Angelic Me escrita por Thaís Fonseca


Capítulo 4
Capítulo IV - Sugadores de Sangue




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Aquilo tudo me intrigou demais. Daquele dia em diante, não parava de pensar nas tais lendas quileutes. Jacob, não me procurara desde então, e isso me agoniava. Eu não ia procurá-lo. Mas queria saber mais, sobre isso tudo.

Pouco mais de uma semana se passara desde minha conversa com ele. Era o começo de abril. Fazia frio, mas nada de chuvas. Apenas o céu fechado, nublado. Fui para a escola, como de costume. A presença do Volvo prata de Edward não me incomodava mais. Aparentemente, ele havia deixado o carro para os irmãos.

Fiz duas provas aquela manhã. Não me preocupei muito, sempre tirei notas boas na escola. Nesse ponto, Charlie não tinha do que reclamar. Na verdade em ponto nenhum. Eu era uma boa filha, boa aluna, boa cozinheira. Não que seja pouco modesta, mas não sou o tipo de garota que dá trabalho aos pais. Eu sou muito na minha.

Na hora do almoço, entrei como de costume. Acenei para Alice que abriu o sorriso mais radiante que eu jamais vira. Ela parecia querer me dizer algo. Apenas sorri em retorno, claro que não com o mesmo entusiasmo. Peguei um refrigerante e o prato do dia. Me sentei a minha mesa de costume e comecei a comer. Foi quando a porta do refeitório se abriu e todas as cabeças se viraram como se estivéssemos em uma igreja aguardando uma noiva. Certamente aquela imagem era muito mais linda do que qualquer casamento poderia ser.

Edward entrou como se o fizesse todos os dias. Como se não tivesse desaparecido por três semanas e se sentou ao lado dos seus irmãos. Ok, agora entendi o sorriso de Alice. Ela voltou a me olhar com o mesmo sorriso, mostrando-me o que queria. Mas por quê? Como se eu quisesse saber do irmão irresistível dela... e grosso. Mas ele estava tão lindo, tão mais lindo do que nunca, se é que isso seria possível. Sua pele mais pálida, os cabelos mais brilhantes. Os braços expostos numa camisa azul dobrada até os cotovelos. Quase se esquecia como aquele deus era tão agressivo.

Mas ele fez questão de me lembrar ao acompanhar o olhar da irmã e me encontrar. Revirou os olhos e simplesmente me ignorou. Esse era realmente Edward Cullen.

- Então é isso? Ele simplesmente voltou? – Jess perguntou toda interessada.

- Do jeito que a tecnologia anda, pode ser um holograma. – Mike respondeu mal humorado.

Eu quase ri, se não estivesse tão tensa. Eu ia perguntar a Edward por que fora embora por minha causa. Porque eu sabia que a culpa dessa mudança toda era minha. E eu ia procurar saber. Eu sou teimosa, sou cabeça dura. Ele poderia me tratar como um nada, me xingar, gritar comigo ou o que quisesse, mas eu ia saber.

A ultima aula acabou e eu me apressei para o estacionamento. Encontrei-o parado próximo ao Volvo. Ele sentiu minha presença, porque antes que eu dissesse qualquer coisa, ele falou sem vontade:

- O que você quer agora?

- Eu só... – fraquejei pelo tom aveludado de sua voz. Mas respirei fundo e continuei – quero saber o motivo de tudo isso.

- De novo essa história? Não bastou a ultima vez?

- É por isso. Você rodeou e não me disse absolutamente nada. E depois sumiu, só porque minha presença te incomoda. Quer dizer, eu sou esse lixo todo? Sou tão desprezível que você não aguenta nem viver na mesma cidade que eu?

- Se não conseguisse não estaria aqui. – ele respondeu seco.

- Não me enrole, por favor. O que em mim te faz ser assim? Tão agressivo.

Ele se virou para mim finalmente e eu olhei em seus olhos. Eles agora estavam tão dourados como uma pepita de ouro. Mas... os olhos dele não eram pretos?!

- Bella, tudo em você me incomoda. Você me incomoda. Sua existência. Eu não suporto estar perto de você.

- Uau. Mais forte do que eu esperava... – abaixei o rosto, corando de nervoso. Eu estava magoada. Mas eu sabia que ele me trataria assim.

- Você não pode entender. Não poderá nunca. Você não é um lixo, como disse. Se fosse, tenha certeza que te ignorar não seria tão doloroso.

