Angelic Me escrita por Thaís Fonseca


Capítulo 10
Capítulo X - A Cartada Final




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Demorei um pouco para encaixar os fatos. Não que seja retardada ou alguma coisa assim, mas porque a informação foi despejada com violência sobre mim. Eu queria falar sobre aquilo, perguntá-lo tudo. Mas sabia que não era o momento mais propício. Afinal, um vampiro carnívoro estava me seguindo, de alguma forma. Então achei que o foco de uma possível conversa deveria ser o nosso atual perigo.

- Tá, tudo bem, acho que já entendi. Mas você disse sobre ele me perseguir – tentei ir para o assunto mais obvio. – e ouvi dizer também, que ele é um vampiro... como é? Rastreador. O que isso significa?

- Que ele tem maior habilidade para sentir cheiros, para detectar pessoas. Ele consegue saber onde você está, com mais eficiência do que qualquer um de nós, por não termos esse dom.

Pensei por um tempo. Ele podia me achar facilmente... então.

- Vamos fugir você disse. Fugir tipo... fugir?

- É Bella, vamos para Phoenix, não sei. Precisamos sair dos lugares óbvios.

- Lugares óbvios como a minha casa? E Charlie? – perguntei, pela primeira vez pensando em James indo atrás de meu pai.

- Não importa Bella, você precisa sair do alcance dele.

- Como não importa Edward? Ele é meu pai! E é obvio que James vai me procurar em casa. E vai achar ele, e vai... preciso ir pra casa!

- Não Bella, você não pode. Estaria se arriscando muito.

- Tudo bem... precisamos de um plano. Eu preciso fazer com que James veja que eu não estarei em casa, e não tenha que entrar lá.

- Te levo em casa, e criamos uma cena. James estará observando, com toda a certeza. Então precisa fazer com que ele acredite que você não liga pro Charlie, que ele não significa nada para você. Ou ele vai usá-lo para te atrair.

- Mas a única maneira de fazê-lo pensar isso, é falando coisas ruins para o Charlie.

- Exato. Você tem que magoar ele.

- Mas... não sei se posso.

- Você tem que protegê-lo Bella. Não há escolha.

Eu teria que magoar meu pai, para salvá-lo. Podia ser cruel, mas eu não tinha mais o que fazer. Logo pensei, acho que pela urgência do momento.

- Tudo bem, já sei o que fazer.

- Não vou perguntar. Melhor termos cautela. Você fala com ele, eu arrumo suas coisas. Te espero na caminhonete.

Nesse momento, Edward parou a Chevy na frente da minha casa. Respirei fundo e tentei buscar minha força no lugar mais profundo de mim. Saí do carro, batendo a porta. No segundo seguinte, Edward não estava mais lá. Caminhei até a porta da frente e entrei. Charlie estava na sala vendo TV, como era de se esperar. Calmamente, caminhei até o cômodo. Charlie desviou o olhar para mim por segundos, como se apenas quisesse constatar que era realmente eu.

- Oi Bella. – disse com sua atenção na TV outra vez. Me sentei no sofá, de frente para ele e peguei o controle remoto em cima da mesa. Apontei o mesmo para o televisor e apertei o botão “mudo”. A falta de sonoridade fez com que Charlie me olhasse, surpreso.

- Pai, estou indo morar em Phoenix, com a mamãe. – falei o mais friamente possível.

Ela apenas continuou a me olhar com aqueles grandes olhos marrom chocolate, como os meus. Pude perceber sua pele se enrugar discretamente ao redor dos olhos. Fato que mostrava sua preocupação.

- Não agüento mais viver aqui! – continuei. – Fui jogar beisebol com os Cullen hoje e me diverti como nunca. Foi aí que percebi que preciso sair de Forks. Essa cidade é tediosa demais. Não há o que fazer, todos sabem da vida de todos. E pior, a única novidade que se tem por aqui é quando alguém casa ou morre. Só se tem pessoas novas por aqui, quando alguém engravida. Sabe pai, preciso de mais.

