Desventura Divina: A Jornada de Ouro escrita por Lady Meow


Capítulo 11
Deuses, corvos e um barco voador... Essa foi uma noite realmente interessante.


Notas iniciais do capítulo

Olá meus sweeties!
Pela milésima vez, desculpem-me pela demora, mas cá estou eu postando em meio a uma final de copa, no ultimo dia de férias (oh não! hora de chorar) e bem, não poderia deixar vocês sem um capitulo novo, não é?
Então vamos lá, não se esqueçam de comentar quando terminarem de ler *O*
NÃO ESQUEÇAM DE LER AS NOTAS FINAIS, TEM ALGO IMPORTANTE NELAS (não vou aceitar a desculpa que vocês esqueceram de ler porque cairam no Rio Lete ok?)
Espero que gostem e perdoe-me por qualquer errinho.



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RONNIE

Agora entendia porque fantasmas eram tão temidos pelos mortais, todos os meus últimos encontros com eles estavam relacionados a mortes e a tragédias. E mais uma vez aquilo se repetia.

Valentine tinha agarrado o pulso da pessoa mais próxima— no caso, eu — e apertava com tanta força que suas unhas pontudas pintadas de preto desgastado logo deviam perfurar minha pele. Talvez ela estivesse tentando se manter em pé como todo mundo, seu rosto estava pálido e a pele gelada ao ver a cena, Tom ainda continuava a ser sufocado por uma força invisível e estávamos todos surpresos-barra-assustados demais para fazer alguma coisa.

Thomas soltou um suspiro aliviado, parando de se agonizar e tentando pegar um pouco de ar. Parecia que a seja-lá-o-que que o estava enforcando tinha soltado. Uma figura estava parada bem atrás, a pouco iluminação dificultava minha visão, mas, não acho que a escuridão podia me fazer enxergar um par de asas negras?

— Tânatos? — Nico foi o primeiro a dizer alguma coisa.

— É bom ver você de novo, e de novo envolvido em meio a missões suicidas. Garoto, você não para nem mesmo depois de morrer? — Respondeu o cara das asas, saindo do meio das sombras e olhando para a tela de um Iphone de maneira entediada — Sorte sua, senhor Sr. Lewis. Seu nome não esta na lista dos que tinham que morrer hoje, ainda bem.

— Existe aplicativo para saber quem vai ou não morrer certo dia? — Foi à coisa mais plausível que tinha pensando para dizer.

O deus da morte deu um sorriso.

— Por que não teria? Ah, já iria esquecendo: sou um deus muito ocupado e não dá para eu vir aqui trás de vocês só porque a filhinha de Hades aqui não sabe usar seus poderes. Sugiro que aprenda a usa-los e controlar seus próprios mortos — Ele estalou os dedos da mão livre e um corvo apareceu em seu ombro, então pôs-se em voo e se empoleirou no ombro de Valentine.

— Ele é...

— Sim, docinho, ele é o espirito que te atormentava, sim. Hades me pediu para que viesse ajudar já que você não tem muito tempo para aprimorar seus dons, certamente devia aprender a manda-los de volta para Mundo Inferior e os prender lá, considere isso como uma colher de chá, mas você tem que se livrar dos seus próprios demônios, quero dizer, fantasmas, apenas posso dar a eles uma forma mais “amigável” — Tânatos apontou para a ave, que grasnava e puxava algumas mechas do seu cabelo. Ela tentou espanta-lo, mas segundos depois estava de volta.

— Totalmente amigável.

Deixei de lado o corvo e me foquei na bela aparência dele, ênfase no “bela”. Usava um terno preto muito bem passado que deveria ter algum tipo de abertura nas costas para as asas, sua pele negra combinava perfeitamente com os olhos dourados e longos cabelos escuros. Acho que eu estava começando a concordar com que algumas pessoas que diziam que tinha algo bonito na morte.

— Ainda voltarei a encontrar vocês duas, talvez daqui a alguns dias se tiverem sorte — Tânatos guardou o celular e arrumou a gravata preta — Só que da próxima, acho que terei que busca-las. — Por fim bateu as asas e desapareceu.

Vou confessar: não sabia o que tinha dado em mim, mas um lado meu estava realmente ansioso para isso acontecer. Essa tão fora de si que um lado meu pensou em cogitar a ideia de pegar uma faca e antecipar esse encontro para agora mesmo.