Ergui a cabeça surpresa. Sua voz também mudara, agora era confusa. Olhei para seu rosto e ele apresentava uma expressão dolorosa realmente.

- Mas...

- Bella, por favor. Não fique perto de mim.

- Edward...

- Bella. Estou avisando, é perigoso para você.

- Não é. Eu decido o que é ou não. Pelo amor de Deus, eu nunca vou entender o que se passa aqui?

- Não! Só há um jeito de entender. E para isso você teria de...

- De que Edward? De morrer? – desafiei.

- Vá, EMBORA. SUMA!  - ele me lançou em direção a minha caminhonete como seu eu fosse uma pena. Isso fez com que eu desce bem uns 5 passos involuntários e fosse tropeçando até lá. Fiquei parada, do outro lado do estacionamento, dez metros da caminhonete olhando para ele.

Eu não podia crer naquilo. Ele nunca ia ser um cara normal?

Me virei e abri a porta da caminhonete, jogando minha mochila lá dentro. Nesse momento ouvi gritos ao redor e o barulho do que parecia um carro derrapando velozmente. Me virei automaticamente e vi que o tal carro vinha em minha direção. Pronto, tudo estava acabado. Edward não precisaria se preocupar mais comigo.

Apenas me encolhi e protegi o rosto com as mãos, como um instinto. Se eu corresse não daria tempo, nem adiantaria tentar. Eu provavelmente cairia e morreria da mesma forma.

Mas foi aí que alguém repentinamente me segurou no colo e me levantou. Eu abri os olhos e vi Edward que não me olhava, olhava para o carro que agora se encostava a nós. Ele estendeu uma das mãos me segurando apenas com um braço, e com ela parou o carro que iria colidir contra nós. Ele simplesmente pós a mão na lataria do carro e o afastou, como se não fosse nada. Ah, era só um carro.

Mas foi no momento em que ele se dirigia ao carro que meu corpo despencou levemente e eu bati com a cabeça no cimento. Não doeu, provavelmente pela adrenalina.

Ele me soltou suavemente, me deixando sentada no chão e saltou sobre o carro. O motorista abriu a janela, era Tyler.

- Bella, me perdoa! Eu derrapei, perdi o controle!

- Tudo bem Tyler, eu estou bem. – respondi passando a mão na cabeça que agora doía um pouco.

Quando estava tentando pensar sobre tudo o que acontecerá, parece que todos estavam ao nosso redor. Ouvia pessoas dizendo ‘Bella? Você está bem?’ ou ‘Edward a salvou, ele a empurrou’. E rapidamente, uma ambulância estava parada em frente a cena. Os paramédicos me conduziram até ela, junto com Tyler, mesmo com minhas exclamações de ‘estou bem’.

 

Chegamos ao hospital de Forks, e me fizeram ficar sobre uma uma maca esperando que Carlisle me examinasse. Eu estava sentada, quando Charlie entrou no ambulatório, afoito.

- Bella? Bella! Você está bem?

- Estou bem pai, não foi nada demais.

- Bella, pelo amor. Não mate seu velho pai do coração!

- Já disse que está tudo bem. Não tem com o que se preocupar.

 

Nesse momento Carlisle entrou na sala, deixando o ar mais calmo de alguma forma. Ele chegou até a mim e me examinou como todo bom médico.

- Que susto nos deu hein Bella. – ele falou tentando descontrair.

- É mas não foi nada. Não tem com o que se preocupar Sr Cullen.

- Shiu, o médico aqui sou eu. – ele disse sorrindo.

- Aliás, Edward me salvou. Não sei como chegou tão rápido. Em um momento estava do outro lado do estacionamento, e no momento seguinte estava lá, do meu lado.

Por um momento brevíssimo ele fez uma expressão de preocupação, sendo interrompido por Charlie.

- Edward? É seu garoto não?

- Sim. Parece que você teve sorte de ele estar por perto. – Carlisle falou voltando a mostrar seu sorriso paternal. – Ele havia me dito que você bateu a cabeça. Está doendo?

- Nãão, eu estou bem! – disse aborrecida.

- Ok, então pode ir para casa. Mas se sentir mal, tome este medicamento.

 

Ele me deu a receita e saiu, provavelmente para atender Tyler. Charlie me acompanhou pela saída, segurando em meu braço como se eu fosse algum tipo de retardada.

- Pai, eu estou bem, por Deus!

- Certeza? – eu o olhei com raiva. – Ok, ok. Vou acertar o que deve ser acertado e já te vejo no carro.

