Jogos Vorazes: O Despertar escrita por FernandaC


Capítulo 11
Escolhas


Notas iniciais do capítulo

Nossa! Férias intensas... Desculpem-me a demora da postagem!! Para quem me perguntou, disse que iria postar a noite, bem está quase de manhã (3:59), mas ainda é de noite (madrugada! rsrs). Promessa é dívida e eu também estava louca para escrever esse capítulo, só não sabia como terminar. Haha... A pedido de uma amiga leitora vou fazer uma nota camentada, espero não fazer spoiler! Considero esse meu melhor capítulo, pois consegui trazer uma complicação que estava lutando para criar. Espero muito que vocês gostem e torçam para... Hum... Enfim. Sei que estou fugindo um pouco do original (lógico, é uma fanfic), mas tem que ter história, se eu não fizesse isso já tinha que ter finalizado a trama. Mas ainda não estou preparada para isso.
Bem, não quero fazer essa nota maior do que ela já é, então vou deixá-los ler. Apenas quis explicar alguns pontos que achei que deveriam ser um pouco explanados. Obrigada por lerem e comentarem minha história, isso é muito gratificante! xD
Beijo, Fernanda



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– Katniss, calma. Respira. Eles não podem invadir a casa. - Gale diz para tentar aquietar meu pânico.

– Você tinha que abrir a porta apenas com metade das suas roupas no corpo?! - Pergunto bufando de ira.

– O calor deve ter fritado seu cérebro, só pode. Como eu ia adivinhar que esses merdas estariam de volta?! – Ele diz irritando-se, então põe os dedos na ponte do nariz e respira fundo. - Deixa que eu vou tirá-los daqui.

– Ha! Eles nunca vão dar trela para o que você disser, enquanto não cobrir seus peitos! - Digo entre os dentes, controlando minha raiva.

Ele revira os olhos e caminha para a porta. Desespero-me e tento puxa-lo para evitar maiores estragos, mas Gale é muito mais forte que eu, então traçamos uma luta silenciosa. Para meu alívio, escuto Haymitch falar alto e reclamar para que a equipe se retire da entrada da minha casa. O problema é que quando o imbecil abre a porta, os fotógrafos ainda estão no mesmo lugar, esperando a oportunidade chegar. Logo meus olhos captam uma sequência de fleches, contudo o que mais me perturba não são os fleches e, sim, estar enganchada nos braços de um Gale que está praticamente em cima de mim, todo suado e sem camisa. Haymitch avalia rapidamente a situação e bate a porta com força atrás de si.

– Que diabos está acontecendo aqui?! Vocês perderam a noção? Não se dê ao trabalho de responder Katniss. - Debocha Haymitch, irritando-me.

– Eu que lhe pergunto isso imbecil, porque você não esperou eles irem embora antes de entrar? - Pergunto.

– Como ia saber que você estava enrolada com o outro? - Ele diz com veneno na voz.

– Cala a boca, Haymitch. A situação séria! O que esse pessoal está fazendo aqui?! Não há motivo para eles voltarem...

– Hãn, Katniss...? Acho que você passou tanto tempo enfurnada no seu quarto e não prestou atenção na televisão. - Gale fala, enquanto tento entender aonde ele quer chegar.

– O que ele quer dizer é que, se você tivesse mais miolos, estaria grudada em cada notícia que vem da Capital. - Haymitch diz. - Presta atenção, eles estão entediados, não há mais Jogos Vorazes para entretê-los, acho que você percebeu isso. Logo, eles estão buscando qualquer coisa que os façam sair da monotonia. Assim, você e Peeta, separados ou não, ainda é entretenimento para aquele povo doente. Eles querem fofocar, saber o que houve, está havendo, essas coisas fúteis típicas da Capital.

Encaro-o sem acreditar que esse inferno não acabou. Esses cretinos nunca vão me deixar em paz.

– Por que Haymitch?! - Pergunto tentando controlar meu desespero.

– Ora Katniss, não é óbvio? - Gale pergunta gentilmente - Você e Peeta sempre foram o alvo. Mesmo depois de tudo, eles ainda querem saber como vocês estão. O problema é que estão supondo que você e Peeta não estão mais juntos e isso é como se fosse uma bomba que explodiu, no entendimento deles. Todos estão salivando por novidades e explicações. Após terem visto Peeta na Capital com a Delly, os idealizadores desses programas estiveram se organizando por um bom tempo para virem aqui, saber sobre você! Nosso azar, seu azar aconteceu ainda a pouco com as fotos que tiraram de nós. Eles conseguiram agora eu não sei mais o que vai acontecer, ou melhor, como você vai lidar com isso.

