Depois que Jason foi embora, eu não sabia o que fazer.

Será que ele voltaria?

Bem, eu esperava que sim. Sem ele ali, eu me senti... vazia. Eu não deveria me sentir assim, deveria esquecer toda aquela história, voltar e me casar com Maxon.

Mas sinceramente, eu comecei a questionar. Comecei a questionar tudo. Uma das coisas que eu sempre quis foi um amor que me consumisse. Eu amava Maxon intensamente, mas Jason significava algo muito especial para mim.

Por que eu me apeguei a Jason dessa forma? Por que ele me fazia questionar todas as certezas que eu já tinha? Por que, de um dia para o outro, eu não conseguia pensar em mais nada além disso?

E quando ele saiu naquele moto, o chão desabou. Eu não sabia o que falar com Maxon, depois que descobri que ele já teve um antigo amor que também foi o antigo amor de Jason. E o pior é que essa garota se parecia comigo. Eu não queria me sentir uma espécie de substituta.

– America, olha eu... - Maxon tentou explicar, mas no momento em que olhei em seus olhos, acho que ele entendeu o recado.

Eu só queria jogar tudo pra cima e voltar aos meus 15 anos na casa da árvore. Tudo seria tão menos complicado...

Completamente anestesiada por aquela conversa reveladora, voltei para a caverna e me deitei na rede improvisada pelos dois. Quando me virei de lado, porém, senti uma coisa me incomodar no bolso de trás - a moeda. Tirei-a do bolso e automaticamente me lembrei de Aspen. Se ele estivesse ali, seria o único capaz de me fazer sentir melhor. Ele pelo menos não me escondia segredos. Sua ausência me matava mais que tudo...

Fechei os olhos e adormeci rapidamente, na tentativa falha de encontrar alguma paz sonhando.

Mal sabia eu que aquele sono significaria meu pior pesadelo no momento em que abrisse os olhos.

***

"PÁ!"

Acordei assustada, com barulhos de tiro vindo de todas as direções. Tentei levantar, mas sentia meu corpo mole, o que era estranho - eu não tinha desmaiado.

Não conseguia me mover.

Até que olhei para os lados e me dei conta do que estava acontecendo. Minha primeira reação foi gritar e pedir ajuda, mas alguém atrás de mim tapou minha boca no exato momento.

– Nem pense nisso, ruivinha. - era uma garota.

– NÃO TOCA NELA! - alguém gritou para a garota.

Droga. Desviei para o lado e vi ele ali, no chão, com as mãos amarradas e os pés amarrados.

Maxon.

– Awn, que lindo. - a garota disse. - O príncipe e a plebeia.

– Quem é você? - eu perguntei irritada.

– Anna Parker. - ela me respondeu.

Anna tinha uma aparência diferente. Era alta, seus cabelos eram lisos e escuros com cachos que iam se enrolando nas pontas. Seus olhos eram negros e escondiam um sarcasmo peculiar. Mas quem diabos era ela e o que estavam fazendo com Maxon e eu?

– Ah, não, nem pense nisso ruivinha...

– É America.– eu a interrompi.

– Olha aqui, America,– Anna se colocou na minha frente - é melhor ir baixando sua bola. Isso aqui não se chama Base Sul, entendeu? Não vai encontrar um soldado gostoso que vai se apaixonar por sua rebeldia aqui. - ela disse sorrindo.

Soldado gostoso?

Jason.

– Maxon, você está bem? - eu perguntei a ele retirando minha atenção daquela morena. Ele tentou dar um sorriso, o que eu não compreendi bem. Até que percebi que sua camisa estava aberta e algumas marcas de sangue escorriam em suas costas. Olhei para a garota furiosa. - VOCÊ FEZ ISSO? QUAL O SEU PROBLEMA?

Anna pareceu se assustar com meus gritos e saiu do local, que era na verdade uma parede rochosa com vários caras vestidos de farda com metralhadoras passando em carros gigantes de guerra.

Por Deus. Eram os mercenários.

– Eu não fiz isso. - foi a última coisa que ouvi da garota, que repentinamente assumiu uma expressão de culpa com olhos que marejavam á força.

Então ela tinha sentimentos.

– Maxon, o que aconteceu? - eu perguntei. Maxon respirava com certa dificuldade.

– America... - ele disse. - Os caras de que Jason falou... Eles pegaram a gente.

– Droga. - eu sussurrei, mas a raiva logo tomou conta do meu corpo. - DROGA, DROGA, DROGA! - xinguei, dessa vez gritando alto.

– America, PARA! - Maxon gritou, fazendo força para falar. - Se você gritar, vai chamar atenção deles, e eles vão me bater mais.

Eu olhei para Maxon e comecei a chorar. As lágrimas queimavam nos meus olhos, e eu sentia tanta raiva e dor misturados que minhas mãos começaram a suar.

– Eles?

– Os chefes estão por aqui.

– Mas faz alguma ideia de onde estamos?

– America, olhe bem... - Maxon me pediu. Então passei os olhos pelo lugar com atenção.

Havia uma torre gigante á minha frente, e algumas árvores que iniciavam uma floresta logo ao lado... Antes da torre, havia uma gigante mansão.

Na verdade, um castelo.

– Estamos em Illéa. - eu falei, tentando acreditar no que minha própria boca dizia. Maxon me olhou com algo que eu nunca havia percebi em seu olhar.

Medo.

– America, a guerra veio para cá. - Maxon falou, e em seguida elevou os olhos para o castelo, obrigado a assistir toda a guerra que acontecia entre os soldados e os mercenários.

"A guerra veio para cá". Essa frase ecoava eternamente na minha cabeça.