— Já não é hora de partirmos ou vamos esperar a visita de mais algum imortal? Espero que você esteja melhor, Tom. Agora todo mundo para baixo, vou por essa coisa pra voar — Ordenei, deletando aquele pensamento idiota da minha cabeça.

— Já esta pronto? Você conseguiu? — Elle disse ajudando Tom a se levantar.

— Foi moleza — Dei uma piscadinha. Deixando a modéstia de lado, eu tinha sido incrível, tinha arrumado um navio voador em menos de algumas horas, claro que tinha tido ajuda de alguns outros semideuses e de Caça-Trufas, mas tinha feito boa parte do trabalho. — Vão para seus lugares, decolaremos em segundos — E então corri de volta a sala de máquinas. Tinha desligado todos os motores assim que aterrissei o Argo II em uma clareira a alguns metros de da onde ficava o Acampamento de Trailers. Puxei uma alavanca para coloca-lo em funcionamento novamente. Meus reparos pareciam que iriam aguentar.

(...)

— Assim que o Acampamento voltar, será que alguém pode me fazer o favor de dar um caderno de caligrafia para quem escreveu esse manual? — Resmunguei para mim mesma, tentando traduzir as letras escritas no Manual Especial de Pilotagem do Argo II. Apesar de a escrita ser quase impossível de entender (lê-se escrita élfica), tinha entendido alguns comandos básicos, tipo, bem básicos mesmos.

Ei deuses, será que vocês não poderiam dar uma ajudinha aqui? Seria o mínimo que poderiam fazer. Pensei, respirei e comecei a apertar um sequencia de botões coloridos. A coisa estava sendo um pouco complicada.

— Tem certeza que sabe o que esta fazendo? — Elle perguntou, era a única que tinha ficado lá em cima pelo fato de conhecer Las Vegas melhor que ninguém.

— É obvio que eu sei o que estou fazendo, senão não estaria fazendo. Além do mais, ou sou eu ou não tem mais ninguém. Você que escolhe amorzinho — Soei um pouco incerta. Puxei uma alavanca, o motor acabou ligando de uma vez só e fazer todo o Argo II dar um solavanco para trás. — Ops. Isso tava planejado. Foi mal pessoal — Gritei para o pessoal que estava lá em baixo, nas cabines, que soltaram resmungos zangados. Alguém tinha batido a cabeça no teto por causa disso.

Ela ainda me lançou um olhar desconfiado. Também não gostaria nada de por minha vida nas mãos de uma louca dirigindo um barco voador que não tem nem licença para pilotar um fusca. — Melhor não perguntar o que você fez com seu cabelo.

Apesar de ter uns dois momentos durante a decolagem em que tive vontade de por quase posto toda a pizza que comi para fora, rapidamente casas, prédios, parques e cidades inteiras passavam pequenininhas lá em baixo. Uma vez ou outra acreditava que tínhamos atravessado uma nuvem baixa, por a temperatura caia instantaneamente por um tempo.

Assim que estabilizamos o voo, ativei o piloto-automático.

“É por pouco tempo, logo volto” Disse mentalmente para Festus, a cabeça de dragão soltou um pouco de fumaça em confirmação.

Junto com Elle, fui até uma espécie de refeitório ao fundo do navio. Todos estavam sentados a uma longa mesa quase totalmente ocupada, então tomei um lugar vago que acreditava ser meu, já que estava ao lado de Valentine (e seu novo corvo de estimação) e em meio que destaque.

— Bem, acho que chegaremos a Las Vegas em menos de 5 ou 6 horas nessa velocidade, o que é um máximo, já que demoraríamos quase 2 dias (não tinha muito a noção de tempo de duração de viagens cortando o país, nunca tinha saído de Nova York) saindo da Carolina do Sul até lá — Eu estava orgulhosa de mim mesma. Cara, tinha concertado um navio de guerra feito de bronze estilo grego em poucas horas e ainda colocado ele para voar sem ter nem o mínimo de noção de como fazer isso. Meu nome deveria esta no livro dos recordes. Estava tão feliz que comecei a cantar On Top Of The World para todo mundo ouvir segurando balões de festa — Tá, agora a próxima.

— Você tem boas noticias, eu tenho algumas não muito boas — Disse Elle, do outro lado da mesa — Vocês precisam encontrar a chave, eu sei onde ela esta, só que dessa vez terão que ir sozinhas encontrá-la.