– Não quero dar nenhum depoimento sobre minha vida para essas pessoas! Não sou mais obrigada! - Digo me indignando.

– Bem, se você não quer, não vai. Mas vai querê-los na sua espreita o resto da vida? - Haymitch pergunta sentando-se no sofá. - Claro que não.

– O que você está sugerindo? - Questiono.

– Você e Peeta tem uma grande história no passado, feliz ou não, mas tem. Se você disser que ainda está com ele, as câmeras nunca deixarão o Distrito 12, sempre vão procurar um motivo para por a vida de vocês em público. Por outro lado assumir que vocês estão separados, talvez você possa ter longos momentos de paz. Ninguém vai querer saber da sua vidinha monótona, por muito tempo, não é mesmo? O que você nunca conseguirá fazer é evitá-los o resto da sua vida. Infelizmente, funciona assim, posso até ver o dedo de Plutarco nisso.

– Você acha que ele está por trás? - Pergunto lembrando o dia em que fui liberada para voltar para o 12 e ele me convidou para fazer parte de um show. Haymitch bufa pelo nariz.

– Sei o que estou dizendo. Tenho certeza que ele está idealizando esse novo jogo. - Ele diz bebendo do seu cantil.

– Katniss, eles só vão embora quando tiverem um show para apresentar. Se você quiser se livrar deles, dê um show. - Gale diz pensativo. Posso ver seu cérebro trabalhando.

– O que você acha que eu devo fazer? -Pergunto ao meu antigo parceiro de caça.

– Haymitch tem razão. A melhor coisa a se fazer é prestar atenção nas notícias e, por enquanto, evitar qualquer contato com Peeta ou aparecer nas câmeras sem um roteiro bem escrito. Você e Peeta separados chamam muita atenção, se aparecerem juntos será o mesmo que entregar a chave da sua casa para eles.

Isso não pode estar acontecendo. Infelizmente Haymitch e Gale tem razão, se eu quero mandar esse povo para longe, não posso alimentar a fome deles. Tenho que exterminá-los. Haymitch olha pela janela e não vê ninguém mais a vista. Abre a porta e antes de sair se vira para mim.

– Só para avisar, mesmo que a política tenha mudado, algumas coisas sempre permanecerão. Essa equipe está hospedada aqui na Aldeia dos Vitoriosos.

– Como você sabe? - Pergunto.

– Por que estou vendo eles carregarem suas coisas para dentro da casa ao lado da de Peeta. - E sem dizer mais nada, ele vai embora.

Sento-me na poltrona. Cheia de aversão. Gale fecha as cortinas das janelas, volta para a sala e liga a televisão. Todavia nenhuma notícia sobre o assunto fora mencionada. Plutarco não poderia me deixar em paz mesmo, desde o início ele vem me usando. Entretanto, tenho que ser mais esperta que ele, só tenho que saber como proceder. Olho para Gale que se manteve quieto, pensativo demais. Se o bem conheço, posso afirmar que ele está tecendo uma saída, uma alternativa.

– Você vai me ajudar, não vai? - Pergunto olhando-o. Ele dá meio sorriso, mas não me encara.

– Claro que sim, Catnip. Parceiros, lembra? Não vou lhe deixar na mão. - Gale responde e posso sentir que ele está chateado.

– O que você tem? - Ele passa a mão nos cabelos ponderando a resposta. Balança a cabeça algumas vezes.

– Complicado. Não é que você não vá entender, é apenas que esse não é o momento certo. - Ele expira cansado. - Sinceramente, eu me arrependi de ter dito tudo aquilo para você debaixo daquele chuveiro. Não devia ter feito aquilo, quer dizer, não daquela forma. Sinto muito, eu meio que entrei em desespero, queria lhe tirar daquela situação, jamais intencionei me valer da sua fragilidade e acabou que... Acho que compliquei muito mais sua cabeça. - Gale fala com raiva de si mesmo, seu maxilar contraindo-se frequentemente. - Você poderia fingir que eu não disse nada? Esquecer, desconsiderar... Como quiser dizer.

