Angelic Me escrita por Thaís Fonseca


Capítulo 1
Capítulo I - Não Precisamos de Você




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- Olá, meu nome é Bella... ou seria melhor falar Isabella? Mas eu nem gosto de dizer meu nome inteiro. Nem que me chamem assim, por que me apresentaria como Isabella? Não, foco. Olá, eu sou Isabella, mas podem me chamar de Bella. Sou filha do chefe de polícia. O Charlie... Swan. Ai, por que mesmo eu estou fazendo isso?

Lá estava eu, treinando em frente ao espelho. Eu odeio pessoas. Não que eu seja uma autista nem nada. Mas eu não gosto desse lance de ‘oi, tudo bem? Sou fulana’. Não é comigo. Sou muito reservada. E precisava ser filha do chefe de polícia.

Quando mamãe me disse que viver em Forks tinha mais pontos negativos do que eu pensava, nunca imaginara que seria desse jeito.

 

- Bella, preciso te pedir uma coisa. – disse Charlie assim que chegou da delegacia na ultima segunda-feira. – Uma família está se mudando para Forks, na próxima semana. Estão em grande número. O chefe da família, um bom homem, Carlisle, será nosso novo médico (e olha que a cidade está precisando de um). E vem com sua mulher e seus filhos adotivos. São cinco filhos, mais os pais, são sete. Acho que não existe uma família tão numerosa aqui...

- Ok Ch.. pai. – Não posso chamá-lo pelo nome na sua frente, mas chamo por trás então nunca me acostumo – sei que você não está fazendo todo esse discurso por nada. Qual é a bronca?

- A bronca? É assim que os jovens falam? – Charlie parecia confuso, e eu quase ri da expressão dele – Enfim, acontece que nessa trilha que temos a 200 metros de casa, ao fim dela, existe uma mansão abandonada. Os Cullen compraram essa casa e reformaram. E como somos os vizinhos mais próximos deles e obviamente, por você ser filha do chefe de polícia, quero que vá recebê-los, e se ofereça para mostrar a cidade, ou ao menos o colégio para os filhos dele. Sei que dois deles estão no terceiro colegial e os outros três são da sua turma. Quem sabe até caiam nas mesmas aulas que você...

- Espera aí pai – interrompi novamente – você quer que eu vá fazer a política da boa vizinhança? Tem certeza? Quer dizer, é de uma Swan que você está falando.

- Eu sei que não temos uma boa oratória. Sei que não falamos muito, mas Bella, temos que dar o exemplo. E tem mais, que impressão os pobres vão ter de nós? Da vizinhança? Achar que ninguém liga para eles? Não. Por isso, você vai recebê-los.

- Isso não é uma opção, é?

- Não.

- Imaginei.

 

E é por isso que estou aqui treinando. Eles já chegaram, mas claro que eu não iria correndo receber os ‘Cullen’. Quer dizer, eu nem sei o que vou falar.

- Ok, ok. Olá senhor e senhora Cullen, sou Isabella Swan, mas podem me chamar de Bella. Vim aqui a pedido do meu pai... ah, não droga. Assim vão achar que eu fui obrigada. Tá, eu estou indo obrigada, mas também não precisam saber.

Olhei pela janela e observei por o que pareceu ser uns 2 minutos, enquanto as gotas finas caiam sobre o vidro. Aquele clima gelado e chuvoso de Forks já não me incomodava como quando cheguei aqui. Era apavorante, mas agora é normal. Talvez não sobreviveria mais ao sol de Phoenix se tivesse que voltar para lá.

Despertei do meu próprio devaneio, me olhei mais uma vez no espelho – só para garantir que não houvesse nenhum tipo de teia de aranha ou qualquer coisa no meu cabelo – e suspirei. Seja o que Deus quiser. Vamos ao matadouro.

Peguei meu casaco e saí em direção à trilha. Era perto o suficiente para que eu fosse a pé. Sentir o ar gelado entrar pelas minhas narinas de uma forma mais direta também ajudava a relaxar.

Depois do que pareceu ser menos de 15 segundos, cheguei a entrada da casa, e... UAU! Quando Charlie disse mansão não levei pelo lado literal da palavra. Mas realmente se existia um conceito de mansão, esse era ele.

Já senti meu rosto corar ao me aproximar da porta. Respirei fundo mais uma vez, deixando com que o oxigênio se espalhasse pelo meu corpo e bati na porta. Antes mesmo de terminar de bater, a mesma se abriu, e eu perdi o ar.

