EnquantoKatniss está dormindo eu me coloco a pensar, me organizar quanto aos últimos dias que tem passado, eu e ela aqui, conversando como nunca havíamos feito, salvando a vida um do outro, talvez por motivos diferentes, mas igual? Penso nos beijos que tivemos, o primeiro ela que tomou iniciativa e foi para me fazer ficar quieto e sem ter o que falar, eu estava com febre, apesar de tudo não sei ainda como foi tudo aquilo e o que significou, mas agora o segundo beijo, me fez sentir que eu não posso desistir dela, ela realmente é tudo o que eu quero, tudo nela me conquista, desde sua aparência, seu jeito, suas manias, sua voz, tudo.

É acho que estou loucamente apaixonado por ela, mas o pior não é sentir tudo isso, o pior é não saber se ela realmente está me correspondendo, se tudo isso não é só fingimento, mas aí eu paro e penso porque ela fingiria, não tem motivo, quer saber não vou pensar nisso, vou aproveitar o tempo aqui e quando voltarmos para o distrito 12, se voltarmos é claro, eu vejo o que farei, aqui eu não tenho como perguntar e obter respostas sincera, há muitas câmeras e pessoas observando nossos movimentos.

Decido que o melhor para o meu coração é não pensar em nada do tipo no momento, eu olho para fora da caverna e a chuva não dá trégua, observo os pingos caindo e a chuva não dá trégua, está cada vez mais forte, só observo os pingos caindo, e fica assim até o amanhecer, ainda não sei como faremos, eu estou começando a ficar com fome, e logo a Katniss vai acordar com fome também, decido conversar com ela para tentarmos seguir em frente, umas duas horas se passam e ela acorda.

Ela olha para fora e vê que a chuva não parou, digo para tentarmos seguir em frente, mas ela me faz voltar a realidade, que se nós sairmos iremos nos molhar, não iremos enxergar nada e só vamos piorar, eu sei que ela está certa é claro, mas tanto o meu estômago quanto o dela, estão falando mais alto, nossa esperança é que Haymitch nos mande algo, mas não sabemos como fazer com que ele consiga os patrocinadores para mandar comida para nós.

Estou pensando em como podemos fazer algo com que ganhe audiência a ponto de o nosso mentor conseguir nos mandar comida, Katniss me chama e sua voz está melosa, parecendo de uma criança quando quer alguma coisa:

– Peeta, no dia da entrevista, você falou que sempre foi apaixonado por mim, mas quando foi que esse sempre começou?

Acabo me surpreendo com a pergunta, não imaginei que ela fosse ter interesse nessa história, quer dizer que ela se prendeu a alguns detalhes dessa informação que eu soltei no dia da entrevista, e eu pensando que ela só ia se importar com o fato de ter dado patrocinadores a ela quando eu fiz essa revelação. Penso um pouco e começo a contar:

– Bom foi no primeiro dia da escola, nós tínhamos cinco anos na época, você estava usando um vestido vermelho e tinha duas tranças no cabelo ao invés de uma só, foi quando meu pai apontou você na fila.

– Seu pai apontou para mim? Por quê?

– Bom é que ele falou o seguinte “Você está vendo aquela menina ali, eu queria me casar com a mãe dela, mas ela preferiu um trabalhador das minas”.

– Você está inventando tudo isso.

– Não estou não, é tudo verdade, lembro que falei “Um trabalhador das minas? E porque ela preferiu esse trabalhador se podia ter você?” e ele me respondeu “Porque quando esse trabalhador canta, até os pássaros param para ouvir.”

– É isso é verdade, realmente os pássaros param quando ele canta, ou melhor, paravam.

– Bom nesse mesmo dia tivemos aula de música e nela a professora perguntou se alguém na sala conhecia a canção do vale, sua mão mais do que depressa se ergueu, ela colocou você em um banquinho e você cantou, e eu juro, todos os pássaros pararam para te ouvir.

– Ah para, não é verdade.

– É verdade sim, assim que você terminou de cantar, eu percebi que como sua mãe se apaixonou pelo seu pai, eu estava perdidamente apaixonado por você, e nos onze anos seguintes que foram passando, eu fui tentando me preparar para conversar com você.

– Mas foi sem sucesso.

– Sim, foi sem sucesso, então meu nome ter sido tirado nessa colheita para os jogos, acabou sendo uma sorte, para essa situação.

Ao mesmo tempo em que contei toda a história eu fui me lembrando desse dia, era uma segunda, eu iria fazer seis anos, na semana anterior que meus pais contaram que eu começaria a freqüentar a escola, ao mesmo tempo em que fiquei ansioso também fiquei com medo, queria muito ir à escola, aprender as coisas que meus irmãos contavam em casa, mas tinha muito medo de não ter amigos, de ninguém gostar de mim, de eu não chegar a aprender as coisas e ser o burro da sala.

Dormi tarde, pois estava sem sono e acordei antes de a minha mãe vir me chamar, mas continuei na cama, assim que deu o horário que ela acordava os meus irmãos, ela veio em minha cama e me chamou, e falou que minha roupa estava no pé da minha cama, eu me levantei me arrumei, fui tomar café da manhã, mas estava tão ansioso que só comi um pãozinho que sobrou do final de semana e um copo de leite.

Meu pai me levou para a escola, chegando lá eu parei, fiquei com medo de entrar, meu pai percebendo, conversou comigo, disse que não precisava ter medo, porque eu era um menino querido, simpático e todos iam gostar de mim, ai olhando para a fila ele me mostrou Katniss, me falou sobre ter gostado da mãe dela, sobre o pai dela que cantava.

Naquele dia eu fiquei prestando atenção nela, percebi que seus cabelos eram morenos, que o vestido vermelho que ela usava era bonito, que suas duas trancinhas a fazia ser uma menina meiga, mas quando ela sentou na banquinho e começou a cantar, eu vi pelo canto de olho como os pássaros próximos paravam ali perto, e que todos na classe a olhavam boquiabertos, a voz dela era linda, maravilhosa, e eu fui absorvendo cada melodia e me encantando com ela, e quando ela terminou, eu entendi o que me pai quis dizer da mãe dela ter se apaixonado pelo trabalhador das minas, e também senti que meu coração estava a mil, eu desconhecia esse sentimento, na hora pensei que podia ser o que meu pai falou, estar apaixonado, e assim foi o resto daquele primeiro dia, fiquei pensando e olhando para ela.

Ao chegar em casa contei sobre isso para o meu pai, e ele me falou que eu estava apaixonado, e dali em diante, todos os dias eu observava Katniss, algumas coisas de criança eu até cheguei a escrever, mas eu jogava fora. E foi assim observando ela de longe, que até hoje mantenho o sentimento e só tive coragem de falar, na entrevista, mas porque Haymitch me disse que ajudaria a manter ela a salvo.

Terminei de contar a história e ficamos em silêncio por um tempo, tanto que quando Katniss falou, eu quase que não presto atenção devido ao meu momento nostalgia.

– Você possui uma boa memória Peeta.

– Eu me lembro de tudo que é sobre você, você que nunca prestou atenção.

– No momento estou prestando.

– É que aqui na arena, eu não tenho competidores.

Ela me olha e fica meio sem saber o que dizer, ela parece pensar um pouco e então ela solta:

– Você não tem com o que se preocupar, você não tem competidores em lugar nenhum.