Finalmente Gale olha nos meus olhos. Sua frustração estampada no seu rosto. Realmente, ele escolheu um péssimo momento para falar todas aquelas coisas, entretanto seu pedido de querer que eu esqueça, finja que nada aconteceu, de uma forma ou de outra, me magoou. Por mais que não tivesse pensado no assunto, eu gostava da ideia de que Gale poderia ser a minha saída para todos os meus problemas, principalmente com a mídia. E ainda acho que Gale poderia me fazer feliz, não agora, mas depois de um tempo... Não é algo impossível.

– Se você vai se sentir melhor assim, tudo bem. - É tudo o que digo a ele. Gale balança a cabeça uma vez e se retira da sala.

Deito-me no sofá. Buttercup aparece miando, faço sinal para vir até mim. Aconchego-o ao meu lado. Aliso seu pelo, enquanto olho para o teto e penso na vida, nas circunstâncias que a transformaram por completo em um inferno. Se antes estava ruim, agora está muito pior. Tiraram meu sossego... Um suspiro escapa dos meus lábios. Gale está magoado e dessa vez tenho certeza que a culpa é minha. Independente de qualquer coisa, ele me fez uma proposta e eu sequer pensei no assunto, simplesmente ignorei como fosse algo banal. Pergunto-me se ele desconfia da vinda de Peeta ao meu quarto. Realmente não faço ideia. Mas creio que a vinda do menino do pão o perturbou e o pior que não foi apenas a ele. Jurava que Peeta não pisaria mais no Distrito 12, contudo ele voltou. Agora, minhas escolhas, mais do que nunca, devem ser bem definidas.

Um passo em falso, uma decisão mal sucedida, um arrependimento me trará consequências que jamais poderei corrigir, visto que esses abutres circundam novamente a minha infeliz vida. Não posso deixa-los vencerem, Haymitch tem razão, se eu ficar perto de Peeta, eles não nos deixarão em paz. A questão é, vou conseguir me conter? Quer dizer, Peeta ainda me deve muitas explicações, coisas que ainda não esqueci, que mal foram explanadas. Toda vez que toco no assunto, ele desconversa dizendo que Haymitch vai me esclarecer, quando tento persistir, o maldito vem com sussurros, aproximações, beijos... É impossível!

Levanto-me e ponho o telefone no gancho. Coitada da minha mãe deve estar muito preocupada, mas amanhã eu ligo para ela. Anoitece. Pego um copo com água na cozinha. Olho para a bancada e vejo as misturas medicinais que Gale fez para cuidar de mim. Esboço um sorriso. Ele realmente estava cuidando de mim e eu fui totalmente ingrata. Pego os frasquinhos e subo para meu quarto, pensando no meu parceiro, no quanto ele fez por mim e minha família. Esfrego a pasta na pele danificada, mas bem melhor do que era antes. Escovo meus dentes, sento-me na poltrona.

Analiso a rua afora. Tranquila. Recosto minhas costas no encosto acolchoado, descansando a cabeça. Deveria ir até o quarto de Gale e checar se ele está bem ou mesmo confortá-lo, não estou sendo justa. Depois de tudo que ele fez por mim, não deveria estar retribuindo desta forma, não sou assim, não gosto de dever nada a ninguém, muito menos para as pessoas que amo... E eu amo Gale, mas será que é da forma que ele gostaria que fosse? E quanto ao Peeta? Definitivamente, eu o amo também. Será que amo ambos da mesma forma?Não. E isso me corrói, pois vou ter que abrir mão de um, um dia terei que escolher. Mas não estou preparada para fazer isso. Agora, tenho que me concentrar em expulsar essa equipe que está praticamente acampada em frente da minha casa.

Os dias passam lentamente. Uma semana sem sair de casa, jogada no sofá prestando atenção nas baboseiras ditas na televisão. Nada pode ser levado a sério, salvo algumas reportagens sobre a reconstrução de outros Distritos. O termômetro não aliviou tampouco. Abri algumas janelas dos fundos, já que não me arrisco a abrir as cortinas das janelas frontais. Greasy todos os dias faz nosso café e já traz nosso almoço, já que ela voltou a trabalhar na casa de Peeta e esporadicamente na casa da equipe. Das poucas vezes em que ela fez a faxina lá, Greasy viu que eles estão com todos os equipamentos completos, até maquiadores e estilistas. Tremo só de pensar. Gale também não está normal, desde quando esse povo chegou e eu decidi me afastar de Peeta, ele tem procurado me evitar, conversar apenas o essencial e quando menos espero, ele já está trancado no quarto. Várias vezes chego a ir até à sua porta, mas desisto e dou meia volta. Isso não pode continuar assim, tenho que fazer alguma coisa, em algum momento, eu não posso deixar sempre para depois, o depois pode ser tarde demais.

