Enquanto estamos indo pra casa percebo alguns olhares em nossa direção a principio acho que é só por nós estarmos juntos de mãos dadas, mas quando olho pro Peeta me lembro que nós estamos completamente sujos de tinta.
- Peeta! – eu falo um pouco alto como se tivesse levado um susto.
- O que foi? – ele para e pergunta com uma cara meio preocupada.
- Você já viu como nós estamos? – pergunto erguendo um pouco os braços e me olhando até os pés.
- O quê que tem?
- Como assim o quê que tem? Nós estamos todos sujos, tá todo mundo olhando pra gente.
Ele volta a andar e diz.
- Eles estão com inveja por que mesmo toda suja você continua linda.
Ainda bem que eu estou com o rosto pintado também por que com certeza eu fiquei vermelha.
- Minha aposta é exatamente o contrário, eles estão impressionados com a SUA beleza mesmo por debaixo de tudo isso – eu amostro com o dedo seu corpo dos pés a cabeça.
- Bom eu duvido muito, mas se você diz – ele dá de ombro.
Já estamos próximo à vila quando ele diz que vai dá um pulo em casa pra tomar banho e trocar de roupa e depois vai lá pra casa; eu concordo, afinal eu também tenho que tomar um bom banho até essa tinta toda sair. Quando entro em casa Greasy está terminando de fazer o almoço e se vira pra me cumprimentar, quando ela me vê vem em minha direção perguntando o que aconteceu, então eu conto o que aconteceu lá na padaria e do quanto nós nos divertíamos de um jeito que eu não me divertia há muito tempo, aliás acho que foi um tipo de coisa que eu nunca me permiti antes, e foi muito bom.
- Ah Katniss eu estou tão feliz por você, por vocês na verdade, eu sei que não aconteceu muita coisa mas ao mesmo tempo vocês se divertiram, você saiu de casa e já foi um grande avanço você não acha?
- É, realmente, e eu tenho que te agradecer por me abrir os olhos eu tava precisando mesmo.
- Imagina Katniss, não foi nada. Eu só quero que vocês sejam muito felizes. E eu gostaria de fazer um convite.
- Um convite? Estou ouvindo.
- É que eu estava olhando o armário e vi que não tem quase nada e preciso ir ao mercado então eu gostaria de saber se você não me acompanharia? – ela levanta as sobrancelhas esperando a resposta.
- Claro, eu vou sim. Agora eu preciso tomar um banho pra tirar toda essa tinta, Peeta já deve está voltando para o almoço, aliás, você sabe onde o Haymitch se enfiou?
- Ele ficou aqui por um tempo e depois foi pra casa, com a ressaca que ele tava deve ter se trancado naquele quarto dele. – ela me responde revirando os olhos e rindo, provavelmente deve ter sido isso afinal hoje de manhã ele já estava com os sinais da ressaca.
Subo as escadas correndo e vou para o meu quarto escolho uma roupa e me lembro mais uma vez de como eu quase não as tenho, e anoto mentalmente que devo ligar pra Effie pra pedir que ela me mande algumas roupas, nada muito do estilo dela é claro. Depois de escolher uma camiseta preta e uma calça jeans me dirijo ao banheiro e coloco a banheira pra encher, essa é uma das coisas que essa casa me oferece que eu mais gosto, um bom banho morno de banheira. Enquanto a banheira está enchendo penso em sentar na cama, então me lembro que estou toda suja por isso acabo sentando no chão encostada na parede de frente pra banheira e começo a repassar o que aconteceu essa manhã, como eu me senti alegre enquanto estava com Peeta, como nós nos divertimos. E eu quero me sentir assim mais vezes, antes eu me sentia obrigada a viver mal e triste já que eu perdi tantas pessoas, só que agora eu estou começando a entender que se eles se foram foi por um motivo, por uma causa, e essa causa era para que o povo de toda Panem pudesse ter uma vida melhor, e me recusar a viver estava simplesmente desperdiçando suas vidas e isso eu não ia fazer de jeito nenhum.
Percebo que a banheira já está cheia, tiro minha roupa e entro nela começo a me esfregar e a água antes clara e transparente começa a ficar alaranjada.
Péssima ideia devia ter tomado banho no chuveiro – eu penso.
Mas agora já era tarde demais eu já tinha perdido muito tempo esperando a banheira encher pra simplesmente tomar banho de chuveiro me recuso a sair e continuo me esfregando pra retirar toda tinta, o que me custa um bom tempo e esforço mas no final eu já estou limpa.
Me visto, penteio meu cabelo com um rabo de cavalo, desço as escadas e encontro Peeta e Greasy na cozinha, pelo visto ele está ajudando ela a colocar os pratos na mesa. Ele se vira e me encontra observando os dois.
- Até que enfim, já estava quase indo lá em cima ver se você não tinha se afogado na banheira – ele diz cruzando os braços e me olhando de cima a baixo. – Bom pelo menos você conseguiu um bom resultado e, aliás, o que houve com a trança? – ele se aproxima e balança meu ‘’rabo de cavalo’’, afasto a mão dele com um tapa e o olho forçando uma cara de brava.
