A primeira aula depois do café era Herbologia, seguida de Transfiguração. Hermione e Gina tinham combinado de se encontrar logo antes do almoço.

–- Eu quero 40 centímetros de pergaminho sobre os Feitiços de Desaparecimento, e tragam um livro velho para praticarmos aula que vem. Estão dispensados. – a Profª McGonagall anunciou, e os alunos saíram às pressas para o almoço.

–- Mione, a gente só está prezando pela sua segurança! – Ron disse, exasperado.

–- Eu não sei de onde você tira essas coisas! Eu não estou afim do Malfoy! – Hermione disse, aos sussurros. Alguns sonserinos transitavam por perto, e ela realmente não queria que a informação (quase) falsa vazasse.

–- Nós vimos! Vimos como vocês se olham!

–- Eu, pelo menos, o olho apenas quando necessário, e com ódio. Além disso, ele nunca ia nem olhar pra mim, graças a deus.

–- Ah, Mione, mas aquele lá finge muito bem. Ele se arruma todo, fica te irritando... Aposto como gosta de você sim. E você, também, todo dia vem toda arrumada... Não tem como não reparar.

Hermione corou.

–- Não pense que dizer essas coisas vai mudar alguma coisa, Rony. De qualquer forma. Eu não estou me arrumando para ninguém. Mesmo se ele se arrumasse mais ou menos, eu nem ia reparar. É o Malfoy! E outra – Hermione dizia, enumerando nos dedos. –, aquele lá me irrita desde o primeiro ano. Acreditem, eu não dou mais importância para ele.

–- Não é o que parece... – Harry comentou, e Ron e Hermione o fitaram. Ele estava calado o caminho todo. – Não tem como não se irritar com a fuinha.

Hermione suspirou.

–- Realmente. Mas hoje em dia, eu dou menos importância que antes. Enfim. Vocês tem bosta na cabeça, só pode ser!

Gina vinha caminhando pelo corredor, e Hermione apertou o passo para alcançá-la. Os quatro caminharam para o refeitório, e começaram a comer.

As duas não comentaram nada sobre o assunto do café da manhã, e permaneceram em silêncio, para não levantar nenhuma suspeita para Harry, que encarava Hermione constantemente, com a sobrancelha arqueada. Vez ou outra, Ron cochichava alguma coisa para ele, que só assentia, mas permanecia em silêncio. Ele estava tramando algo, com certeza.

Quando acabaram de comer, as duas foram para a Sala Comunal, aproveitar o intervalo que havia para as próximas e últimas duas aulas do dia.

–- Gina, eu te disse. Ele está tramando alguma coisa! – Hermione disse, olhando para ver se não havia ninguém atrás delas.

–- Ai, Mione, eu acho que é coisa da sua cabeça. Ele está preocupado com os testes de Quadribol na sexta-feira. Que inclusive eu vou participar.

–- É? O que vai tentar?

–- Artilheira. Pelo visto está concorrido...

–- Você vai conseguir... É ótima jogadora!

–- É, eu espero que sim.

Dino Thomas passou por perto das duas, encarando Gina, que bufou.

–- Dino não consegue entender porque eu terminei com ele. Em dois dias, ele deveria ter se conformado!

–- Você pelo menos explicou o porquê?

–- Claro né? – Gina disse, cruzando os braços. – Não tava rolando mais. A relação já não era a mesma coisa faz um tempinho. Uma hora tudo acaba, não é?

Hermione assentiu.

–- Melhor assim, pelo menos não finge que ama, enquanto fica com outras garotas... – a garota disse, amargurada.

Gina a fitou, e deu um tapinha no braço de Hermione.

–- Apesar de sermos irmãos, eu pelo menos tenho o mínimo de cérebro, ao contrário do Ronald.

Hermione riu, mas não podia dizer que estava completamente feliz. Ia ser difícil recuperar a relação que os dois tinham antes do episódio perto da sala de Dumbledore.

Hermione fungou. Ainda doía a ideia de ter sido duramente dispensada. Mas, no momento, Ron parecia estar tentando acertar as coisas, o que, para ser sincera, não estava funcionando. Mas o que vale é a intenção, então, a garota estava abrindo espaço aos poucos para recuperar pelo menos a amizade.

As duas saíram mais uma vez pelo retrato da Mulher Gorda, com os materiais para as próximas aulas.

–- Então... Mais uma patrulha hoje, huh?

Hermione bufou.

–- Eu não vou conseguir olhar mais na cara dele depois de ontem. Pelo menos não nesse século.

