Talk - Coldplay

Oh, irmão, eu não consigo entrar em contato
Eu tenho tentado te alcançar
Porque eu não sei o que fazer
Oh, irmão, eu não consigo acreditar que isso seja verdade
Eu estou com tanto medo do futuro e
Eu quero conversar com você
Oh, eu quero conversar com você

Você poderia tirar uma foto de alguma coisa que vê
No futuro, onde eu estarei?
Você pode subir uma escada até o sol
Ou escrever uma canção que ninguém cantou
Ou fazer algo que nunca foi feito

Você está perdido ou incompleto?
Você se sente como um quebra-cabeça?
Não consegue encontrar a peça que está faltando
Diga-me como você se sente
Bem, parece que eles estão falando numa língua que eu não falo
E eles estão falando comigo

Então, você não sabe para onde está indo e você quer conversar
Você sente como se estivesse indo para onde esteve antes
Você dirá a qualquer um que ouvir, mas você se sente ignorado
E nada está fazendo muito sentido
Vamos conversar!

Tom

 Mais um dia em que os G´s foram visitar a Cléo e eu fiquei trancado neste apartamento apenas imaginando como estaria sendo o encontro deles. Permanecia esparramado no sofá com adivinha o que? Várias latas de cerveja a minha volta e uma sempre a mão. Notei que uma "barriguinha" começou a aparecer enquanto meus músculos simplesmente desapareciam. Essa bebida engordava mesmo, eu odiava aquelas pequenas banhas em mim, mas não me esforçava para perde-las. Sempre me preocupei em manter meu corpo atlético, eu sabia que as meninas gostavam. A rotina de shows também me ajudava sempre a manter o padrão " gostoso", mas aquilo já não me pertencia mais.
 Dia sim dia não, nos reuniamos com Jost e com outros caras da nossa equipe para discutir sobre o futuro do Tokio Hotel, futuro este que me amedrontava sempre que eu me dava conta de que o Bill não fazia mais parte dele. Eu percebia esse medo nos G´s também e no próprio Jost. O Bill não era a estrela do TH, ele era o Sol, e nós eramos os pequenos planetas que ficavam em volta recebendo luz e energia daquele astro supremo. Dependiamos dele para nos mantermos no auge e agora precisariamos de um vocalista substituto que tivesse no minimo uma voz tão clara e suave quanto a do meu irmão. Mas ele precisaria também sem dúvidas ter a mesma sensibilidade para compor, a mesma postura em palco, a mesma desenvoltura nas entrevistas, o mesmo sorriso cativante, o mesmo andar elegante e o mesmo estilo chocante. Quer saber de uma coisa? Seja quem for esse cara, eu já o odeio porque se ele ousar tentar ser o Bill eu mesmo esqueço que ele é membro da banda e faço picadinho dele. Ninguém se compara ao meu irmão, nem mesmo eu que sou o único irmão dele. Não existe nenhuma outra estrela comparada ao Sol, não existe nem uma que chegue aos pés dele e que brilhe mais. Não existe ninguém que aqueça tanto os nossos coraçãos quanto ele, não o Sol em si, mas sim o Bill.
 Deliro sempre em meus pensamentos que até chego a filosofar as vezes. O Bill estava certo quando dizia que a tristeza nos transforma em poetas. E que poeta triste e armagurado eu me tornei... Ah Bill, será que eu estou ficando igual a você?
 Meus pensamentos foram interrompidos quando os G´s entraram pela porta da sala, eu como de costume levantei-me do sofá e fiz a pergunta que sempre fazia a eles quando voltavam do Hospital:

- Como ela está?

- Se quiser saber como ela está vá até lá e descubra pessoalmente! - Georg me respondeu rispido enquanto jogava sua jaqueta no sofá.

- O que foi agora Georg? - perguntei o encarando.

- Como você pode ter coragem de perguntar como ela está se nem ao menos tem a capacidade de ir visitá-la? Já faz quase duas semanas que ela acordou Tom, eu e o Gustav vamos lá dia sim dia não e quando voltamos você vem sempre com essa maldita pergunta: "Como ela está?" Eu sempre respondo que ela está bem mas sabe qual é a verdade? Ela não está nada bem e hoje você pode ter certeza que ela está bem pior! - Ge exaltava-se muito, gritava impacientemente comigo como se me passasse sermão.