- Ei tire suas mãos do meu cabelo ok? E hoje eu resolvi mudar, por que ficou muito ruim? – pergunto e ergo as sobrancelhas esperando uma resposta.
- Não, claro que não. Ficou ótimo, e é sempre bom mudar acho que combinou com você.
- Verdade Katniss, ficou muito bom. – Greasy diz com um sorriso.
- Obrigada, podemos almoçar agora? Estou morrendo de fome – passo a mão na barriga pra indicar a fome.
- Claro, já está tudo pronto.
A comida realmente estava boa, depois de terminarmos o almoço, Peeta me perguntou se eu iria voltar com ele pra padaria e eu falo pra ele que eu vou ao mercado com Greasy, ele entende e fica até feliz por eu estar saindo um pouco de casa, então quando ele sai pra padaria nós lavamos os pratos e enquanto arrumamos tudo, ela me conta de algumas mudanças que o distrito está tendo desde o fim da revolução. Terminamos a arrumação e saímos, enquanto estamos indo para o mercado que ficava no antigo Prego - porém agora já não é mais um mercado negro e sim um mercado legalizado onde todo o pessoal faz suas compras já que agora os salários das minas é algo justo e os preços das coisas não são tão altos – vejo as mudanças que Greasy falou, tem uma praça com dois bancos onde estão algumas pessoas, as ruas estão limpas e sem aqueles buracos de antes, aliás, todo o lugar está limpo, as casas estão com uma aparência bem melhor e pintadas, podemos ver crianças brincando de roda, com sorriso no rosto, muito diferente do que era antes, crianças mal saíam de casa e quando saíam não eram pra brincar, sorrir. Enquanto ando parece que a ficha começa a cair, finalmente eu começo a entender pelo que nós realmente lutamos, começo a sentir algo parecido com satisfação, claro que a dor de tudo que me aconteceu está aqui, todas as mortes e perdas, mas agora finalmente estou começando a enxergar a razão e a certeza de que não foi em vão me surge cada vez mais. Chegamos ao mercado, Greasy pega as coisas que estavam faltando enquanto eu recebo sorrisos e alguns apertos de mãos de pessoas que eu nem mesmo conhecia, mas elas com certeza me viram nos jogos e na revolução, então eu retribuo os sorrisos o mais simpática possível embora confesse que não me sinto muito bem, eu estava acostumada a ser ignorada, as únicas pessoas com quem eu falava era o pessoal do Prego e mesmo assim era apenas pra negociar. Greasy termina as compras e retornamos pra casa, ela deixa as compras lá e eu digo a ela que ela já pode ir, afinal o trato é ela ficar até o almoço, ela também tem que cuidar da sua neta, ela concorda e vai embora me deixando deitada no sofá já estava quase pegando no sono quando ouvi o barulho da porta sendo aberta.
- Droga Haymitch por que você não bate antes de entrar. – digo com raiva.
- Ah docinho, quanta hostilidade afinal eu já sou de casa – ele diz se jogando no sofá por cima das minhas pernas, eu solto um grito e retiro minhas pernas de debaixo dele.
Ele continua falando; - Nós já somos uma bela e linda família – e me abraça deixando seu rosto e seu hálito de álcool próximo demais.
- Ei afasta aí, já estou quase ficando bêbada. – e afasto meu corpo do dele me colocando de pé. – você já tomou banho hoje?
- Docinho eu nem almocei ainda quem dirá tomar banho.
Eu paro por alguns instantes olhando pra ele e agora eu me dou conta de que ele também está tentando se manter vivo, do jeito dele mas está, e esse fato só me mostra o quanto eu estava sendo egoísta, as únicas pessoas que estão do meu lado, estão sofrendo e eu trancada no porão da minha dor sem dar nenhuma atenção a elas, primeiro Peeta que perdeu toda a família, foi sequestrado, torturado e mesmo assim continua do meu lado, e agora Haymitch, ele pode não ser a pessoa mais amável, simpática e apaixonante, mas do jeito dele ele sempre esteve do meu lado, nos primeiros jogos ele me escolheu, escolheu me tirar com vida de lá, e conseguiu mais do que isso afinal dois tributos venceram e teve depois mesmo no distrito 13 com todo ódio que eu estava dele por ter me escondido o plano dos rebeldes mesmo lá ele estava por perto, talvez por outros interesses também mas eu sei que ele genuinamente gosta de mim, e eu dele, mesmo que ambos não saibamos como mostrar, então adiciono mentalmente a minha lista que quero ajudar Haymitch, não sei como, mas quero que ele possa sentir pelo menos uma ponta do que eu senti hoje quando estava com Peeta.
Ele me olha com as sobrancelhas erguidas esperando eu falar algo, como eu não falo é ele quem diz. – E então queridinha, será que você e o garoto deixaram alguma coisa pra mim aí?
Então volto pra terra, me levanto preparo um prato do que sobrou do almoço e dou pra ele, ele termina de comer e se deita no sofá, quando eu ia chamá-lo percebi que ele tinha pego no sono então subo e vou para o quarto, deito na cama e me perco nos meus pensamentos.