— Por quê? — Perguntou Valentine, o pássaro ainda estava inquieto em seu ombro, infelizmente ela não teria opção a não ser atura-lo. Pegou um grão de pipoca de dentro de um pacote e jogou para ele.

Elle continuou:

— Da ultima vez que a vi, estava presa por uma corrente no pescoço do gerente do Hotel e Cassino Lotus há muitos anos atrás. Ele estava em um jogo de pôquer na Casa de Apostas do meu pai...

— Seu pai tinha uma espécie de cassino lá? — Nossa.

— Pois é, meu pai realizava eventos assim nas noites de terça-feira, convidava os “tipo-os-caras-mais-poderosos-da-região” para eles. Foi em um desses que papai conheceu minha mãe.

— Tique, a deusa da sorte?

— Sim, faz sentido, deusa da sorte e jogos de azar, apostas, mas minha família não é a questão. Acho que a chave ainda possa estar com o gerente, sempre esteve junto há milênios, por que não estaria agora?

— Além do mais, esse cassino é um obstáculo praticamente obrigatório em uma missão de semideuses, inclusive seria “ótimo” para alguém que queira completar algo grandioso como a Jornada de Ouro. Ele pode até mesmo salvar vidas, mas é uma grande armadilha. — Disse Nico.

— Como assim? — Dessa vez fui eu que perguntei.

— Quando se entra lá, se perde a noção do tempo. Pode ter parecido que você ficou lá apenas algumas horas e quando na verdade, se passarão décadas. Sem envelhecer, só que sem poder sair, a não ser que você saia do transe, o que é extremamente raro.

— Oh-no. Isso não parece ser nada legal. — Foi tudo o que consegui dizer.

— Espere... Se você sabe tanto... Quanto tempo ficou lá? — Indagou Valentine.

— Mais de 50 anos, quando entrei lá a Segunda Guerra Mundial acontecia — Ta ok, essa ninguém esperava. O silencio tomou conta. Quantos anos o cara realmente tinha?

— Agora sabem por que lá é extremamente perigoso — Concluiu Elle.

— Podemos ficar presas achando que estávamos ali apenas uns minutos... — Comecei.

—... E só depois descobrimos que ficamos lá por mais dias... — Completou Valentine, Jubileu (como o corvo do desenho do Pica-Pau que gostava de pipoca quente na manteiga) concordava com a cabeça.

—... No fim perdendo o prazo da jornada/profecia — Terminou Greg — Mas porque tártaro estamos falando assim?

— Eu não sei, não sei mesmo — Abaixei cabeça me sentido mal, quem me dera estar sentido borboletas no meu estomago, aquilo mais parecia um enxame de vespas gigantes nervosas.

— Ignorem o medo, não o deixe tomar conta de você ou de seus pensamentos, ele pode não deixar você pedir ajuda ao seu lado mais racional, o rival do medo, é ai onde você se desespera, você não consegue encontrar uma saída ou se focar em algo, a coisa fica feia e você provavelmente morre — Dessa vez a voz não veio de ninguém que eu conhecia direito, no canto mais afastado, uma garota se mantinha em silencio até agora. Devia ter visto ela apenas por um momento em um dos trailers e isso não diminuiu o susto das pessoas ao verem como era.

Tinha olhos arregalados que quase nunca fechavam em uma cor feiosa de azul, boca muito larga e cachos loiros quase cobriam seu rosto. Amandla Fear sorriu levemente, mesmo assim seu rosto lembrou um daqueles palhaços bizarros de histórias de terror sorrindo, alguns de seus dentes eram pontudos. Ela era filha de Phobos, o medo fazia parte da sua vida mais que tudo.

— Mas acho que ele não é uma preocupação, já que vocês duas são semideusas especiais... — Disse Oliver, pela primeira vez não estava com cara de sono.

— Expliquem essa — Se fosse dona de um jornal, creio que a minha jornada daria uma bela fonte de assuntos, já que a cada momento era alguma coisa nova vinha à tona.

— Ora, esta na cara. Seus poderes e suas habilidades estão em um nível alto de aperfeiçoamento, sendo que vocês mal tiveram tempo de treinar, quer dizer, começaram tudo isso a menos de uma semana! — Prosseguiu.

