Após a ''Esperança'' escrita por HungerGames


Capítulo 14
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

''...Que tipo de proposta a diretora da escola pode ter pra mim? Se ela planejava me esclarecer algo apenas me confundiu mais ainda, eu permaneço olhando pra ela, esperando que ela continue''...



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Meu rosto ainda deve está registrando toda a minha confusão e como eu não falo nada deve confirmar ainda mais.
– Será que você teria alguns minutos – ela pergunta apontando com a cabeça o canto da padaria que está vazio.
– Oh, sim, claro – eu falo como se estivesse sendo despertada.
– Você disse que teria uma proposta pra mim? – pergunto já curiosa, por mais que eu pense não consigo entender que tipo de proposta pode ser essa.
– Sim – ela diz sorrindo. – Como eu disse eu sou a nova diretora do colégio, há alguns meses na verdade.
– Mas você não é daqui do distrito é? – já que ela não se parece muito com ninguém daqui.
– Não, não sou. Eu era do Distrito 4, mas depois das mudanças que começaram a ocorrer eu me transferi pra cá. – ela fala me explicando, mas ainda não entendo nada.
– Bom, eu vou explicar. Vou tentar ser breve – ela fala sorrindo e muito simpática – Depois da Revolução e com a nossa nova forma de governo, algumas mudanças foram feitas nos principais distritos, o que incluí principalmente do 1 ao 4. – ela segue explicando. – Alguns recursos eram mais favorecidos nesses distritos do que nos restantes, então começaram essas mudanças, escolas, hospitais, centros de treinamento, mas pra que isso acontecesse também eram necessário pessoas que estivessem dispostas a participar dessa mudança – ela continua falando, e eu estou ainda digerindo toda a informação, não sabia como as coisas estavam acontecendo fora daqui, claro que eu percebi algumas grandes mudanças que o distrito teve mas não sabia como tinham acontecido.
– Bom, pessoas foram escolhidas, nomeadas, indicadas e voluntariadas, pra fazer esses serviços e ajudar nos distritos, eu fui uma delas, e agora sou a nova diretora da escola. Várias mudanças estão ocorrendo, ainda existem muitos pontos a serem melhorados, mas acredito que já avançamos bastante.
– Eu ainda estou tentando entender que tipo de proposta pode ser essa – falo ainda sem saber onde me encaixo.
– Em primeiro lugar, foi graças a você que tudo isso começou, você foi a nossa referencia – ela fala orgulhosa, mas eu não me orgulho. – em segundo lugar, nós temos algumas oficinas dentro da escola, como leitura, pintura e música – então ela dá uma pausa antes de continuar – só que acontece que nossa professora de música está grávida, e teve que se ausentar pelo menos por um tempo da escola, tentamos encaixar as crianças em outras atividades mas sem muito sucesso, elas amam a aula de musica e foi aí que uma das professoras, lembrou que você tem uma voz excelente, e leva muito jeito pra isso, nós todos vimos na verdade, e então surgiu a ideia da proposta.
Eu estou completamente sem palavras, não esperava isso, eu dando aula de musica? Nunca imaginei isso, eu cantava com meu pai apenas, só cantei nos jogos por que Rue me pediu, e a segunda vez que eu cantei eu esqueci que estava sendo filmada, não sei o que dizer.
– Você não aceitaria ser nossa professora substituta? Pelo menos por enquanto? – ela pergunta aguardando a resposta.
– Não acho que seria uma boa ideia, eu nunca me imaginei fazendo algo assim! – eu digo ainda perplexa.
– Você não precisa me responder agora Katniss, amanhã é domingo e a escola não abre, mas eu estarei esperando você na segunda. – ela fala estendendo a mão novamente pra mim, eu aperto.
Então ela se vira pra sair, antes de alcançar a porta ela me olha novamente e fala:
– Mas pense bem Katniss, seria muito bom ter você conosco, e acho que faria bem pra você também – então ela vai.
Ainda estou parada olhando pra porta, tentando entender como foi que isso aconteceu, eu acabei de ser chamada pra ser professora de musica, eu não posso, simplesmente não posso. Ainda estou tentando digerir quando Peeta chega até a mim.
– O que a diretora da escola queria com você?
– Você sabia que ela é a nova diretora? – eu pergunto ainda tentando entender tudo.
– É, sabia. Ela já veio algumas vezes aqui antes. – ele fala dando de ombros. – Mas que cara é essa? – ele pergunta quando percebe minha cara de surpresa. – Não me diga que você vai voltar pra escola?
– Ela me chamou pra ser professora Peeta! – eu falo como se fosse a coisa mais estranha do mundo.
– Professora? – ele pergunta também sem acreditar.
Eu concordo com a cabeça.
– Como assim? De que? – ele pergunta querendo saber mais.
– De música! Parece que a outra professora vai ter que ficar afastada, e eles pensaram em mim já que me viram cantando. Eu não sei!– eu falo dando de ombros.