Problema é que mesmo desse jeito, eu ainda vejo Gale, já quanto ao Peeta, nem isso... Tenho que confessar que estou sentindo muita falta dele. Quando me lembro dos nossos últimos encontros sinto que foi há milênios atrás, algo surreal. Será que ele sente minha falta também? Acho que não como eu, pois se fosse assim, ele já teria encontrado uma forma de vir me ver. Mas pensando bem, da mesma forma que ele, por que eu não procurei uma brecha para encontra-lo? A noite está tão escura sem a lua e nenhuma casa está com a luz acessa... Meu coração dá um salto com a ideia atrevida que me surge, um sorriso diabólico aparecesse em meus lábios. Vou visitar o Peeta.

Desço as escadas de fininho, agradecendo silenciosamente por já ser tarde da noite e acreditar que todos deveriam estar dormindo. Abro a porta dos fundos. Não vou ser tão idiota em sair pela entrada da casa. Circundo pela lateral esquerda já no lado certo da casa de Peeta, agachada nos arbustos próximos. Nossa! Está tão escuro, mas isso é bom. Esse momento é o mais crítico, se alguém está de vigia, com certeza me verá. Pode estar escuro, mais não o suficiente para os óculos de visão noturna que eu sei que eles trouxeram. Preparo-me para atravessar, a tensão pulsando em minhas veias. Minha pulsação latejando nas minhas têmporas, o suor escorrendo nas minhas costas. Preciso ver o Peeta. Estou com medo, entretanto, não posso deixar isso me abalar e impedir de encontra-lo.

Abaixada o máximo possível, eu corro. Chego ao outro lado e contenho-me para não ficar saltando de felicidade em ter conseguido chegar até aqui sem ser vista. Agora, tenho que torcer para a porta estar aberta. Subo os degraus da escadinha de madeira. Ponho a mão na maçaneta e giro lentamente. Fechado. O desapontamento alastra-se pelo meu corpo, a felicidade se esvai como se nunca tivesse feito parte de mim, mesmo que por instantes. Desço novamente a mão, uma, duas... Cinco vezes, tentando abrir a porta. A descrença impulsionando-me ao limite do tolerável. Não há mais nada que eu possa fazer, melhor eu ir embora antes que eu seja vista, o que seria perfeito para terminar essa noite de azar.

Piso no último degrau e escuto o trinco da porta girar. Congelo. Viro apenas minha cabeça. A porta se abre um pouco, não consigo vê-lo, mas sei que é ele. Subo os dois degraus de uma pisada só e entro na casa escura. Não me atrevo a acender a luz, mas também não enxergo nada. Peeta tampouco fez esforço para ficar perto da porta. Leso. Há não ser que ele esteja brincando comigo... Engulo uma risada de prazer, eu nunca perco essa brincadeira de Esconde-esconde. Prim sempre ficava frustrada. Fazer o quê? Tenho uma ótima audição. E não demorará muito ele denunciará a posição dele. Peeta nunca vai aprender a andar silenciosamente no claro, imagina no escuro. Levanto um pouco os braços na tentativa de evitar me bater e presto atenção ao redor, aguço os ouvidos.

Ouço um leve escoram na parede à direita no caminho da sala, agacho-me para ele não me ver. Quero pegá-lo desprevenido. Outro som é emitido mais a frente, uma pisada. Provavelmente deve ter sido a perna da prótese. Peeta já está na sala, só que ele não sabe em que canto me encontro. Peeta mal sabe que eu também já estou no mesmo ambiente que ele.Olho de esgueira pelo canto da coluna e o vejo, mesmo que seja apenas o seu contorno. Abro um largo sorriso. Ele está sentado sobre os joelhos em cima do sofá, agachado no encosto, apenas com os olhos atentos para a entrada da cozinha. Tão fofo, que quase me faz aparecer fingindo que ele me pegou e não o contrário. Só que não vou ceder.

Como estou na lateral da sua visão, então procuro ao máximo ir por trás dele. Uma risada se forma na minha garganta, mas a engulo. Peeta não está prestando atenção de tão concentrado que está ao olhar para a cozinha. Chego perto o suficiente para cobrir seus olhos com as mãos.