— O fato de terem um papel importante para desempenhar explique isso, são importantes para os deuses, devem então ter dado a vocês pericia para fazer essas coisas sem um mínimo de treinamento. Faz sentido — Concluiu Nico.

— Por isso eu sei atirar perfeitamente bem? Ah, qual é, e a boba aqui acreditava que era boa nisso por ter dedos finos e não por causa dos deuses estarem interessados na gente para fazer seus filhos viverem novamente —Valentine estava visivelmente indignada, a ave barulhenta pulou de seus ombros e começou a bicar a mesa, não sei se ela queria algo ou estava tentando fazer as batidas da musica do Queen.

Me lembrei da vez em que consegui domar fogo, no dia em que tínhamos sido presas no Miss Caroline. Devia ter sido apenas um dom momentâneo, já que a única coisa que conseguia fazer era ser desobedecida pelo mesmo, que não fazia nada quando eu mandava, nem soltar uma fagulha sequer. Ainda bem que ninguém tinha me visto falar com o fogo da lareira.

Outras várias conversas paralelas deram fim à outra, porém nenhuma pareceu muito interessante para que fizesse parte. Peguei aquela velha pulseira de plástico e fiquei olhando-a, alternando entre ela e a ave preta que me encarrava. Senti uma pontada de inveja, apesar de mandar um deus como serviçal para transformar uma alma penada inconveniente em um pássaro ainda mais inconveniente não fosse um dos gestos mais comuns de amor paternal, pelo menos Hades tinha feito algo pela filha (mesmo que fosse indiretamente), eu não tinha recebido nada até agora do meu pai, bem mesmo um cartão dizendo “Boa Jornada de Ouro e que os deuses sempre estejam ao seu favor”. Esperava que a explicação disso fosse que tinha herdado a falta de sentimentalismo dele.

Estranhamente, um ruído forte ecoou na minha cabeça. Por algum motivo, Festus tinha ficado desesperado e dizia algo incompreensível. Minha pele formigava, algo estava errado com aquela geringonça voadora. Eu podia sentir, essa coisa era uma grande máquina.

Precisava sair dali e ver o que tinha acontecido, graças aos deuses, os alarmes de segurança não tinha soado, talvez não estivéssemos em perigo, mas algo esquisito estava acontecendo e ali, qualquer pequena pane que tivesse, poderíamos explodir pelos ares ou algo ainda pior.

Tinha que levar alguém comigo caso precisasse de ajuda, não podia levar Valentine, ficaria muito obvio que tínhamos algo que não queríamos falar para os outros, Greg também não, ele iria surtar e acabar nos entregando, além do mais, as duas opções estava muito “na cara” já que eles eram meus amigos mais próximos, seriam os primeiros que eu chamaria e fariam os perceber que algo tinha acontecido, não queria deixa-los em pânico.

Alguém que ninguém desconfiaria para ir comigo... Meu olhar encontrou o de Nico, exatamente quem eu queria, apesar de não sermos amiguinhos inseparáveis, era o que mais conhecia o Argo II. Balancei levemente a cabeça para o lado algumas vezes esperando que ele entendesse. Ok, agora era ter que encontrar um jeito para sair dali.

Fingi uma tosse extremamente exagerada e balancei as mãos perto do rosto a procura de ar.

— P-preciso. Toma. U-um. Pouco. De. Ar. Já volto — Levantei e sai em disparada, recebendo expressões confusas deles, mas ninguém falou nada e eles voltaram a conversar.

Já estava em frente ao timão tentando acalmar Festus mentalmente quando meu assistente apareceu sentado na borda do navio. Achei que não iria vir.

— Achei que não estaria vivo para ver Ronnie Vega pedir ajuda pra alguém — Comentou.

— Vai te catar cara — Eu respondi, mas logo depois lembrei que eu que tinha chamado ele e devia ser menos grosseira — Será que não dá para facilitar as coisas? Tive que comer meu orgulho vivo para te chamar, então não faça parecer pior — Peguei o joystick de Nitendo Wii que controlava o Argo II, mostrando a onde o fio estava arrebentado — Presumo que isso aqui mandava na direção do barco, como um volante não?

Ele assentiu como se dissesse: “Oh meus deuses, nós estamos muito ferrados”.