– Você aceitou? – ele pergunta me encarando.
– O quê? Não! Claro que não – Eu falo rapidamente.
– Por que não? – ele pergunta.
– Peeta, isso nunca daria certo, eu não levo jeito pra isso, eu não conseguiria soltar uma única nota na frente das crianças e... Não dá. – eu falo sem nem saber por onde começaria.
– Kats, se te chamaram é por que acham que vai dar certo – ele fala enquanto segura meu queixo me forçando a olhar pra ele. – E eu acho que seria uma boa pra você, Hoje mesmo você disse que não aguenta ficar em casa sozinha.
– Eu sei, mas daí começar a dar aulas é diferente. – eu falo desviando o olhar dele, ele procura meu olhar de novo e começa a falar.
– Kats, você já parou pra pensar que você pode estar ajudando essas crianças, sabe depois de tudo que aconteceu, as coisas estão melhorando, estão finalmente melhorando, você não gostaria de fazer parte de algo assim? – ele me pergunta.
– Eu já fiz parte de muita coisa que eu não queria. – eu falo com um tom de voz ríspido e indiferente.
– Tudo bem, a gente conversa melhor quando eu fechar aqui pode ser?
– Não tem o que conversar, já disse que não! – eu falo séria, e me virando pra sair. Ele segura meu braço.
– Onde você vai? – ele pergunta preocupado.
– Vou pra casa. Depois a gente se fala – e saio andando.
Enquanto eu estou fazendo o caminho pra casa, tudo que a diretora falou passa na minha cabeça. Como eles podem achar que isso vai dá certo? Não dá! Eu nunca me imaginei nem em um milhão de anos fazendo isso, como que eu vou entrar numa sala cheia de crianças que provavelmente perderam alguém na vida por causa de uma coisa que eu comecei, como eu posso fazer isso? Não. E eu nem sei por que ainda estou pensando nisso. Eu já tenho minha resposta, eu não posso fazer isso.
Não demora muito e eu chego em casa, subo as escadas e me jogo na cama, por mais que eu já tenha tomado minha decisão isso não sai da minha cabeça, eu tento pensar em outras coisas mas na verdade não há muito o que se pensar. Eu continuo tentando não pensar nisso, até que eu pego no sono, quando acordo já está escuro lá fora, eu desço e encontro Peeta entrando em casa.
– Oi! – ele diz enquanto se aproxima.
– Oi!
– E aí como você está? – ele fala me observando.
– Bem. – eu respondo não muito certa disso.
Ele se aproxima e me dá um rápido beijo.
– Você pensou melhor? – ele fala ainda próximo de mim.
– Eu já pensei Peeta, e eu já te disse minha resposta. – eu falo me afastando já irritada.
– E você não quer pensar melhor. Kats pode ser uma boa pra você – antes que ele continue eu o interrompo.
– Não Peeta – eu falo um pouco alto demais, pegando ele de surpresa e então diminuo a voz – Não tem o que pensar, eu já disse que isso não faz o menor sentido. Eu não vou dar aulas, eu não ia conseguir, com todas aquelas crianças – eu paro de falar, tentando achar as palavras certas.
– O que tem as crianças? – ele pergunta com o tom de voz baixo como se pra evitar me irritar, mas não adianta.
– Como assim, o que tem as crianças Peeta? Com certeza elas perderam alguém, viram tudo que aconteceu, agora você quer que eu entre numa sala com dezenas delas me olhando sabendo de tudo que eu fiz? – eu falo pausando então continuo a falar lentamente pra ele entender – Eu não consigo!
– Katniss, por que você não tenta ver isso de um outro jeito, da oportunidade de fazer parte de algo melhor, de algo realmente bom dessa vez. Pensa nas crianças que você vai está ajudando – então eu o interrompo de novo.
– Não Peeta! – eu falo mais uma vez alto demais – Eu não sou como você! – eu falo irritada – Eu não sou perfeita! – eu falo e ele para e me olha.
– Eu também não sou perfeito Katniss, não mesmo – ele fala como se eu tivesse magoado ele.
– Não, mais você é sempre o certo, sabe o que falar, o que fazer, você pensa em tudo, tá sempre pensando num bem maior. Mas eu não sou assim Peeta, não sou e nem nunca fui. – eu falo tudo de uma vez já exaltada e continuo – Eu não consigo ser assim como você é. Você é sempre tão perfeito, olha só pra você, depois de tudo e você ainda tá pensando numa coisa melhor pros outros. – eu falo e só agora percebo a expressão de dor no rosto dele. – Eu só quero seguir minha vida Peeta, sem ter que me lembrar a cada minuto de tudo isso. – eu falo já mudando o tom da minha voz.
Ele fica em silencio por alguns segundos apenas me olhando, e odeio a sensação que eu estou agora, de tê-lo magoado de algum jeito.