Esperei por uma resposta, enquanto ele piscava seus olhos por repetidas vezes, provavelmente tentando entender o que era aquilo. Por fim, ele disse:

- Bella, aconteceu alguma coisa? Por que isso agora? Sei que você é jovem, isso é normal. Vá tomar um banho, relaxe, durma. Eu lhe compro passagens para Phoenix para o próximo final de semana. Você fica com sua mãe, sai e volta. O que acha?

Juntei todo o oxigênio que pude. Sabia que não podia gastar muito mais tempo ali. Então resolvi que era hora de ser rude e botar um fim naquilo.

- Não! Pensar dois dias em uma cidade perfeita como Phoenix pra voltar pra ?! – coloquei um desprezo inexistente na última palavra. – Não tem nada aqui pra mim.

- Seu velho pai não conta? Seus amigos?

- Você?! Eu vivi esse tempo todo aqui por você, pai. Pra não te deixar sozinho. Mas sabe o quê? Você não muda. Continua na mesma vida monótona. Fazendo as mesmas coisas. Nem o fato de eu estar aqui te ajuda. Eu cansei Charlie! Cansei de viver aqui por pena de você. Eu quero minha vida.

Me levantei do sofá, subindo as escadas apressadamente. Entrei em meu quarto, batendo a porta. Edward estava ali. Fechou a mochila com minhas roupas e me ajudou a colocá-la nas costas.

- Está indo bem. Estarei no carro. – disse ele num sussurro quase inaudível. Então sumiu, deixando as cortinas agitadas. Fiquei ali, dando de um lado pro outro pensando. Charlie bateu na porta.

- Bells, pelo menos espere amanhecer.

Aquela era a minha deixa. Pai, me desculpe.

- Não vou ficar nem mais um segundo aqui. – disse eu, mostrando irritação, abrindo a porta. Passei por ele como um raio, andando em direção à porta da frente.

- Não faça isso Bella. Eu posso mudar. Podemos fazer coisas juntos. Vou me esforçar, eu prometo.

O desespero em sua voz fez meu coração se partir em mil pedaços. Não sabia mais o que dizer. Por fim, algo terrível apareceu em minha mente. Era a cartada final.

- E ficar aqui trancada como a mamãe? Não Charlie. Assim como ela, eu preciso me livrar de tudo aqui.

Abri a porta, com as lágrimas escapando teimosamente pelo meu rosto e parti, acelerada para a caminhonete. Entrei no carro, despejando minha mochila no colo de Edward. As lágrimas incontroláveis.

Liguei o carro e saí, dirigindo. Ou talvez não. Meu coração estava acabado. E eu sabia que a dor que sentia agora, não era nada comparado ao que meu pai devia estar sentindo, tentando entender o que fizera para aborrecer tanto sua única filha. Aquela que vivera com ele pelos últimos cinco anos e agora fora embora. Aquela ingrata.

- Era preciso Bella. – Edward parecia aflito.

- Ele nunca vai me perdoar.

Edward tirava minhas mãos do volante. Sua pele fria parecia me acalmar. Num movimento rápido e ágil, ele trocou de lugar comigo, direcionando a caminhonete. Edward não falou mais nada até que eu me acalmei. Enxuguei as lágrimas e foi quando vi minha caminhonete parar no acostamento da estrada. Em uma parte que não pude identificar.

Antes que eu pudesse lhe perguntar alguma coisa, dois outros carros encostaram atrás de nós. Logo pude identificar o Volvo de Edward, dirigido por Emmett. Atrás, o carro de Carlisle, com o próprio no volante. Edward saiu do carro, e entendi que deveria fazer o mesmo. Logo, todos os Cullens estavam ali novamente. Edward segurava minha mochila. Carlisle veio em nossa direção, pegou a mochila e a abriu. Entregou peças de roupas para Rosalie e Esme. As duas tiraram suas blusas e substituíram pelas minhas. Carlisle se dirigiu a mim, confortador.