— E segundo essa telinha aqui — apontei — Vamos cruzar com uma outra cidade daqui a alguns momentos, provavelmente as chances de nós nos chocarmos contra um prédio ou acabarmos caindo em algum lugar é enorme já que não temos como desviar o caminho. Além do mais, só estamos seguindo certo a rota para Las Vegas graças ao piloto automático, mas ele não suporta ficar nessa por muito tempo e não vamos ter como controla-lo manualmente graças a burra aqui que esqueceu de ver se os comandos estavam funcionando corretamente! — Desabafei, tinha apenas uns 10 minutos para chegar a cidade e o piloto automático vai se auto desligar em algum momentos. Provavelmente iriamos cair antes de chegar à cidade.

— É frigideira ou forno.

— Vamos acabar sendo assados de qualquer jeito. — Murmurei. Droga, como eu podia ser tão burra? Mas então lembrei do pessoal lá embaixo e de outras vitimas de uma possível colisão do Argo II e um arranha-céu, ambas as consequências eram desastrosas e eu não podia deixar isso acontecer. Apesar de ter sido “praticamente” obrigada a concerta aquele navio e coloca-lo pra voar, era a responsável. Também não queria morrer logo e levar todo esse peso na consciência comigo. Tinha que dar um jeito, e iria fazê-lo.

Batia meu pé incontrolavelmente no chão, visivelmente nervosa.

“Poderes magicamente mais fortes, lembra?”

Olhei em volta procurando o dono da voz que parecia só ter sido ouvida na minha cabeça, era diferente da de Nico, mais antiga, mais grossa e soava como um comando de voz saído de um gravador.

Pai?

Não tinha tempo para me perguntar, que ótimo, agora só me restavam poucos minutos.

Poderes magicamente mais fortes...

Tecnopatia me fazia controlar maquinas...

Argo II era movido a várias maquinas...

Eu podia controla-lo com a mente.

Voltei minha atenção para o painel, estávamos cada vez mais próximos à cidade. Desabotoei meu colete acolchoado e tirei um pequeno alicate de um bolso secreto do lado de dentro.

— Você faz bolsos secretos para guardar ferramentas nas suas roupas? —O garoto fantasma franziu as sobrancelhas.

— Obviamente. Falando assim até parece que nunca andou com a minha mãe, era rainha em fazer esse tipo de coisa, aprendi com ela — Respondi um tanto ressentida, um pouco amarga e melancólica. Sim, não tinha superado.

Cortei alguns fios coloridos do painel, Festus emitiu um ruído avisando que o modo piloto automático tinha sido parado de funcionar graças a transição cortada. Culpa minha.

Passei por cima do painel para alcançar uma espécie de adaptador que prendia a cabeça de dragão a frente do navio, me abaixei e rastejei até finalmente chegar ao pescoço de Festus, agarrei um dos seus chifres a procura de apoio. Felizmente ele era largo o suficiente para que pudesse sentar, mas tinha que ficar em maior evidencia por causa dos poderes e com cuidado, me coloquei em pé e tirei as mãos dali. Tentei imitar aquelas garotas de circo que ficavam em pé nas costas dos cavalos, a única diferença é que estava a muitos metros do chão e quem me dera ter um cavalo.

— O que você esta tentando fazer? — Nico agarrou uma das minhas mãos, graças a minha força no descobri a sensação de entrar em queda livre.

— Ou minha cabeça é pequena demais ou sua loucura é grande demais, já que não estou conseguindo processar o que você esta tentando fazer — A voz de Greg estava histérica, o garoto estava tendo um mini attack. Ele tinha saído do além? O infeliz agarrou a minha outra mão e quase me derrubou pelos ares uma segunda vez. — O que esta acontecendo aqui?

— Não temos como pilotar o barco e ela acabou de cortar os fios do piloto automático, a única coisa que nos mantinha bem, pelo menos por um tempo — Explicou o outro.

— Você fez o que? Tá, mas e agora? O que tá fazendo? Isso é uma loucura, já disse. Está tentando morrer de outro jeito?

— Prefere morrer sabendo que não fizemos nada para impedir ou morrer pensando que pelo menos tentamos nos salvar com uma loucura? — Respondi, queria me livrar aperto dos dois. Cada um me puxando para um lado diferente, agora sabia como uma corda de cabo de guerra se sentia.

— Não quero perder uma amiga — Disse Greg entristecido. Amiga? Apenas isso? Quem sabe tenha machucado um pouco. Valentine tinha razão, tinha uma queda pelo Sr. Rei da Ironia, devia me livrar disso logo, uma simples quedinha podia se transformar em uma franqueza.