–- E por que não? Agora que está dando certo!

–- Gina, eu descobri do pior jeito que é simplesmente impossível tentar fazê-lo provar do próprio veneno. Ele consegue me fazer ficar vermelha em dois tempos.

–- Porque é o que ele sempre faz. É questão de prática, Mione. Você sabe que está conseguindo...

–- De qualquer forma... É muito difícil.

–- Eu sei, mas você já fez coisas muito mais difíceis do que isso. Só continue assim, e ele vai ficar completamente louco. Ai... – ela socou a palma da mão. – aposta garantida.

Hermione deu de ombros.

–- E hey... sobre o vidrinho da discórdia...

–- Ah, eu te disse, estava com ele... Por algum milagre dos deuses ele não sabia o que era. Mas ele conseguiu me manipular, e eu tive que dizer que eram memórias de alguém.

–- Mas você está louca?! Agora que ele não vai desistir de te provocar mesmo. Você vai ter que ser incrível para dar a volta por cima...

–- Quero ver você tentar esconder alguma coisa de um cara particularmente gostoso, te pressionando de um jeito que não dá para escapar... – Hermione disse, exasperada.

Gina a fitou, com os olhos arregalados.

–- O que foi? – Hermione perguntou, corando.

–- Se deu conta do que acabou de dizer?

Hermione arqueou as sobrancelhas.

–- Disse que é realmente difícil esconder algo quando a fuinha está te pressionando.

–- Nada disso, você acabou de admitir que acha o Malfoy particularmente gostoso.

–- Eu disse isso? – a garota tapou a boca com as mãos.

–- Sim, você disse.

–- M-mesmo que eu não ache, realmente... Na verdade, eu não sei.

–- Claro que sabe! Convenhamos, Mione. Ele pode ser o que for, mas não pode negar de que o Malfoy é muito...

–- “Que o Malfoy é muito” o que, Weasley? – a voz esganiçada de Pansy Parkinson ecoou atrás das duas. Hermione retesou-se. Não poderia lançar mais um obliviate na garota sem levantar suspeitas.

–- Mas só pode ser brincadeira. Você não devia estar nas masmorras?

–- Onde eu deveria estar não te diz respeito, traidora do sangue!

Gina já ia partir para cima de Pansy, mas Hermione a segurou.

–- E então? Responda? O que você ia dizer sobre o meu Draco?

–- Em primeiro lugar, você devia parar de se meter onde não é chamada. Segundo, não te interessa o que eu digo sobre o Malfoy, porque ele não é sua propriedade privada. Que eu saiba, seu nome não está escrito nele. E terceiro, e não menos importante, você deveria saber que o que acontece quando se mexe comigo e com a Hermione. Mas se você não se lembra, eu refresco a sua memória. – Gina disse, sorrindo sarcasticamente. Hermione sorriu, mas deu uma cotovelada na ruiva, sem que Pansy visse.

–- Escuta aqui, sua pobretona ridícula... – Pansy aumentou o tom de voz. – pelo menos eu posso chama-lo de meu... Ele sabe dos meus sentimentos... – ela disse, e Gina fez uma expressão de nojo. – E você? Fica por aí, caindo de amores pelo Potter, e ele nem aí para você... Acho que já é o suficiente de Weasleys na vida d’O Eleito, você não acha? Não tem espaço para mais um.

–- Como é que é, garota? – Gina berrou.

–- Ele nunca ia querer uma barraqueira de última categoria, traidora do sangue como você!

–- Cala a boca! – Hermione meteu-se no meio das duas, furiosa. – O seu querido Draquinho não te ama, Parkinson! Ele sabe dos seus sentimentos? Ha! Grande bosta! Porque ele pisa em cima deles, não tá nem aí para você! Que moral você tem para falar?

–- Como você ousa dizer o que não sabe, sangue-ruim? – Pansy estava vermelha, com a varinha apontada para as duas.

O barulho dos sapatos da Profª McGonagall ecoou pelo corredor. Pansy encarou as duas, com ódio, e antes de girar os calcanhares, disse:

–- Vai ter volta, garota. E para você também, Weasley. Vocês vão pagar caro por isso!

Pansy sumiu de vista bem na hora em que a professora apareceu, com sua impecável poker face, analisando tudo o que acontecia. Hermione e Gina a cumprimentaram brevemente, antes de irem cada uma para suas próximas aulas do dia.

–- Já sabe. Depois do jantar, no dormitório. – foi a última coisa que Hermione conseguiu ouvir de Gina, que já estava correndo para sua próxima aula.