– Peguei. – Sussurro. Peeta treme levemente de susto, o que me faz rir prazerosamente baixinho.

– Não vale, Katniss. Você roubou. – Ele diz um pouco indignado, de modo que apenas intensifica minha gargalhada.

– Como eu posso ter roubado, Peeta? – Digo entre risos, pouco procurando me controlar e sento-me ao seu lado. Ele bufa e então avança jogando-se sobre mim. Caímos no outro lado do sofá.

– Verdade, você não roubou, mas EU peguei você! – Peeta diz com a voz veludosa, desarmando minhas risadas silenciosas.

Como ele conseguiu fazer isso?! Fico estática, simplesmente sem ação nenhuma. Quando achei que estava ganhando... Peeta vira o jogo. E que virada. Sinto parcialmente seu peso em cima de mim, suas mãos apoiadas ao lado da minha cabeça, enquanto as minhas se seguram nos seus ombros. Minha cintura ao lado da sua. Peeta encosta os lábios nos meus e retira. Deixando-me na vontade, querendo outra vez. Levanto um pouco a cabeça, pedindo mais. Ele aproxima os lábios, mas não os sinto, forço o rosto na sua direção, só que ele não cede e me impede de conseguir beijá-lo. Agora é a vez de Peeta rir deliciosamente. Frustro-me na segunda tentativa e desisto com raiva, jogo minha cabeça de volta no sofá.

O idiota ri mais ainda. A vingança estampada no seu sorriso ridículo. Reviro os olhos que sei que ele mal consegue enxergar. Então, ele preenche minha boca na sua, forçando-me a retribuir, o que é impossível não fazer. Nos beijamos lentamente por um longo tempo. Matando a saudade de uma semana interrompida. Sete dias sofridos. Sinto seu rosto agora sem barba, passo os dedos em seus cabelos mais curtos. Ele voltou a ter a aparência do meu antigo Peeta, se bem que eu estava gostando daquele Peeta mais selvagem e cheio de atitude, será que isso mudou também? Espero que não.

Peeta arqueja entre meus lábios, logo ele se deita ao meu lado. Por sorte o sofá é grande o bastante para nós dois. Pouso minha mão na sua bochecha, enquanto seu braço direito serve de apoio para minha cabeça. A noite não permite que eu veja muito o rosto dele, mas eu me contenho com o pouco. O simples fato de senti-lo tão próximo já é o suficiente. Enxugo sua testa com os dedos, o calor se intensifica, mas não nos afasta.

– Como você sabia que eu estava lá fora? – Pergunto apenas para ele escutar.

– Você não acha que eu estive dormindo todos esses dias quase que na cozinha lhe esperando? – Peeta responde no mesmo tom, enquanto tira uma mexa de cabelo grudada no meu rosto.

– Por que você não foi até mim? – Questiono tentando esconder minha mágoa.

– Katniss... Você acha que eu conseguiria sair sem ser visto? Claro que não. O máximo que eu podia fazer era torcer para você não demorar. Esperei sete dias. Mas valeu a pena cada segundo. – Ele diz dando-me pequenos beijinhos. – Só demorei em abrir a porta, porque estava aqui no sofá e dormi.

– Hum... Tudo bem. Cadê a Delly?

– Deve estar lá em cima dormindo. – Peeta responde indiferente.

– Temos que conversar sobre algumas coisas. Você está me devendo boas explicações. – Digo em tom acusatório.

– Garota impaciente. – Ele diz carinhosamente apertando-me contra ele. – Eu vou explicar tudo, pode ter certeza.

– Deixa eu adivinhar, agora não é o momento? – Pergunto ironicamente.

– Como você acertou? – Peeta diz brincando. E tenta me beijar, mas recuso.

– Nem vem Peeta. Já estou me cansando dessas suas histórias.

– Katniss... Mesmo que eu comece a lhe explicar agora, não vai dar tempo para terminar, ainda mais porque uma parte da história apenas Haymitch sabe, nem para mim ele contou, ou melhor, explicou. E tenho certeza que você não quer sair daqui de manhã e correr o risco de ser pega. Há não ser que você queira passar uns dias aqui comigo, eu não iria me importar. – Peeta fala caprichosamente.

Ficamos em silêncio por alguns instantes, enquanto pondero a situação. Passar uns dias aqui com ele... Hum... Tentador. Mas não posso deixar o Gale, seria quase o mesmo que abandonar e eu não poderia fazer isso. Ele está chateado e nós não conversamos como deveríamos. Então, o melhor a se fazer, nessa situação, é voltar ao modo que estava antes.