- Bella, vamos despistar James. Pra isso, você precisa ir com Alice e Jasper...

- Não, Bella vai comigo – Edward disse de repente.

- Não é prudente. – Carlisle disse firme, mas educado. – James irá atrás de você. Ele saberá que você não deixaria Bella, por isso precisamos separar vocês.

Edward fez uma careta, mas pareceu concordar. De repente, seu rosto se enrijeceu e sua atenção se voltou para Alice. Todos já sabiam, até eu que era nova naquela experiência, de que Alice estava tendo uma visão e claro, Edward a via em tempo real. Quando o olhar dela ‘voltou para o presente’. Todos pareceram ansiosos, mas ninguém disse nada.

- Temos mais ou menos 10 minutos. James tem sua rota planejada e já vai vir atrás de nós. – informou Alice – como Carlisle disse, ele irá atrás de Edward, então precisamos nos apressar.

Edward continuava estático. Parecia não querer confessar de que seu pai estava certo. Também não queria que estivesse. Alguma coisa me pedia para ficar com ele.

Todos se mexeram ao mesmo tempo. Emmett se comprometeu a guardar minha Chevy na garagem da mansão. Carlisle, Edward, Rosalie e Esme iriam no carro de Edward para o lado oposto. Enquanto eu, Alice e Jasper, iríamos para Phoenix com o carro de Carlisle. Cada um ocupou seu lugar, eu ia fazer o mesmo. Mas Edward segurou em minha mão, e novamente sua pele gélida me fez parar. Eu queria agarrá-lo ali e dizer que jamais sairia de seu lado. Mas o que se passava comigo? Confesso que ouvi-lo dizer que me amava fez meu coração parar... mas eu não podia afirmar que aquilo era alguma coisa.

Foi então que ele me virou, e pude olhar em seus olhos âmbar. Podia jurar, que se tivesse como aquele ser produzir lágrimas, elas estariam ali. O brilho de seus olhos, eram diferentes. Agoniados, tristes... diria até que desesperados.

- Bella, por favor, não faça nenhuma besteira. Ouça Alice e Jasper, fique com eles.

Apenas acenei positivamente com a cabeça. Sua voz era terna, quente... como jamais a ouvira.

- E, se possível, cuide-se. Eu não sei se me perdoaria, se algo lhe acontecesse.

Eu paralisei. Senti que agora, eu parecia mais uma pedra, do que ele jamais pareceu nesses quase cem anos.

- Prometo. – Consegui pronunciar.

Então, ele soltou minha mão e levou a sua, até o meu rosto. Olhou fixamente para mim, e disse o que me fez ficar totalmente sem raciocínio:

- Você é o que me dá forças para estar aqui. Sem você, nada disso tinha sentido. Você me deu um motivo para prosseguir. Cuide de você Bella, assim, estará cuidando de mim. Você é minha vida agora. A ultima chance que tenho de ter algo humano. A ultima esperança pra minha salvação.

E sim, eu poderia simplesmente ter ficado sem reação. Ou desmaiado, pela falta de oxigênio. Quem sabe ter morrido ali mesmo. Mas ao contrário do que eu mesma esperava de mim, eu o agarrei, e o beijei como se aquele fosse o ultimo segundo de minha vida. E o senti corresponder com a mesma urgência. Como se por segundos, nada mais existisse. Eu o beijei, e senti as lagrimas escaparem de meus olhos, enquanto seus lábios frios, se esquentavam aos meus.

Foi aí, e pode me achar uma idiota de não ter percebido antes. Mas foi exatamente nesse momento que percebi o que era inevitável: eu amava Edward Cullen.


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Notas finais do capítulo

Perdão pela demora, juro postar com mais frequência.