quando era vivo...

Ele sorriu para si mesmo, como se estivesse se perdendo em pensamentos. Para mim, era impossível imaginar um Edward feio. Já o imaginei corado, seus olhos castanhos, ou qualquer outra cor que não âmbar. Jogando futebol com os garotos da nossa idade, se machucando ao cair, de alguma forma. Mas feio? Meu cérebro era limitado demais para imaginar tal coisa.

- Bom, mas além do meu pedido de desculpas. – ele me olhou, sorrindo, e se aproximou um pouco, como se estivesse querendo sussurrar algo. E ele realmente falou mais baixo. – Sei que nesse fim de semana, você vai a Port Angeles com Jessica e Angela. – ele fez uma careta – Sim, Alice me contou. E também disse que você prometeu que não iria, mas eu andei ouvindo as meninas e em todos os pensamentos e conversas delas sobre o fim de semana, você está inclusa...

- É que... eu não tive tempo. Não tive coragem. – Passei a mão no rosto, enxugando algumas gotas mínimas de suor que escapavam devido ao nervosismo. – Na verdade, não sei o que dizer. Elas querem tanto que eu vá. Quero dizer, Angela insistiu tanto para que eu fosse... mas eu vou... arranjar algo para falar.

Edward me olhou desconfiado, como se não acreditasse em mim.

- Então já sei o que podemos fazer. No sábado, minha família vai sair, um programa. Vai ser legal. Não vamos longe de Forks. Ficaremos por aqui, só... vamos nos divertir. E como sua salvação, e também para solidificar meu pedido de desculpas, gostaria que viesse conosco.

Fui pega de surpresa pelo convite. Não sabia se aceitava de imediato ou não. Meu coração pulava, querendo muito aceitar. Não sei mesmo o que havia dado em mim, afinal. Mas a razão dizia para não ir, pois acabaria fazendo feio com as garotas.

Ele percebeu minha hesitação e meu conflito interno, e completou, com um sorriso fino.

- Vamos lá, Bella. Não me dê um ‘não’ como resposta. Eu te ajudo com elas.

Suspirei. Ele venceu.

- Tudo bem. Vou falar com elas... quando as aulas acabarem.

- Certo. – ele sorriu satisfeito.

O sinal tocou logo em seguida, ele se levantou elegantemente e não disse mais nada. Apenas me olhou, de um jeito diferente e saiu do refeitório. Levantei em seguida e fui para minha aula. Aparentemente ninguém pareceu ter percebido que eu acabara de passar mais tempo com um dos novatos esquisitões do que qualquer um ali sequer pensara em passar.

Ao término das aulas, reuni minhas coisas e saí da escola. Confesso que não estava mais tão corajosa em dar um fora nas minhas amigas. Mas era para um bem, eu acho.

Fiquei esperando por elas, em frente aos portões. Como demorei um pouco mais, por ter derrubado meus livros, o que acontecia pelo menos uma vez por semana, muitos dos alunos já estavam do lado de fora, conversando. Outro saiam com seus carros. Edward estava parado ao lado do Volvo, conversando com Emmett, mas seu rosto se virou em minha direção, quando saí agarrando o livro de Inglês. Ele sorriu para mim, e algo estranho aconteceu dentro de mim. Eu simplesmente não soube explicar.p.

Tentei devolver o sorriso, mas acho que o máximo que consegui, foi fazer com que minha boca ficasse torta como algum sequelado de derrame. Olhei ao redor do estacionamento, tentando localizar as meninas, mas não as vi. Então me encostei e esperei. Elas não demoraram muito. As vi saindo animadas, rindo de alguma coisa.

- Ah, você está aí! – Angela sorriu ao me ver.

- Estávamos falando de você. – Jess falou, sendo automaticamente cutucada por Angela.

Olhei para uma e em seguida para a outra.

- É? Sobre o que falavam?

- Eu disse a Angela que apostava tudo o que tinha se Edward não passou o almoço com você, só para perguntar se eu ainda aceitaria sair com ele na noite do baile. – Não contive um sorriso irônico. Angela revirava os olhos. – Não era? Afinal, o que mais poderia ser?

Me contive para não dizer nada além do que devia. Jessica não tinha culpa de ser assim. Ao invés disso, apenas mudei de assunto, de uma vez.