Assenti com a cabeça e sai devagar pelo corredor. Foi quando vi Carlisle e Edward conversando cautelosa e silenciosamente. De uma maneira curiosa, apenas Edward falava. Enquanto Carlisle só se demonstrava em olhares.

Eles perceberam que eu estava ali, porque Edward se calou. E eu, com muita cautela, disse:

- Edward, será que posso?

Carlisle bateu no ombro do filho de um jeito carinhoso e saiu pela direção oposta. Edward, por sua vez, veio em minha direção com as mãos no bolso.

- O que houve?

- O que foi que aconteceu no estacionamento?

- O quê? O carro estava vindo, eu estava por perto e simplesmente te tirei do caminho.

- Edward, por favor. Não subestime minha inteligência. Você estava do outro lado do estacionamento. A gente tinha discutido e eu fui pro meu carro no lado oposto. Você além de chegar muito rápido ainda parou aquela van como se fosse um nada.

- Bella – disse ele divertido. – você bateu a cabeça, deve estar imaginando coisas.

- Não, não estou. Você não pensa que eu vi tudo e vou deixar por isso mesmo, pensa? Eu sei o que vi. Não me diga que tive alucinações.

- Ninguém vai acreditar em você. – seu tom era de deboche agora. – No mínimo vão achar que você está delirando e trazerem de volta ao hospital. Quer simplesmente que todos creiam que você foi salva pelo super-homem?

Ele riu, caçoando de mim. Sabia que estava certo, e isso me irritava.

- Eu não contaria a ninguém.

Ele fez uma cara surpresa, falando em seguida:

- Você não pode simplesmente agradecer o que eu fiz?

- Obrigada! Mas ainda assim, não vou conseguir esquecer o que eu vi.

- Realmente não vai esquecer isso, né?

- Não, não vou.

- Então espero que goste de se decepcionar. – Edward me deu as costas e saiu andando, me ignorando.

 

Era assim então? Por favor. Ele estava pedindo pra que eu fosse atrás das respostas. Deixei meu pai me levar, depois de dizer a todos os meus amigos – que estavam na sala de espera do hospital – que eu estava bem e que por sorte Edward estava ‘perto’ de mim na hora do acidente. Foi só quando cheguei em casa que pensei no obvio.

Jacob! Ele provavelmente teria as respostas de todas essas perguntas. Eu teria que procurá-lo. Peguei o telefone e disquei para a casa dos Black.

- Alô? – respondeu a voz do meu colega.

- Jake?

- Bells! O que manda?

- Jake, você me deve algo...

- Devo? O quê?

- As lendas.

- Oh, as lendas. – ele pareceu hesitar.

- Não diga que desistiu de me contar.

- Não é bem isso...

- Vamos lá Jake! São só lendas idiotas, não são?

- É... – ele suspirou, vencido. – você tem razão. Mas, eu ouvi falar que você sofreu um acidente ou algo do tipo...

- Ah... estou bem. Alguém me tirou da frente do carro e não fiz nada além de cair no chão. Mas com isso já estou acostumada. – brinquei.

Ele riu da minha piada ruim e disse.

- Tudo bem se nos falarmos amanhã? Prometo te contar tudo o que sei.

- Ok. Mas cumpra.

- Está falando do Jacob. Sou um amigo fiel. – ele riu.

 

Desliguei o telefone com a esperança de ouvir cada detalhe das tais lendas amanhã. Acho que isso me fez dormir melhor. Ou não.

Lá estava eu, no estacionamento da escola, quando a van de Tyler se aproximava de mim novamente, rodopiando descontrolada. Mas então, Edward me pegava no colo e empurrava o carro. Me segurava com firmeza e dizia em seguida: ‘Bella, não entende o que sua morte poderia causar ao meu mundo? Não me deixe.’

Então eu acordei, olhando no relógio. Já havia amanhecido. Eu mal havia dormido uma hora. Pelo menos era a sensação que eu tinha, mesmo adormecendo a noite toda. Levantei e tomei meu banho de costume. Desci para fazer o café da manhã para mim e para Charlie e depois de comer, peguei meu casaco e fui até a casa de Jacob.

Fui direto para a garagem onde Jacob disse que me esperaria. Como ele parecia distraído, bati no portal, entrando devagar.

- Jacob?

- Hey Bells. Pontual você!

Me sentei em um dos caixotes e fiquei olhando para ele, ansiosa.

- Que foi? – Ele me olhou confuso.

- As lendas Jake!

- Uau! Você quer mesmo saber disso hein?