– Não posso ficar aqui, Peeta. Tenho que voltar para casa, Gale está lá. Não quero preocupa-lo.

– Gale... Hum. Entendo. Fica para depois, então. – Ele diz, mas posso sentir uma pontada de tristeza, seria isso? Não, não apenas tristeza. Há algo a mais, algo um tanto amargo. E isso eu já senti. Ciúmes. Meu rosto esboça um sorriso vitorioso. – O que foi?

– Eu que lhe pergunto.

– Não tenho nada. Apenas disse que entendia. – Ele responde, entretanto foi pior, dessa vez ele não conseguiu esconder tão bem.

– Você não vai assumir, não é? – Pergunto acusatoriamente. Deliciando-me internamente.

– Não sei do que você está falando... – Peeta é evasivo e tenta sair do sofá, mas eu o contenho.

– Diga Peeta! Não tente esconder, assuma! – Insisto com os olhos brilhando. Ele expira, mantendo os olhos baixos.

– Ciúmes, Katniss. Satisfeita? Estou com ciúmes. Corroendo-me por dentro. – Peeta diz com raiva. O que é estranho, raras foram as vezes que eu o vi nesse estado e isso me assusta um pouco. – Eu estou vendo as notícias na televisão também. Vi a foto que foi tirada na sua casa, ele em cima de você, sem camisa, suado e você agarrada nele...

Peeta se senta e passa a mão nos cabelos, enxugando a testa. Procurando se controlar. Eu continuo no mesmo lugar, olhando-o atônita, analisando sua raiva, sua frustração. Lentamente, eu me aproximo dele novamente, retirando o sorriso do rosto, mas mantendo no meu íntimo a felicidade em estar presenciando este momento. Sento sobre meus joelhos e passo o braço pelos seus ombros. Peeta não se move, nem faz menção de se virar para mim. Então, contento-me apenas com metade do seu rosto. Aconchego meu queixo no seu ombro e digo perto do seu ouvido direito.

– É só uma foto sem sentido. Não significa absolutamente nada e está totalmente fora do contexto. Você deveria saber disso. – Peeta balança um pouco a cabeça na minha direção. Ele sabe que estou certa, mas o ciúme o cegou e sabe-se lá por quanto tempo ele ficou sofrendo por conta disso.

Peeta vira-se para mim. Pega minha cintura me gira e sento no seu colo. Não tenho sequer tempo para reclamar, seus lábios beijam novamente os meus. Dessa vez, sinto a urgência da sua boca na minha. Uma mensagem enviada e recebida. O medo de me perder, o alívio de não ser verdade, a precaução do risco futuro.

Abro os olhos quando sinto que o beijo terminou. Os primeiros raios de sol surgindo no horizonte. Não é preciso dizer nada para entendermos que é a hora de nos despedirmos, antes que a Aldeia acorde. Peeta leva-me até a porta dos fundos. Beijo-o mais uma vez e vou embora meio agachada. Atravesso a rua de uma vez, sem olhar para os lados, visto que se alguém estiver olhando, não vai adiantar nada esperar, só piora. Chego no meu lado da pista e nenhum fleche é acionado. Ótimo. Entro em casa, bebo um pouco de água e vou para a sala. Assusto-me com Gale sentado no sofá e uma bolsa de viagem ao seu lado, já feita. Ele aparenta está com raiva. Não... Muito pior que isso, ele se sente traído.

– Gale, o que...? – Tento perguntar, mas estou muito confusa e ainda tonta por conta da noite.

– Eu estava lhe esperando. Não podia ir embora sem dizer nada. Não sou assim. – Ele diz e posso sentir uma pequena acusação na sua voz. – Mas vejo que perdi meu tempo, você não ia perceber minha ausência mesmo.

Gale cospe acidamente as palavras para mim. Sua mágoa ultrapassando todas as barreiras. Ele não está fazendo o mínimo esforço para tentar omitir o que está sentindo. Agora é a hora, não vou ter escapatória, terei que enfrentar o que tiver por vir.

– Eu sei que você estava com o Peeta e sei também que ele veio aqui quando chegou. Acho que eu fiz o papel de bobo todo esse tempo. Você não foi sincera comigo, Katniss. Você praticamente me usou. Nem doente você está mais. Fui um otário mesmo em me preocupar com a sua sanidade, você nunca esteve tão bem! – Gale fala enfurecido e se levanta.

