Antes, quando Natasha dormia no ginásio sempre acordava dolorida por permanecer por horas encolhida em algum canto. Agora, porém, ela despertava em um dos bancos, com a jaqueta de Steve cobrindo seus braços.

-Bom dia Natasha, dormiu bem?

-Na medida do possível, sim. E você, nunca dorme?

-Dormi por bastante tempo, na verdade.

Ele lhe entregou um capuccino gelado com canela, seu favorito.

-Como descobriu que eu gosto do meu capuccino assim?

-Talvez, só talvez, alguém tenha comentado comigo sem querer...

-Droga, Clint tem que parar de dar informações sobre mim com tanta facilidade.

-Claro, posso tentar te matar caso saiba qual o café que mais gosta.

-Sem ironias, Steve. De qualquer modo, alguém poderia me envenenar com isso.

-Pode ter certeza que essa não é uma das minhas intenções.

-E quais são suas intenções, capitão Rogers?

-As melhores, senhorita Romanoff.

Steve sorriu e levou as embalagens dos cafés até o lixo. Há algum tempo eles vinham fazendo esse tipo de jogo (muito influenciado por Barton, inclusive) mas Natasha nunca sabia se ele levava a sério as brincadeiras ou entendia que era impossível estabelecer uma relação com ela. Ela só sabia de uma coisa: o capitão tinha ficado muito abalado quando ouviu pela primeira vez o nome de Sharon Carter.

-E então, vai em alguma missão hoje ou apenas treinamentos?- ele sentou novamente a seu lado.

-Ainda não sei...Steve, posso te fazer uma pergunta?

-Fique à vontade.

-Qual a sua relação com a Agente 13?

-Que Agente 13?

-Sharon Carter.

E então aconteceu novamente. A expressão fugiu do rosto de Steve, deixando um grande vazio decepcionado. Ele olhou-a profundamente, suspirou e por fim falou:

-Ela tem o mesmo sobrenome da Peggy.

Levou certo tempo até que a Viúva se lembrasse que Peggy era o nome da primeira pessoa que, segundo os registros, exigiu uma expedição de salvamento para o Capitão América.

-Era sua namorada?

-Não...eu caí no mar antes que pudesse ter um encontro com ela.

-Sinto muito- Natasha apoiou sua mão no ombro dele, de modo reconfortante.

-Tudo bem, já faz muito tempo.

O toque da mão de Steve sobre a sua era suave, mas ela sabia que seu coração estava pesado. Para ele, os anos em que esteve congelado não passaram: era como se fosse chegar em casa naquela noite e se arrumar para encontrar Peggy Carter.

-Oi.

Os dois tomaram um susto ao ver ali, de repente, Hawkeye os observando de modo curioso.

-Clint, que mania de surgir!

-Bom dia pra você também, Nat. O diretor está pedindo pra você ir até a sala de treinamentos 4, acho que ele pode ir junto- Barton apontou brevemente para o capitão.

-Ok, você vem?

-Acho que sim, se ele me mandou avisar...

Os três se dirigiram então à famosa sala de treinamento 4, mas não encontraram Nick Fury lá. No lugar dele, estava uma figura conhecida de Natasha: uma mulher loira, alta, de olhos castanhos e expressão culpada. No entanto, ela não teve tempo de se surpreender pois Sharon Carter atacou-a.

A Black Widow desviou habilmente do soco de Sharon, mas seu golpe também não acertou. O que se seguiu foi uma sequência hábil e rápida de golpes, até que finalmente Natasha conseguiu derrubá-la , puxar sua arma e encostá-la na testa da adversária.

-É hora de você morrer, sua vaca!

Porém, nesse instante a porta da sala se abriu com um estrondo.

-Boa atuação, Agente Romanoff.

-Diretor? O que significa isso? Você sabia que essa traidora estava aqui na SHIELD?

-Nós decidimos dar uma segunda chance à Agente 13 e esse era o teste de readmissão dela.

-Mas isso é absurdo! Carter é uma traidora!

-Lembre-se de que algum tempo atrás você também era inimiga da SHIELD, Natasha Romanoff.

Tudo que ela pode fazer foi encarar a loira com uma expressão de ódio, nunca iria tolerar sua presença ali. Numa atitude impensada Natasha avançou até a mulher, sendo impedida de atacá-la pelos braços de Steve em volta de sua cintura.

-Agente Romanoff você não é paga para questionar minhas decisões, mas para cumprir ordens. A Agente 13 está de volta e irá permanecer até que eu decida o contrário. Controle seus impulsos, eu não espero ver outra cena como essa.

Fury saiu da sala assim como entrou, sem explicação alguma, levando a agente com ele.

-Nat, o que foi aquilo? Também não me agrada tê-la de volta, mas eu nunca te vi com uma reação assim antes.

-Clinton, você sabe muito bem que eu tenho motivos de sobra pra querer matar aquela desgraçada.

-Você quer dizer...ainda não superou, Nat?

-Já, mas isso não significa que eu a perdoei.

A ruiva saiu da sala, mas os dois não podiam deixá-la sozinha depois daquele surto de fúria. Enquanto seguiam-na, Steve tentou descobrir o motivo daquele descontrole e a resposta não o agradou muito.

-O assunto em questão é o único amor da Natasha. Eu se fosse você, não falaria disso com ela.

O corredor pareceu se arrastar mais depois daquela informação e ela parecia cada vez mais longe. Ou talvez fosse só a agilidade sobrenatural da espiã, ele não sabia direito. A única coisa que tinha certeza era que existiam muito mais fraquezas naquela mulher do que ela deixava transparecer, o que o deixava cada vez mais desnorteado e curioso. Peggy fora uma mulher à frente de seu tempo, mas Natasha era um desafio para os outros e para si mesma.

Os dois só conseguiram alcançá-la em seu escritório pessoal, entraram na sala e ouviram o clique da chave eletrônica.

-Ok, agora me escutem vocês dois. Só eu acho absurda essa história de teste de readmissão? Por que raios o Fury mandaria a Carter lutar comigo? Não faz sentido.

-Você é uma das melhores agentes da SHIELD, talvez ele quisesse saber como a mulher se sairia lutando contra você.

-Na verdade, capitão Rogers, eu concordo com a Nat. Nick Fury sempre testou seus agentes pessoalmente, não tem motivos para mudar isso depois de tantos anos.

-Além disso, esta é uma organização de espionagem e segurança: qualquer informação é preciosíssima. O que menos faz sentido é ele readmitir uma traidora perigosa como a Sharon Carter.

-O que ela fez de tão errado, afinal?

-Seu uniu a vilões e matou um dos nossos agentes mais importantes, só pra começar- Barton lançou um olhar significativo para o outro, que compreendeu imediatamente.

-De qualquer modo, há alguma coisa muito errada nisso. E se quisermos saber o que Nick Fury tem feito há cinco dias trancado em seu escritório, vamos ter que agir duplamente. Vocês estão comigo?

-Claro –Clinton e Steve responderam ao mesmo tempo.

Os três apertaram as mãos e seguiram até o subsolo, em direção ao banco de dados da SHIELD. Era hora de começar sua mais perigosa missão, que abalaria drasticamente as estruturas da maior organização secreta do mundo.