- O que houve com ela Georg? Qual é o problema afinal? - gritava de braços abertos alternando meu olhar entre ele e Gustav.

- Ela descobriu tudo. Não conseguimos mais disfarçar Tom. Tivemos que dizer a ela que você não está afim de ve-la, mas claro, não foram com essas palavras. - Gust me explicava calmamente.

- Vocês o que? - os questionei inconformado. O que aqueles dois sem noção haviam dito a ela afinal?!

- O que foi Tom? Vai ficar nervosinho com a gente? Não era isso que você queria? Ficar longe dela. Pois bem, saiba que quem te quer longe agora é ela. A Cléo nos disse com todas as letras que não quer mais te ver. NUNCA MAIS!

- Não exagera Georg. - Gustav girava os olhos para ele.

- Exagero? Qual é Gustav...Você também estava lá cara e ouviu o que ela disse.

- A única coisa que ela disse foi que era melhor vocês não se verem mesmo, porque para ela você é uma lembrança viva e torturante do Bill e que... - Gustav fazia força para pensar no resto, ajeitou os óculos e continuou - ... e que um encontro entre vocês faria mal a ambas as partes.

- Eu não acredito. - cai no sofá como se aquelas palavras tivessem me empurrado para este.

- Viu o que você e esse seu medinho idiota de ir visita-la fizeram? Ela está arrasada, ela não merecia isso Tom, não mesmo. - Georg falava como se quisesse me punir.

- Ok eu já entendi, eu já entendi. - comecei a chorar - Mas que droga, que merda! - disse virando a mesa de centro derrubando tudo que estava sobre esta. Depois apoiei a cabeça em minhas mãos permanecendo naquela posição por alguns segundos.

- Tom! - Senti as mãos de Gustav alisando minhas costas, ele se sentou ao meu lado no sofá apoiando o queixo em meu ombro.

- Eu...Eu não queria que as coisas acabassem desse jeito. Eu estava apenas deixando os dias passarem para criar coragem de ir ve-la. - ergui minha cabeça enquanto enxugava meu rosto com minha própria bandana. - Agora já era, a Cléo deve estar pensando que eu sou um...

- Tom, sabe o que ela também nos disse? - Gust me interrompeu - Ela disse: "Diga a ele que eu não sei o que de repente passei a sentir por ele..."

 Virei meu rosto para encara - lo rapidamente. Eu não havia entendido o que Cléo quis dizer com aquela frase. Que tal sentimento é esse que ela passou a sentir por mim? Poderia ser bom, poderia ser ruim, aquilo poderia significar qualquer coisa. Levantei-me do sofá, passei as mãos na chave do carro que estavam na estante ao lado da Tv e saí sem dar justificativa alguma da onde iria. A última coisa que ouvi ao atravessar a porta foi Georg perguntar:

- Aonde esse louco vai agora?

 Entrei em meu carro batendo a porta bruscamente. Quando sai da garagem do apartamento umas merdas de uns paparazzis filhas da puta tiraram algumas fotos minhas. Eu estava tão acabado que com certeza aquilo iria render alguns comentários. Depois que me livrei deles me senti a vontade para começar a falar comigo mesmo em voz alta. Essa era a minha melhor terapia.

- Tom Kaulitz você é a pessoa mais covarde e imbecil que eu já vi. Por que você deixou que um medo idiota te afastasse assim da Cléo?...Justo a Cléo que além de você é a única parte ainda viva que resta do seu irmão. Idiota, mil vezes idiota! O Bill deve estar com vergonha de você agora, mais que isso, ele deve estar triste por você ter a ignorado. Ridículo você pensar que a garota poderia se apaixonar por você, você se acha grande coisa não é mesmo? Mas olha ai sua pança de velho murcho, olha suas olheiras e essa sua barba mal feita. O que você quer da sua vida hein? Quer se tornar a pessoa mais broxante da face da terra? Quer que ninguém mais olhe para você? Não desvie seus pensamentos para a sua aparência, sem concentre apenas na Cléo e no que ela deve estar sentindo agora. Pense também em como você deixou o Georg profundamente irritado, pense também em todas as vezes que você quis se matar, mas não teve coragem porque sentia que algo ainda lhe prendia aqui na Terra. Pense agora no que você irá fazer para concertar tudo isto. Se pelo menos o Bill estivesse aqui para te aconselhar... Você daria tudo para ouvir a voz fina e irritante dele te passando um sermão não é mesmo? Depois daquele dia em que você passou praticamente 40 minutos se olhando no espelho porque jurou que o Bill havia falado contigo, você simplesmente não o ouviu mais. Será que ele se foi para sempre? Acho que não, você ainda o sente não é mesmo?! Você sabe que ele ainda está aqui.