 

- Olá jovem. – um homem que aparentava ter seus 25 anos, cabelos loiros, jogados para trás e olhos extremamente dourados me olhava, sorridente. Sua pele era tão pálida que parecia estar... mas que bobagem! Ele esbanjava vida, alegria. E a voz? Como a de locutores de rádio. Não, melhor. Era suave, calma.

- Er... oi. – Eu não conseguia formar uma palavra, não dava. Ele era lindo demais.

- Entre, entre. Está chovendo aí fora.

 

E era verdade. Meus cabelos já ficavam úmidos. Então entrei na casa, tirando meu casaco cuidadosamente. Ele me ajudou, pendurando-o num canto que eu nem vi. Ainda tentava lembrar um pouco do discurso que ensaiara minutos antes.

- Venha, deixe-me apresentar minha família.

Ele me indicara o que parecia ser uma sala de estar. Com uma força que juro não saber de onde veio, caminhei lentamente, seguindo-o. E meu coração parou. Novamente.

Os outros quatro membros da família ali sentados eram tão lindos quanto o primeiro. Senão mais. Em um sofá de dois lugares estava uma menina baixinha, devia ter a minha idade. Tão pálida quanto o pai, seus cabelos pretos e curtos, num corte repicado que despontava para todos os lados possíveis. Sorriu para mim assim que eu entrei na sala. Ao seu lado, um jovem alto, também bonito. Cabelos loiros e despenteados, os mesmos olhos cor de âmbar. Mas seu rosto não era tão amistoso. Parecia sentir dor ou qualquer coisa. Não pude deixar de notar que a mão da garota sobre a dele agora a apertava com o que parecia ser uma força absurda.

Então olhei para a lareira, próximo a ela havia mais um casal. O rapaz, sentado ao braço da poltrona de chenili. Ele era forte, alto, do tipo que é capitão do time de futebol americano. Cabelo escuro e curto. Sentada naquela mesma poltrona, havia a mulher mais linda que eu já vi na minha vida. Ela parecia recortada de uma daquelas revistas de moda ou saída diretamente de um concurso de miss universo. Era loira, cabelos longos e levemente ondulados, altura mediana. Um corpo perfeito, num rosto de anjo. Ela me olhava com desdém, como se algo em mim não a agradasse. Eu me intimidei com a beleza daquele garota, ela era bonita demais. Eu era um nada perto dela, chegava a ser injusto.

 

- Que falta de educação a minha – disse o pai novamente, me despertando. – Esses são Alice e Jasper – Ele indicou os dois no sofá e logo após gesticulou em direção a poltrona – e aqueles são Emmett e Rosalie. E eu sou Carlisle, você já deve saber. E você ainda não me disse seu nome.

Recobrei os sentidos, como se minha boca se lembrasse como era pronunciar frases completas:

- Sou Is.. Isabella Swan, mas podem me chamar de Bella. Eu... er. Eu sou filha do chefe de polícia local, o Charlie. E vim dar as boas vindas a vocês...  – pensei em como soava estúpida e como minha voz tremia. Patética.

- Filha do chefe Swan! Claro, ele havia me dito algo sobre você. – por um motivo que não compreendi, Carlisle olhou pelo canto do olho para a filha morena que sorriu em resposta. – Bom, mas ainda falta o resto da família. Esme! Edward! – Ele usou um tom de voz exagerado, gritando como se ambos estivessem a quilômetros de distância, mas ainda assim sua voz era graciosa. Como?!

Então, ela veio do que parecia ser a cozinha, com um avental preso sobre a cintura, cobrindo o que aparentemente era um vestido muito, mas muito caro. Seus cabelos reluziam e seu sorriso era extremamente materno. O mesmo com que Carlisle me recebera.

- Olá Bella!

 Como ela sabia meu nome? – pensei.

- Ah, ouvi você se apresentando. – ela disse respondendo a minha pergunta interna, num tom de quem se justificava, enquanto seus filhos a olhavam de maneira cautelosa. – Sou Esme, esposa de Carlisle e mãe dessas crianças.

Ela sorriu, e vi por minha visão periférica que Emmett revirava os olhos. Realmente deveria ser inconfortável para um homem do tamanho dele ser chamado de criança.

Antes que eu pudesse responder com qualquer gesto de educação, ele desceu as escadas. Ele. O homem mais lindo que jamais, nunca existiu, existe ou existirá. Seus cabelos bagunçados de uma forma elegante, cor de cobre, brilhava, destacando seus olhos negros como a escuridão. Seu rosto parecia esculpido em mármore, feito pelos deuses gregos com devido cuidado. A pele tão clara como a de todos, parecia ser seda a distância. Vestia-se de forma graciosa e moderna. Parecia um modelo, aqueles que se usa para fazer pinturas. Pinturas do século XIX.