- Meninas, eu tenho algo para dizer. – as duas me olharam ansiosas – é sobre o fim de semana em Port Angeles.

- Ah, isso! Vai ser o máximo, não é? Um dia de garotas! – Angela parecia tão animada, que quase desisti. Mas o sorriso torto de Edward apareceu em minha mente, me fazendo ser firme nas próximas palavras.

- Então... não queria decepcioná-las mas, não vou poder ir.

Jessica não pareceu ligar muito, mas Angela me olhou suplicante.

- É bom ter uma boa desculpa. – falou.

- Na verdade, não sei se é uma boa, mas é a verdade. Bom, é que os Cullens me chamaram para ir no sábado fazer algum tipo de programa familiar com eles. Eu não sei bem o que é, mas o convite foi feito, e eu não pude recusar.

Angela sorriu.

- Edward te chamou não foi?

Jessica a olhou, incrédula.

- Na verdade foi. – respondi. – mas não é nada do que você pensa – falei ao ver seu sorriso malicioso. – Ele só quer que eu saia um pouco com eles. Para compensar a maneira como foi mal educado os últimos dias. – falei essa parte um pouco mais alto, para ter certeza de que Edward me ouviria.

- Sem chances! – Jessica disse rindo. – Edward está caidinho por mim, ele não poderia te chamar para um... encontro. Nem que seja um encontro familiar!

Foi aí que ele apareceu, sem mais nem menos. Do nada. Isso me deixava com raiva. Precisava aparecer assim? SEMPRE?

- Bella já explicou a vocês porque não poderá ir a Port Angeles no fim de semana? – ele falou de um jeito mais suave do que o normal.

- Sim, ela nos disse. E compreendemos. Total. – Angela parecia perceber um clima que... não existia. Não mesmo.

Jessica corou tanto, que tenho certeza de que sairia correndo dali, se não fosse vexame demais. Isso porque ela deve ter ficado sem graça só de imaginar a hipótese de ele ouvir. Imagine, se soubesse que ele não só ouviu toda a conversa, como sabe todos os pensamentos dela. Meu Deus, pobre Edward.

- Que bom. Não queria que ficassem bravas com ela. Na verdade, não queria estragar o sábado de vocês.

- E não estraga. – Angela se prontificou. – sério, não mesmo. Vão, e se divirtam. Não é Jess?

- É... er. Claro! – ela sorriu, trêmula.

- Vejo vocês depois. Bella. – ele acenou para mim, sorrindo, piscou e foi embora.

- UAU! – Angela exclamou. – não acredito Bella. Ele está totalmente afim de você.

- Angela, não. – Ri, sacudindo a cabeça.

- É, não mesmo. Ele só quer ser gentil... – Jessica completou, depois de se recuperar.

- Bella, por favor. – Angela ignorou Jess – Ele pode ser meio estranho às vezes, mas é um garoto. E eles simplesmente dão sinais disso. Não importa se ele é diferente dos demais. Ainda é um garoto.

Será? Era verdade que Edward não era igual. Que nem ao menos humano ele era. Mas já fora. E as sensações humanas continuavam ali, era evidente. E apesar de tudo, ele era um garoto. Fora congelado na condição de adolescente. Mas podia isso acontecer? Edward estar falando sério com o lance de “só depende de você?”.

Afinal, ele podia ser meio durão e querer muitas vezes ser o rei do tabuleiro. Mas eu sabia, que ele era apenas um peão, como eu e qualquer outro ali. Um peão mais forte talvez. Aquele que sempre consegue dar o xeque mate. Mas era apenas mais um peão em uma partida de xadrez. Afinal isso é o ensino médio! E estamos passando pela mesma situação. Não da mesma forma, porque eu nunca quis matá-lo para me alimentar, mas que seja.

Não sei o que estaria me esperando no fim de semana. Mas de alguma forma, algo me deixara animada para que ele acontecesse. Rápido.


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Notas finais do capítulo

Adendo: Peço perdão pela demora do capítulo, primeiramente. E em segundo lugar, peço perdão também por esse ser tão sem graça. Minha avó faleceu e isso me deixou com a cabeça meio maluca. Mas prometo voltar com força total. Espero que meus ficfans entendam isso, e não me abandonem. Vos amo



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