– Katniss, a decisão é sua. Mas eu realmente acho que você pode fazer muito mais do que você já fez. – ele fala sem elevar a voz – O que aconteceu antes, a revolução, foi pra chegarmos ate aqui, mas se nada for feito pra continuar melhorando de nada adiantou o resto. E sim, eu ainda penso num futuro melhor, eu perdi muita coisa, pra simplesmente cruzar meus braços agora e deixar as coisas se ajeitarem sozinhas. – ele fala me encarando – eu não queria ter passado por tudo que eu passei, mas eu passei. Agora eu não vou virar as costas para o que está acontecendo, as coisas estão mudando, finalmente eu vejo que pode ter algum futuro melhor, e eu quero fazer parte disso. Se você acha que é fácil pra mim você está enganada – ele me fala, totalmente magoado.
– Peeta não foi isso que eu quis dizer – eu falo me desculpando tentando explicar – Eu sei que não é fácil. – eu falo me aproximando dele, ele permanece parado me olhando, me sinto horrível sabendo que eu magoei a única pessoa que sempre esteve comigo, ele era a ultima pessoa que eu queria magoar, então quando me aproximo mais dele, eu o abraço forte, a principio ele não faz nada, e eu me sinto apavorada com a ideia dele me rejeitar, até que ele corresponde ao abraço.
– Peeta, me perdoa – eu falo e as lagrimas escorrem – é isso que eu to falando – eu falo ainda abraçada nele – eu sempre faço tudo errado. Como que eu posso fazer alguma coisa boa pra essas crianças?
Ele solta nossa abraço e segurando meu rosto pra ficar de frente por dele ele fala.
– Katniss, você pode. Eu sei disso. Você está com medo e isso é normal, mas tenta pelo menos. Você mesma disse que é temporário. – ele fala me olhando e embora eu possa ver que ele ainda está magoado pelo que eu disse, ele ainda me apoia, ele ainda está aqui. E novamente eu tenho certeza de que eu não sou boa o suficiente pra ele. Mas eu também não posso e não vou abrir mão dele. Eu não sei como eu fazer isso, mas eu vou tentar.
– Tudo bem – eu falo bem baixo – Eu vou tentar.
Ele me força um sorriso e me abraça mais uma vez, e agora eu sei que o Haymitch realmente estava certo quando ele me disse um vez, que eu poderia viver cem vidas e ainda assim não merecer ele, ele não podia está mais certo quando disse isso. Enquanto eu abraço Peeta, eu me apavoro com a possibilidade de um dia ele perceber que eu não sou boa o suficiente pra ele, do quanto ele merece alguém melhor, e só esse pensamento me angustia, não posso pensar na possibilidade de continuar sem ele por perto, e eu prometo a mim mesma que eu vou tentar, por ele.
– Você não está sendo obrigada a nada Katniss! Essa é sua decisão. – ele fala enquanto ainda estamos abraçados.
– Eu sei – eu falo e dou uma pausa – Mas talvez você esteja certo, eu já fiz tantas coisas que eu não me orgulho que talvez essa seja realmente uma oportunidade de fazer uma coisa boa.Eu só não sei como eu vou fazer isso.
– Faça uma coisa de cada vez. – ele fala enquanto solta nosso abraço e me oferece a mão pra subirmos.
Nós subimos as escadas, e vamos dormir. Mas minha cabeça não para nem por um minuto, eu não sei como eu vou fazer isso, mas talvez Peeta realmente esteja certo, afinal, isso é uma coisa boa. E eu já causei tanto estrago que talvez de alguma forma eu consiga ao menos compensar com alguma coisa boa, eu começo a me lembrar de como eu gostava das aulas de musica quando eu era pequena, quando eu ainda podia pensar em alguma coisa além de me manter viva, e eu lembro que eram as melhores horas do dia, eu sempre chegava em casa animada por ter aprendido uma canção nova e então meu pai se juntava a mim e nós cantávamos até não aguentarmos mais, enquanto lembro disso as lagrimas escorrem pelo meu rosto com uma mistura de dor e saudade. Mas ainda me lembro de que eram bons momentos e se eu de alguma forma eu puder colaborar pra que alguma criança sinta o que eu sentia nesses dias eu decido que eu quero fazer isso. Meus pensamentos se vão por mais algum tempo até que eu durmo. Quando eu acordo Peeta ainda está dormindo, eu permaneço deitada olhando pra ele, a calma e a serenidade que ele passa quando está dormindo, o quanto ele sempre está do meu lado, e o quanto eu fui estúpida com ele ontem, tudo isso passa pela minha cabeça enquanto eu o observo. Eu sei o quanto é difícil tudo isso pra ele e mesmo assim eu falei coisas que não deveria ter falado pra ele e eu me sinto horrível por isso.
Depois de alguns instantes eu passo meus dedos no contorno do rosto dele, afastando alguns fios de cabelo de sua testa e então ele acorda, seus olhos azuis que tanto me passam segurança e ao mesmo tempo os únicos que tem o poder de me deixar angustiada com o pensamento de perdê-lo.


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