- E esse é Edward. Filho, esta é Bella Swan. – e o sorriso paternal estava lá de novo, não sei se para mim ou para ele.

A verdade é que o garoto fez a mesma expressão que o irmão louro. Não, pior. Ele não parecia estar apenas sofrendo. Parecia estar se controlando. Parecia estar provando seus próprios limites. Como alguém que pula de pára-quedas mesmo tendo medo de altura. Ele me olhou com rancor, como se eu fosse a pior coisa que existisse. Um verme.

Abaixei o olhar, envergonhada. Será que eu era assim tão terrível? Sei que não sou tão feia. Mas comparada aquela família, eu era um ogro. Aquelas irmãs, aquela mãe. Eu que achara Reneé a mais linda de todas as mães, agora passava por sérias dúvidas. E ver o garoto... como se chama mesmo? Edward, me olhar como se eu fosse um entulho de lixo nojento.  Ele passou por mim como se eu nem estivesse ali, como se ele somente houvesse descido para buscar algo e se sentou ao lado da irmã morena que o olhava com... pena?

O clima todo se converteu de fraternidade e gentileza para frieza e perigo. Senti um nó do tamanho de uma bola de futebol se formando em minha garganta. Tentei engoli-lo mas não consegui. Eu estava com medo. Como se alguém me avisasse ‘corra Bella, corra!’ e senti meus olhos queimarem. Eu estava prestes a chorar? Não! Pelo amor de Deus não!

O silêncio era terrível. Todos pareciam se esquecer de mim, ou de como lidar com o que acontecera. É claro que mesmo os mais distantes perceberam a frieza do ambiente. Estava tão gelado aqui quanto lá fora. Eu precisava ir embora, mas não podia fazer isso de um jeito grosseiro.

- Bom. Sejam bem vindos a Forks. – Eu disse ouvindo minha própria voz sair com leves oscilações. Era obvio que eu estava abalada. – Moramos na casa mais próxima, mas Charlie não pode estar por perto sempre. Mas eu estou, então se precisarem de algo...

- Não vamos precisar – disse Edward pela primeira vez, trocando de canais uma televisão que ele parecia não ver.

- Ok. – disse tentando engolir o nó que agora já era como uma bola de basquete – de qualquer forma, estou na mesma turma que alguns de vocês. Na escola. E se quiserem, bem, meu carro não é dos melhores. Mas posso dar carona a uns dois de vocês e o resto pode me seguir. Sabe como é... só para mostrar onde fica a esc...

- Já disse que não precisamos de você! – ele me fitara novamente, agora com ódio. Por que? O que eu fiz além de tentar ser hospitaleira? Tá certo que não sou boa nisso, mas eu achei que tinha sido educada. Desengonçada como sempre, mas educada. E mesmo por trás daquele rancor que a voz dele e todo seu corpo me passava, eu conseguia sentir a urgência em sua voz, a atração. Conseguia sentir a suavidade. Mesmo rude, ele era... como canção aos meus ouvidos.

- Adoraríamos! Eu e Emmett podemos passar em sua casa amanhã, enquanto os outros vão no carro de Edward. Seria bom conhecer a cidade. – a morena, entusiasmada demais para o que pedira esse tipo de clima me disse, sorrindo, ao mesmo tempo que segurava o ombro do irmão e apertava, confortando-o. Ela era simpática, era evidente. Mas eu sabia que só falava isso porque estava com pena de mim.

- Certo – disse por fim, quase chorando. Aquele bolo em minha garganta já me sufocava. Eu estava realmente sem ar. – então espero vocês em frente a trilha, as sete.

Sinceramente não sei como consegui falar tudo isso. Eu não tinha mais oxigênio nenhum em meus pulmões.

Me despedi da família apressadamente, recebendo um beijo caloroso de Esme, que me olhava pedinte, como se dissesse para desculpar o filho mal educado. Ainda bem que ela não pediu desculpas formalmente. Não sei se agüentaria controlar as lágrimas que estavam prestes a explodir.

Vesti meu casaco e sai da casa quase correndo. Tropecei algumas vezes mas nem reparei. Queria meu quarto, queria estar quieta. Já não sabia o que era chuva e o que eram as minhas lágrimas. O caminho de vinda que parecia curto demais, agora era longo de forma absurda. Como aquele garoto com rosto de anjo podia ser tão duro? Como podia me odiar de forma tão decidida sem nunca ter me visto antes? Ele não podia me desprezar tanto assim, não sem um motivo.


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