— E eu não quero perder você... Espere, isso soou realmente estranho, quer dizer, passei anos esperando para poder encontrar minhas garotas de ouro dessa jornada e não gostaria nada se uma morresse antes da hora — Argumentou Nico. Vou fingir que não liguei para a primeira parte.

— Vou morrer se eu não fizer nada e vou morrer se tentar fazer alguma coisa, vou morrer ao completar a jornada. Fico com a segunda opção, gostaria de morrer um pouco mais pra frente com mais honra, e não levando todos comigo. Obrigado pela preferencia e agora me soltem.

Fiz os dois largarem meus braços.

— Eu não sei como ainda de me surpreendo com você, não sei o que vai fazer, mas pela primeira vez vou dizer isso: ainda bem que eu estou morto. — E o premio de humor mais fúnebre do mundo vai para... Seu nome começa com Nico e termina com Di Angelo.

— É, mas eu não estou. Por que você usa sempre essa desculpa? — Esbravejou Gregoy.

— Ok, meninas, abaixem essa marra toda, vocês tem o tempo do mundo inteiro para brigar quando sairmos dessa, agora me deixem tentar ajudar — Revirei os olhos. Garotos... — Já que vão ficar ai, façam algo de útil: me segurem se eu cair.

Dei as costas, respirei fundo e estendi os braços, antes de fechar os olhos, vi a imensidão azul do céu, pela primeira vez pude ver muitas estrelas, algo que não via muito em NY por causa da poluição. Me concentrei na sala de máquinas, no painel de controle e todo aquele enorme sistemas, até a mais pequena das engrenagens pertencia aos meus poderes e devia obedecer minhas ordens. Primeiramente fiz um teste, o mandei virar para a esquerda, no fim acabei fazendo o Argo II dar uma volta em seu próprio eixo. Coloquei os remos para fora, isso foi divertido.

— Menos showzinho, por favor? Já entendemos que seu poder é da hora e tal, mas não estamos em um brinquedo de parque de diversões e agora sei porque nunca fui em um. Estou começando a passar mal, sendo que nem posso fazer isso — Reclamou Nico, ele e Greg estavam se segurando nas laterais de bronze como se isso fosse salvar suas vidas, mas bem, iria. Seus cabelos estavam jogados para trás por causa do vento

— Espere até eu realmente entrar em ação, isso só foi um teste. — Soltei uma daquelas risadas diabólicas. Eles se entreolharam preocupados, deviam estar pensando para que deus iriam rezar quando fizesse o que disse.

Voltei a me concentrar, dessa vez mandei os motores seguirem o curso para Vegas, o barco se virou para esquerda e seguiu em linha reta, resolvi ir um pouquinho além e fiz o que as pessoas faria em um carro normal, pisar no acelerador, só que mentalmente.

Fios de cobre saíram de dentro da cabeça de Festus e rodearam meus pés para que não me desiquilibrasse com a velocidade. Estava quantos quilômetros mesmo? 90? 150? 300? Era impossível saber. Meu cabelo balançava descontroladamente para trás. De tão enlouquecida que estava com aquilo, tinha até esquecido o que era ter enjoos durante voos ou corridas.

Se dissesse que controlar aquela monstruosidade usando apenas a força do pensamento era algo simples, estaria contando uma mentira terrivelmente feia. Parecia que estava carregando todo o peso do mundo nos ombros, meus músculos estavam tensos e doloridos, sem contar que meus pés doíam. Apesar de tudo, havia uma ponta de prazer ali, era incrível e mostrava o quanto podia ser poderosa mesmo sendo filha de um dos olimpianos menos reconhecidos. Poder controlar fogo agora não me era tão importante.

Olha só o que posso fazer, vadias.

Não, não me importava nadinha em engrandecer ainda mais meu ego.

Logo entramos em uma cidade, apesar de estarmos a uma grande altura, não ultrapassávamos as de alguns prédios muito altos, então tinha que impulsionar o navio para cima, uma vez ou outra, acabei batendo em uma daquelas antenas parabólicas e bem... espero que tivesse seguro para a pintura. Minhas mãos tinham um brilho dourado como bronze e era como se fosse parte dele.