– Não Gale, não é bem assim... Eu, eu nem sei mais qual é o meu diagnóstico e tampouco você sabe... Eu estou, estive doente... Sei lá. E eu fui sincera com você e você me disse que iria esperar o tempo necessário – Digo tentando controla-lo, manipular as palavras que me foram ditas.

– Não Katniss! Eu disse que esperaria caso você se afastasse dele. Mas depois do que aconteceu hoje, eu vi que estou sobrando. Fui tão burro! Cheguei a ir no seu quarto, imagina o choque que levei ao perceber que você não estava lá e ver você atravessando a rua. – Gale fala sentando-se no sofá com as mãos na cabeça.

Penso que se não fosse os malditos Jogos Vorazes, Gale seria a pessoa com quem eu passaria o resto da minha vida junto. Logo, é insuportável presenciar a dor que ele está sentindo, mil vezes pior é ter ciência que ela foi causada por conta dos meus atos. Gale é o único que me conhece, sabe dos meus segredos, que cuidou de mim, cuidou da minha família quando não pude. Assim, infligir essa angústia, essa agonia amargurada nele mata-me aos poucos. Sento-me ao seu lado e pego suas mãos. Ele me afasta.

– Não Katniss... Por favor. É melhor eu ir embora, eu já entendi tudo.

– Gale, não é bem assim. Eu preciso de você! – Falo a verdade e sinto uma aflição genuína apertando meu peito.

– Não o suficiente. Você não precisa de mim, não mais. Você está apenas com remorso. – Gale diz dando à voz o tom de tristeza no lugar da raiva.

– Não, não é verdade. Você faz parte de mim... – Ele se levanta, põe a bolsa no ombro e se dirige para a porta da frente. - Não me abandone, por favor. Gale...

– Decida-se, Katniss, acabou seu tempo. Juro que eu não queria que fosse assim, mas eu só fico se achar que não vou continuar sofrendo. Você acha que foi fácil presenciar todos aqueles seus momentinhos românticos com o Peeta nas edições dos Jogos? Pois não foi! – Gale fala um pouco mais alto que o normal, irado. – Eu, eu... – Ele inspira profundamente - Eu era apaixonado por você, Katniss...

Encaramo-nos por longos segundos depois dessa afirmação. Franzo as sobrancelhas intrigada. Olho para baixo, quebrando o contato, evitando-o.

– Você não é mais? – Pergunto baixinho, pegando-o de surpresa. Imagino que ele não esperava que eu fosse perguntar justamente isso. Ele bufa pelo nariz, me segura firmemente pelos ombros e espera eu olha-lo.

– Infelizmente, sim. Sou louco por você. Algo quase incontrolável. Se dependesse de mim, eu não estaria perdendo meu tempo com palavras, estaria lhe beijando agora, sentindo sua pele, cheirando seu pescoço, tocando seus cabelos...Lhe mordendo. – Gale fala baixinho aproximando-se, entretanto ele se contem e suspira. - Mas não posso continuar sofrendo, eu não quero mais sofrer. Você vai ter que decidir, agora. Quem você escolhe, Katniss, eu ou Peeta?

Gale olha-me intensamente durante toda a sua declaração. Sinto todo seu amor através de suas palavras, assim como toda sua dor. Meu coração palpita, não quero fazê-lo sofrer, da mesma forma que não quero que nada aconteça com Peeta. Quero os dois, mais não posso ter a ambos. Tampouco tenho condições de escolher um ou outro. Gale foi corajoso e me enfrentou. De peito aberto expressou seus sentimentos e me cativou. Peeta por outro lado, ainda é um mistério, mas nada tão obscuro. Percebo que tudo o que sinto é retribuído e ainda há muito a ser explorado. Gale é o meu parceiro dos dias difíceis, das caçadas, da floresta. Peeta foi meu amante, meu companheiro, meu amigo e novamente meu amante.

E agora, quem eu escolho? A dúvida me assola, o tempo se exaure, o paradoxo se definindo, o fim se aproximando. Nada está decidido ainda, mas uma escolha tem que ser dita.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Particularmente, como já disse, para mim esse foi meu melhor capítulo, mas quero muito saber a opinião de vocês, críticas, ideias...Qualquer coisa. Até o XII... Rsrs (ótimas ideias para esse).
Beijo, Fernanda