Então ele tossiu, como ensaiando o começo de um discurso, fez toda uma pose de orador de turma e começou, depois de rir de si mesmo.

- Bom, você sabia que meu povo descende dos lobos, Bella?

- Lobos? Tipo... os lobos?

- Sim, lobos. – Ele revirou os olhos. – Claro que isso é só uma lenda. Dizem que nossos ancestrais eram verdadeiros lobos. Os animais mesmo. E bom, dizem que os frios são nossos inimigos. Lobos e frios sempre foram inimigos, e um vivia para matar o outro se encontrassem.

- O que seriam esses frios? – Indaguei.

- Sugadores de sangue. – Ele percebeu o enorme ponto de interrogação desenhado em meu rosto e prosseguiu. – Seu povo chama de vampiro. Bom, você sabe que vampiros sugam sangue de humanos normais. Mas dizem que uns deles vieram para cá há um tempo, e fizeram uma trégua com nossos ancestrais. Esses eram diferentes, eles só caçavam animais. Então nós lobos, fizemos um acordo. Eles não deveriam caçar em nossas terras, e deveriam respeitar o limite da reserva. E assim todos viveriam em paz. Pronto, essa é a lenda.

- Mas espera aí... se essas são as lendas, eu não entendo. O que tem isso haver com os Cullen?

- Bella, os Cullen são frios.

- Vampiros? Os Cullen são vampiros? – me espantei.

- É o que dizem... – ele deu de ombros.

- Mas como essa relação. Você pode dizer que eles são vampiros apenas por indagações de lendas antigas?

- Os vampiros com que meus ancestrais fizeram o acordo, são os mesmos Cullen que você conhece.

- Mas os Cullen acabaram de chegar em Forks!

- Ou de voltar...

Eu me calei. Aquilo tudo meio que se encaixava. Será que vampiros eram tudo isso? Quer dizer, rápidos, fortes, pálidos... ainda havia muito o que se responder. Jacob percebeu que eu fiquei em silêncio por muito tempo e debochou.

- Não está com medo não é?

- Claro que não. É só que...

- Bells, são só lendas.

- Eu sei Jake, não estou com medo.

- Claro, claro.

Depois de um tempo calada, Jacob puxou outros assuntos sobre motos e carros e tudo mais. Eu respondia, sem nem saber o que. Até que ele conseguiu realmente me distrair e a gente riu e conversou muito.

Quando percebi, já estava escurecendo. Me levantei de um salto e me apressei.

- Hey Jake, já vou.

- Mas... uau. Já é noite?

- É o que parece...

- Claro Bells, vá. Não quero que chegue tarde.

Revirei os olhos mas agradeci pela preocupação.

Fui para casa, pensando na história que Jake me contara. Cheguei, dei boa noite a Charlie e esquentei seu jantar. Depois, subi para o meu quarto, sem prestar muito atenção no que fazia, apenas liguei meu computador e me joguei sobre a cadeira em frente a ele. Então entrei num site de buscas e digitei: ‘lendas quileutes’.

Apareceram várias coisas diferentes. Cliquei em uma que se referia aos ‘frios’. Esse mesmo site apresentava uma conexão a outros. Vampiros de A a Z. Vi inúmeras coisas. Incubus e Succubus. O conde Drácula. Lendas e mitos. Mas lá, existia uma espécie que me atraiu.

‘Eles costumam ser belíssimos. Quem os vê se admira. São atraentes aos olhos humanos. Seu cheiro, sua pele, seus olhos, seu sorriso e sua beleza, tudo nele te chama. É uma de suas principais armas para atrair a presa.’

Continuei lendo aquilo, quando me deparei com uma frase: ‘são extremamente velozes, podendo se locomover de um país a outro em minutos, convertendo-se em vultos’ e ainda ‘sua força é tão grande que pode triturar o monte Everest apenas com socos e chutes’.

‘São imortais. Eternos’.

Uau, aquilo realmente se encaixava. E como uma confirmação de tudo aquilo, no fim daquela descrição havia algo.

Quando sedentos, seus olhos chegam a ser negros como a escuridão. Podendo variar de cor conforme o alimento. Se se alimentam do sangue humano, seus olhos chegam a ser vermelhos. Uns dizem que existem pequenos clãs que se alimentam apenas de animais. Esses, apresentam os olhos dourados, como âmbar’.


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Notas finais do capítulo

¹Sobre a parte em que Jacob conta a Bella sobre os frios, eu fiz pelo que lembrava do livro e do filme.



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