— Ronnie? Olha, aquela não é... — Greg gritou, ele tinha se soltado das bordas para poder fazer um megafone com mãos, balancei os dedos e mais fios brotaram do chão e o seguraram pela cintura para que não fosse jogado por ai.

Voltei a olhar para frente, já cruzávamos um grande deserto e de longe um ponto brilhante era visto, a proximidade vez aquele ponto criar mais milhares de outros, de várias cores até por fim se transformar em uma cidade brilhante no meio do nada.

Tinha ido tão rápido assim?

Estacionei o Argo II escondido atrás de uma rocha gigantesca a alguns metros de uma estrada e a um quilometro da cidade.

Depois de recolher aqueles fios, acabei ficando tonta e caindo do meu posto em monte de areia, não me lembrava de ter tido coisas como ossos ou músculos, estava tão cansada que parecia uma daquelas geleias de brincar esparramadas por ai.

Meus braços doíam, especialmente em certo ponto no meio do antebraço. Era uma queimação forte, muito conhecida por mim. Uma nova cicatriz pulsava sobre a minha pele, longe da cobertura das luvas. Não me lembrava de não ter criado nada esses dias... A não ser criar uma conexão telepática com o Argo II, criando uma espécie de máquina em mim.

Droga de Maldição. Esse era o momento em que começava a odiar minha família.

Resolvi ignora-la, logo passaria e depois só sobraria um marca feia na pele.

A rampa de entrada se abaixou e fui cercada por murmúrios e comentários admirados. Oliver e outro garoto me levantaram e apoiaram nos ombros.

— Devo chamar isso de boa sorte? Em menos de hora e... — Fiz um gesto para que Ellen parasse de tagarelar.

— Não chamo isso de boa sorte, ter uma boa capitã é o que eu digo e alguém que sabia realmente arrumar um navio — Dei uma piscada para Greg e Nico que pareciam incrédulos pela minha mentira descarada, pelo menos riam.

Alguém ofereceu um pedacinho de Ambrosia e engoli sem mesmo mastigar, amenizou um pouco, mas era obvio que quando fosse dormir teria que lutar com uma enxaqueca daquelas.

— Sei que estamos cansadas, mas precisamos ir — Valentine estendeu minha mochila, a dela já estava presa em um dos ombros, enquanto o outro era ocupado pelo Jubileu. Caça-trufas saiu de dentro de um dos bolsos, em forma de camundongo, arrancando uns gritinhos apreensivos. Fiquei um pouco irritada, queria poder descansar um pouco, um feriado não cairia nada mal.

Observei de relance Las Vegas, seria uma longa caminhada até lá.

Relutante, a coloquei nas costas. Um garoto saiu do meio do grupo, já tinha visto ele uma ou duas vezes. Steve Faceless, filho de Jano. O que o marcava era seu rosto, de um lado tinha olho verde e cabelo castanho, do outro olho azul e cabelo loiro.

— Quando estávamos conversando, Elle disse que precisávamos dar um jeito de recompensar vocês duas de um jeito, ajudando na jornada. Então que melhor jeito de ajudar se não com um portal que as leva para o próximo destino? — Estalou os dedos e uma porta se formou no meio do nada. Ao abrir a maçaneta, foi revelada apenas uma forma negra, como uma parede pintada no formato da porta. A luz da lua trazia um efeito ainda mais sombrio.

— Vão, não vai ficar por muito tempo — Avisou. Valentine foi a primeira a entrar, um pouco receosa, o corvo bateu as asas e crocitou antes de desparecessem na imensidão negra, parecia que era uma cortina — Sua vez, capitã.

Pulei para dentro, sem olhar para trás e quase tropeçando nos calcanhares.


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Notas finais do capítulo

ENQUETE DA LADY MEOW: Qual Personagem (um dos principais ou secundários) você mais gosta da fanfic até agora?

E então gostaram? Ficou bom? Ruim? Ótimo? Péssimo? Perfeito? Ficou Horrível? Sambei? Lacrei? Divei? Conte-nos o que achou nos comentários, isso é importante. NÃO ESQUEÇAM DISSO E DE RESPONDER A PERGUNTA DA ENQUETE. Ah, também favoritem e recomendem (nunca recebi uma)

Enfim, vou ficar por aqui, não deixem de comentar e fazer todas essas coisas todas, mandar sugestoes, criticas construtivas, elogios ou xingamentos pela demora okay? Bjos no core da Lady Meow ♡



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