- Sim, eu estou aqui Tom!

Pisei no freio do meu carro com tudo parando no meio da pista. Se ficasse no meio da estrada por mais dois segundos certamente uma jamanta passaria por cima do meu lindo Audi R8 e nos esmagaria. Fui até o acostamento e lá estacionei.

- Pronto Bill agora pode falar comigo! Vamos conversar!

Eu disse feito um bobo olhando para o banco do passageiro que permanecia vazio. Chamei pelo Bill mais umas 18 vezes e depois desisti. Meu irmão estava tirando com a minha cara, só podia ser isso. Ele falava comigo na hora que ele quisesse, mas quando eu queria aonde ele se enfiava? Novamente voltei a falar com ele:

- Tudo bem Bill, eu sei que você, aonde quer que esteja, está me vendo agora e eu vou fazer uma coisa que eu deveria ter feito a muito tempo. Eu queria que você dissesse algo realmente útil a mim, mas eu estou vendo que você não está muito afim não é mesmo?!  Parece que depois de morto você se tornou um homem de poucas palavras - sorri tirando sarro dele - Mas tudo bem, eu sei que você vai gostar e muito do que eu vou fazer agora. - dei partida no carro - Está na hora de começar a concertar algumas coisas e o Tom aqui vai entrar em ação e deixar todo mundo feliz. Pelo menos eu acho.


Bill

Durante duas semanas observei as atitudes do meu irmão na Terra. Eu sentia o medo assombroso que ele tinha em ver a Cléo e também sentia a tristeza dela cada vez que os G´s iam visitá-la sem o Tom. O que eu mais queria era que esses dois se encontrassem logo para que eu pudesse descer até lá e os ver de perto. Só que agora para piorar, o sentimento de medo era recíproco. Tanto o Tom quanto a Cléo tinham receio em se aproximar um do outro e isto realmente me angustiava, mas ao mesmo tempo me deixava feliz porque ambos eram fiéis a mim. Fidelidade é uma das virtudes que eu mais admiro, vindo deles então. Só que eu não posso me esquecer que eu, Bill Kaulitz, sou apenas uma página virada na vida desses dois, mas que a minha alma estaria em breve pronta para encontrá-los em minha outra vida para que juntos escrevêssemos uma nova história.
 Ainda sou totalmente ligado aos sentimentos que deixei na Terra, isso me faz sofrer e para que esse sofrimento pare de uma vez Tom e Cléo devem ficar juntos. Não posso pensar que eles estariam me traindo se engatassem um relacionamento, muito pelo contrário, eu teria que me alegrar por cada olhar de amor que eles lançassem um ao outro, por cada toque, cada palavra de conforto trocada, cada beijo e...E por cada vez que eles tivessem um ao outro na cama, através disso que eu nasceria.
 As vezes o Tom pode me escutar, eu sinto a todo momento que ele deseja falar comigo e eu estou sempre aqui pra ele. Só que manter contato é dificil. Tudo que eu mais queria era dizer a ele: " Tom, tudo vai dar certo, eu estou longe agora, mas eu voltarei para você. Quando você ver aquele bebê em seus braços, será a mim que você estará segurando."  Queria tanto que ele soubesse que vai ter um filho, isso o deixaria tão feliz e o faria abrir mais o coração para aceitar o amor. Queria poder conversar com ele, me sinto tão perdido quanto ele.
 Bem, agora meu irmão disse que vai fazer algo que certamente eu gostarei muito. Não sou capaz de prever todas as atitudes dele, será que ele irá visitar a Cléo e pedir desculpas a ela pelos dias em que deixou de vê-la? Pelo medo bobo que ele sentiu de encará-la? ...Por falar na Cléo, vou agora mesmo ver como ela está, sinto o coração dela se apertar aqui dentro de mim, isso só pode significar uma coisa: Ela está sofrendo.